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Na última quinta-feira (15), Dia do Professor, relembrei-me estudante. Aluno. Discípulo. (O Dia do Professor tem origem na lei de 15/10/1827, de Dom Pedro I, que criou currículo escolar mínimo válido em todo o Brasil e concurso público para o Magistério, com participação da mulher e piso salarial igual para ambos os sexos).
Relembrei meus dias passados de estudante (ainda continuo aluno, da vida).
Relembro de minha professora do 1º ano do antigo Primário (atualmente Ensino Fundamental), Maria Luíza da Luz Mousinho, que me chamava, eu criança e até antes de ela falecer, em 2016, de "meu Rui Barbosa". A escolinha da reconhecidamente exigente (para alguns, "severa") professora Maria Luíza era na sua casa, ali próximo à Estação da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, em Caxias.
De minha professora, Dona Maria Luíza virou fã – precisava ver a alegria dela ao me receber em minhas visitas à nossa terra natal. Precisava ver a verdadeira mobilização que ela fazia com os vizinhos para me apresentar como seu ex-aluno.
Em tempo de política, quando disputava mandato estadual ou federal, então, não tinha para ninguém: ela pregava cartazes, concitava jovens e adultos para votarem em meu nome etc. etc. Era ela e a madrinha Necy, ali perto, na Rua da Galiana, outra orgulhosa pessoa de minha convivência – e ambas, Maria Luíza e Necy, pessoas que sabem, mais que de meus frutos, de minhas raízes, sabem em que se assenta e em que se sustenta o edifício pessoal, profissional e político que venho tentando alevantar por tantos anos e tenebrosos tempos.
Quando criança e seu aluno, Dona Maria Luíza, a professora, se encantava pelos meus acertos nos ditados, exercícios e provas. Nos testes de silabação, eu, não raro, era o único que acertava, por exemplo, a soletrar palavras como "exercício" e "helicóptero". E, confesso, não tinha nenhum gosto em aplicar "bolos" com a pesada palmatória na mão de outros alunos, meus colegas. Mais dolorido ainda (para mim, em sentido figurado; para meus colegas, dor física mesmo) era quando alguns deles tentavam puxar a mão e a grossa palmatória lhes acertava no seco dos dedos – a dor física, realmente, devia ser maior...
Momento de êxtase para minha professora Maria Luíza foi eu, em tenra idade, levado por sua filha Maria da Glória Mousinho de Souza (a Glorinha), ser aplaudido por milhares de pessoa após discursar em favor de um candidato a prefeito, ali próximo à grande e conhecida Praça do Panteon, no centro de Caxias. Ainda me lembro da frase final: "Eu sei que sou criança, mas se tivesse idade eu faria igual a vocês – votaria no Dr. Marcello para prefeito." Levantaram-me e balançaram-me como um troféu. Marcello Thadeu de Assumpção (a grafia é esta mesmo) era um médico boníssimo, considerado a pessoa com maior número de afilhados por aquela região e redondezas. Consultava de graça. Dava remédios de graça. Operava de graça. Mantinha escola de Educação Básica de graça, Escola Coelho Netto, onde fiz todo o Primário. Foi sua bonomia e voluntariedade que o levou à Política. Ele andava costumeiramente a pé, com sua sempre volumosa maleta preta de médico daqueles tempos. Fala mansa, um cavalheiro. Meninote, eu conversava com ele e jogávamos jogo de palavras: ele me pedia para "acertar" o significado de termos médicos (é fácil, basta memorizar o significado dos elementos de composição – prefixos, sufixos e infixos). A propósito: não por meu discurso, mas Marcello Thadeu foi eleito prefeito de Caxias.
Toda vez que vou a Caxias, visitava minha professora Dona Maria Luíza. Repito: Precisava ver a cara de felicidade, de alegria e orgulho imensos dela, que dizia acompanhar-me por meio de raras e cada vez mais escassas participações minhas em mídia eletrônica e jornais impressos. Claro, também não me esqueço de visitar – e pedir a bênção (não faz mal nenhum) – a minha madrinha Necy e a minha tia Luíza.
Outra professora marcante, agora no Ginásio Duque de Caxias (do Projeto Bandeirantes, escola pública), foi Tia Filozinha, Filomena Machado Teixeira, professora de História, de presença marcante na Educação e vida de muitos caxienses. Intimorata, sem medo de dar sua opinião franca e forte, impunha respeito nas salas de aula e, até hoje, a memória dela é lembrada e relembrada com o mesmo respeito que ela impunha. Tia Filozinha, além de professora, foi, digamos assim, minha vizinha: os fundos do quintal da casa dela batiam com o quintal da casa em que morávamos minha família e eu. Como sempre tive o hábito de acordar cedo, cheguei a ouvir (e registrei em artigo no jornal caxiense "O Pioneiro"), a exclamação de surpresa da católica Filozinha ao ouvir o anúncio da morte do papa João Paulo I, em setembro de 1978, cujo comunicado, em Caxias, fora lido pelo Padre Mendes e irradiado pelos poderosos alto-falantes da Igreja São Benedito. (Décadas depois, encontro e converso longamente com Padre / Monsenhor Mendes na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, onde eu sou diretor e ele, meu colega sócio do IHGC à época – já faleceu).
