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As profissões geralmente trazem em seu nome as “coisas” de que se ocupam.
O ourives tem a ver com ouro. O joalheiro, com joias. O dentista ou odontólogo, com dentes. O ferreiro, com ferro. O engraxate, com graxa. O pedreiro, com pedra.
Enfim, quase todos têm, no nome da profissão, o objeto de sua ocupação.
Pois enquanto muitas profissões trazem uma “coisa”, a Enfermagem revela uma “condição”.
O profissional da Enfermagem sabe que, ao cuidar da condição, da situação, está cuidando do indivíduo, da pessoa.
A beleza, compromisso e humildade da Enfermagem está presente não só na formação do profissional quanto na formação da palavra: “enfermagem” tem origem no adjetivo latino clássico “firmus” ou “firmis”, no latim popular.
Como é aparente, "firmus" ou "firmis" era a qualidade da pessoa que estava “firme”, tanto no aspecto físico (saúde) quanto no moral (caráter).
Assim, “firmus” / “firmis”, além de “firme”, era sinônimo de “forte”, “sólido”.
O contrário de “firmus” / “firmis” – ou seja, a condição de não estar firme, forte, sólido – é “infirmus” / “infirmis”, isto é, fraco, debilitado, adoentado. O prefixo latino “in-” muda o sentido da palavra à qual ele é anteposto. Daí vem o verbo latino “infírmo” / “infirmatum” / “infirmare”, com o sentido de “'enfraquecer”, “danificar” etc.
E como se chegou à palavra “enfermagem”?
À palavra-base “firmus” (firme) juntou-se o prefixo “in-” (não): “infirmus” (não firme, fraco). Depois, juntou-se outro elemento linguístico, o sufixo francês “-age”, formador de substantivos que têm origem em verbos ou nomes e que, por sua vez, vem do sufixo latino “-aticu”. Em português, isso resultou em “-agem”.
Assim, somando “in-” (que virou “en-” na Língua Portuguesa) mais “firmus”, mais “-age”, chegou-se a “enfermagem”, palavra registrada em português desde 1913 – oito séculos antes, no século 13, já existiam o verbo “enfermar” (ficar ou cair doente), o substantivo e adjetivo “enfermo” e os termos “enfermaria”, “enfermeira” / “enfermeiro” e “enfermidade”. Já o adjetivo “enfermiço” (com jeito de doente, doentio) é do ano 1767 em português.
Portanto, na história da palavra, a beleza da profissão: a Enfermagem traz no seu nome não uma “coisa”, não uma parte do corpo, mas, sim, a condição dele, a situação, o estado.
É como se a Enfermagem reafirmasse a todo instante em seu nome aquilo que seus profissionais confirmam com seus atos – cuidar, tratar, servir: cuidar do ser humano que não está firme, tratar do que o debilita, servir para o restabelecimento da saúde.
“Enfermagem” não é apenas um nome. Grávida em si, a palavra diz a quem serve: aos fracos – os mesmos de que, nas bem-aventuranças, é feito o reino dos Céus. É como se o versículo bíblico do livro de Mateus (11, 28) fosse recitado pelo Maior dos Enfermeiros:
“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.
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A Enfermagem é profissão que nasceu feminina: foi Florence Nightingale quem desenvolveu as bases profissionais da Enfermagem. Além de enfermeira, foi estatística e escritora. Era filha de rica família inglesa, sua nacionalidade, ainda que nascida em Florença, na Itália, de onde veio seu prenome.
Mesmo não sendo, na época, uma atividade “digna” e mesmo sendo de família milionária, Florence preferiu servir a servir-se.
Ela nasceu em 12 de maio de 1820 e faleceu aos 90 anos, em 13 de agosto de 1910, em Londres. A data de seu nascimento é o Dia Internacional da Enfermagem.
No poema para a enfermeira, a homenagem a todos os profissionais da Enfermagem:
ENFERMEIRA
Quem socorre aquela bela, meiga enfermeira
que tanto corre, corre tanto, em seu dia a dia
e quase sempre toda a noite, a noite inteira
de gentes, sofrimentos e rara alegria?
Ah enfermeiras!... Florence... Ana Neri...
História... ideal... trabalho... tradição...
O que quer que uma enfermeira espere
quando se cansa, quem lhe dá a mão?
Quem ou o que lhe dá ânimo quando desanimada?
Quando entre noites e plantões de feridas e dores
o que mais deseja é abraço, colo, boa risada
e – é pedir demais? – bons odores, sabores, amores...
* EDMILSON SANCHES.