Um sol de verão na paisagem geográfica da ILHA. Um céu límpido, diáfano, num azul esmaecido, um azul na suavidade da cor, um azul com borrões das nuvens alterando o quadro, dando-lhe outra colorização. Mas dominando, totalmente, o Sol-VIDA, o Sol-CALOR. O Sol radiante, fecundando a terra, a terra rica, a terra acolhedora. Um Sol fixo, aparentemente rodando, um Sol que nasce todos os dias e que morre todos os dias. Agoniza. Um Sol que desfalece e que ressurge mais vivo, mais faiscante, mais Sol, exuberante na abundância da luz, no esbanjamento da claridade que fascina, que deslumbra, que irradia, que se extasia diante da Natureza Criadora.
É a paisagem na sua mensagem de Vida. Com as árvores, a descolorização do verde-escuro, do verde molhado de chuva. Do verde suspenso nos galhos distribuindo sombras, sombras do dia, de tarde no envolvimento do Poente. Da manhã na expansão magnífica do nascer, ressurreição da luz, luz em estágios, luz no milagre das energias que criam, que produzem a colheita da fartura.
Tudo assim dominante. Tudo assim que impressiona, que encanta o espírito, que rejuvenesce os sonhos. Tudo assim, festivamente assim, assim luz, assim Vida.
E, diante de todos, a cidade, a cidade que adormece e que acorda, a cidade que se eterniza em nós, em nossas vidas, que está na infância que é o começo, e na velhice, que é o fim. Vida e morte. Sonho e esperança. Alegria e dor. Tristeza e saudade. Depois, este realismo brutal: a vida fugindo da gente, da paisagem, do Sol, da iluminação fascinante dos astros. A vida na moldura de todas as vidas. A vida saindo da VIDA. A vida na caminhada longa das noites intermináveis.
Tudo assim. Assim encantadoramente. Assim desesperadamente.
E, lá no alto, o SOL. O céu azul. As nuvens escrevendo o simbolismo das nossas impressões. Ali, uma criança nasce. Ali, uma criança morre. Ali, a fartura. Ali, a miséria. Ali, um coração que parou. Ali, um coração que começou a pulsar. É sempre isto: os contrastes. Mas com todos, no íntimo, a conformação. Com todos, sempre há a palavra que embala as esperanças e que consola os desenganos. É a vida. É o SOL. Depois, a Noite. Estrelas na iluminação. Focos de luz alumiando a cidade. Adormecendo os sonhos acalentando-os. A noite que sempre chega. Tudo dentro destas impressões que ficam. Impressões que vivem, vibração de nós na Vida, na exaltação dos desejos. Isto sempre.
E a cidade é o palco. O cenário. A personagem. A vida de tantas vidas, o romance de tantos romances. A cidade que continua sempre: que é berço e que é túmulo. A cidade que cresce. Que tem a adubagem do desenvolvimento. Que se veste de ONTEM e de HOJE. Que é Passado e Presente.
E o Sol dominando. Sombras debruçadas nas calçadas, nos caminhos, tomando banho nas fontes, nos córregos, nos rios, nas lagoas quietas. Sombras “na cara geral dos edifícios”. Sombras na luz que é dia e na luz que é noite.
E a vida vivendo, a vida morrendo. A vida em luta, em trabalho. A vida na tormenta de todas as nossas angústias, nossos sofrimentos, nossas alegrias, o nosso pouco de felicidade. Tudo assim no esbanjamento das nossas emoções. Tudo cheio de nós, da poesia que é eterna. Uma canção que se canta sempre. Um verso que se declama sempre. É a paisagem. E este Sol de verão clareando a vida. O Sol filtrando-se por toda a parte, reflexos de luz no ninho dos pássaros e quietude das alcovas, alegrando as almas, despertando-as para o AMOR que é Vida, que é pureza, que é consolação.
No alto, o Sol. Cá embaixo, com o cronista, suas divagações, sua vida na iluminação da luz.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia, 25 de novembro de 1968 (terça-feira).