Os rascunhos de Manoel de Barros são a base da mostra em homenagem ao poeta, que começa na próxima quarta-feira (13), no Itau Cultural, na Avenida Paulista, região central da capital. Os manuscritos foram anotados em cadernos irregulares, de diversos tamanhos e formas, confeccionados pelo próprio autor mato-grossense.
Ao reaproveitar diferentes materiais para usar como suporte para o seu trabalho, o escritor colocava em prática uma filosofia que defendia em sua obra, de que tudo “serve para poesia”: “caco de vidro”, “grampos”, “retratos de formatura”, “detritos semoventes”, “latas” e “todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe a distância”, como enumerou em seu poema “Matéria de Poesia” (1974).
O apreço pelas coisas pequenas e simples é uma das principais marcas do poeta, que lançou o primeiro livro em 1937 e o último em 2013, um ano antes de morrer, quase chegando aos 98 anos. “Eu trato muito dessas coisas miudinhas”, enfatiza em um dos depoimentos inéditos colhidos em vídeo por Joel Pizzini e que poderão ser vistos na exposição. “Nós desprezamos o ínfimo. O homem despreza o que é pequeno, é desimportante, não vale nada, é lixo. Mas para a poesia, vale”, filosofava.
Cartas e arquivos
Para montagem da mostra, a filha do poeta, a artista visual Martha Barros, passou um ano e meio vasculhando os arquivos do pai. “Tenho em casa uma biblioteca com as cartas, fotos e todo o material literário de meu pai, mas foi necessário fazer uma longa busca e organização para a exposição”, diz.
Também poderão ser vistas as cartas trocadas entre o autor e personalidades como o desenhista Millôr Fernandes, os escritores Mário de Andrade e Carlos Drummond e o chargista Henfil. Soma-se a esse material as primeiras edições dos livros do poeta e cinco quadros de Martha que se tornaram ilustrações para as capas das obras do pai.
Leituras e oficina de encadernação
As poesias de Manoel de Barros foram gravados nas vozes do escritor Marcelino Freire e da cantora Marlui Miranda. Um telão fará ainda projeções dos escritos do autor. Marcelino e Marlui farão uma leitura ao vivo dos textos na noite de abertura.
O público é convidado ainda a participar de uma oficina de encadernação nos dias 23 e 24 de fevereiro, último fim de semana do mês, das 14h às 16h. Assim, os presentes vão confeccionar os próprios cadernos de rascunho, como fazia o poeta.
(Fonte: Agência Brasil)