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“São Luís ainda brilha
como o fez antigamente.
Em nosso mar, é uma ilha,
na cultura, é um continente”.
(JOSÉ CHAGAS, “São Luís de quatro séculos”)
”É necessário sair da ilha para ver a ilha,
não nos vemos se não nos saímos de nós”.
(JOSÉ SARAMAGO; “O Conto da Ilha Desconhecida”)
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Na Geografia, uma ilha. Na História, um arquipélago.
A “Upaon-Açu” tupi é uma maravilhosa e maranhense porção de 1.410 quilômetros quadrados de terra abraçada por líquidas e incertas águas dos 106 milhões e 460 mil quilômetros quadrados do Oceano Atlântico.
“Upaon-Açu” é ilha grande, mas 75,5 mil vezes menor que a vasta extensão de água salgada que a rodeia, a namora e permanentemente a abraça e lambe circularmente suas partes...
Upaon-Açu é Ilha do Amor, mas também Ilha Rebelde.
Rebelde, expulsou conquistadores.
Amorosa, conquistou admiradores.
Upaon-Açu nasceu índia. Quiseram-na francesa. Holandesa. Portuguesa. Rebelde – sempre –, recusou estes para, amorosa – sempre –, acolher todos... como brasileira.
Nesta Ilha, brotaram maranhenses e aportaram outros brasileiros, além de estrangeiros. Gentes das várias regiões do país e forasteiros dos diversos continentes do mundo.
Por esse efeito de atração, Upaon-Açu é Ilha Magnética, Ilha Bela.
Sem preconceito, Upaon-Açu é cosmopolita, plurivalente, multicultural. É tanto Atenas quanto tanto é Jamaica.
Upaon-Açu é ilha só na Geografia mas é arquipelágica, plural, tentacular, na História, nas Artes, na Cultura, ou seja: na sua gente.
Em Upaon-Açu, uniram-se cromossomos de interesses histórico-político-administrativos e socioeconômico-culturais e dessa união fizeram nascer cidades. A “alma mater”, São Luís, foi fundada em 1612 – e, por tão antiga, por/tão ancestral, muitas das vezes deixa passar ou assume a condição de ilha quando é, legal e honrosamente, município, mas não apenas: é município e capital, aliás, a única entre as capitais brasileiras com sua área territorial totalmente contida em uma ilha.
Depois de São Luís, a Ilha viu nascerem-lhe mais três filhos-municípios, mais três-cidades-filhas: São José de Ribamar, com fundação em 1627; Paço do Lumiar, em 1761; e Raposa, caçula, existente desde os anos 1940.
E é São Luís que se revela, para olhos e lentes. Máquinas e mentes.
É São Luís, imensa, que se contém neste livro. Do celuloide à celulose. Imagens bem impressas, impressões bem imaginadas.
Imagens atuais que trazem memórias ancestrais. A São Luís da História brasileira, quando o Brasil ainda não era Brasil, nem brasileiro. São Luís-ilha, terra tupi – tupinambás... tremembés... potiguaras... São Luís-porto, de Pinzón, primeiro trimestre de 1500, antes de Cabral (que aqui não aportou).
São Luís de Daniel. Daniel de La Touche, também de La Ravardière. São Luís equinocialmente França, trienalmente francesa: 1612-1615.
São Luís de Alexandre e de Jerônimo. Alexandre de Moura e Jerônimo de Albuquerque. Um expulsa os franceses; o outro, passa a administrar o lugar.
São Luís de Maurício e de Johann. Maurício de Nassau e Johann von Koin. São Luís novamente “estrangeira”, trienalmente holandesa (1641-1644).
São Luís novamente retomada. Portugueses e colonos em armas desarmam a continuação das ambições neerlandesas. Para os batavos, agora é vazão. Hora de evasão. Saída. Fuga.
São Luís das guerras e dos amores – Gonçalves Dias e Ana Amélia.
São Luís da lavra e palavra. Prosa e verso. Ficção e realidade.
São Luís em qualquer canto: música, canto, encanto.
São Luís histórica. Retórica. Pictórica. Escultórica.
São Luís carmelita. Jesuíta. Franciscana.
São Luís indígena. Europeia. Africana.
São Luís maranhense. Brasileira. Americana.
São Luís cultural – patrimônio. Mundial.
São Luís dos desejos – miragem.
São Luís ao longe – paisagem.
São Luís das chegadas – ancoragem.
São Luís vida – aprendizagem.
São Luís casarões e ruas – viagens.
São Luís neste livro – Que imagens!
* EDMILSON SANCHES
Texto publicado originalmente no livro “Nossa São Luís”, de Brawny Meireles.