Na noite de anteontem, o poeta, professor e jornalista Carlos Cunha tomou posse na cadeira nº 33 da Academia Maranhense de Letras, que tem como patrono Pedro Nunes Leal e foi ocupada pelo inesquecível escritor maranhense Viriato Correia. E a Casa de Antônio Lobo iluminou-se e, diante, penso, duma assistência seleta, com a mocidade na vibração dos pensamentos renovadores, com a presença dos imortais, representantes da cultura maranhense, o festejado poeta de “Poesias de Ontem”, na sua simplicidade, na grandeza dos seus sentimentos bons, sentiu a valorização do seu trabalho intelectual, seu esforço, sua tenacidade, sua inteligência conquistando, para ele e para o Maranhão, estes instantes de glória, conquista da sua luta pela maior soma de conhecimentos gerais, afirmação do seu valor, da sua grandeza de espírito.
Não poderia a Academia Maranhense de Letras negar-lhe os méritos. E, reconhecendo-os, assegurou-lhe a votação merecida. E a cidade, a terra-berço do menino pobre vestiu-se de alegria, e a noite de anteontem, da iluminação dos astros.
Não nos foi possível ir à Academia. A doença impossibilitou-nos a participação da festa do poeta das impressões, do poeta sentimental, lírico, impressionista. Mas aqui estamos na oferta da homenagem. Há com Carlos Cunha, sem favor do elogio, a força duma vontade determinada. É um estudioso. Tem valor. Muito e muito pode ainda realizar. Seus versos denunciam o amadurecimento das reflexões mais íntimas. Há a presença da sua alma inquieta buscando o aperfeiçoamento. Seus versos têm o batismo de todas as emoções. E, em alguns, surpreende-se a mensagem mais humana e mais afetiva. E seus poemas poderão crescer ainda mais e plantar-se na planície da terra dadivosa para a colheita futura dos frutos maduros. Suas “Poesias de Ontem” abriram-lhe a porta da Academia Maranhense de Letras e as de amanhã, quem sabe, encaminharão o poeta para outras conquistas intelectuais.
Na noite de sua posse, Carlos Cunha reencontrou-se com seus sonhos, realizou-os, e isto vale como um prêmio de seus esforços. Ninguém lhe poderá negar as palmas, ninguém lhe poderá negar a grandiosidade do seu talento, da sua inteligência.
E se o Nascimento, meu pai, estivesse vivo, estaria satisfeito por vê-lo na Academia Maranhense de Letras, ao seu lado, do garoto de ontem, ouvindo a declamação dos seus versos, dos seus poemas. E haveria um dilúvio de emoções no coração de todos. Mas, está Carlos Cunha na Academia. Agora, é continuar, é cooperar mais, é ajudar mais. Não se fixar na “tradição”, não. É participar ativamente desta nova fase de realizações acadêmicas: reuniões, promoções, conferências etc. É preciso agitar, dar mais vida à Casa de Antônio Lobo, integrá-la nos parágrafos dos seus objetivos. É preciso que haja a divulgação ampla dos nossos valores, estes que se encontram dentro da Academia, os novos e os velhos. Ontem, Fernando Viana, Bernardo. Depois, Montello e outros têm contribuído para que a Casa das Letras se reencontre com este Presente de reformas e de evolução, de progresso, e prosperidade.
O Maranhão está na fase das grandes realizações. Com a Academia, deve haver o mesmo programa de desenvolvimento, de revolução intelectual. Uma nova mentalidade para o soerguimento do nosso patrimônio histórico: o Passado que nos foi legado e a este Presente a grandiosidade de novas conquistas.
O poeta Carlos Cunha está na Academia, e o Maranhão alegra-se por isto. É esta a nossa homenagem.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 23 de setembro de 1967 (sábado).