CASSINO CAXIENSE E COLÉGIO CAXIENSE: FUNDADOS EM 1º DE OUTUBRO DE 1934 E 1935, CRIMINOSAMENTE ABANDONADOS E DESMORONANDO NOS DIAS DE HOJE
– Um registro de luto... e luta. E que Caxias não se confirme como cidade onde até as pedras morrem...
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Em 2019, estive umas cinco ou seis vezes em minha terra natal, Caxias (MA). Neste ano, passei quase dois meses lá, em fevereiro e semanas iniciais de março. Do alto do hotel em que fico, o Excelsior, no centro da cidade, ao lado da poética Praça Gonçalves Dias, dá para ver a inteira situação de abandono, desmoronamento, destruição e devassidão do clássico imóvel que era o clube social Cassino Caxiense, que fica atrás do hotel e no mesmo quarteirão.
A situação há muito é de intervenção governamental, oficial, pública. Na zona mais central da cidade, os muros que desabaram, as paredes que também ruíram são acesso livre para muitas pessoas que estão fazendo dos vários cômodos do Clube as vezes de banheiro e local para descarte de objetos roubados, inclusive um grande número de telefones celulares.
Portanto, já há, pelo menos, três fortes razões para intervir naquela área: SEGURANÇA FÍSICA, ante a fragilidade das paredes restantes, que podem desabar a qualquer instante; SEGURANÇA SANITÁRIA, ante a fedentina dos dejetos que compromete até o ar em torno, o ambiente em volta; e a SEGURANÇA PÚBLICA, por ser “ponto de espera” e local de desova de objetos furtados ou roubados.
Porém, antes de todos esses riscos, outro crime, também maior, contra a Cultura, a História, o Patrimônio, as Tradições de uma cidade que é, ou deveria ser, glória nacional, tantos foram os filhos ilustres que deu.
Há dois anos, na segunda quinzena de setembro de 2018, novamente eu chegava a Caxias. Para minha não alegria, o táxi que me levaria ao Excelsior Hotel passou pela Rua Aarão Reis, no exato instante em que servidores da prefeitura caxiense cortavam as duas imensas amendoeiras plantadas do lado da sede do Cassino Caxiense.
Eram quatro amendoeiras – duas morreram. Foram plantadas, em 1962 pelo contador e professor José Gois de Mesquita, que, ali ao lado, fundou, há décadas, a Organização Técnica Contábil (Ortec), um dos mais tradicionais escritórios desses serviços em Caxias. Mesquita foi meu professor de Contabilidade no Colégio São José – hoje sou colega dele, devidamente registrado no Conselho Regional da categoria.
Tenho certeza de que as multidecenais amendoeiras poderiam sobreviver se, em vez de cortadas, fossem transplantadas para outra área. Talvez um tronco que deixaram lá volte a rebrotar... se não o arrancarem de vez.
Ecologicamente, é um desrespeito, para dizer o mínimo. As pessoas que se abrigavam sob as copadas e frutíferas plantas, inclusive as vendedoras de alimentos, vão ter de espairecer em outra freguesia.
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1º DE OUTUBRO
Há 86 anos, em 1º de outubro de 1934, em Caxias (MA), era fundado o Cassino Caxiense. Durante 19 anos, funcionou em histórico sobrado na Praça Gonçalves Dias, imóvel onde se teria realizado solenidade festiva de recepção a Luís Alves de Lima e Silva, que viria a ser, em 1841, Barão de Caxias e, depois, sucessivamente, Conde (1845), Marquês (1852) e, finalmente, Duque de Caxias (1869).
Após 1953, o Cassino Caxiense mudou-se para a Rua Aarão Reis, onde ocupa cerca de metade do quarteirão, bem no centro da cidade, fundos com o tradicional Excelsior Hotel.
Nesse clube, recebi, ainda na minoridade, homenagem da sociedade caxiense. Ali recebi, das mãos do então presidente Raimundo Mário Rocha, diploma de honra ao mérito pelas atividades intelectuais que, ainda menor de idade, eu desenvolvia naqueles idos. A noite teve baita festa, animada pelo então cantor de enorme sucesso Dave Maclean, primeiro lugar em diversos países com a música “We Said Goodbye”. Dave Maclean é José Carlos Fernandez, brasileiro de São Paulo, nascido em 1944 e vivo até hoje.
O Cassino Caxiense, de tantas tradições, está abandonado, ruindo, caindo aos pedaços. Na zona mais central de Caxias, nenhum esforço (e, ao que parece, nenhum interesse) é feito para recuperar a obra.
Lamentavelmente, o Cassino é só uma entre as edificações caxienses que se estão indo, tornando ao pó, ante inexplicável abandono ou jogo de interesses. Diversas construções históricas tornaram-se quarto de despejo e de dejetos e exemplo vivo-morto da inépcia, da falta de vergonha e de verdadeira paixão e respeito de caxienses, autoridades ou não, pela cidade em que nasceram e que dizem amar.
Coincidentemente, nesta mesma data, em 1º de outubro de 1935, um ano após a criação do Cassino Caxiense, era fundado o Ginásio Caxiense (também conhecido como Colégio Caxiense), que, por muitas décadas, formou gerações e gerações de estudantes. Três anos após sua fundação, o Caxiense recebeu, por doação do município, em 26 de dezembro de 1938, o Teatro Fênix. Registra o desembargador Arthur Almada Lima Filho (“Efemérides Caxienses”, pp. 282 / 283) que, “em caso de extinção do Ginásio”, o prédio doado voltaria ao patrimônio do povo caxiense (ou seja, à Prefeitura de Caxias).
E o que se vê, hoje, agora? O colégio e o próprio Teatro Fênix (onde assisti, quando menino, à apresentação do pianista internacional Ivo Pogorelich, nascido em Belgrado – Sérvia) estão abandonados; o teatro, em ruínas, desabando. O Teatro Fênix, por minhas pesquisas, é o sétimo mais antigo teatro do Brasil, um país com 5.570 municípios.
Fundado no século XIX (1880), o Teatro Fênix recebia “shows” de mágicos internacionais e peças teatrais de companhias brasileiras e europeias.
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Há algo de podre, de muito estranho ou, pelo menos, de muito decepcionante em Caxias, em relação aos valores históricos da cidade, de defesa do patrimônio, da liberdade, da Cultura, de suas Tradições, de seu Valor.
Vergonhosa e verdadeiramente, não se fazem mais caxienses como antigamente – pelo menos, não em relação à defesa da cidade em que alguns – repita-se – arrotam orgulho por nela terem nascidos.
Para não deixar de ter esperança em se preservar algo, que seja este um registro de luto...
... e de luta.
E que Caxias não se confirme como cidade onde até as pedras morrem...
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
1 e 2 – O prédio do abandonado clube Cassino Caxiense;
3 e 4 – Em 1977, Edmilson Sanches recebe diploma de honra ao mérito das mãos do presidente do clube, Raimundo Mário Rocha; e o mesmo salão, ruindo;
5 – Fachada principal do Cassino, ruindo e o mato, em cima, tomando de conta, no centro da cidade;
6 – A lista “histórica”, datilografada, dos idealizadores do clube;
7, 8 e 9 – O Colégio Caxiense e o Teatro Fênix, que ficam lado a lado: abandono e, também, ruínas, em conjunto.