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LÍNGUA PORTUGUESA: dicas e exercícios 152

Neste primeiro domingo de outubro/22, continuamos com  as...

Dúvidas dos leitores

1ª dúvida:

Ele chegou à ou a Brasília?

A resposta é:

Ele chegou a Brasília.

Primeiro, é bom lembrar que o caso mais comum de crase é a fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a”. Quando ocorre essa fusão (= crase), devemos pôr o acento grave (`) indicativo da crase sobre a vogal “a” (= à).

No caso do verbo CHEGAR, não há dúvida quanto à presença da preposição “a”, pois quem chega sempre chega “a” algum lugar. A dúvida é o segundo “a”: se existe ou não o artigo “a”.

Aqui, a dificuldade é saber se o nome do lugar (= país, Estado, cidade, vilarejo, bairro…) é usado com ou sem artigo. Por exemplo: nós falamos “São Paulo” (= sem artigo), “O Rio de Janeiro” (= com artigo masculino “o”) e “A Bahia” (= com artigo feminino “a”). Isso significa que “nós chegamos a São Paulo” (= não há crase, porque não existe artigo), “nós chegamos ao Rio de Janeiro” (“ao” = preposição “a” + artigo masculino “o”) e “nós chegamos à Bahia” (= com acento indicativo da crase, porque existe o artigo feminino “a” antes da Bahia).

No caso de Brasília, não ocorre a crase porque não há artigo definido feminino “a” antes de Brasília.

Em caso de dúvida, se há ou não o artigo “a”, podemos usar o seguinte “macete”:

1. Se você “volta da” (= preposição “de” + artigo “a”), é porque existe o artigo. Isso significa que você “vai à”;

2. Se você “volta de” (= só preposição “de”), é porque não existe artigo antes do nome do lugar. Isso significa “crase impossível”, ou seja, “vai a”.

Vamos testar:

1. Você volta da Bahia, então “vai à Bahia”;

2. Você volta de Brasília, então “vai a Brasília”.

O “macete” é tão bom que ele é capaz de evitar que você caia em “armadilhas” de concursos. Por exemplo: “Você vai a Porto Alegre” (= sem crase), porque “você volta de Porto Alegre”; mas “você terá de ir à bela Porto Alegre” (= com crase), porque “você volta da bela Porto Alegre”. “Você vai a Paris”, porque “você volta de Paris”; mas “vai à Paris dos seus sonhos”, porque “volta da Paris dos seus sonhos”.

2ª dúvida:

A nossa reivindicação é igual a ou à dos aposentados?

A resposta é:

A nossa reivindicação é igual à dos aposentados.

Devemos usar o acento grave indicativo da crase sempre que ocorre a fusão de duas vogais iguais. O caso mais conhecido é o da contração da preposição “a” com o artigo definido “a”. Entretanto é possível que o segundo “a” seja um pronome demonstrativo, como é o caso do exemplo acima. Temos a preposição “a” exigida pela regência do adjetivo “igual” (tudo que é igual é igual a alguma coisa) e o pronome “a”, que está substituindo o substantivo reivindicação: “A nossa reivindicação é igual à reivindicação dos aposentados”. A maior prova de que temos duas vogais iguais (a+a = à) é que, se fosse um substantivo masculino, ficaria “ao”: “O nosso pedido é igual ao dos aposentados”.

3ª dúvida:

O jurista estava referindo-se a ou à leis?

A resposta é:

O jurista estava referindo-se a leis.

Não devemos usar o acento grave indicativo da crase por um motivo muito simples: nesse caso, encontramos apenas a preposição “a”. Não há o artigo definido. Se houvesse, deveria estar no plural concordando com “leis”: “… referindo-se às leis”.

Podemos, a partir disso, tirar uma conclusão: jamais ocorrerá crase antes de substantivo plural se o “a” estiver no singular: “Tráfego proibido a motocicletas”; “A reunião será a portas fechadas”; “Não dê ouvidos a reclamações infantis”; “Ele não se referia a mulheres, e sim a crianças”…

“Fazer referência a leis” e “fazer referência às leis” são bem diferentes. No primeiro caso, a referência está sendo feita a leis em geral, ou seja, não há crase porque não há artigo para definir as leis: referência a (preposição) leis (sem artigo definido = leis em geral). No segundo exemplo, a referência é feita a determinadas leis. Ocorre a crase porque temos, além da preposição “a”, o artigo definido feminino antes do substantivo “leis”: referência às leis = referência a (preposição) as leis (com artigo definido = determinadas leis).

4ª dúvida:

Ele chegou a ou à 1h da madrugada?

A resposta é:

Ele chegou à 1h da madrugada.

Devemos usar o acento grave indicativo da crase nas locuções adverbiais femininas: à toa, às claras, à força (de modo); à direita, à frente, à distância (de lugar); à tarde, às vezes, à última hora (de tempo).

No caso de “à 1h da madrugada”, temos um adjunto adverbial de tempo. Isso significa que devemos usar o acento da crase em todas as horas: “A reunião começará às 14h”; “A aula só termina às 10h”; “Ela só chegará à meia-noite”.

“Ela chegou à 1h” é diferente de “ela chegou a uma hora qualquer”. Nesse caso, não ocorre a crase, pois temos apenas a preposição “a”. Em “uma hora qualquer”, há artigo indefinido (uma). Aqui, não estamos definindo a hora da chegada. Não havendo o artigo definido “a”, não há crase. E não devemos confundir “ela chegou à 1h” com “ela chegou há uma hora”. Agora, a forma verbal “há” indica que “faz” uma hora que ela chegou.

5ª dúvida:

Ela está aqui desde às ou as 10h?

A resposta é:

Ela está aqui desde as 10h.

A presença da preposição “desde” significa que não há a preposição “a”, logo não ocorre crase. Temos apenas o artigo definido “as”. Após uma preposição não há crase: “Após as 18h, as nossas portas estarão fechadas”; “A reunião ficou para as 16h”; “Ele teve de comparecer perante a Justiça”.

No caso da preposição “até”, temos um caso facultativo: “Ele ficará aqui até as 18h ou até às 18h”. No caso da locução prepositiva “a partir de”, não há crase: “a reunião começará às 18h”, mas “a reunião começará a partir das 18h”.