ARÁBICOS x ROMANOS
(... E ALGUMAS ANOTAÇÕES SINGULARES SOBRE O USO DO PLURAL)
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Leitor de nossa página no Facebook (https://www.facebook.com/edmilson.sanches.9) escreveu-me no dia 21/7/2020. Diz ele:
“... se não for meu engano, as sequências do papado e de membros de famílias da nobreza, escrevem-se com ‘romanos’...”
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Respondi:
“[...] nesses casos, o uso de algarismos romanos é costume, tradição, não norma.
Já há algum tempo (décadas), prefere-se ‘decodificar’ os símbolos e facilitar a leitura, utilizando-se, na grafia, os caracteres que mais se aproximam da fala. Assim, ‘primeiro’ é ‘1º’.
Diversos grandes veículos de Imprensa já consignam em seus manuais de redação a preferência ou prevalência dos algarismos arábicos aos romanos. A comunicação se faz mais rápida e/ou com menos dificuldade (ou mais facilidade).
Por exemplo, é costume os filmes trazerem o ano de lançamento em algarismos romanos e às vezes, no cinema ou TV, não dá tempo ‘interpretar’ o ano: MCMXLVIII – por que não ‘1948’?
Sobre o assunto, e a confirmação de que não há base normativa para o uso formal dos algarismos romanos nas sequências citadas, vejam-se os comentários do ‘Jornal de Brasília’:
‘Os algarismos romanos são usados na nossa comunicação escrita especialmente para designar sequência de títulos de nobreza e eclesiásticos (papas), numeração de incisos ou outras partes de documentos, eventos, séculos e até mesmo (agora está bastante em moda em alguns países estrangeiros) para filhos e netos em substituição a ‘Júnior’ e ‘Neto’, como ‘Roberto Pereira II’ e por aí vai. // Diante disso, muita gente pode pensar que é obrigatória essa utilização em algumas situações como o século e a sequência de encontros, reuniões, fóruns etc. Também há quem oriente para a pronúncia como século 4º, por exemplo, em detrimento de século 4 (e que assim se deveria pronunciar ao ler ‘século IV’). Todavia, não há em nenhuma base do acordo ortográfico orientando para uso dos algarismos romanos, a não ser por manuais de redação (que configuram muito opção intestina). Em documentos já não se negocia: deve-se usá-los em partes especificadas’.
( https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/mandando-a-letra/algarismos-romanos-pra-que/ )
Grato por seu tempo e atenção”.
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Elegantemente, e até por não ser o objeto da dúvida, não quis fazer referência à inconformidade ou impropriedade no uso da expressão “as sequências do papado e de membros de famílias da nobreza”.
Às vezes, a ideia de plural, em Língua Portuguesa, pode ser expressa de forma bem... singular. É o caso de “sequências”.
Quando uma propriedade diz respeito a dois ou mais sujeitos não se deve usar plural. Usa-se o “singular distributivo”, que é aquele em que a propriedade (“sequência”) se aplica, na frase do leitor, aos dois termos (“papado” e “membros de famílias da nobreza”. Assim, a grafia adequada é: “[...] a sequência do papado e de membros de famílias da nobreza [...]”.
Da mesma forma, não se diz nem se escreve: “Ainda não foram descobertas as identidades dos criminosos” (Ainda não foi descoberta a identidade dos criminosos); “Há homens que perdem as cabeças quando perdem o amor” (Há homens que perdem a cabeça quando perdem o amor); “Eram tão presunçosas que só viviam de narizes empinados” (Eram tão presunçosas que só viviam de nariz empinado); “Vocês, eleitores, estão em nossos corações – disseram os políticos” (Vocês, eleitores, estão em nosso coração – disseram os políticos); “Agradecemos as presenças de todos vocês” (Agradecemos a presença de todos vocês).
Nos casos acima, a propriedade que vale para um vale para todos. A palavra no singular confere ou distribui a necessária ideia de plural. É, repita-se, o singular distributivo.
A Língua Portuguesa tem aspectos bem singulares, até quando trata de plurais – ... bem como tem modo plural de tratar até do singular das palavras.
Ave, Maria!
* EDMILSON SANCHES"