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Um dos maiores empreendedores de Imperatriz, Antônio Leite Andrade, faleceu na manhã da última terça-feira, 11 de agosto de 2020, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP). Problemas cardíacos.
Antônio Leite (ou Toninho, como os mais próximos o chamavam) nasceu em Goiânia (GO), em 30 de abril de 1947, filho de Tarcílio Leite Andrade, falecido, e Margarida Felipe Leite (Dona Zulica). Era casado com a professora doutora Dorlice Leite Andrade e pai de cinco filhos – Alessander Souza Andrade, médico; Anna Kelly Souza Andrade, advogada; Andréa Carla Souza Andrade, pedagoga; e Ana Alexandrina Leite e Antônio Gustavo Leite, estudantes.
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O ano de 1974 foi um período de significativos ganhos para Imperatriz. Nesse ano, inaugura-se o asfalto da Rodovia Belém-Brasília, aprova-se, pelo Conselho Monetário Nacional, uma agência do Banco do Nordeste do Brasil no município, e são instalados o Banco Real, o Aeroclube de Imperatriz, a Polícia Rodoviária Federal, a Clínica Psiquiátrica, a Loja Maçônica Lauro Tupinambá Valente, a Companhia Brasileira de Indústria e Comércio (Cobraice), a Fundação de Ensino Superior de Imperatriz, o Serviço Nacional da Indústria (Sesi), a Vila João 23, a Igreja Luterana, o 3º Batalhão da Polícia Militar...
Foi nesse ano com esse “clima” de empreendedorismo que chegou a Imperatriz o médico Antônio Leite de Andrade e sua mulher, a professora Dorlice Souza Andrade. Era 26 de outubro de 1974. Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Antônio Leite veio para trabalhar com o casal de colegas e amigos médicos Raimundo Noleto Filho e Ruth Ferreira Aquino Noleto, que haviam fundado, oito anos antes, em 5 de novembro de 1966, o Hospital São Raimundo, um dos três primeiros estabelecimentos hospitalares de Imperatriz.
Inteligente, sensível, trabalhador, além de amigo correto e cortês, Antônio Leite Andrade encontrou, em Imperatriz e região, o espaço e o ambiente adequados para empregar duas características de empreendedor que, aparentemente antípodas, contraditórias, são, na verdade, complementares: ser visionário e ser pragmático. O típico simbolismo de olhar para o alto e trabalhar aqui embaixo. Visão nas estrelas, pés no chão.
Ter essa antecipada percepção “das coisas” e desenvolver um processo prático para realizá-las levou Antônio Leite a dois títulos de pioneirismo: na Saúde, médico pioneiro em Radiologia e Diagnóstico por Imagem em Imperatriz e até no vizinho Estado do Tocantins; e, na Educação, pioneiro no ensino superior privado de Imperatriz.
Em ambos os casos – Radiologia e Ensino –, Antônio Leite cuidava de um mesmo aspecto: o interior das pessoas... e, a partir daí, a saúde física e a saúde mental. Assim, manuseando recursos invisíveis – a radiação eletromagnética e a educação universitária –, Antônio Leite dava mais visibilidade e, pode-se dizer, uma vida melhor para aqueles que dele eram pacientes (como médico) e estudantes (como empreendedor educacional).
Na Medicina, o espírito saudavelmente inquieto e pragmaticamente realizador de Antônio Leite Andrade levou-o a criar diversos empreendimentos e empresas. A parte mais visível desse empreendedorismo médico está no Diagcentro, uma das maiores referências em diagnóstico por imagem de Imperatriz e região, e a grande Clínica de Imagem, que Antônio Leite fundou após transferir sua participação da Diagcentro.
Na Educação, fui testemunha auricular e ocular dos sonhos empreendedores do casal Dorlice (Dora) e Antônio Leite. Essa vontade dos dois materializou-se em 1986, com a criação da escola Ceril (Centro Educacional Renovado de Imperatriz Ltda., conhecido também como Ceril-Objetivo), que trouxe, a partir do nome, uma proposta e prática de renovação no ensino. Depois de muitos anos localizado no centro de Imperatriz, o Ceril foi transferido para a mesma área territorial da Faculdade de Imperatriz, a Facimp, onde se integrou ao espaço e, de certo modo, ambientou seus alunos ao quotidiano do ensino superior. Depois, o Ceril foi extinto, e Dorlice Andrade pôde dedicar-se mais as variadas e permanentes tarefas da direção geral da Faculdade.
