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ESCOLA SANTA TERESINHA, 100 ANOS*

– 2024: 120 anos de fundação da Congregação das Irmãs Missionárias Capuchinhas

– 2024: 160 anos de ensino público em Imperatriz

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Neste ano de 2024, registram-se duas grandes datas relacionadas à Educação em Imperatriz (MA).

São os 160 anos de criação formal, legal, oficial, do ensino público ou “instrução pública” no município e os 100 anos – um século! – de fundação da Escola Santa Teresinha, das Irmãs Missionárias Capuchinhas.

O que Imperatriz e os imperatrizenses fazem com datas e eventos assim, já se sabe. Nada – ou quase. Cem anos é só uma vez. O que era para ser uma apropriação coletiva, comunitária, o que era para ser motivo de celebração uníssona, de confirmação e ampliação da “imperatrizensidad”, do sentimento de pertença (“ownership”), fica reduzido às ações pontuais, endêmicas, institucionais; fica restrito a pequenas parcelas da grande sociedade de Imperatriz.

Em 11 de julho de 1864, pela Lei nº 717, o governo maranhense criou, para meninos e meninas, as chamadas “cadeiras de primeiras letras”. Em 1865, abriram-se inscrições para concurso para professor dessas “cadeiras” e, em 1866, realizaram-se as provas. Foi nomeado para Imperatriz apenas um aprovado:  Francelino de Carvalho Sanches, que não chegou a dar aulas, pois logo foi transferido para outro município maranhense...

Houve outras nomeações. Mas os nomeados não queriam vir para Imperatriz. Foi assim, em 1867, que coube a um padre e educador, Domingos Elias da Costa Moraes, criar um estabelecimento de ensino e dar as primeiras aulas... Padre e professor destemido, inclusive fazendo viagens para denunciar, na capital maranhense, São Luís, a precária situação da Educação de uma Imperatriz que, em 1867, mal debutava, completando 15 anos após sua fundação em 1852 por outro religioso, Frei Manoel Procópio do Coração de Maria –  de quem, aliás, o padre Domingos era delegado literário substituto. (Leia, após o término, um resumo sobre o padre e educador Domingos Elias da Costa Moraes).

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Portanto, não só Imperatriz nasceu sob as bênçãos de um religioso. Na prática, sua Educação também.

E, na prática, a Educação imperatrizense, pelas mãos e mentes de membros de Instituições Religiosas, tem em 2024, neste 3 de agosto, mais outro grande trunfo e triunfo: a Escola Santa Teresinha, referência regional em ensino e uma missão educativa das Irmãs Missionárias Capuchinhas, cuja Congregação foi fundada em 18 de dezembro de 1904, na Igreja Nossa Senhor Auxiliadora, em Belém, Pará, pelo frade italiano João Pedro de Sexto São João (nascido Clemente Recalcati, 1868-1913) e cinco cofundadoras, as jovens irmãs capuchinhas, recém-consagradas, Irmã Clara Maria de Canindé (Ana Xavier Macambira), Irmã Inês de Santa Quitéria (Maria Barbosa Cordeiro), Irmã Isabel Maria de Canindé (Francisca Barbosa Magalhães), Irmã Madalena Maria de Canindé (Maria de Nazaré dos Santos Lessa) e Irmã Verônica de Canindé (Cecília de Paula Pimenta), levadas do Ceará pelo frade para trabalhos missionários e educativos no Estado do Pará.

O dia 3 de agosto de 1924 marca o início das aulas e também é considerada a data oficial de fundação da Escola Santa Teresinha. Nesse mesmo ano, Imperatriz era elevada à categoria de cidade por Godofredo Viana, o mandatário estadual maranhense da época. Também em 1924, lançava-se o livro "O Sertão", obra que é um marco na historiografia maranhense e brasileira e cuja autora, Carlota Carvalho, foi professora e morou em Imperatriz.

As fundadoras da Escola foram as irmãs Irmã Águeda Maria de São José (Severina Maria Guedes, 1885-1966), Irmã Eleonora Maria de Quixeramobim (Raimunda Nonata de Oliveira, 1902-1972), Irmã Judith Maria de Fortaleza (Isaura da Costa Rodrigues, 1893-1983) e, chegando dias depois, Irmã Júlia Maria de Barra do Corda (Maria José Varão, 1901-1995).

