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DE MEDICINA E DE MÉDICOS, NO DIA DOS MÉDICOS (1)*

– LEOPOLDINA MILANEZ DA SILVA LEITE, primeira médica ortopedista do Maranhão

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Nessa sexta-feira, 18 de outubro, Dia dos Médicos, cumprimentei, em princípio, três médicos conterrâneos e amigos, cujas qualidades pessoais-profissionais lhes valeram, neste ano de 2024, o reconhecimento das maiores Entidades representativas dos 600 mil profissionais da Medicina no Brasil.

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Leopoldina Milanez há pouco, em 1º de outubro, tomou posse, em Brasília (DF), como conselheira suplente do Conselho Federal de Medicina (CFM). Seu colega Nailton Jorge Ferreira Lyra, médico gastroenterologista e cirurgião geral de Imperatriz, é o conselheiro titular.

Para além de seu – por si só sobrecarregador – exercício diário de ortopedista e traumatologista, com pacientes e clientes em hospitais e no consultório, Leopoldina Milanez dedica tempo, talento, boa vontade e outros recursos em outras funções e ações, seja enquanto diretora (tesoureira) e conselheira regional (por duas vezes) do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA), seja ministrando aulas e orientando e supervisionando atividades de estudantes como professora do curso de Medicina e preceptora da Residência Médica em Ortopedia na Universidade Federal do Maranhão, instituição em que se formou em Farmácia há exatos 35 anos (1989) e em Medicina, há exatamente 30 anos (1994). Em 2024, Leopoldina Miguez também registra 11 anos de seu título de doutora em Fisiopatologia Clínica e Experimental (Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2013), 21 anos de seu mestrado em Saúde e Ambiente (UFMA, 2003) e 27 anos de sua especialização (residência médica) em Ortopedia e Traumatologia (UFMA, 1997).

Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Academia Maranhense de Medicina, chefe de departamento de Medicina e vice-presidente do Comitê de Ética do Hospital Universitário da UFMA, Leopoldina Milanez, em igual tempo única e plural, também investe tempo, talento e esforço na atualização e aperfeiçoamento em sua especialidade médica, na coordenação de grupo de pesquisa de Liga Acadêmica de Ortopedia e Traumatologia na UFMA, na produção e publicação de textos científicos acadêmicos e de popularização em publicações brasileiras e estrangeiras, no acompanhamento de orientandos e participação em comissões julgadoras de trabalhos apresentados por estudantes concluintes de Medicina (graduação e pós-graduação) e até na coordenação e realização de eventos médicos.

Mãe devotada, preocupam-na certas questões e realidades da vida infantil e juvenil e os doloridos vínculos (postos que dramáticos e traumáticos) na função médica, a ponto de ter-se dedicado em sentimento e em estudo à “Violência doméstica contra crianças e adolescentes””, tema e título de sua dissertação de mestrado e de outros trabalhos, deles apresentado em congressos médico-científicos. Lembre-se que Ortopedia é especialidade ligada à criança a partir mesmo da origem da especialidade médica, em 1741, e da palavra substantiva, em que os termos gregos “orthós” significa “correto” e “paidós” quer dizer “criança”.

Declarando-se “encantada pela Ortopedia”, Leopoldina Milanez conta que nessa especialidade médica pôde perceber o grau de solução de problemas dos pacientes. Disse ela: “Eu via resolutividade! Era isso que queria: resolver, corrigir! Acho que foi assim com Nicholas Andry!” Sim, foi assim com o médico e escritor francês Nicholas Andry de Bois-Regard ((1658--1742), que criou a Ortopedia e queria a “prevenção e correção de deformidades em crianças”, como escreveu em seu livro inaugural “Orthopédie”, de 1741.