Doze anos após a criação do Ceril, Antônio Leite e Dorlice criavam, em 1998, a Associação Região Tocantina de Educação e Cultura (Artec), a entidade mantenedora da Faculdade de Imperatriz – esta a obra maior, resultado, é claro, de todos os esforços e realizações anteriores.
Assim, três anos após a Artec, em 20 de agosto de 2001 – no mesmo mês em que se despede da vida seu fundador –, a Faculdade de Imperatriz, a conhecida Facimp, ganhou vida: nesse dia, foi dada a primeira aula, e logo no curso de Odontologia, um dos de maiores exigências para sua implementação. Fui testemunha da alegria de Antônio Leite por esse dia. Era, aquela aula, a confirmação de que a Faculdade que leva o nome da cidade finalmente inspirava, respirava, resfolegava e extravasava o sopro e a graça da vida própria, autônoma, independente, como devem ser os estabelecimentos de ensino superior. Naquele instante, para além dos importantes e indispensáveis papéis que registrem outras datas, anteriores, de existência legal da Facimp, a Faculdade de fato só ganhou foros de vida e materialidade com a energia física e mental dos professores que ministraram as primeiras aulas e dos universitários que a elas assistiram, naquele 20 de agosto de 2001.
Consolidado o projeto e a realidade da faculdade, Antônio Leite transferiu, para grupo especializado, o comando, a posse, mas não a propriedade, da Facimp; entretanto, por óbvio, nem que ele quisesse, poderia transferir a titularidade do pioneirismo e inovação no campo do ensino superior privado de Imperatriz e região.
Com espírito público, Antônio Leite Andrade não se furtou a desafios que normalmente, em Imperatriz, médicos e empresários não encaram tão amiudemente: colocou-se no jogo da Política e da Administração Pública, além de ter se dedicado a atividades sociocomunitárias. Assim, Antônio Leite foi dirigente partidário, presidente do Partido da Frente Liberal (PFL) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB); foi presidente do Rotary Club, foi diretor da Associação Médica de Imperatriz, foi secretário municipal da Qualidade de Vida (Saúde) de Imperatriz. Várias vezes lembrado para candidato a prefeito, razões que desconheço furtaram à cidade essa possibilidade. Voluntariamente, auxiliou candidatos, inclusive o governador, nunca tendo recebido de volta o que lhe prometeram retornar. Ainda assim, foi suplente de senador duas vezes, uma delas assumindo a senadoria, de 3 de junho a 2 de agosto de 2005.
A seu convite, fui a Brasília para auxiliá-lo no início do desempenho de seu mandato senatorial. No apartamento funcional em que estava, e onde fiquei, a simplicidade era a regra, além de muito trabalho. Nos 61 dias de seu mandato no Senado Federal, começou, logo no dia 3 de junho, com discurso em defesa da criação do Estado do Maranhão do Sul, seguido de um Projeto de Decreto Legislativo, nº 300, que instituía plebiscito sobre a criação do Estado do Maranhão do Sul. Em igual tempo, com vistas à criação de Estado, entrou com Projeto de Lei, nº 216, para alteração da Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998, que regulamenta dispositivos da Constituição Federal (Artigo 14, incisos I, II e III). Menos de uma semana depois, dia 9/6/2005, posicionou-se, como líder do PMDB, favorável à criação do Maranhão do Sul.
