Prece à boca da minha alma
Não te transformes em bicho,
ó forma incorpórea minha,
só porque animal capricho
perdeu o humano que eu tinha.
Guarda, do animal, o alheio
esquecimento. E somente.
Mas lembra aquele outro seio
que te nutriu a boca e a mente.
E recorda, sobretudo,
que não babas ou engatinhas,
a não ser quando te escuto
pelos becos, dentre as vinhas.
Vive como um homem morre:
em solidão e na esperança
guardando a fé que socorre
em mim, semivelho, a criança.
Mas não te tornes em bicho,
nem percas o ser humano,
só porque a tara (ou o capricho)
deu-me este existir insano.
(autor: Nauro Machado)
(Fonte: Integrantes da noite)