“MINHA AMADA IMORTAL” – ... E UMA ODE À ALEGRIA...
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Uma das partes mais tocantes (permitam o trocadilho) do filme “Minha Amada Imortal” mostra a estreia da “Nona Sinfonia”, do grande músico alemão Ludwig van Beethoven.
Era 1824. Beethoven estava com 53 anos, 27 dos quais com surdez (morreria três anos depois, aos 56).
No filme, ao subir para ficar em frente à orquestra, o grande compositor lembra uma marcante e repetida passagem de sua infância de pobreza e sofrimento: o pai, consumido pelo álcool, chegando em casa tarde da noite, raivoso, descontrolado, caçando Beethoven para surrá-lo sem razão.
Os irmãos de Beethoven se abraçam, contraídos de medo.
Beethoven foge pela janela e pelos telhados.
Beethoven corre por vielas, ruelas, por caminhos tantas outras vezes caminhados, (per)corridos como rota de fuga da violência, da dor e humilhação.
Beethoven chega ao lago que reflete luar e calma.
O lago e o luar abraçam o menino – e, nessas cenas magistrais que diretores de filme e diretores de fotografia tanto se matam para construir, lago, luar e céu, menino e estrelas se fundem e não sabemos mais o que é o quê. Simplesmente espetacularl!
E, diferentemente do comum em filmes, onde a música é a trilha sonora da imagem, nesse filme sobre Beethoven as imagens é que são a trilha da música: o som dos violinos parece percutir, repercutir (melhor, reproduzir) a celeridade da corrida do menino rumo ao lago – onde finalmente a calma se instala, inclusive no volume de som e na sonoridade geral da orquestra.
A vida de Beethoven, seus traumas de infância, sua surdez na idade adulta – inimaginável para um músico! –, se o levaram à reclusão não lhe tiraram o gênio, a criação, o espírito de liberdade.
Sim, porque Beethoven foi um libertário, um sadio transgressor de regras. Fazia música que, primeiro, agradasse a seu exigente paladar musical... e às favas com as regras, a burocracia a que se deveria submeter as composições na época.
Assim Beethoven foi reconhecido gênio. Livre em seu fazer musical. Sua “Nona Sinfonia” é considerada um dos maiores feitos do homem, ao lado do “Hamlet” e do “Rei Lear”, peças teatrais de Shakespeare.
Foi Beethoven que, pela primeira vez na história da música, inseriu voz, um coral, em uma sinfonia, exatamente na parte que ficou conhecida como “Ode à Alegria”.
Ainda bem que aos políticos cheios de mesmice, incompetência e corrupção a Humanidade contrapõe gênios sensíveis, criativos, inovadores como Beethoven.
Em “Minha Amada Imortal”, Beethoven é representado pelo genial ator londrino Gary Oldman, filho de pai soldador e mãe empregada doméstica. (Pois é – o reino dos céus é dos humildes...).
Ouvir e, mais que isso, escutar a “Nona Sinfonia” e sua ode “À Alegria” é deixar-se tocar na alma e senti-la escorrer líquida e feliz pelos olhos.
É mesmo de chorar de alegria ante tanta beleza e evocações.
Um brinde à Sinfonia e à oportunidade de nos unirmos a ela, pois, que nem ela, somos sobreviventes – e testemunhas – de dois milênios...
Ouça. Veja. Responda:
Não vale a pena estar vivo?!...
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Bom fim de semana para você.
* EDMILSON SANCHES
(P.S. – Na tela inicial desse vídeo grafou-se “Immoral Beloved”. Está evidente que nem de longe aquele que escreveu isso queria escrever isso. É “Immortal Beloved” [Amada Imortal]).