Outra professora de marca indelével em minha mente e espírito foi a igualmente enérgica, competentíssima Maria Gemma de Jesus Carvalho, hoje minha confreira na Academia Caxiense de Letras. Quando eu estava nos 13 anos de idade, por ser aluno destaque, passei em seletivo do Banco do Brasil e fui ser estagiário (matrícula 2.671.550-3). Eu estudava, como sempre, em escola pública, mas, naquela idade, raciocinei que, estando empregado, carteira assinada, com razoável salário para um menino pobre, por que eu deveria ocupar uma vaga da escola pública se poderia abrir oportunidade para outrem e ir estudar em escola particular e até fazer curso profissionalizante de Técnico em Contabilidade? (Efetivamente, concluí este curso e me registrei no Conselho Regional de Contabilidade, vindo a ser, anos e anos depois, investigador de cadastro, que incluía funções de analista de balanços, no Banco do Nordeste, onde, por ser registrado, por "ter o CRC", cheguei a assinar o balanço geral da agência de Imperatriz como Chefe de Setor).
Pois bem, a diretora Maria Gemma, à época mais conhecida pelo seu nome religioso Irmã Clemens, dirigia o Colégio São José, reconhecidamente uma das melhores escolas do Maranhão, da Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas. Ali, fui eleito e sucessivamente reeleito presidente do Grêmio, o Santa Joana d'Arc, durante os três anos do 2º Grau, hoje Ensino Médio (no primeiro ano, na eleição, fiquei em segundo lugar; o vencedor desistiu dias depois, e eu assumi; nas duas eleições anos posteriores, fui vencedor). Por promover mudanças e realizar movimentos e movimentar realizações, Irmã Clemens me homenageou com Diploma de Honra ao Mérito pelos serviços prestados à frente da agremiação estudantil. Eu não sabia que tinha sido tão diferenciador assim quando, anos e anos mais tarde, já morando fora de Caxias, recebi convite para a festa dos 50 anos de Magistério de Irmã Clemens... e, para minha surpresa, fui agraciado com medalha de aluno destaque no cinquentenário da respeitada professora e administradora escolar. Até hoje, quando vou a Caxias, visito e converso longamente com minha querida professora, ela também leitora voraz, escritora competente, que, para minha surpresa e orgulho, igualmente diz acompanhar os passos a mais que Deus está permitindo que eu dê em minha vida.
Como é bom ter tido professores assim!... Como foi importante ter aproveitado os conteúdos de profissional e os exemplos de pessoa que eles foram e continuam sendo, na Vida ou na Memória terna e eterna!...
Mesmo tendo sido estudante em diversas universidades, com professores igualmente talentosos, cidadãos e cidadãs, foram o assentamento de tijolos, as mancheias de barro, as demãos de cimento, as pás de cal, as pinceladas de tinta, as aplicações de verniz o que fez as bases, as fundações, e erigiu paredes e pilares sobre os quais cada um de nós nos erguemos, partindo da vida na Escola e indo para escola da Vida.
No Dia do Estudante e no Dia do Professor e em todos os dias de estudo e de ensino, no trabalho e na vida toda, consciente ou inconscientemente, está um resíduo da sabedoria dos Mestres em mim.
Como aluno outrora e estudante toda hora, meus agradecimentos a todos os professores que tive, responsáveis pelo pouco-tudo que sou, mas não responsáveis pelo muito-nada que tenho.
* EDMILSON SANCHES
Presidente de Honra do Conselho Municipal de Educação de Imperatriz
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Fotos:
1, 2 e 3 – Edmilson Sanches em Caxias (MA), com sua professora do 1º Ano Primário, Maria Luíza da Luz Mousinho.
4 e 5 – A professora Filomena Machado Teixeira (Tia Filozinha).
6 – Irmã Clemens (Maria Gemma de Jesus Carvalho).
7 – Sanches com as irmãs Gualberta e Maria Gemma, da Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas, mantenedora do Colégio São José, em Caxias.
8 – Irmã Gemma (também chamada Irmã Clemens) com Edmilson Sanches, no ginásio coberto do Colégio São José.
9 – Irmã Gemma e os ex-alunos Jacqueline Moreira, Sanches e Teresa Cristina Torres.
10, 11 e 12 – No Colégio São José, década de 1970, Irmã Clemens/Irmã Gemma e Edmilson Sanches discursam para o auditório lotado. Sanches na época era presidente do Grêmio Santa Joana d'Arc, eleito e reeleito sucessivamente por três anos, durante todo o Ensino Médio.