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“Escrever é necessidade de resistência”, diz autora indígena

A escritora Márcia Wayna Kambeba lança, no próximo sábado (27), durante a primeira edição do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu), o livro De almas e águas kunhãs, com ensaios e poemas sobre temas como resistência de povos originários e respeito à natureza na Amazônia. Ela apresentará a palestra Narrando ancestralidades, ao lado da também escritora e pesquisadora indígena Trudruá Dorrico, a partir das 11h30, na Igreja Nossa Senhora do Rosário.

“Escrever e compor (ela tem mais de 30 músicas autorais) são necessidades para expressar resistência, comunicar e respeitar a cultura da gente, a natureza, o nosso olhar e compreender o entendimento que temos do mundo”, afirma a autora, de 44 anos, em entrevista à Agência Brasil.  

Ela explica que a inspiração para a arte veio da ancestralidade, a avó. “Ela me motivava a escrever. Ela comprou minha primeira máquina de datilografia. Me colocou em um curso. Ela sempre apostou e apoiou para que eu me tornasse uma poeta, uma escritora”.

Incentivada, aos 14 anos de idade ela começou a escrever os primeiros poemas. A avó morreu quando ela tinha 21 anos. Só foi depois de concluir o mestrado conseguiu publicar os primeiros livros. Ao todo, são seis impressos. Mais três devem ser publicados em setembro (esses para o público infantil). 

Mulher

“O meu livro trata do papel da mulher indígena em todas as relações estabelecidas em que nós adentramos, a mulher indígena como pajé, na política, na proteção do meio ambiente e de nosso território”, disse a escritora, que é também pesquisadora de geografia. Com 44 anos de idade, é da etnia Omágua Kambeba, nasceu na Aldeia Belém de Solimões, do povo Ticuna, no interior do Amazonas, onde morou até os oito anos de idade.

Ela enfatiza que a literatura é voz contra as adversidades e violências que os povos indígenas sempre enfrentaram no Brasil. “Nós sofremos violências das mais diversas formas, nos aspectos culturais e territoriais, por exemplo. A própria natureza quando ela é violentada também nós sentimos dentro das aldeias”. Nesse sentido, ela explica que a mulher indígena tem ocupado mais espaço de fala como ser liderança, cacica e pajé.

“A gente não quer ser melhor que os homens e também não quer ficar atrás deles. Os nossos parentes, homens indígenas, têm compreendido bem esse posicionamento das mulheres”. Não aquela que fica em casa, mas a que lidera. A pesquisadora explica que a literatura entrou na vida dela quando a avó recitava poemas que ela mesmo escrevia. “Ela era compositora da aldeia.  Eu cantava para os turistas que visitavam nosso povo”. 

Com nove anos de idade, mudou-se para São Paulo de Olivença e, depois, para Tabatinga, onde cursou geografia. Depois, fez mestrado também na mesma área. Mas, encantada pelas poesias, foi para Belém cursar doutorado em letras.

(Fonte: Agência Brasil)