Neste domingo, respondemos...
Onde está o “erro”?
1º) “Não deixe ele perder a prova”.
Nossa leitora tem certa razão. Embora seja uma característica da língua coloquial do português no Brasil, o uso do pronome pessoal do caso reto (ele), na função de complemento verbal (objeto direto), ainda é inaceitável na língua padrão.
Em nossos concursos, em geral se exige a forma clássica: “Não o deixe perder a prova”. Devemos usar os pronomes pessoais do caso oblíquo (me, te, se, o, a, nos…) com verbos causativos (mandar, deixar, fazer) + infinitivos.
O popular e usualíssimo “Deixa eu tentar” deve ser substituído, na língua padrão, por “Deixe-me tentar”.
2º) “Foi um furto com violência”.
Nosso leitor tem razão. A frase é incoerente. Perante a lei, “furto” e “roubo” não são sinônimos.
Se houve violência, não foi “furto”, e sim “roubo”. Segundo o dicionário Houaiss, “furto” é “ato de subtração de coisa móvel pertencente a outra pessoa” e roubo é “crime que consiste em subtrair coisa móvel pertencente a outrem por meio de violência ou grave ameaça”.
Assim sendo, o cleptomaníaco tem “mania de furtar”, e não de “roubar”. E um imóvel (casa, apartamento) não pode ser roubado ou furtado. Quando uma casa é assaltada, objetos podem ser furtados (casa vazia = se os moradores estiverem viajando, por exemplo) ou roubados (se os moradores forem ameaçados pelos ladrões).
Latrocínio é roubo seguido de morte.
No caso de automóveis, é importante saber a diferença entre o seguro só contra roubo e o contra roubo e furto, que é sempre mais caro.
3º) “Renunciar uma coisa tão importante”.
Nosso leitor não tem razão. O verbo RENUNCIAR, no sentido de “não querer, recusar, rejeitar; desistir da posse, abdicar; deixar de crer, renegar” pode ser transitivo direto ou indireto: “Renunciou os prazeres da mesa” e “Renunciou a uma herança”; “Renunciou o trono” e “Renunciou ao poder”; “Renunciou a fé” e “Renunciou a suas velhas convicções”.
Assim sendo, “Renunciar uma coisa tão importante” está tão correto quanto a “Renunciar a uma coisa tão importante”.
4º) “Eu amo minha família. Eles são maravilhosos!”
Nada errado. Temos aqui uma típica silepse de número. É também conhecida por concordância ideológica: o pronome “eles” substitui a ideia de família (= familiares). Segundo a concordância lógica, deveríamos usar o pronome “ela” para substituir “família”: “Eu amo minha família. Ela é maravilhosa!”.
É o mesmo caso de “A polícia entrou na casa. Ela começou a procurar…” Também seria correto: “Eles (os policiais) começaram a procurar…”.
5º) “Nem os alunos não são tão bem-treinados”.
Nosso leitor tem razão. A construção da frase está estranha, pois o uso do advérbio de negação (não) é dispensável. Bastaria dizer “Nem os alunos são tão bem-treinados”. A frase ficaria bem mais clara.
6º) “Surgem anjos proclamando paz na Terra e a Deus louvor”.
O leitor não compreendeu direito a frase por uma razão muito simples: os anjos proclamam a paz na Terra e louvam a Deus (eles não proclamam louvor a Deus).
A frase está incoerente. Ela está sintaticamente mal construída: a paz na Terra e o louvor a Deus seriam dois complementos do verbo PROCLAMAR. Isso não faz sentido.
São duas orações independentes (coordenadas sindéticas aditivas): “Surgem anjos que proclamam a paz na Terra e que louvam a Deus” ou “Surgem anjos proclamando a paz na Terra e louvando a Deus”.
Teste da semana
Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas das frases abaixo:
1) “Eram muitas __________ e __________”.
2) “Eça de Queiroz é o autor de __________”.
3) “No século XIX, eram __________ e agora __________”.
(a) Marias e Joões / Os Maias / os Andradas e os Silvas;
(b) Maria e João / Os Maia / os Andrada e os Silva;
(c) Marias e Joãos / Os Maias / os Andrada e os Silva;
(d) Marias e Joões / Os Maia / os Andradas e os Silva;
(e) Marias e Joãos/ Os Maias / os Andrada e os Silvas.
Resposta do teste: letra (a).
A princípio, antropônimos (= nomes próprios de pessoas = prenomes e sobrenomes) fazem plural de acordo com as nossas regras básicas: Marias, Joões, Maias, Andradas, Silvas…