– Há quatro anos, está dando aulas na Eternidade...
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Há quatro anos, às 9h15 de 13 de junho de 2016, um telefonema de meu colega jornalista Jorge Gonçalves, de Caxias (MA), anunciava o inesperado: acabara de falecer Dª Maria Luíza da Luz Mousinho, uma das mais respeitadas professoras do antigo ensino primário daquele município.
Fiz contatos telefônicos para saber mais informações. Liguei para parentes caxienses. Retornei ao amigo de adolescência Jorge Gonçalves, que, a esta altura, já conseguiu mais telefones de contato.
Quem me confirma a morte da própria mãe, sob choros sentidos, é a Glorinha (Maria da Glória Mousinho de Souza), de quem fui colega no Banco do Brasil, agência Caxias, onde também trabalhava o Cafu (Raimundo Nonato Sousa), seu marido.
Glorinha sabe do carinho e respeito mútuo entre Dª Maria Luíza e eu: “Ela tinha você como um filho” – diz Glorinha, pesarosa, sentindo a perda também por mim (essas mulheres e seus grandes corações!...). Além de Glorinha, Dª Maria Luíza deixa a filha Graca Mousinho e os filhos Miron e Mário (apelidado Vevéi, que reside em São Luís).
Dª Maria Luíza tinha mais de 80 anos. Antes do 13/6/2016, alimentava-se, há um mês, por sonda, mas permanecia lúcida. Sofria de artrose. O médico amigo da família que examinou o corpo disse que ela morreu da idade mesmo.
Era forte Dª Maria Luíza. Sempre que eu ia a Caxias costumava visitá-la. Sempre era recebido com sua forma carinhosa e efusiva de me tratar desde a infância, eu com 6 ou 7 anos: “– Chegou meu ‘Rui Barbosa’!”.
Por muito tempo, Dª Maria Luíza não aceitava morar com as filhas – ela mesma me contou, pessoalmente, em mais uma das visitas que lhe fazia. Não era por nada, não: apenas minha primeira professora raciocinava que, morando sozinha, em sua casa próxima à antiga Estação Ferroviária de Caxias, obrigava-se a acordar cedo, fazer os serviços domésticos, preparar bolos e outros alimentos para si mesma e as visitas, cuidar de plantinhas e outras coisinhas... e isso tudo, segundo ela me dizia toda alegre, saudavelmente agitada, isso tudo a deixava mais viva, contribuía para sua saúde física e mental.
Como se vê, ela continuava ensinando. Lições de vida, agora...
À sua maneira, a professora Maria Luíza acompanhou minha infância e meninice e adolescência. Desenvolveu tal carinho por mim que, certa vez, foi atrás de um professor que, por justificado excesso de zelo, não arredondava os décimos de uma nota de prova, “puxando” a nota para baixo. Certa feita, lembro-me, fomos juntos até o bairro caxiense Caldeirões (ou era o Cangalheiro?) conversar com um professor de Matemática...
Dª Maria Luíza sabia sem dúvida que eu não desonrei seus ensinos e seus esforços – de professora à boa moda antiga e de pessoa amiga – por mim.
Em outro texto, escrevi sobre minha professora Maria Luíza:
“[...] relembro minha professora do 1º ano do antigo primário (atualmente ensino fundamental), Maria Luíza da Luz Mousinho, que me chamava, eu criança e até hoje, de ‘meu Rui Barbosa’. A escolinha da reconhecidamente exigente professora Maria Luíza era na sua casa, ali próximo à Estação da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, em Caxias.
De professora, Dona Maria Luíza virou minha fã – precisa ver a alegria dela, a verdadeira mobilização que ela faz com os vizinhos para me apresentar como seu ex-aluno. Em tempo de política, quando disputo mandato estadual ou federal, então, não tem para ninguém: ela prega cartazes, concita jovens e adultos para votarem em meu nome etc. etc. É ela e a madrinha Necy, ali perto, na Rua da Galiana, outra orgulhosa pessoa de minha convivência – e ambas, Maria Luíza e Necy, pessoas que, mais que de meus frutos, sabem de minhas raízes, sabem em que se assenta e em que se sustenta o edifício pessoal, profissional e político que venho tentando alevantar por tantos anos e tenebrosos tempos”.
Quando seu aluno, “Dona Maria Luíza, a professora, se encantava pelos meus acertos nos ditados, exercícios e provas. Nos testes de silabação, eu, não raro, era o único que acertava, por exemplo, a soletrar palavras como ‘exercício’ e ‘helicóptero’. E, confesso, não tinha nenhum gosto de aplicar ‘bolos’ com a pesada palmatória na mão de outros alunos, meus colegas. Mais dolorido ainda (para mim, em sentido figurado; para meus colegas, dor física mesmo) era quando alguns deles tentavam puxar a mão e a grossa palmatória lhes acertava no seco dos dedos – a dor física, realmente, devia ser maior...”
“Momento de êxtase para minha professora Maria Luíza foi eu, em tenra idade, ser aplaudido por milhares de pessoas após discursar em favor de um candidato a prefeito, ali próximo à grande e conhecida Praça do Panteon, no centro de Caxias. Ainda me lembro da frase final: ‘Eu sei que sou criança, mas se tivesse idade eu faria igual a vocês – votaria em Dr. Marcello para prefeito’. Levantaram-me e balançaram-me como um troféu. Marcello Thadeu de Assumpção (a grafia é esta mesmo) era um médico boníssimo, considerada a pessoa com maior número de afilhados por aquela região e redondezas.
Toda vez que vou a Caxias, visito minha professora Dona Maria Luíza. Precisa ver a cara de felicidade, de alegria e orgulho imensos dela, que diz me acompanhar por meio de raras e cada vez mais escassas participações minhas em mídia eletrônica e jornais impressos”.
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Há quatro anos, o corpo de Dª Maria Luíza foi velado na Casa da Amizade, na sede do Rotary Club de Caxias, na Avenida Santos Dumont. Foi enterrado no dia seguinte, 14/6/2016.
Há quatro anos, os novos alunos de minha primeira professora são diferentes: Dª Maria Luíza está dando aulas para anjinhos nos céus... E que eles não prestem atenção, não!...
Descanse em paz, Dª Maria Luíza, minha professora do primeiro ano do ensino primário.
Saudades...
* EDMILSON SANCHES.