QUANDO O AMOR É UMA QUESTÃO DE LÍNGUA...
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O AMOR É LINDO...
Uma vez um leitor me perguntou se eu havia percebido, na avenida principal da cidade, uma faixa cuja mensagem de amor não obedeceria aos padrões da norma culta da Língua Portuguesa.
Passando pela dita avenida, conferi. Estava lá: “PARABÉNS, N., PELO O SEU ANIVERSÁRIO. ESTA HOMENAGEM É UM POUCO DO TUDO QUE POSSO TE OFERECER”.
Vou frustrar aquele leitor. O que tem a mensagem? Há uma impropriedade: “pelo” seguido do artigo “o” (“pelo” já é aglutinação de preposição mais esse artigo).
Agora, é outro papo a “mistura”, numa mesma mensagem, da terceira pessoa do singular (“seu”, de "seu aniversário") com a segunda pessoa do singular (“te”, de "te oferecer").
Em defesa do emissor, poderíamos, “mutatis mutandis” [mudado o que deve ser mudado], repetir o professor Napoleão Mendes de Almeida: “Ortografia é processo de escrever a fala, e não processo de obrigar a escrever o que não se fala”.
No caso do “seu” + “te”, a mensagem reproduz um hábito dos mais arraigados no falar cotidiano brasileiro – a migração espontânea do “você” para o “tu” e vice-versa.
Foi essa mesma singeleza e despreocupação, essa informalidade própria das declarações, ambientes e “jogos” românticos, foi essa “coisa” muito mais verdadeira que o anônimo amigo / namorado / marido mandou reproduzir na mensagem.
O amor é lindo, e, se ele não segue nem as trilhas da racionalidade, como iria percorrer os trilhos da gramaticalidade?
Uma das frases mais pronunciadas é “TE AMO”, e ela também não está no dito padrão “culto”, formal, clássico, da Língua. Mas, exceto em novelas e literatura de época, quem haveria de escrever ou, mais ainda, falar (ao pé da nuca, os pelinhos se eriçando...) a forma “correta” “AMO-TE”, que é claudicante, entrecortada? Assim, prefira-se o fluido, contínuo, sussurrante “TE AMO”.
O amor vai além da Gramática. Chega às nuvens... (e sabe Deus até onde ele chega mais... chega mais...).
Sobretudo para o amor fica valendo a observação:
A Gramática é muito boa para quem chega até ela, mas é ruim para quem não passa dela.
Repita-se: o amor vai além da gramática...
...embora, na hora certa, exija bom uso... da língua... [rs].
(Ah bondosa “maldade”!...).
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(*) No Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa -- 5 de novembro -- foi instituído pela Lei federal nº 11.310, de 12 de junho de 2006. O dia 5 de novembro é uma homenagem a um dos maiores estudiosos e cultivadores da Língua Portuguesa no Brasil, o advogado, político e escritor baiano Ruy Barbosa, nascido nessa data em 1849.
Em Portugal, comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa em 10 de junho, dia de falecimento do genial poeta português Luís Vaz de Camões, aclamado autor de “Os Lusíadas”.
Já o Dia Mundial (ou Internacional) da Língua Portuguesa, 5 de maio, é data instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009, ratificada dez anos depois, em 25 de novembro de 2019, na 40ª Conferência da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em anos anteriores, a Unesco já aprovara datas para outras línguas: 20 de março (Francês), 20 de abril (Chinês), 23 de abril (Inglês e Espanhol), 6 de junho (Russo), 18 de dezembro (Árabe), além de 23 de setembro para as Línguas Gestuais (como a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, que em nosso país é comemorada no dia 24 de abril) e o 21 de fevereiro, Dia Internacional da Língua Materna, quando se deve(ria) lutar pela preservação e fortalecimento dos idiomas de cada país. (Em 21 de fevereiro de 1952 a polícia de Bangladesh matou, ateando-lhes fogo, diversos jovens estudantes, que não admitiam a imposição da língua urdu como único idioma nacional e passaram a defender a existência e cultivo da língua bengali, também falada naquela região da Ásia, que se tornaria em 1971 a República Popular do Bangladesh. “Bangladesh” significa “nação bengali”).
* EDMILSON SANCHES