Neste domingo, continuamos com as...
Dúvidas dos leitores
1ª dúvida:
Ele considerou estranho ou estranha a troca?
A resposta é:
Ele considerou estranha a troca.
É um caso simples de concordância nominal. O adjetivo (estranho) deve concordar em gênero e número com o substantivo (troca) ao qual se refere. Se “troca” é um substantivo feminino, o adjetivo deve concordar no feminino: troca estranha.
O fato de haver uma inversão (= adjetivo antes do substantivo) não altera a regra: “…estranha a troca”.
Vejamos outro exemplo: “Não havia sido registrado qualquer coisa”. Está errado também. O que não havia sido registrado foi “qualquer coisa”. Se “coisa” é um substantivo feminino, a concordância é obrigatória: “Não havia sido registrada qualquer coisa”.
2ª dúvida:
Era a cicatrização de um problema muscular sofrida ou sofrido?
A resposta é:
Era a cicatrização de um problema muscular sofrido.
Temos, nesse questionamento, um caso interessante de concordância nominal. O particípio “sofrido” refere-se ao “problema”, e não à “cicatrização”.
É importante lembrar que nem todas as palavras terminadas em “a” são substantivos femininos. Existem várias palavras terminadas em “a” que são masculinas: o problema, o emblema, o teorema, o telefonema, o trema, o tapa…
Na frase “Ficou com parte do corpo paralisado”, temos um erro mais sutil. É outro erro de concordância nominal. O particípio “paralisado” não se refere ao “corpo”, e sim à “parte”. Ele não ficou com o corpo paralisado, e sim com parte paralisada. O certo, portanto, é dizer que “ficou com parte do corpo paralisada”.
É o mesmo caso de “parte do lixo está sendo reaproveitada”. O que está sendo reaproveitada é “parte”, e não o “lixo todo”.
3ª dúvida:
Se aceitasse a proposta, ele receberia R$ 90 mil mensais ou mensal?
A resposta é:
Se aceitasse a proposta, ele receberia R$ 90 mil mensais.
“Mensal” é um adjetivo. Sendo assim, deve concordar com o substantivo a que refere. No caso, são R$ 90 mil (= plural), por conseguinte a concordância no plural é obrigatória: R$ 90 mil mensais.
Se fosse por dia, receberia R$ 90 mil diários; por semana, semanais; por ano, anuais. Poderia também ser um advérbio, caso se referisse ao verbo: “Ele vai receber mensalmente R$ 90 mil”.
E se ele fosse receber mil dólares de dois em dois meses? Seriam mil dólares bimensais ou bimestrais? Cuidado para não confundir “bimestral” com “bimensal”. De dois em dois meses, é “bimestral”, e “bimensal” é duas vezes no mês. O mesmo ocorre com “trimestral” e “trimensal”. Quando o rendimento da caderneta de poupança era de três em três meses, o rendimento era “trimestral”. “Trimensal” é três vezes dentro do mesmo mês.
4ª dúvida:
Recebeu 4,2 milhões de dólares líquido ou líquidos?
A resposta é:
Recebeu 4,2 milhões de dólares líquidos.
O problema é o uso do adjetivo “líquido”, que deverá ficar no plural para concordar com 4,2 milhões de dólares (= plural).
Outro erro frequente ocorre em frases do tipo “Eles transformam as pedras preciosas em dólares e, depois, em real”. Ora, se as pedras preciosas são transformadas em dólares, é porque não é um dólar só, são dólares no plural.
Consequentemente, os dólares vão ser trocados por reais, no plural também. É uma questão de lógica. O certo, portanto, é: “Eles transformam as pedras preciosas em dólares e, depois, em reais”.
5ª dúvida:
Ganhou cerca de 1,5 milhões ou milhão de reais?
A resposta é:
Ganhou cerca de 1,5 milhão de reais.
Cerca de 1,5 milhão de reais significa cerca de um milhão e quinhentos mil reais. Quando abreviamos R$ 1.500.000 para 1,5 milhão de reais, a casa do milhão é a que fica antes da vírgula.
Observe mais exemplos: 2,1 milhões = dois milhões e cem mil; 1,3 bilhão = um bilhão e trezentos milhões; 4,1 bilhões = quatro bilhões e cem milhões.
A concordância com a palavra “milhão”, a princípio, deve ser feita no singular: “Um milhão compareceu à solenidade”; “Foi gasto um milhão de reais”. Quando o “milhão” vem acompanhado de um especificador no plural, a concordância torna-se facultativa: “Um milhão de pessoas compareceu ou compareceram à solenidade”.
Existe, atualmente, uma visível preferência pela concordância com o especificador, principalmente na voz passiva e com os verbos de ligação: “Um milhão de reais foram gastos”; “Um milhão de crianças já foram vacinadas”; “Um milhão de mulheres estão grávidas”.
6ª dúvida:
Havia muita ou muito pouca comida?
A resposta é:
Havia muito pouca comida.
Para compreendermos por que a palavra “pouco” concorda com o substantivo feminino “comida” (= pouca comida), e a palavra “muito” não se flexiona (= muito pouca), devemos dividir a explicação em duas partes:
1ª) “pouca comida”
A palavra “pouco”, nesse caso, é um pronome adjetivo indefinido porque acompanha um substantivo (= comida). Os pronomes concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem: “pouca comida”, “muita saúde”, “poucas pessoas”, “tantos livros”, “provas bastantes”;
2ª) “muito pouca comida”
A palavra “muito”, nesse caso, é um advérbio de intensidade porque se refere ao pronome adjetivo (= pouca), e não ao substantivo.
Os advérbios não apresentam flexão de gênero e número: “muito pouca…”, “Elas estão muito satisfeitas”, “As alunas estão pouco nervosas”, “As atletas ficaram bastante emocionadas”.
E você sabe quando é que se fala menas? Nunca. Só quando se fala errado. Não existe essa possibilidade. A palavra “menos” é totalmente invariável. Não importa se é advérbio ou pronome. Em qualquer situação, devemos usar sempre a forma “menos”.
São inaceitáveis frases do tipo: “Veio menas gente”, “Isso é de menas importância”, “Chutou com menas força”, “Tinha menas pessoas”, “Nosso time teve menas chances”…
A palavra “menos”, portanto, não apresenta flexão de gênero e número. O certo é falar sempre “menos”: “Vieram menos pessoas”, “Isso tem menos importância”, “Chutou com menos força”, “Tivemos menos oportunidades”…