Pessoas em situação de rua que produzem móveis e artesanato a partir de caixas de frutas e paletes (usados na movimentação de cargas) descartados vão se apresentar no teatro do Sesc da Avenida Paulista, região central da capital. O grupo “Os Cupins das Artes” tem apresentações hoje (16) e amanhã (17).
O material, utilizado pelo grupo, é abundante na região onde o projeto foi criado, ao lado da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na zona oeste paulistana. A maior central de abastecimento atacadista da América Latina, por onde circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos, também tem, em sua vizinhança, uma grande quantidade de pessoas em situação de rua e usuários de drogas.
Para cuidar dessa população, foi instalado uma das unidades emergenciais de atendimento (Atende), serviço da prefeitura que oferece pernoite e banho. Foi ali que o artista visual Raphael Escobar começou o grupo como uma oficina de marcenaria, que está se tornando um projeto de produção de renda autônomo, administrado pelos próprios usuários.
“Quando eu entrei no Atende, eu sentei com os moradores de rua e falei um pouco a proposta que eu tinha”, contou Escobar sobre o início da prática há menos de um ano. “A gente construiu o nome juntos, o logotipo e fomos pensando a forma das coisas acontecerem”, acrescentou.
Projeto
Com a proposta de manter a oficina vinculada ao cotidiano das pessoas que passam pelo serviço municipal, surgiram iniciativas sobre o uso do material disponível. “Muitos deles já trabalham no Ceasa construindo caixas de fruta”, disse Escobar. “Tem alguns que ‘manjam’ pouco e tem outros que ‘manjam’ mais, e, aos poucos, a gente vai tentando equalizar o nível de todo mundo. Tudo mundo vai ajudando todo mundo”.
Cícero Ferreira, de 55 anos, é um dos integrantes do grupo que tinha conhecimento prévio do ofício. Porém, já estava há bastante tempo distante das ferramentas, mais de 20 anos, pelos seus cálculos. Foi sendo alimentado, aos poucos, pelo trabalho em grupo.
“A gente foi se encontrando um e outro e juntando as nossas ideias”, afirmou, acrescentando que pensa nas peças imaginando o uso que será feito dos objetos. Como exemplo, Cícero mostra um pequeno banco feito na marcenaria. “Eu fiz pensando em um piquenique, uma reunião no jardim”, disse
Produção de renda
Com o empenho do grupo, o projeto conquistou um espaço próprio dentro do Atende. “É o grande trunfo do projeto, o momento que a gente desativa um quarto e transforma em marcenaria. Aí, consegue ter espaço e virar, de fato, um projeto de economia solidária. A gente conseguiu ter a autonomia deles no projeto”, comemorou Cícero Ferreira.
As vendas das peças são feitas pelas redes sociais e, também, de porta em porta na vizinhança. “Tem dois que são bons de lábia. Então, eles saem pelo bairro oferecendo os serviços, explicando que é um projeto de moradores de rua e conseguindo alguns clientes”, relatou Escobar. A renda é dividida em partes iguais entre os participantes e uma caixa da marcenaria, para compra de material.
Daqui para frente, “Os Cupins das Artes” querem, segundo Cícero, trazer mais frequentadores do Atende para participar da inciativa. “O nosso objetivo é trazer outros que estão lá [aponta para o pátio o serviço] para fazer atividade também”, afirma o artesão. Para ele, cada nova cabeça fortalece o projeto com novas habilidades e ideias. “Todos eles têm as suas práticas e sabem trabalhar”.
(Fonte: Agência Brasil)