Seus pronunciamentos posteriores sempre eram a defesa de uma grande causa ou a exposição de um grande tema. Assim, seus pronunciamentos no Senado Federal, há exatos 15 anos, versaram sobre: reivindicação do início das obras da hidrelétrica de Estreito, município do Maranhão, com impactos também no Estado do Tocantins; apelo ao Ministério dos Transportes para recuperação de rodovias do Maranhão; importância das pesquisas científicas para o combate ao câncer e necessidade da implantação do Hospital do Câncer no Estado do Maranhão; apoio à aprovação do Projeto de Lei 131, de 2001, de autoria do senador Geraldo Althoff, que cria o Serviço Social da Saúde (Sess) e o Serviço Nacional de Aprendizagem da Saúde (Senass); defesa do Projeto de Lei do Senado 138, de 2002 – Complementar, de autoria do senador Francisco Escórcio, que autoriza o Poder Executivo a instituir, para efeitos administrativos, a região do complexo geoeconômico e social denominada Corredor Centro-Norte de Desenvolvimento, visando à redução das desigualdades regionais, por meio de seu desenvolvimento.
Um mês depois de ter assumido, e novamente na condição de líder, pronunciou, no dia 7 de julho de 2005, discurso com elogios à atuação da Imprensa brasileira. Em 13 de julho, três dias antes do aniversário de Imperatriz, fez pronunciamento em comemoração ao centésimo quinquagésimo terceiro aniversário da cidade que tão bem o recebera – Imperatriz –, um microcosmo do Brasil, com população formada de brasileiros de todas as regiões e estrangeiros dos diversos continentes.
Nos dias seguintes, e caminhando para o final de seu mandato, fez pronunciamentos sobre o programa do governo que reduzia o saldo devedor de financiamentos imobiliários; apresentou mais justificativas para seu projeto de lei que alterava a Lei da Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992); posicionamento favorável à proposta de que os trabalhos parlamentares do Senado funcionem de segunda a sexta, das oito até às dezesseis horas ou mais, se necessário; comentários à decisão do procurador da Federação Maranhense de Futebol a respeito do campeonato maranhense de futebol de 2005.
Nos últimos dias de mandato, pronunciou-se defendendo a conclusão das obras da Ferrovia Norte-Sul e a implantação do transporte de passageiros e, sensível às questões da Educação e do Conhecimento, fez pronunciamento acerca da escolha do ano 2005 como o "Ano Ibero-Americano da Leitura”, que, no Brasil, recebeu o nome de "Viva Leitura".
Em seu período como senador da República, esteve presente na discussão e votação de, pelo menos, 19 matérias, envolvendo temas sensíveis e relevantes da vida nacional, como abertura de crédito, escolha de altos dirigentes de órgãos federais e de diplomatas brasileiros para servirem em diversos países e, também, votação de propostas de emendas à Constituição Federal.
Foi também de sua autoria o Projeto de Lei do Senado nº 259, que acrescentava um artigo (nº 17-A) à Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, a conhecida Lei da Improbidade Administrativa, com isso estabelecendo uma precedência de ações decorrentes de atos de improbidade administrativa. Também de Antônio Leite o Requerimento nº 796, que, observando o Artigo 50, parágrafo 2º, da Constituição Federal, e de disposição do Regimento Interno do Senado Federal, solicitou ao ministro da Fazenda informações sobre a dívida do Estado do Maranhão.
E se, de acordo com a tríade chinesa, Antônio Leite Andrade já houvera plantado árvores e gerado filhos, a trindade se completava com uma pequena publicação que ele assinou e o Senado Federal editou: “Criação do Serviço Social da Saúde e do Serviço Nacional de Aprendizagem da Saúde”, a única obra bibliográfica que traz o nome de Antônio Leite na capa, como autor. O trilátero chino completara-se.
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Conheci Antônio Leite e Dorlice Andrade desde a década de 1970. Lembro até das três centenas, das sete dezenas e das unidades que formavam o número da conta-corrente dele no banco federal em que eu trabalhava e a partir de onde trocávamos ideias e esperanças pensando na cidade. Não demorou e já eu era todo ouvidos e falas em conversas com a professora Dorlice e seus quereres em torno da criação de sua própria escola. Logo a seguir, tendo eu retornado para Imperatriz, depois de anos em Fortaleza, Brasília e aprendizados em São Paulo, conversei, a convite, com Antônio Leite sobre suas ideias da Faculdade – em uma delas, recordo-me, a presença do amigo odontólogo Giovanni Ramos Guerra, que também colaborava com seu conhecimento, sua disponibilidade, seus esforços e boa vontade para a implantação do curso de Odontologia na futura Faculdade.
