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Capixabas aplaudem de pé palestra de Edmilson Sanches

– Jornalista maranhense fala dias 10 e 11 na Assembleia Legislativa e no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

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“Não tinha problema de calor. Não tinha problema de tempo. Eu escutaria uma palestra dessa no clima que fosse e no tempo que desse. Em toda a minha vida na Academia Espírito-santense de Letras nunca havia assistido tão bela palestra assim”.

Foi assim que a escritora Wanda Maria Bernardi Capistrano Alckmin, da Academia Espírito-santense de Letras (AEL), do Instituto Histórico Geográfico do Espírito Santo e da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, entre outras Entidades, resumiu o espírito de satisfação dos seus colegas de Academia e convidados de outras Instituições, a exemplo da presidente da AEL, a professora e pós-doutora Ester Abreu Vieira de Oliveira, e a vice-presidente Jô Drummond, professora doutora, que fez a apresentação de Edmilson Sanches; e convidados, entre os quais Clério José Borges (ACLAPTCTC) e Maribel Barreto, professora e pós-doutora, da Fundação Ocidemnte, de Salvador (BA). Nascida em Belo Horizonte (MG), Wanda Alckmin está há mais de 40 anos em Vitória, capital capixaba, e é autora de cerca de vinte livros, muitos deles em edições bilíngues, inclusive braile, francês, espanhol e italiano.

A palestra do escritor, jornalista e administrador Edmilson Sanches, maranhense de Caxias, iniciou-se às 18h19 da segunda-feira, 9/12/2024, e foi entrecortada por aplausos dos presentes agradavelmente surpreendidos com a fala do seu convidado. Sanches “costurou” valores, representações e referências do Maranhão e do Espírito Santo, entremeou com virtudes e vícios nacionais e universais, destacou o talento capixaba na Literatura  -- a exemplo do cronista Rubem Braga e do poeta Geir Campos, entre outros nomes –, bem como do protagonismo e pioneirismo de caxienses e maranhenses que, como homens de Cultura e de Ciência, de Administração Pública e de Legislação e Cidadania, ousaram iniciar ou fazer “coisas” que se agregaram para sempre aos valores e progresso nacionais e tornaram melhor o Brasil, como a autoria de leis de Teixeira Mendes e João Mendes de Almeida, os avanços na Odontologia por Aderson Ferro, os estudos de Agronomia e de Botânica por Liene Teixeira, o início da Literatura brasileira por Gonçalves Dias e no cinema por Coelho Netto, entre diversos outros.

O palestrante maranhense presenteou a Academia com um conjunto de grandes fotos de locais de Caxias e reproduções de fotos dos caxienses Berredo de Menezes e César Marques, que atuaram no Espírito Santo. Todas as fotos foram produzidas pelo acadêmico, fotógrafo e pesquisador David Sousa, que também divulga Caxias e se especializou, por assim dizer, em aspectos históricos e culturais da própria terra natal. Sanches também doou livros, como a “Obra Reunida”, do poeta, romancista e ensaísta caxiense Adailton Medeiros (1930-2010), trabalho feito pela Família Medeiros (Caxias e Rio de Janeiro), que convidou Edmilson Sanches para revisão e redação do extenso estudo introdutório, além de distribuição gratuita para todo o Brasil e alguns outros países.

Mas o pronunciamento do acadêmico maranhense  –  que também é membro de Instituições de Cultura e História dos estados do Pará, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Estados Unidos –  centrou-se na vida e obra do advogado, economista, pintor e escritor caxiense Ferdinand Berredo de Menezes, que viveu no Espírito Santo 58 anos dos seus 86 de vida e foi vereador, presidente do Poder Legislativo e prefeito de Vitória, além de, por mais de 30 anos, professor de Direito na Universidade Federal do Espírito Santo. De todo modo, Sanches sobreavisou: “Meus confrades e confreiras, convidados e amigos da Associação Espírito-santense de Letras, não lhes venho aqui para dar ‘aulas’ sobre Berredo de Menezes. Vim para recebê-las. É algo assim, diriam os pedagogos, na linha do ensino-aprendizagem – sim, ‘aprendizagem’, porque é contínuo, e não ‘aprendizado’, que é conclusivo, ou concluído.”

Vários dos acadêmicos presentes disseram ao palestrante ter trabalhado com Berredo de Menezes ou com ele convivido ou que dele conheciam a qualidade de intelectual e de homem público. Foram destacadas várias realizações do prefeito Berredo de Menezes, como a arborização da capital capixaba, o trabalho de urbanização na chamada Enseada do Suá, área onde atualmente se localiza, por exemplo, a sede da Assembleia Legislativa, onde ocorrerá outra palestra de Edmilson Sanches na terça-feira, 10 de dezembro, além de, encerrando o ciclo, palestra na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, dia 11.