Foi assim com Ignacio (ou Ignasi) Ponsetí i Vives (1914--2009), o médico espanhol, naturalizado americano, que criou o “método Ponseti”, uma abordagem e prática não cirúrgica e menos onerosa que restitui à normalidade o chamado pé torto congênito (malformação em que um ou ambos os pés da criança voltam-se “para dentro”). Neste 18 de outubro de 2024 completam-se 15 anos da morte do grande benfeitor da Humanidade, o médico hispano-americano Ignacio Ponseti. Foi na Guerra Civil Espanhola (1936—1939) que o oficial médico (chegou a capitão) Ponseti iria se definir como ortopedista: ele sabia cuidar muito bem das fraturas nos soldados, com auxílio da refinada habilidade de quem, na infância, havia ajudado o pai manuseando minúsculas e delicadas peças de relógios e consertando aqueles marcadores de horas. Nos Estados Unidos, para onde migrara, Ponseti destacou-se e chegou a professor emérito do Departamento de Cirurgia Ortopédica da Universidade de Iowa, fundada em 1847, onde a médica maranhense Leopoldina Miguez fez treinamento e aperfeiçoou-se na técnica não cirúrgica do seu colega franco-americano. A técnica do dr. Ponseti ganhou os agradecimentos do milhares de pacientes de todas as idades e espalhou-se por mais ou menos 150 países, a ponto de o próprio Rotary International estar levando esse grande benefício, proporcionando a organização de equipes de especialistas que ensinam o método a médicos de diversos países nos diversos continentes e ainda providencia, o Rotary, informações sobre o tratamento, transporte até às clínicas e hospedagem para as famílias. 

Foi assim com Stella Rosenbaum, a primeira mulher ortopedista do Brasil, falecida há 20 anos (2004). Formada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1953, fez especialização em Ortopedia na Itália (1969-1971). Considerada “extremamente humilde e reservada”, fazia questão de não “aparecer”, quase sempre transferindo a outrem méritos e homenagens. Escreveu textos científicos e livros, fundou entidades científicas da área ortopédica, era membro de entidades nacionais e internacionais dedicadas à especialidade. Segundo Maria Cristina Knackfuss, afilhada da drª Stella Rosembaum, "ela queria um pé bem operado, sem edema no dia seguinte, o paciente sem dor e o problema resolvido" – que nem Leopoldina Miguez. Resolutividade é a palavra!

CAXIENSE PIONEIRA – Leopoldina Milanez é casada com Kennedy Leite, engenheiro civil e de Segurança no Trabalho. O casal tem um filho, Kleber, universitário em São Paulo, onde cursa Medicina Veterinária.

Leopoldina Milanez é caxiense, filha primogênita de José Ferreira da Silva, servidor público federal (“in memoriam”), e Auredulce Alves Milanez e Silva, professora de gerações de caxienses, aposentada. O casal teve outro filho, Ramsés, advogado e administrador, pai de Ramsés 2º, estudante de Medicina em São Paulo.

Leopoldina Milanez nunca fez questão de declarar aos quatro ventos, mas algumas publicações e alguns espaços digitais (acadêmicos e médicos) registram o pioneirismo da caxiense: ela é a primeira médica ortopedista do Maranhão. Seu pioneirismo, “mutatis mutandis”, vai na linha dos seus colegas médicos e também precursores na Ortopedia: Nicholas Andry, criador da Ortopedia; Ignacio Ponseti, criador do método que leva seu sobrenome; e Stella Rosembaum, primeira mulher ortopedista no Brasil.

Leopoldina Milanez e eu temos alguns pontos de contato: caxienses, confrades em Academia caxiense; ambos ex-alunos do Colégio São José... e ainda sou amigo, colega de Academia e vizinho da mãe da drª Leopoldina, a professora Auredulce Milanez, piauiense de Angical que desde a menoridade reside em Caxias e cujas lições residem nas mentes e lembranças dos seus milhares e milhares de ex-alunos...

Cumprimentos à devotada médica caxiense, que chega ao Conselho Federal de Medicina com irrepreensível carreira acadêmica, larga prestação de serviços médicos e grande dedicação às causas institucionais das Entidades de Medicina.

* EDMILSON SANCHES

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