Apesar de ter sido uma importante pintora da época do Brasil Imperial, participando de vários salões de arte, praticamente não se tem registro das obras de Francisca Manuela Valadão. Um dos quadros remanescentes faz parte da exposição aberta na semana passada, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Com o título “Histórias das Mulheres: Artistas antes de 1900”, a mostra pretende resgatar a produção feminina na pintura e no tecido que ficou de fora da maior parte dos livros de História.
“Esse apagamento foi feito muito em retrospecto, principalmente no século XX”, comenta a curadora assistente do museu, Mariana Leme, sobre como pessoas de renome foram tendo seu trabalho esquecido com o passar dos anos. O desaparecimento histórico acontece, segundo a pesquisadora, mesmo nos casos em que as artistas tiveram reconhecimento em vida. “Nos livros sobre ‘Renascimento’, elas são citadas como casos excepcionais, mas são citadas. Nos textos de crítica de arte dos séculos XVII, XVIII e mesmo no XIX, mencionam obras de mulheres artistas”, destaca.
Reconhecidas e, depois, esquecidas
Sofonisba Anguissola, pintora italiana que viveu entre os séculos XVI e XVII, chegou a ser mencionada nas crônicas de Giorgio Vasari, considerado um dos primeiros historiadores da arte. “Ela era elogiada pelo Michelangelo na época. Receber um elogio do Michelangelo não é para qualquer uma”, acrescenta Mariana sobre os elementos que comprovam a relevância da artista.
A francesa Vigée-Lebrun é outra que teve grande importância, mas, atualmente, não aparece do mesmo tamanho nas narrativas da História da Arte. “Ela chegou a ocupar o cargo de primeira pintora da corte da Maria Antonieta. Ou seja, o cargo mais importante da corte mais importante da Europa no século XVIII”, enfatiza a curadora.
Trabalhos em tecido
Além das 60 pinturas, a exposição traz 34 trabalhos em tecido, alguns produzidos na região dos Andes antes da invasão espanhola. São peças que, segundo Mariana, em sua grande maioria, foram feitos por mãos femininas. “No caso dos tecidos pré-colombianos da região dos Andes, elas também tinham uma função de prestígio na sociedade porque os tecidos são encontrados em templos e lugares importantes”, ressalta.
Nesse tipo de produção, o apagamento desse trabalho acontece, de acordo com a curadora, pelas teorias que colocam o artesanato como uma forma menor do que o desenvolvimento artístico.
Século XX
Em paralelo, também pode ser vista no Masp a mostra “Histórias feministas” que traz a produção de 30 artistas nascidas nas últimas três décadas do século XX. A exposição busca explorar como as ideias do feminismo impactou de diferentes formas a produção artística dos últimos anos. Estão presentes nomes como Virgínia de Medeiros, a paquistanesa Rabbya Naseer e a israelense Yael Bartana.
Ambas exposições podem ser vistas até o dia 17 de novembro. O Masp fica na Avenida Paulista, região central da capital, e tem entrada gratuita às terças-feiras, das 10h às 20h. De quarta-feira a domingo, fica aberto das 10h às 18h.
(Fonte: Agência Brasil)