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Imperatriz em 10 datas*

Jerônimo Francisco Coelho, presidente da Província do Pará

– 16 de julho de 2020: 168 anos

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I) 26 DE JUNHO DE 1849, TERÇA-FEIRA
Início da expedição. Onze pequenas embarcações saem do Porto de Belém (PA). Noventa e duas pessoas estão a bordo. São religiosos, militares, cientistas, colonos e remadores. Destino: o desconhecido. Mas também rio acima algum santo ajuda – e havia gente santa na expedição. As obrigações: estabelecer um presídio, implantar uma colônia militar e fundar uma missão religiosa.

Personagens dessa história: o presidente da Província do Grão-Pará, Jerônimo Francisco Coelho, que recebeu, ampliou e repassou a ordem do imperador para instalar um presídio militar e uma missão religiosa; o tenente João Roberto Ayres Carneiro, chefe da expedição; o capitão Constâncio Dias Martins, comandante da futura Colônia Militar de Santa Teresa do Tocantins; o frei Manoel Procópio do Coração de Maria, capelão do futuro presídio e da futura Colônia; o mineralogista Lourenço de Sousa, secretário da expedição e responsável pela exploração científica do Rio Tocantins; e Marius Porti, mineralogista estrangeiro agregado à expedição.

II) 16 DE JULHO DE 1852, SEXTA-FEIRA
Fundação de Imperatriz, com o nome oficial de Colônia Militar de Santa Teresa do Tocantins. Até esse dia, a expedição viveu aventuras dignas de cinema. Foram três anos e 20 dias enfrentando perigos na água e fora dela. Cachoeiras, matas desconhecidas, ataques de índios, doenças. Por pelo menos três vezes tentaram fundar a colônia. Mas os expedicionários eram empurrados para mais adiante.

E quando restavam só uns poucos – o frade entre eles –, chegaram... Às barrancas da margem direita do Tocantins chegaram em pleno período de praia. Escolheram um lugar mais alto para ali fundarem de vez aquele que viria a ser o município que já foi o de maior crescimento do Brasil. E, como reza a tradição histórica, foi ali, na área onde hoje está a Praça da Meteorologia (atual Praça Dr. Antônio Régis, frente ao Hospital da Unimed), que Imperatriz nasceu, sob o signo simbólico da segurança (dos militares), fé (dos religiosos), estudo (dos cientistas) e trabalho (dos colonos). Com uma fórmula dessas, tinha de dar certo.

Manoel Gomes da Silva Belfort, o Barão de Coroatá

III) 23 DE AGOSTO DE 1854, QUARTA-FEIRA
“Maranhensização” de Imperatriz. Imperatriz nasceu paraense, assim como Tocantinópolis era maranhense. Parece que as belas curvas do rio e a voluptuosidade de suas águas tonteavam a geografia e a cabeça dos colonizadores e governantes. Nessa data, uma lei (nº 772), estabeleceu uma linha divisória e a ainda povoação de Santa Teresa ganha sua definitiva identidade, sua “maranhensidade”. Ficou sem a proteção do Pará, mas continuou com a bênção do Frei Manoel Procópio, que decidiu aqui permanecer e continuar lutando pela povoação, como hábil articulador que também era.

IV) 27 DE AGOSTO DE 1856, QUARTA-FEIRA
Criação da Vila Nova de Imperatriz. Quatro anos e 41 dias após sua fundação, a povoação de Santa Teresa adquire um novo “status”: oficialmente, agora é vila. A Lei nº 398, uma espécie de certidão de nascimento da nova identidade política de Imperatriz. Nela, o presidente da Assembleia Legislativa Provincial do Maranhão, Manoel Gomes da Silva Belfort, que se assinava pelo título de Barão de Coroatá, “mandava a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tal inteiramente como nela se contém”.

Mas política é política, e ainda se passariam quase dois anos até que obedecessem ao “mandado” do Barão. Foi num 13 de maio, de 1858, uma quinta-feira, que o presidente da Província do Maranhão, Francisco Xavier Paes Barreto, quebrou os grilhões da burocracia e, por meio de ofício, manda que as autoridades da comarca à qual Imperatriz pertencia (Carolina – chamada naquela época Vila de São Pedro da Carolina) efetivassem a condição de vila, elevando o “status” e mudando o nome da povoação de Santa Teresa para Vila Nova da Imperatriz

Godofredo Viana;

V) 25 DE SETEMBRO DE 1858, SÁBADO
Instalação oficial da Câmara Municipal e do município. Esse dia começou com uma manhã de sol e muita festa. Três meses antes, no início de junho, e seis anos após a fundação, realizara-se a primeira eleição de Imperatriz. Quando setembro chegou, a posse dos primeiros vereadores (eram cinco, com mandato de três anos) também significava a formalização da Câmara e do município, que passou a ser administrado pelo vereador presidente da Câmara, pois essa era a regra vigente. Amaro Batista Bandeira (que era tenente-coronel) foi, portanto, o primeiro prefeito de Imperatriz. Os outros vereadores eleitos: Atanásio Maciel Parente (capitão), Didier Batista Bandeira (capitão), Domingos Pereira da Silva e José Crispiniano Pereira.