Para Sanches, o Espírito Santo tornou-se “terra de novas amizades e conhecimentos, mas de velhos – até centenários –  laços, feitos inicial e duradouramente pelo médico, professor, historiador, pesquisador e escritor caxiense César Augusto Marques, que escreveu o já histórico “Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico da Província do Espírito Santo”, publicado em 1878, há 146 anos.” Continua Sanches: “Esses laços centenários –  dado e feito um nó que não se desfaz, ou não deve ser desfeito –  foram reforçados pela vida de Berredo de Menezes, vida de 86 anos, 58 deles, ou 67%, dedicados à terra capixaba, às gentes espírito-santenses, em especial as gerações de jovens de todas as idades às quais o caxiense Berredo de Menezes devotava tempo, saúde, benquerença e talento nos mais de 30 anos de vida dando aulas como professor da Universidade Federal do Espírito Santo.”

Edmilson Sanches destacou a contribuição e o caráter de Berredo de Menezes nos vários setores onde seu conterrâneo atuou. Destacou o palestrante: “Com certeza não somente na Literatura, mas também na Educação, na Política e na Gestão Pública se pode entrever a boa alma de Ferdinand Berredo de Menezes. Na Literatura ele corporificou e animou em letras, palavras e frases personagens, descreveu pessoas, detalhou ambientes, particularizou situações, relatou fatos... Contou histórias... Na Educação, o professor Berredo de Menezes perscrutou com o olhar, perguntou com a voz, orientou com bastança, estimulou com esperança, ensinou com bonança os conteúdos que, por poder e dever, foram solo para os pés e alimento para as mentes de futuros bons profissionais, sobretudo de grandes e boas, melhores, pessoas.”

“Também na qualidade de político –  prosseguiu o palestrante –  Berredo de Menezes entregou-se de corpo e alma. E nestas palavras ‘qualidade’ não é mera condição, mas, sobretudo hoje, rara virtude, caráter, índole, positividade. E ‘político’, segundo li sobre o modo berrediano em seu fazer e ser político, não é a palavra substantiva ou adjetiva seguida de enfado, ironia, crítica, agressividade, escárnio ou escarro... A que ponto de má contaminação chegaram os maus políticos, que enriqueceram de pobreza tão rica, bela e basilar palavra!... Na Política, Berredo de Menezes deve ter feito a escolha correta entre podridão e nutrição, entre o que fede e contamina e o que odoriza e alimenta um ambiente, uma cidade, um povo ou comunidade, uma atividade e função que deveria ser devoção  --  a Política. A alma em um político não é conveniência dos interesses negociados entre prepostos, partidos, mas a essência do povo em suas carências, seus reclamos e clamores. E, na Gestão Pública, pelo que li dos registros feitos ‘post mortem’, meu conterrâneo cuidou como deveria cuidar dos interesses da Administração Pública [...]. Políticos não precisam ser ‘grandes’. Seu tamanho é o tamanho de seu respeito, a utilidade de seus serviços, a necessidade de suas obras, a lhaneza de seu caráter, a transparência de suas ações, a bondade de sua alma. E  -- nunca é demais reforçar – político tem a obrigação de ser honesto, de respeitar a coisa (o dinheiro) que é dos outros (os contribuintes)... pois o problema do Brasil não é o Governo sem dinheiro  --  é o dinheiro sem governo.”

Várias vezes aplaudido, acadêmicos e convidados ficaram de pé, em aplauso, após o final da palestra. Um a um os acadêmicos e convidados cumprimentaram o jornalista maranhense. Foi servido lanche e Edmilson Sanches aceitou sair do hotel em que estava para, após suave e saudável "insistência", ficar na residência do casal Antônio de Pádua, médico e músico, e a professora doutora e tradutora Josina (Jô) Drumond, que estudou na Universidade de Sorbonne, em Paris, e provavelmente é a mais autorizada estudiosa da obra de Berredo de Menezes, que também estudou em Sorbonne, de quem era amiga, de quem recebeu muitas produções literárias originais e inéditas e sobre quem Jô Drumond espera ainda escrever livros. Sanches recebeu de Jô Drummond coleções de livros de Berredo de Menezes para doação a bibliotecas públicas de Caxias e de Coroatá, cidades onde o escritor nasceu e para onde se mudou, acompanhando a família – o pai era juiz de Direito.

No evento do dia 10, na Assembleia Legislativa, foi antecipado que Edmilson Sanches será homenageado com distinção criada por Lei estadual. No dia seguinte, Sanches, a convite do presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Getúlio Neves, fará a palestra de encerramento das atividades de 2024 da Entidade.

Fotos: O prédio e sede própria da Academia Espírito-santense de Letras, ilustrando também capa da revista da entidade.