Alunos da rede municipal de educação de Salvador, com média de 10 anos de idade, parecem gente grande ao interagir com microfones, estúdio de gravação e demais ícones do universo da radiodifusão. Tudo por conta do projeto Rádio Educação, coordenado pela jornalista Cristiele França dos Santos. A iniciativa, que tem ajudado os estudantes a desenvolver leitura, escrita e oralidade, foi o assunto do programa “Trilhas da Educação”, produzido e transmitido pela Rádio MEC, em edição que foi ao ar nessa sexta-feira (8).
Tudo começou em 2018, quando Cristiele França recebeu as primeiras turmas para a Oficina Introdutória de Técnicas de Radiofonia, oferecida, gratuitamente, aos estudantes, como atividade de contraturno das aulas na escola. O projeto funciona no Complexo Educacional Subúrbio 360, mantido pela Prefeitura de Salvador, e recebe alunos do ensino fundamental de toda a rede, com um estúdio profissional e equipamentos modernos. A intenção, segundo Cristiele, é aproximar os estudantes do processo de radiodifusão, que mantém no ar um programa de rádio cuja programação envolve música, cultura e educação.
Cristiele conta como o projeto funciona: “Na rádio, além da questão dos assuntos da sala de aula, eu também dou o conteúdo de rádio. Falo um pouquinho sobre teoria de rádio, como surgiu, como chegou ao Brasil, como chegou à Bahia. Dou exemplos de programas, de radionovela. A diferença entre o rádio noticioso e o rádio musical”, explica. “No final, fazemos uma entrevista com uma personalidade, um professor que se destacou na rede municipal, para que eles possam conhecer um pouco mais esse professor. E gravamos também uma radionovela, e eles fazem a locução musical”.
Toda a produção dos alunos vai ao ar na Rádio Educação, que funciona 24 horas por dia na “internet”. Além das entrevistas, radionovelas e música, há quadros educativos com dicas de português e matemática, além de um que destaca a história de personagens do bairro.
Desenvolvimento
O trabalho com os alunos dura dois meses e cada um recebe o certificado no fim. No entanto, a empolgação é tanta que muitos acabam continuando, mesmo depois da conclusão do curso. “Eu tenho crianças aqui que fizeram oficina comigo da primeira turma. Após a conclusão, a gente tem que dar lugar para outras crianças, mas eles me pedem para ser aluno-ouvinte. É bom porque acaba incentivando muito o desenvolvimento deles, a oratória, eles passam a ter mais gosto pela leitura, têm uma maior preocupação na forma como vão ler o conteúdo, até mesmo em sala de aula, nas atividades. Os próprios professores relataram que o projeto os ajuda muito a ter esse olhar mais criterioso na leitura”, destaca Cristiele.
Futuro
A pequena Bianca de Jesus, de 10 anos, está no quinto ano da escola Graciliano Ramos. Ela é um bom exemplo dos estudantes que se apaixonaram pelo rádio e já sonham em ser profissionais da área. Ela lembra como as atividades na oficina a ajudaram em sala de aula. “Eu lia um pouco gaguejando. Melhorei minha leitura, palavras que eu não sabia escrever, falar, eu aprendi. Aprendi a falar um pouco rápido e eu gostei muito”, relata Bianca, que se encantou com as técnicas de produção de radionovelas. “Eu gostava de gravar e de criar. A gente gravava porque se errasse ia ter como consertar. Então, primeiro gravava para depois colocar no ar”.
Formação
A rádio também funciona como um veículo de comunicação para toda a rede municipal de ensino, por meio da divulgação de eventos e conteúdo pedagógico. Mas,, para Cristiele, a maior realização desse trabalho é poder desenvolver as potencialidades dos estudantes e ajudá-los na formação cidadã.
“Além do prazer de conhecer o funcionamento de uma rádio, de ter essa vivência com os microfones e equipamentos, que os deixa superanimados, também ajuda muito na leitura e no aprendizado”, aponta Cristiele. “Por exemplo, a questão da consciência negra, do ‘bullying’, tudo isso tentamos trazer para os programas, as coisinhas que a gente grava aqui na rádio”.
(Fonte: Agência Brasil)