O novo estabelecimento de ensino teve, inicialmente, a denominação de Escola Santa Teresinha do Menino Jesus. A partir de 2/2/1929, Colégio Santa Teresinha do Menino Jesus. Em 15/11/1943, reduz o nome para Educandário Santa Teresinha. Em 1º/9/1960, o estabelecimento de ensino dá a denominação de Escola Normal Regional Santa Teresinha para seu curso de formação de professores, cujo ato solene de inauguração ocorreria em 3/3/1961, com o início das aulas, ministradas no mesmo prédio e no período vespertino. O nome Educandário Santa Teresinha permaneceu com a Escola, para o ensino primário. Dez anos depois, em 1971, o nome foi alterado para Escola Normal Ginasial Santa Teresinha. No ano seguinte, 1972 (com formalização pelo Conselho Estadual de Educação em 1973), as duas unidades (Educandário e Escola Normal) unificaram-se, formando um só estabelecimento educacional – Escola Santa Teresinha.

O NOME

O nome da escola, “Santa Teresinha” (no começo, “Santa Teresinha do Menino Jesus”), não tem a ver com Santa Teresa d’Ávila (também chamada Santa Teresa de Jesus), padroeira de Imperatriz.

Santa Teresinha (nome mais curto) ou Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face (nome religioso completo) chamava-se Marie-Françoise-Thérèse Martin, era espanhola, nasceu em 1873 e faleceu em 1897. Era também chamada Teresa de Lisieux, nome adotado em razão da cidade francesa onde, desde os 15 ano,s viveu.

Santa Teresa d’Ávila ou Santa Teresa de Jesus chamava-se Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, era francesa e viveu três séculos antes de sua quase homônima: nasceu em 1515 e morreu em 1582. O nome Ávila refere-se à província espanhola de Ávila, de que faz parte Gotarrendura, cidade nascimento de Santa Teresa, antes pertencente ao Reino de Castela, hoje comunidade autônoma de Castela e Leão.

Além da Fé, o que une as duas religiosas é terem pertencido à mesma Ordem, a dos Carmelitas Descalços, iniciada por Santa Teresa d’Ávila e por São João da Cruz, também frade espanhol. A Ordem dos Carmelitas Descalços deriva da Ordem do Carmo, fundada em Israel em 1200.

O nome Santa Teresinha foi dado pelo frei Bernardino de Mornico, que, nos idos de 1924, era vigário capitular de Grajaú, município maranhense de cuja diocese Imperatriz fazia parte. (“Vigário Capitular” é o padre responsável por uma diocese na ausência – por morte ou transferência – do seu bispo). Frei Bernardino era da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Chamava-se Reinaldo Fratus de Balestrinis, era italiano de Mornico (daí seu nome religioso), em Bérgamo, onde nasceu em 30/10/1890. Foi ordenado em 8/12/1914 e faleceu em 20/5/1948.

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Eu estudei os três anos do ensino médio em uma escola das Irmãs Capuchinhas – o Colégio São José, em Caxias (MA). A diretora era a Irmã Maria Gemma de Jesus Carvalho, à época chamada Irmã Clemens. Fui presidente do Grêmio Santa Joana d'Arc durante os três anos, no primeiro ano substituindo o presidente eleito (fui o segundo colocado) Roldão Ribeiro Barbosa, que viajou e, nos dois anos seguintes, fui eleito e reeleito. Por isso – e pelo trabalho inovador que fiz na gestão do Grêmio – recebi "Diploma de Honra ao Mérito" do Colégio São José, assinado pela diretora. Também, na conclusão do ensino médio, fui o orador da turma, cujo curso profissionalizante foi Contabilidade.

Irmã Maria das Neves Franco, que foi diretora da Escola Santa Teresinha e, hoje, é superiora-geral da Congregação das Irmãs Capuchinhas, contou-me que, todas as vezes que encontrava a Irmã Maria Gemma, esta procurava saber do ex-aluno Edmilson Sanches. Eu também, todas as vezes que ia a Caxias, visitava a Irmã Gemma, seja no Colégio São José, seja na residência das Irmãs – onde, aliás, a Irmã Maria das Neves Franco esteve em seu período inicial na ordem.

Pelo menos, duas outras irmãs capuchinhas do Colégio São José, de Caxias e conhecidas minhas, prestaram bons serviços às suas colegas e confraternas da Escola Santa Teresinha, de Imperatriz: Irmã Eucaristia e Irmã Rita Carvalho (que foi diretora do São José; atualmente é a Irmã Suely).

Parabéns à Escola Santa Teresinha, orgulho da Educação imperatrizense, maranhense e brasileira.

* EDMILSON SANCHES

DOMINGOS ELIAS DA COSTA MORAES (sacerdote e educador)**

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Como registram livros que tratam da História e da Educação de Imperatriz, Domingos Elias da Costa Moraes foi padre e educador.

A documentação bibliográfica existente revela que Domingos Moraes não apenas foi um sacerdote e um educador, mas um lutador destemido pelas causas sociais, sobretudo educacionais, da iniciante cidade de Imperatriz, ainda Vila de Santa Teresa.

