Filha de agricultores analfabetos, a professora doutora Luma Nogueira de Andrade teve uma infância humilde no interior do Nordeste, percebendo-se diferente e enfrentando preconceitos. Na trajetória escolar, as descobertas do menino que se via como menina não foram fáceis. O mundo se mostrava adverso, mas ela conseguiu reverter as dificuldades e o preconceito por meio da educação.
Na semana de Combate à Homofobia, o programa Trilhas da Educação, produzido e transmitido pela Rádio MEC, entrevistou a professora Luma. Ela é docente e gestora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), na cidade de Redenção, no Ceará. Luma é travesti e agente de transformação em território acadêmico e social.
“Às vezes, eu não entendia por que que eu estava sendo cobrada em algumas posturas, por que que eu não poderia brincar com certos brinquedos, me comportar da forma como eu queria, me vestir da forma como eu gostaria de me vestir” recorda a professora. “Eu sempre teria que me adequar ao que os outros queriam. Então, isso foi um conflito desde a infância”.
Luma destaca que, quando saía na hora do intervalo, era espancada porque se identificava com as meninas e ia brincar com elas. “Voltava para a sala de aula chorando, as minhas colegas falavam para a minha professora, e ela simplesmente chegava ao meu lado e dizia: ‘Bem feito! Quem manda você ser assim?’”
Depois de muitos casos de violações e privações, como não poder usar o banheiro na escola, Luma encontrou uma forma de melhorar a convivência e de se resguardar de possíveis episódios de violência. A fórmula foi virar a melhor aluna da sala. “Eu tinha que me destacar em alguma coisa. E aí, eu passei a ser a melhor da sala. E aí, eu dava aula para os meus colegas de sala”.
Passado o período escolar e a faculdade, Luma conquistou um espaço na cidade que ninguém tinha. A formação em ciências lhe permitia lecionar matemática, ciências, física, biologia, o que lhe deu oportunidade para contratação na rede escolar e, mais à frente, para que ela passasse em primeiro lugar num concurso estadual.
Hoje, seis anos depois de conquistar o doutorado, ela continua como docente e gestora na Unilab, que conta com dois “campi” no Ceará e um “campus” na Bahia. Nesse período, ela conquistou o direito de mudar seu nome nos documentos e, anos mais tarde, viu essa possibilidade se estender como um direito dentro da escola.
Desde o início deste ano, o Ministério da Educação autorizou o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares da educação básica. Alunos maiores de 18 anos podem solicitar que a matrícula nas instituições de ensino seja feita usando o nome social. No caso de estudantes menores de idade, o pedido deve ser apresentado pelos representantes legais.
(Fonte: MEC)