O Sampaio Corrêa, afirmava-nos um motense, está sem condições para ganhar o Moto Club. E mais “difícil será o Maranhão”. O Sampaio Corrêa “está em liquidação”. E outro motense: “o Sampaio está jogando mal”. E acrescentava: “não há milagres em futebol”. E rematando: “Moraes, em futebol prevalece a técnica”. E parece que esse diagnóstico circulava até mesmo no meio da torcida do “mais querido da cidade”. Mas havia, com muitos sampaínos, a tradição. E de pé aquele “slogan”: “Sampaio é sempre Sampaio”.
E as partidas decisivas surgiram. E o Sampaio “arrasado” acabou com as pretensões dos atleticanos. O “Maranhão” saiu de campo com a derrota, liquidado. Mas havia o Moto Club. Havia o “perigo”. E, com o Moto, “tudo seria diferente”. A expectativa era geral. Um amigo nosso, entendido no “assunto”, repetia-nos a advertência: “O Moto vai vencer. Tem todas as possibilidades. Está em ‘forma’, ‘tinindo’. Tecnicamente é o melhor conjunto que temos. No momento, não há mesmo adversário capaz de “surpreendê-lo. E o Sampaio, meu caro, não está preparado para vencer o Moto. Ultimamente, o Sampaio decaiu. Atravessa uma fase precária. E você vai sofrer uma decepção”.
E a vitória sobre o Maranhão? “Bem... aquilo... sim, o Sampaio jogou com a sorte... pura sorte... Você foi ao jogo?” Não. Fico em casa ouvindo às vezes. Então, dizia o informante, “você não pode ter uma noção exata da partida Sampaio X Maranhão. Os atleticanos jogaram melhor... mas, com o Sampaio, prevaleceu o fator sorte”.
Mas conosco a certeza e a confiança no Sampaio Corrêa. Não nos deixamos envolver pelos informáticos, para nós, desencontrados. E, dentro de nós, aquela velha advertência: “futebol não tem lógica”. E o impossível sempre acontece. Mas acontece que, com o Sampaio, não há o impossível. Há a “raça”, o amor à “camisa”. Há a tradição. Há o “espírito de luta”. Há a grandiosidade duma vontade determinada. E, com esse raciocínio, a confiança inabalável. Viria a vitória esmagadora. Viria o resultado certo e justo. Um pensamento firme. E veio o jogo com o Moto. Não ouvimos NADA. Uma inquietação dentro de nós. De momento, a notícia alvissareira: “Sampaio ganhando por 1 a 0. Uma vibração esticando-se dentro da gente. Uma sensação muito íntima se esmagando na pressão das dúvidas e das incertezas. E já no “apagar das luzes”, no esgotamento do tempo regulamentar, a grita do empate. Um resultado que afastava uma decisão tranquila, mas que garantia, para o Moto, uma oportunidade. Conosco as preocupações mais fortes. No pensamento, desfilavam aquelas advertências terríveis: “Sampaio está liquidado”. Mas contra isso o “slogan” da esperança: “Sampaio é sempre Sampaio”.
E a segunda “partida” foi realizada. Uma tarde de Sol. Um Sol meio escondido lá no alto. Um “azul e branco” maravilhoso. Lá no Santa Izabel, as duas equipes. E, quando o locutor anunciava o começo da jornada, nós, alma inquieta, coração em pulos, fechamos o rádio. Os cigarros se sucediam. Um andar miúdo pela varanda. Um abrir e fechar de janelas. E, de momento, a “história” daquele gol de Tonho. Abrimos o rádio e escutamos a descrição do lance. Maravilha! Mas seria mesmo maravilha?! Bem, não importava. Era gol. E abandonamos o rádio. Ficamos agora quieto. Um silêncio trancado dentro de nós. Agora, com o segundo tempo, tínhamos os olhos fixos nos ponteiros do relógio. Os quarenta e cinco minutos pareciam uma eternidade. Abrimos o rádio e ouvimos, por alguns instantes, o descritivo alucinante da insistência motense empurrando a bola para o arco de Brito. E Brito “pegando tudo”. Brito fenomenal. Com os demais jogadores, a luta heroica, a fibra, a determinação de vencer. E acabaram-se os quarenta e cinco minutos! Sampaio Corrêa sagrava-se Bicampeão Maranhense. Com o Moto, o “adversário que soube perder”.
Vitória, para nós, de gigantes. Vitória maiúscula. Vitória do Sampaio Corrêa. E repetimos, não sabemos quantas vezes: “Sampaio, sempre Sampaio”. E a alma liberta das inquietações. E, na valentona, gritamos para um motense: “conheceu papudo! E ele, revidou: “SORTE”.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 13 de fevereiro de 1966 (domingo).