Inconformado com a situação de abandono da povoação como um todo e da falta de escola e professor para as crianças, ele voluntariamente criou e manteve uma escola, de outubro de 1867 a 30 de janeiro de 1871.

Nesse meio tempo, em 1869, enfrentando enormes dificuldades de transporte à época, Domingos Moraes foi à capital da província do Maranhão, São Luís, e denunciou, publicamente, à situação. O grito do sacerdote foi ouvido pela imprensa da capital: pelo menos, um jornal, “O País”, em sua edição de 8 de abril de 1869, fez “esta triste descrição”, no dizer do médico e historiador César Augusto Marques, que reproduziu o registro do jornal, que assim detalhou:

“Lá para as margens do Tocantins existe esta vila [Imperatriz] e o seu estado mostra bem quanto está longe das vistas do governo. Sem templo para [a igreja] matriz, sem casa de Câmara, sem cadeia, e até sem professor público, é a vila da Imperatriz uma pobre povoação, rica de elementos para ser uma grande cidade, que vegeta abandonada, inteiramente esquecida.

De lá acaba de chegar , vindo pelo Pará, o seu digno vigário o reverendo padre Domingos Elias da Costa Moraes, jovem sacerdote, ativo e empreendedor, que conhecendo o quanto valem pedidos e reclamações escritas, quando não são acompanhadas de uma voz convencida e interessada, vem pessoalmente expor ao governo da província as necessidades de sua igreja e do rebanho de que é pastor.

(...)

 A aula primária, desde que foi criada , não teve professor em exercício. Condoído de ver aquela pobre gente privada até do ensino de primeiras letras, abriu esse bom vigário uma aula que desde outubro de 1867 tem sustentado gratuitamente. Foi ultimamente provido um professor na cadeira dessa vila, e é de esperar de seu patriotismo que não a recuse.

 Além disso, assim como para os sertões mais remotos vão os juízes e os párocos, não há razão para que não vão os professores. Cumpre que o governo proceda neste negócio de modo que não sejam os habitantes da Imperatriz totalmente privados de instrução. O meio é, uma vez provido o professor, não lhe dar outra cadeira, admitindo apenas a permuta.”

Tinham fundamento as denúncias do padre Domingos Moraes, publicadas pelo jornal de São Luís em 08 de abril de 1969. Afinal, desde 11 de julho de 1864  -- portanto, praticamente cinco anos antes – o Governo maranhense havia criado “as cadeiras de primeiras letras para os meninos e a cadeira feminina”, como escrevem* Alexandre Ribeiro e Silva e Mariléia dos Santos Cruz, acrescentando: “no entanto, de imediato não houve nomeação para a regência de nenhuma das duas aulas, fazendo continuar a carência de ensino na vila”

Em 4 de maio de 1865, cerca de um ano após a criação legal da instrução pública em Imperatriz, a Câmara Municipal resolveu alertar o presidente da província do Maranhão para a situação do ensino em Imperatriz. Foram criadas as cadeiras e um ano depois nela professor nenhum havia assentado. A Câmara, então, à falta de professores legalmente concursados, nomeados, empossados e efetivados, sugeriu o nome dum cidadão de Imperatriz, Emiliano Gonçalves de Andrada, que teria, segundo a correspondência da Câmara, “as precisas habilitações para interinamente reger a cadeira de primeiras letras”.

O presidente da província era Antônio Leitão da Cunha, que, três meses e seis dias depois da data da carta da Câmara imperatrizense, solicitou informações ao órgão próprio do governo para o caso, a Inspetoria de Instrução Pública, que, por sua vez, informou ao presidente sobre as (des)razões de Imperatriz ainda não ter nenhum professor, mais de um ano depois de criadas as cadeiras de ensino na vila. Segundo a Inspetoria, realmente não havia professor e não havia professor porque não houve concurso para professor e não houve concurso para professor “por falta de concorrentes”, como anotam Silva e Cruz.

Terminou que nem a sugestão do professor interino feita pela Câmara de Imperatriz foi aceita. Disseram que iriam abrir concurso, pois surgira um professor habilitado, já experiente, que ensinara no município de Tutoia. Assim, em 23 de dezembro de 1865 foi aberto o concurso para inscrições. As provas foram realizadas em 1º de março de 1866 e logo em seguida, dia 03 de março, foi formalmente nomeado o primeiro professor de Imperatriz, oficialmente falando. Tratava-se de Francelino de Carvalho Sanches. Mas ele não chegou a dar aulas: pediu e foi transferido para outro município.