VI) 22 DE ABRIL DE 1924, TERÇA-FEIRA
Elevação à categoria de cidade. Não mais Colônia. Não mais povoação. Não mais Vila. Em um artigo de exatas 40 palavras, a Lei nº 1.179, assinada pelo governador Godofredo Viana, eleva à categoria de cidade a Vila de Imperatriz e outras três vilas (Carutapera, Icatu e São Francisco). Nessa época, era prefeito Gumercindo de Sousa Milhomem, vice Domingos José Marinho, e vereadores Antônio Batista Bandeira, Coriolano de Sousa Milhomem, Fabiano Ciriaco de Sousa, Fabrício de Sousa Ferraz e Martiniano Alves de Miranda. O nome do governador Godofredo Viana foi dado a uma das principais ruas de Imperatriz, no centro da cidade.

VII) 15 DE MAIO DE 1958, QUINTA-FEIRA
Criação da Comissão Executiva da Rodovia Belém-Brasília (Rodobrás), subordinada à Superintendência do Plano da Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA). Essa é a data do decreto. Não há o que negar: sem a construção e manutenção da Belém-Brasília, muito raramente Imperatriz, Açailândia, Araguaína, Miranorte, Gurupi, Porangatu, como dizem os livros, deixariam sua condição de “pequenos núcleos estagnados” e cresceriam “espetacularmente”. A antigamente – e pejorativamente – chamada “estrada das onças”, inaugurada em abril de 1960, é verdadeiramente uma espinha dorsal de 2.070 quilômetros de extensão, atravessando o leste do Pará, o sudoeste do Maranhão, quase todo o Goiás de norte a sul, e o sudoeste do Distrito Federal. A partir dela, surgiram outras ramificações, que irrigam a economia e solidificam comunidades. No trecho denominado BR-010, Imperatriz reina, absoluta.

VIII) 15 DE JANEIRO DE 1959, QUINTA-FEIRA
Morte de Bernardo Sayão, um dos “pais” da BR Belém-Brasília, a estrada considerada “mãe” do progresso de Imperatriz. A data passou em branco em 2014, quando se completaram 55 anos da morte do engenheiro. Se Bernardo Sayão de Carvalho Araújo dedicou o resto de sua vida à abertura dessa estrada, desta ele foi a única vítima. Morreu em serviço. Uma das versões: Uma árvore, cortada, na mata vizinha, até ali amparada por cipós, começa a cair. Sayão está dentro de uma barraca, repassando ordens administrativas. Apesar dos gritos, é tarde: a natureza – a seu modo vingativa – faz com que a árvore cortada desabe rumo aonde Sayão está. Ele é atingido fortemente na cabeça e em outras partes do corpo.

Transportado de helicóptero para Açailândia, não teve jeito: às 19 horas de 15 de janeiro de 1959, a noite negra vela o sono eterno de Bernardo Sayão. Ele dera a vida pela estrada. Agora, oferecia a sua morte. Levado o corpo para Brasília, foi a primeira pessoa a ser enterrada... no cemitério que o próprio Bernardo Sayão havia construído na capital federal...

Um ano depois, em 1960, a Belém-Brasília foi inaugurada.

Presidente Juscelino Kubitschek e Bernardo Sayão (à direita)

IX) 18 DE JANEIRO DE 1995, QUARTA-FEIRA
Ocorre o movimento que ficou conhecido como a “Revolução de Janeiro”. Desmandos políticos, incompetência administrativa e suspeitas gravíssimas, criminosas, vão-se acumulando no seio dos cidadãos. Líderes classistas, comunitários e políticos unem-se e reúnem-se. Em 10 de maio, criam o Fórum da Sociedade Civil de Imperatriz. Em 23 de junho do mesmo ano, promovem o Dia da Resistência. O movimento cresce. A insatisfação se materializa e cria mais pés, mais peito, mais voz. Um mar de gente deságua na Praça Brasil, no centro da cidade, para dali, como grande enchente, escoar em caminhada rumo à prefeitura. Nesse dia 18, a sede do Poder Executivo é cidadãmente invadida. O poder retorna ao povo. No dia seguinte, 19, até uma Câmara Popular é instalada. O governo do Estado não vê outra solução: decreta intervenção no município.

X) 16 DE JULHO DE 2020, QUINTA-FEIRA
Imperatriz, 168 anos.

* EDMILSON SANCHES