Natal. Na lembrança de todos, o nascimento do Menino Jesus. Sua vida no berço numa mensagem de Paz, de Fé, de Confraternização. Com todos, a homenagem em amor, a homenagem em adoração. A homenagem que conforta e que redime. Com todos, a vida do Filho do Carpinteiro José: desde a sua presença na manjedoura de Belém até a caminhada histórica. Vida e Paixão, pelo caminho do calvário, aproximando-se do Gólgota. Tudo isto em lembrança, tudo isto na memória de todos, tudo isto vivendo e sendo sentido pelo povo. Tudo isto assim, admiravelmente assim, desgraçadamente assim.
Natal. Alegria no coração. Alegria em todos os pensamentos. Há a festa da confraternização. A festa do “amai-vos uns aos outros”. A festa sentindo Jesus dentro de nós, no Espírito em luta, em trabalho, em realizações. Sentindo Jesus no exemplo edificante da Dor, esta que é renúncia, esta que é tenacidade, esta que é resistência, esta que é sabedoria e compreensão. Sentindo Jesus em todos os lares. Nos lares dos ricos e dos pobres. Dos desgraçadamente pobres. Em tudo, hoje, amanhã, um só pensamento. ELE. Ele recebendo as ofertas dos Reis Magos. Ele na adoração dos pastores. Ele na iluminação da sua noite, a noite de seu aparecimento na Terra. Ele no berço da pobreza, Ele na grandiosidade da sua vida humilde, pobre, dando o exemplo maior da simplicidade. Ele no estábulo da Sua DOR-VIDA e, junto dele, maravilhada, sorrindo, na postura sagrada da mulher-mãe, ela Maria, a Maria das Dores, a esposa de José. Ela no milagre da maternidade. Ela na adoração. Ela na claridade da noite, na iluminação das estrelas.
É o quadro simbólico da Família Sagrada.
Todos vivendo o Menino. O Menino que iria lutar em favor duma nova estrutura social. Do Menino que iria confundir os doutores nas Sinagogas. Do Menino que iria revolucionar o Mundo pregando a doutrina do amor, da paixão, da “fé que remove montanhas”. Que iria enfrentar os poderosos da época, confundir os fariseus do templo, que iria defender os humildes, os pobres, realizar o milagre da multiplicação dos pães, da transformação da água em vinho. Que iria defender a mulher prostituta, apedrejada pela turba e, sem olhar a vítima, sem olhar os algozes, disse “Quem não tiver pecados que lhe atire a primeira pedra”. E a turba dispersou-se. Que iria, mais tarde, transformar homens rudes, pescadores, em pescadores de alma. Do menino que, depois, enfrentaria “o que é de César dai a César e daí a Deus o que é de Deus”. Do Menino que iria atrair para as incompreensões dos homens do “poder econômico” do seu tempo. Do Menino que iria impor um pensamento filosófico diferente impresso que ficou no Seu célebre Sermão da Montanha. Do Menino iluminado, predestinado. O Menino no exemplo da Dor, da Dor que sublima, da Dor que é sofrimento do espírito e do corpo.
Do Menino na Oração do Monte das Oliveiras. Do Menino na traição de Judas. Do Menino da crucificação. Tranquilo. Sereno. Indiferente à grita. Do Menino esbofeteado, martirizado, morrendo na Cruz para, logo depois, subir aos céus.
Tudo isto, hoje e amanhã, na lembrança do Povo. Tudo se refletindo na vibração religiosa do povo. E que haja, nestas lembranças que são eternas, a eterna presença de Jesus no coração de todos. Que haja, em profundidade, a compreensão deste “amai-vos uns aos outros”.
Natal. E Jesus sorrindo na manjedoura numa mensagem de consolação.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Hornal do Dia”, 24 de dezembro de 1967 (domingo).