O colunista hoje, neste domingo, uma mistura de sol, de luz e sombra, céu ora azul, límpido, ora cinzento, nuvens escuras lá em cima, denunciadora de chuva, de aguaceiros até, fora, totalmente fora das crises políticas, sociais e militares em que se encontra o país.
Está na contemplatividade de si mesmo, da sua mocidade, da sua juventude e, já agora, da sua velhice, uma velhice que vem chegando aos poucos, deliciosamente aos poucos. Está olhando para si, sua vida. Sua vida na imprensa. Sua vida no magistério maranhense e do Sul do país. Sua vida em versos, no sentimentalismo, no romance e nas suas emoções. Está na iluminação de um Passado cheio de íntimas recordações e está na feérica iluminação deste Presente, com a presença de filho varão que chegou, o segundo de uma série de cinco. Que se encontrava no Rio, no atual Estado da Guanabara, há alguns anos, trabalhando, cavando a vida, vivendo-a com os seus próprios recursos intelectuais, com o fortalecimento das suas reservas morais.
Está o colunista diante dele, olhando-o, matando saudade, abraçando-o, sentindo-o no seu afeto, na grandiosidade deste amor que é amizade, que é fraternidade do espírito e noivado dos corações. E tudo é festa sentimental para o colunista: rever o seu garoto Manuel Henriques, o seu menino de ontem, menino bom, menino pobre da cidade, do chão duro da cidade. O menino que cresceu, que se fez homem, que construiu seu lar. O Menino que já deu para o Pai dois presentes emocionais: um casal de netos! Então, tudo é beleza, tudo é encantamento. Tudo é poesia. Deslumbramento. Paisagem sentimental, romance que se vive com o quadro das íntimas recordações.
E o colunista está olhando para ele. E todo um passado de emoções desponta, desponta neste presente, e tudo tem a valorização de uma existência que tem vivido só, só com tais recordações. E isto dignifica o homem que vive no colunista. Dignifica e o enobrece. No filho, ele encontra a razão da sua existência, da sua vida, da sua luta, dos seus empreendimentos no campo das ideias.
E o Manuel Henriques chegou. O mesmo. O mesmo homem e o mesmo filho. A mesma dedicação. O mesmo sentido de realidade, de independência. Tem personalidade. Vive como quer. Vive a seu modo. Não pode fixar-se na terra natal. Reside no Rio, trabalha no Rio. E tudo nele é uma soma total de energias capazes de, um dia, realizar seus sonhos, firmar-se definitivamente, conquistar uma situação melhor para garantir o futuro de seus filhos.
E o colunista, nesta página, registra este encantamento, esta emoção de o abraçar mais de perto, de o sentir mais perto. E, mais alguns dias, o Manuel Henriques regressará. Deixará a cidade, a cidade onde ele nasceu, onde foi menino, onde foi garoto, onde cresceu para a mocidade. Deixará a terra maravilhosa, cheinha de tradições, deixará a terra, hoje túmulo do seu avô, o inesquecível Nascimento Morais e, amanhã, num dia assim, de sombra, de luz, de sol, de encantamento, será, também, o túmulo de seu Pai. É a vida.
O colunista, hoje, está fora, totalmente fora das crises políticas, sociais e militares que estão ameaçando empurrar o país para uma situação de gravíssimas consequências. O colunista está em festa com a presença do seu filho Manuel Henriques. E é esta a melhor recompensa que os pais têm na vida. Ora se é.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 1º de dezembro de 1963 (domingo)