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Lembrando papai… AÇOUGUEIROS E MARCHANTES*

Está a população da cidade, já há dias, enfrentando a chamada “crise da carne verde”. Entretanto, em verdade, não há a tal crise. Há, isto sim, um movimento de pressão por parte dos marchantes para conseguirem mais um aumento no preço da carne. Isto apenas.

Daí a ausência do produto nos mercados e noutros postos de venda que existem e que vinham, com regularidade, abastecendo a cidade, garantindo a normalidade. Mas os marchantes, como sempre fazem, sem uma justificativa, resolveram exigir um “melhor preço” e, para êxito de um melhor lucro, vêm utilizando a sonegação da carne com prejuízo para os açougueiros que, na maioria, não podem atender à exorbitância do novo “tabelamento”.

A convite do presidente da Coap, reuniram-se os marchantes e, depois dos debates, trocas de opinião, ficou resolvido que, provisoriamente, a carne fosse vendida, no Matadouro, ao preço de 330 a 350 cruzeiros até que houvesse outra reunião na qual, definitivamente, haveria, para o problema, uma solução. Mas os marchantes não corresponderam a esta expectativa. E, já no sábado, a carne estava sendo vendida aos açougueiros ao preço de 380 cruzeiros o tal “pesado”.

E muitos, senão a totalidade dos açougueiros, não puderam comprar a carne, não puderam abastecer os seus mercadinhos e, com isso, ficou a população sem poder adquirir a sua principal alimentação.

E há outras irregularidades. O peso que vem marcando 30 quilos sempre dá menos! E há, então, protestos e reclamações, exigindo a pesagem certa, exigindo que haja a valorização de um serviço normal quanto ao transporte do produto para os mercados, que haja a presença de várias outras obrigatoriedades que não vêm sendo cumpridas.

Tudo isso são fatores contrários ao interesse de ganhar mais. Contra tais absurdos, resolveram os açougueiros se organizarem, isto é, vão eles fundar o seu sindicato. E contam, estão eles certos disso, com a colaboração, com a orientação do delegado do Trabalho, dr. Paulo Oliveira que, também pensamos nós, não negará o seu apoio, tudo fazendo para que os açougueiros, organizados em classe, possam melhor lutas pelas suas reivindicações. E é preciso que eles façam isso, que se movimentem, que fundem o seu sindicato para que possam se defender das exigências e das imposições da “classe privilegiada dos marchantes”.

Acreditamos que, nesta disposição de luta dos açougueiros, possa surgir uma melhor situação para o serviço de abastecimento da carne na cidade. Acreditamos sim. É preciso que os açougueiros se libertem da “pressão” e da exigência dos donos do “boi gordo” e que, fortalecidos, dentro do seu sindicato, possam melhor servir a cidade e, consequentemente, aos seus próprios interesses. Esperamos que o dr. Paulo Oliveira, homem de uma grande capacidade de trabalho, de realizações, espírito evoluído, que muito tem feito pelos trabalhadores maranhenses, mais uma vez, dê a sua valiosa assistência aos açougueiros que estão, assim nos parece, dispostos a fundar o seu sindicato. É o caminho certo.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 20 de novembro de 1963 (quarta-feira)