Tempo depois, Antônio Leite me convidou para ser um dos diretores da Faculdade, onde convivi ao lado de pessoas boas, trabalhadoras, competentes, entre as quais a diretora-geral Dorlice Andrade, o vice-diretor-geral Edgar Santos, economista, e o diretor acadêmico Domingos Furlan, filósofo. Acompanhei e colaborei com um pouco na dinamização das atividades da Facimp, a faculdade-orgulho de Imperatriz, cujos cursos, mais de dez na época, iam do “A” de Administração ao “Z” de Zootecnia. Muitas das vezes, em um automóvel da Faculdade, com motorista, eu viajava para grandes municípios dos Estados vizinhos para apresentar a Facimp aos alunos e professores das escolas de ensino médio, suas opções de cursos, sua estrutura física de primeira qualidade em área total de quase 600 mil metros quadrados, inclusive áreas de expansão.
Recordo-me de que, certa feita, visitando-me, Antônio Leite ficou impressionado com as dezenas de milhares de livros de minha biblioteca particular. Brincando e falando sério, disse que eu tinha mais livros ali do que a Facimp tinha em seu acervo. Olhou um pouco algumas capas e lombadas e perguntou-me se eu venderia uma pequena parte para ampliação da quantidade de volumes da biblioteca da Faculdade. Reticente, conversei sobre que temas interessariam etc. etc. Fiquei de listar alguns milhares de títulos e submetê-los a funcionários especializados da Faculdade. Com algum travo na garganta, desfiz-me de vasta bibliografia, que, creio, deve estar espalhada pelas estantes temáticas da Facimp até hoje.
Quando pedi para deixar o cargo de direção na Facimp, o fiz para candidatar-me a prefeito de Imperatriz. A bondade despretensiosa de Antônio Leite levou-o a me dizer que eu não precisaria sair, que a Facimp não poderia perder-me e que eu entraria de licença de minha diretoria, sem prejuízo da remuneração. Não pude aceitar – e, mais uma vez, Antônio Leite, extremamente correto, providenciou minha dispensa e com direito a seguro-desemprego, benefício que igualmente não quis exercer, estando ainda comigo, guardada, a papelada. Excesso de tolice ética, o meu...
Recordo-me de que, quando lancei a “Enciclopédia de Imperatriz”, que escrevi de setembro de 2002 a fevereiro de 2003, Antônio Leite comprou do grupo responsável pela publicação centenas e centenas de exemplares do volumoso (2,4kg) livro. Enviou os exemplares como presente de sua Faculdade para altos dignitários da República e outras autoridades, professores etc. Presenteando com o livro que escrevi sobre Imperatriz, Antônio Leite manifestava também seu orgulho e amor pela cidade.
Ali pelos fins da década de 1980 ou começo dos anos 1990, registrou-se um incomum episódio: fui, de manhã cedo, fazer uma tomografia computadorizada na clínica Diagcentro. O Antônio Leite, com aquela animação e boa vontade nele muito próprias, fez questão de fazer o exame. Orientou-me direitinho e, enquanto eu me mantinha quieto e a máquina me escaneava todo, o Antônio Leite, protegido dos raios, fazia-me perguntas: “Está sentindo alguma coisa?” E eu: “Não”. O exame continuava... Daqui a pouco, novamente a pergunta e a mesma resposta: eu nada estava sentindo.
De repente, antes que o médico me questionasse mais uma vez, disse-lhe espontaneamente que estava sentindo algo na perna. De repente, só ouvi barulhos altos da máquina sendo desligada e o Antônio Leite vindo até onde eu estava. Examinou-me, saiu apressado e só o ouvi gritando alto, procurando a alguém onde estava a chave de um determinado armário.