A partir daí, houve uma sucessão de concursos, desistências e transferências. Ninguém queria vir para Imperatriz. Daí que, em 1867, o padre Domingos Moraes cria por sua conta uma escola e, em 1869, denuncia publicamente a situação de abandono na imprensa maranhense, ao mesmo tempo em que pessoalmente dá conhecimento da situação ao governo.

Os esforços do padre Domingos junto ao Governo e à Imprensa em abril de 1869 deram resultado. Para suprir temporariamente a falta de professores aprovados que quisessem ir para Imperatriz, o vice-presidente do Maranhão, José Silva Maia, nomeou interina mas oficialmente o próprio padre Domingos Elias da Costa Moraes, como informa em relatório de 1º de junho de 1869.

Em 30 de janeiro de 1871, Domingos Moraes pediu exoneração do cargo de professor interino. Nesta mesma data, foi nomeado para o cargo de delegado literário. Outros concursos foram abertos e, em 25 de julho de 1871, foi aprovado um professor que já havia tentado em outro concurso, sem êxito: Agostinho José da Costa Cururuca, considerado “o primeiro professor nomeado que lecionou na vila, conseguindo relativa estabilidade”. Nomeado pelo Governo do Maranhão em 26 de julho de 1871, permaneceu no cargo até 1875.

Além da Educação, o sacerdote Domingos Moraes era um patriota convicto. Segundo notícia no jornal “Diário de Pernambuco”, de 02 de setembro de 1865, um sábado, Domingos Moraes integrava o corpo de soldados e outros voluntários que se apresentaram ao Imperador para a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança, ocorrida de dezembro de 1864 a março de 1870. Registra o “Diário”:

“É capelão do corpo o Reverendíssimo Padre Domingos Elias da Costa Moraes, o qual ante tais manifestações de patriotismo ofereceu-se para fazer parte do mesmo corpo como tal.”

(Uma curiosidade: integrando o corpo de soldados de que era capelão o padre Domingos, estava a à época já considerada heroína brasileira Antônia  -- mais conhecida pelo apelido Jovita --  Alves Feitosa (1848-1867), uma jovem cearense do município de Tauá que aos 17 anos aderiu como voluntária e, embora as autoridades a tivessem impedido de ir para a Guerra do Paraguai, Jovita permaneceu no corpo de voluntários, no Rio de Janeiro (RJ) e aos dezoito anos já era segundo-sargento. Suicidou-se aos 19 anos, no Rio, consta que por amor. Seu nome, pela Lei federal nº 13.423, está  inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Entre outras homenagens, o nome de Jovita Feitosa foi dado a dois logradouros de capitais: a Avenida Jovita Feitosa, em Fortaleza (CE), e a Rua Jovita Alves Feitosa, em Teresina, no Piauí, estado que a aceitou como voluntária, conferindo-lhe o posto de primeiro-sargento.)

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Outra prova do grande envolvimento do padre Domingos Moraes com a comunidade consta da publicação “Almanaque do Maranhão”, do período de 1869 a 1875. Em diversas páginas registra-se que Domingos Moraes era ao mesmo tempo: a) suplente de delegado literário do frei Manoel Procópio do Coração de Maria; b) pároco colado da Freguesia de Santa Teresa de porto Franco; e c) comissário vacinador. “Pároco colado” era o sacerdote que, aprovado em concurso, tornava-se responsável por uma paróquia, dela só saindo se quisesse. “Comissário vacinador” era a pessoa habilitada a fazer a inoculação de vacinas em cidades e vilas.

Por sua capacidade de luta e trabalho, por sua preocupação e dedicação às coisas espirituais e às causas sociais, por efetivamente ter buscado respostas para o problema da Educação na fase inicial da história de Imperatriz, por esses e outros méritos, Domingos Elias da Costa Moraes é o nome pioneiro da Educação que está a merecer uma homenagem pública da cidade que, em tempos muito mais difíceis, ele ajudou a preparar para os dias de hoje.

** EDMILSON SANCHES

REFERÊNCIAS

CRUZ, Mariléia dos Santos (org.). História da Educação de Imperatriz. Imperatriz: Ética, 2012)

MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão. São Luís: Tipografia do Frias, 1870.

FOTOS:

A Escola Santa Teresinha, das Irmãs Missionárias Capuchinhas, que completou 100 anos em 3 de agosto de 2024, em Imperatriz (MA). Alunos na década de 1990 (o primeiro à direita, meu irmão Wendel Sanches) e alunas em desfile de 7 de Setembro, em 1962. Diploma para Edmilson Sanches, por "atuante desempenho" como presidente do Grêmio do Colégio São José, também das Irmãs Capuchinhas, em Caxias (MA).