Foi Maia Ramos que nos fez o convite. E, instantes depois, estávamos no “hall” do Museu do Estado. E, lá, os quadros dos pintores, gente nova, inaugurando, como fizeram, uma exposição de arte. Por toda a parte da acomodação, os quadros, os trabalhos iluminados pela vontade e determinação dos artistas maranhenses, vibração de inteligência, de pensamentos criadores.
Com Maia Ramos, a mensagem do estímulo, a participação no sentido de ajudar, de colaborar, de incentivar mais. Sentimos isto no grande pintor maranhense, o “mágico dos noturnos”, o escultor das raízes.
Mas lá estavam os quadros catalogados, obedecendo a uma ordem de apresentação. E,, por alguns momentos, ficamos olhando todo um trabalho de conjunto, de realizações que estão a merecer de todos nós a melhor ajuda.
De certo que não tínhamos, diante de nós, a identificação de grandes artistas, de consagrados pintores. Mas tínhamos a beleza de várias concepções, tínhamos uma amostra de arte exigindo a nossa atenção, nossas impressões. Tínhamos, nas paredes, uma variedade de trabalhos de três artistas maranhenses, gente simples, rica de talento, de criação e de beleza. Gente na revelação de suas tendências artísticas e estas transbordantes nos seus quadros, suas pinturas, fulguração de cores, sombras, luz, mensagem do espírito na explosão de seus sentimentos mais íntimos.
E sentimos que, com os artistas, há, de fato, a marca de suas tendências liberais. Sim, a marca dum estilo, duma maneira própria, profundamente humana. Não havia a força da “cópia”, da imitação forçada. Não. Havia a presença deles em seus quadros, havia uma mensagem de arte, arte viva, arte no bom sentido da palavra.
Tudo isto compreendemos de logo. Tudo isto se fixou em nós. E a verdade é que os três estão unidos por esta determinação: vencer. E há, nisto, uma expressão de arte. Uma decisão inflexível, inabalável, irrevogável. Com eles, esta certeza: o Maranhão reencontra-se com o Presente. Há, ainda, o fortalecimento das reservas intelectivas por meio da presença dos moços, da juventude, os homens de Amanhã.
E, sim, os quadros, a pintura, a inovação, os trabalhos novos apresentados, tudo isto numa expressão de fé e de segurança. Tudo isto crescendo em cada trabalho. Crescendo vigorosamente em cada amostra de arte de cada um deles. Tudo isto traduzindo emoção, traduzindo amor, traduzindo esperança. Tudo num bailado de cores vivas, mansas, adormecidas, vibrantes de luz e de sombras. Tudo isto numa variedade de expressão e de sentimentos. Em tudo isto, a alma, a poesia sentimental de cada um deles. Tudo isto com a tranquilidade do espírito. Depois do exercício mental, a execução. Tudo isto vibração de Vida, de Arte, de belezas que não fenecem, mas que ficam mais vivas diante das lembranças, estas que se vestem deste realismo profundamente humano, na iluminação das coisas que se imortalizam nos tempos.
Sim, essas as nossas impressões. Essas as nossas manifestações que encontravam abrigo nas palavras de Maia Ramos. Sim, lá estão os quadros, lá está a arte, lá a caminhada artística dos três novos pintores maranhenses: José de Jesus Santos, Luís Carlos Orcines Tavares e Ênio.
E é preciso que haja isto sim, isto mais que este sim, a ajuda dos maranhenses, a ajuda dos intelectuais da terra, a ajuda da crítica de arte, dos que se dizem cultores do Belo, dos que se afirmam dentro desta área de inteligência. É preciso prestar homenagem a estes moços, valorizar tanto esforço, tanto trabalho, tudo isto que expuseram que tem o batismo da valorização de seus criadores.
Não há a chantagem encomendada. Há, isto sim, arte. Há uma exposição de pinturas que não decepciona, mas que identifica a fulguração de talento de artistas maranhenses, moços ainda que têm, diante deles, o Futuro, a estrada ampla, tranquila, sem impedimentos. Não necessitam de elogios, mas de esperanças, de estímulo, de confiança. Os elogios, sentimos, virão depois, estão adiante, à frente, certo, para a consagração final. Não temos dúvidas sobre isto. Nenhuma. Precisam agora é da participação afetiva, da sinceridade de os sentir e de os compreender.
Sim, Maia Ramos fez o convite, e nós aceitamos. E, de lá, trouxemos esta palavra de amor e de compreensão. É esta a nossa ajuda.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 19 de janeiro de 1969 (domingo).