O certo é que, sem esperar mais, Antônio Leite me pegou nos braços (era magro, mas era forte) e, andando rápido, saiu da clínica comigo até a primeira farmácia que ele encontrou ali na Avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, onde, por sua indicação, aplicaram-me uma injeção. Depois, retornamos e fui levado para descanso e observação à sala da direção, onde, a essa altura, já estavam presentes os médicos e sócios da clínica Ricardo Olivi Júnior e Águeda Maira Matias Olivi, ambos igualmente radiologistas. Eram os três amigos nossos, disseram-me que eu iria sentir sonolência e que me levariam para casa. Antes, pedi ao Antônio Leite que ligasse para o banco federal em que eu trabalhava e relatasse o ocorrido, informando que o competente atestado pela ausência seria levado posteriormente, no retorno ao trabalho. Antônio Leite foi deixar-me no Jardim Três Poderes, onde eu estava morando (porque minha mãe, muito doente, estava sensível ao barulho das festas que se realizavam em clube social próximo de antiga casa, no Bairro Juçara). Ao me despedir do Antônio Leite, brinquei com ele, dizendo que eu não iria dormir, apesar da injeção – mal me deitei, ainda era manhã, e dormi; fui acordar perto de meia-noite...
Depois, fiquei sabendo que meu corpo reagiu, alergicamente, ao tal “contraste iodado”, substância usada comumente em procedimentos radiológicos como radiografias, ressonâncias e tomografias. Embora se discuta se coceiras, náuseas, calorões e gosto metálico provocados pelo contraste sejam tecnicamente alergia, havia risco sério de, por exemplo, a criação e explosão de bolhas (que foi meu caso) ocorrerem em áreas do corpo – inclusive internas a ele – de difícil controle. Daí, a cuidadosa pressa do Antônio Leite em aplicar-me medicação antialérgica, que me tirou de risco (se risco havia) e me brindou com mais de uma dúzia de horas de sono... Depois, o cardiologista e clínico Bene André Camacho de Araújo, que me atendia, fez anotar em uma carteira médica minha a observação de que eu apresentara reação a contraste iodado.
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Anotações e relatos como os que aqui se registram dizem da verdade mais comum e tão pouco refletida: a vida de uma pessoa é a soma de interações com a vida de outras, às vezes muitas outras, pessoas. Desse modo, quando uma pessoa morre, parte-se, fica suspensa no ar, para sempre incompleta, a teia da própria vida que havia entre quem morreu e os que ainda não...
Nos longínquos séculos XVI e XVII, viveu o poeta metafísico inglês John Mayra Donne. A Metafísica, uma disciplina da Filosofia, cuida daquilo que seria o fundamental no que chamamos de realidade, como a relação entre a mente e a matéria, as relações entre as categorias do ser e até o estudo de todos os fenômenos do Universo. Sim, tem gente que estuda “coisas” assim. E, às vezes, sabem dizer isso muito bem – e resumir tudo isso – em poesia, ou poeticamente. John Donne escreveu:
“A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da Humanidade. Eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”.
Durante o dia 11 de agosto – triste agosto... –, amigos me ligaram, gravaram áudios, enviaram mensagens: não acreditavam que era verdade que Antônio Leite havia morrido. Uns lembravam: “O Antônio Leite via a gente sentado, ele dava a volta em seu carro e vinha cumprimentar, sentar e falar com a gente”. O outro lembrava as conversas regadas a bebidas e, como tira-gosto, “o melhor queijo do mundo”, feito por Dona Zulica, mãe do Toninho.
O jeito simples, “largado”, do Antônio Leite era visível. Ele comparecia a certas reuniões com uma camiseta às vezes puída, descosturada no ombro... Antônio Leite tinha um particular “joie de vivre”, um prazer alegre na vida e no viver, expressado mais pelo sorriso e gestos amáveis que por vestuários e adereços. Uma das fotos que ilustra este texto mostra Antônio Leite Andrade recebendo homenagem da Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão (Ampem). A camisa polo desabotoada, o sorriso meio maroto... é o Antônio Leite, ali postado entre autoridades com seus escuros e vetustos ternos.
Com Antônio Leite não morrem suas realizações, patrimônio, pegadas – isso está por aí, visível.
Com a morte de Antônio Leite, morre um jeito simples e alegre de ser, um camarada para como amigo se ter; morrem sonhos – que eles os tinha ainda, e muitos.
O poeta tem razão: os sinos não repicam, não dobram por aquele que morreu para nós.
Os sinos dobram para o que em nós morreu com ele.
Descanse em Paz, meu Amigo Antônio Leite.
* EDMILSON SANCHES