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Fama e forma*

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Este solo é para ser pisado com respeito. Respeito, porque é mais velho que nós; e devoção, porque sobre ele se assentam oito mil anos de História, Cultura e Arte – “coisas” que nos tornam o que teimamos negar: humanos.

Do papiro à pintura, da múmia ao moderno, em pedra e pau, papel e tecido, cerâmica e vidro, ouro e chumbo, pele e osso, são cerca de 400.000 peças, das quais menos de 10% estão expostas, espalhadas em 160 mil metros quadrados de área de um palácio que, neste 2013, completa 220 anos de construção.

Estou no pátio central (“Cour Napoleon”) do Museu do Louvre e caminho para a entrada localizada sob a polêmica pirâmide de vidro inaugurada em 1989. (Um exemplo dessa má digestão de alguns franceses acerca da pirâmide de vidro está em uma cena em frente a ela, no filme “O Código da Vinci”: a pirâmide é definida como “Uma cicatriz nas feições de Paris” – em inglês: “A scar on the face of Paris”, frase dita pelo capitão francês Bezu Fache, interpretado por Jean Reno, dirigindo-se a Robert Langdon, o simbologista interpretado por Tom Hanks. No "link" abaixo, emocione-se com a música de Hans Zimmer com que o filme se encerra, em cena tocante – com trocadilho – de Tom Hanks ajoelhado sobre os vidros da pirâmide do Louvre).

Sou um dos 10 milhões de visitantes anuais e em um número de oito algarismos a unidade não faz diferença ao Louvre. A diferença está no olhar, no observar e no absorver.

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A fama é a forma. A fama do Louvre é a forma do olhar de quem o visita.

A fama não está na “Mona Lisa” de Da Vinci, ou na “Vênus de Milo”, na “Vitória de Samotrácia”. A fama é feita de forma. O conceito (positivo ou negativo) é o jeito com que se olha e divulga o olhar. A reputação (boa ou má) depende de modos e maneiras.

A fama é orgânica. Está no ser humano, que a repassa ou imprime, como um carimbo, sobre os papéis sociais que exerce.

Uma pintura, uma escultura, um objeto desperta ou não sensações, sentidos, sentimentos – que podem ser espontâneos ou podem estar submetidos à mediação do cardápio (ou “menu” – afinal, é Paris) de conteúdos do observador, contemplador, apreciador.

Eis o Museu do Louvre. Entrar nele depende de 9 euros. Mas ele entrar em você... isso não tem preço.

Acompanhe-me.

* EDMILSON SANCHES

(Texto inicial do livro "Reflexões Parisienses", inédito)

Fotos:
No Museu do Louvre, em seu pátio central, na pirâmide de vidro e próximo à Mona Lisa ("La Gioconda").