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LITERATURA MARANHENSE: Fernando Braga

Liturgia poética de um tempo comum*

Este texto foi escrito para as orelhas do livro ‘Poemas do tempo comum’, do poeta Fernando Braga, premiado no concurso literário Gonçalves Dias, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, em 2009.

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Fernando Braga, um dos mestres da nossa literatura, nos traz, neste seu livro, muito mais que poesia; presenteia-nos com um hino, misto de amor extremo e inicial ao Deus Divino e uma canção quase desesperada por São Luís de tantos encantos.

Sua poesia se nos oferece madura, nestes parreirais fecundos da literatura maranhense, e nos chega como uvas da mais fina casta, para ser servida, suavemente, aos iniciados que sabem da extensão e da profundeza maior de seus versos.

Poemas do Tempo Comum... Fernando nada comum. Ele se sobrepõe com um canto solo, quase alado, tendo apenas tênues harpas como companhia, em seu gesto de sôfrega busca a Deus. Chega a ser sublime em muitos momentos, quando, com a profundeza dos Salmos, ou resgatando Jó, em seu extremo de dor, como diz em uma súplica: “... não me deixes Senhor Meu repartido entre demônios, zápetes e coringas...” E mais: “Eram os selvagens negros Touros de Bazã, vindo das terras dos gigantes que me queriam e a meu filho...”

Porém logo ele transmuda, veste-se do otimismo dos remidos e grita cheio de esperança: “... e cobre o meu corpo nu com as santas túnicas da claridade e das auroras...”

Aí vem a certeza, em toda sua plenitude de resgate, de um se encontrar em uma nova Canaã, onde emana leite e mel: “E o sangue das uvas que serão servidos ao jejum dos anjos para cujo banquete me convidaste”.

Assim é e se faz ser a primeira parte de seu fantástico livro, praticamente sem paralelo na literatura brasileira, ou mesmo na literatura sacra. Fez-se profundo, dolente, fundamental, teológico mesmo, apontando para o alto, em uma prece de busca-encontro e pleno com Deus.

Porém, Fernando, não para aí. Inquieto, olha para a planície e seu semblante se enche de nuvens-quase-lágrimas, ao buscar a sua São Luís que não está mais aqui, dizendo então, num gesto resignado, que ela é “... como uma fotografia antiga esquecida numa mesa de redação”. E segue, em seu poema antológico, pautando no passado, que permanece profundamente vivo em sua memória: “... homens e paralelepípedos despencam de becos e vielas por cumeeiras sem escápulas, territórios de artistas e pensadores que secam as vísceras ao sol do meio-dia.”

... E conclui, achando-a sem perspectivas, sem mais retorno, vez que: ... “morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas”.

São Luís de pedras e cal, de calcinadas almas, de cais e memória. São Luís de Fernando, cantando sempre a nossa gente. Ele, em um gesto atávico, emergindo hereditariamente do Rio Douro, no velho Portugal, nos presenteia com uma linda celebração de amor ao seu pai, como se refletida no Rio Anil, bem aí, às barras de nossa Sagração. E segue a trilha dos tipos e estereótipos que povoam a nossa Ilha, desfilando em aquarela pela pena deste poeta que nos chegou maduro e gigante desde Silêncio Branco. São Luís de luzes e tenazes a nos envolver, numa canção autêntica que Fernando nos traz, para esta aurora que nos beija a alma.

Assim é Fernando, neste seu insuperável e fantástico canto. Vinde, provai e lede, pois a poesia pede passagem.
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* Mário Luna Filho, médico e escritor.