Você sabe o que é linguagem conotativa?
Se não sabe, eu explico: “linguagem conotativa é o contrário da denotativa”. Pronto, você nunca viu uma explicação tão clara! Só não compreendeu quem não quis. É, você tem razão, foi uma explicação ridícula. É do tipo “definição circular”: ficamos dando voltas e não chegamos a lugar algum.
Bem... Vamos falar sério. Linguagem conotativa é o uso da linguagem figurada, é o uso das palavras fora do seu sentido real. É aqui que encontramos as figuras de linguagem.
A metáfora, por exemplo, é aquela figura em que o seu criador parte de uma comparação. Quando alguém diz que “a menina é uma flor”, temos uma metáfora: para o autor, a tal menina é tão linda, tão delicada quanto uma flor. O autor faz uma comparação da beleza da menina com a da flor.
É interessante observarmos o seguinte: se usarmos os elementos de comparação (= assim como, tal qual, tanto quanto) não teremos a metáfora, e sim a própria comparação:
“Ela é tão bonita quanto uma flor”. (= comparação);
“Ela é uma flor”. (= metáfora).
Isso significa que, para compreender uma metáfora, é preciso perceber a comparação subentendida.
Quando José de Alencar diz que Iracema é “a virgem dos lábios de mel”, significa que “os lábios de Iracema são tão doces quanto o mel”.
Para João Cabral de Melo Neto, a serra do sertão é “magra e ossuda”, ou seja, é tão seca (= sem vegetação) que parece um ser muito magro, tão magro e ossudo como o sertanejo em geral.
Assim sendo, chamar alguém de burro é só uma metáfora. Significa que estamos comparando a inteligência do ofendido com a de um burro, que dizem ser mais inteligente que o cavalo. Mas isso é outra história.
O problema é que as metáforas podem ser traiçoeiras.
Há muito tempo, li no manual da qualidade de uma grande empresa: "O auditor da qualidade deve ser uma raposa à caça das não conformidades".
O uso de linguagem metafórica em textos técnicos é sempre um perigo. Pode criar ambiguidades e mal-entendidos.
A metáfora é uma figura de estilo muito presente na linguagem poética e usada, eventualmente, em textos jornalísticos.
O uso de animais é muito frequente: "o zagueiro foi um leão em campo" (= raça, garra, força); "aquele artista é um gato" (= lindo, bonito); "o corredor mais parecia uma tartaruga" (= lento)...
O uso de "raposa", entretanto, merece cuidados. Chamar uma pessoa de raposa pode criar problemas, pois, além de "astuta", podemos julgá-la "traiçoeira". Afirmar que um determinado político é uma raposa tem certamente carga negativa.
Certa vez, perguntaram-me o que eu achava do excessivo uso de expressões do tipo "tigrão" e "tchutchuca". Como toda gíria, elas são passageiras. É só lembrar que o "tigrão" de hoje já foi um "gato" e o pai provavelmente era um "pão"; a mãe da "tchutchuca" era uma "uva" e a avó, um "pitéu".
A língua é sábia. É como a nossa própria língua, que tem o dom do paladar. As palavras e expressões novas são mastigadas por algum tempo. O que for gostoso nós engolimos (= são incorporadas), e aquelas de gosto duvidoso são devidamente cuspidas.
Para terminar, uma curiosidade trazida por um amigo: "Como será entendida daqui a alguns anos a expressão cair a ficha?"
Acredito que a sua compreensão será a mesma de hoje em dia: "finalmente compreendeu".
O curioso será explicar a origem da expressão, pois é óbvio que as novas gerações deverão ser esclarecidas e saber que um dia houve aparelhos telefônicos que só funcionavam com fichas e o principal: a ligação só completava quando a ficha caía.
Compreendeu? Caiu a ficha?
Teste de ortografia
Que opção completa, corretamente, as lacunas da frase abaixo?
"A __________ de Jesus Cristo até hoje __________ discussões".
(a) ressurreição – suscita;
(b) reçurreição – sucita;
(c) ressurreissão – suscita;
(d) ressurreição – sucita.
Resposta do teste: Letra (a). O ato de RESSUSCITAR é RESSURREIÇÃO. E o verbo SUSCITAR significa "provocar, causar".