QUEM ORA PELAS MÃES DOS MAUS?
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Elas, as mães, sabem. A maior dor de uma mãe não está no parto natural. Ou nas antecedentes dores da gestação. Tampouco na aflição das doenças de criança. Nem na inquietação da volta ou não de um filho ou filha da escola, do trabalho, da festa, da igreja.
Há uma dor que dói diferente, e vai além da outra e antinatural maior dor, que é a perda do filho, quando o filho morre primeiro que a mãe.
Essa outra maior dor é a dor da vergonha, da autopunição, pelo filho que se transformou no contrário dos valores que toda mãe decente quer para o ser que ela gerou.
Mães não embalam filhos dizendo-lhes para serem ricos, poderosos, mas, sim, que Deus lhes dê “saúde, fortuna e felicidade” (às vezes complementando, na bênção, se a criança é sapeca: “e vergonha na cara também”). A palavra “fortuna” tem nada a ver com acúmulo de riqueza(s). “Fortuna” é palavra latina para “sorte”, “acaso”, “destino”. Depois é que lhe assentamos esse significado que tem a ver com patrimônio ou dinheiro.
Fico pensando nas mães de quase-monstros como, entre tantos outros, aqueles ditos “LÍDERES” FUNDAMENTALISTAS da chamada Congregação Boko Haram, da Nigéria, que sequestram de uma escola cerca de 300 meninas estudantes de 7 a 15 anos, sob a alegação – de falsa ou inaceitável base religiosa – de que mulheres não devem ter ensino, não merecem escola, educação, conhecimento, e só serviriam para casar, procriar e cuidar do marido.
Aí, sob repreensíveis fundamentos religiosos e com muita violência submetem as meninas aos maiores vexames, torturas e dores: cada uma, naquela pouca idade, chega a ser estuprada pelos terroristas 15 vezes por dia; depois, são entregues à população das comunidades onde a congregação se esconde para continuarem a ser estupradas.
A seguir, cada menina tem parte da vagina e do seio cortada e, achando pouco, esses terroristas pegam a criança ou adolescente e esfregam na soleira de uma porta o mamilo de um dos seios dela até desaparecer.
Que religião prega ou tolera isso?
Que mães têm orgulho de ter filhos assim?
Seriam essas mães diferentes das mães das filhas que são violentadas, brutalizadas?
Fico pensando na mãe de POLÍTICOS E GESTORES PÚBLICOS LADRÕES, que estão convencidos de que convenceram suas mães de que eles, à frente de Poderes e órgãos municipais, estaduais e federais, são pessoas honradas, sérias, honestas. Não são.
Esses políticos sabem que são ladrões (a Controladoria Geral da União diz isso, o Tribunal de Contas da União diz isso, alguns Tribunais de Justiça dizem isso, a Polícia Federal diz isso, o Ministérios Público diz isso, a Justiça diz isso, a Imprensa diz isso, o povo sente e diz isso também...).
Esses políticos e gestores podem “ajeitar” direitinho os papeis da contabilidade, da (i)licitação, do empenho, do cheque ou ordem de pagamento. Mas são ladrões. Ladrões, bandidos, assassinos. Gente baixa, vil, escroque.
Esses políticos são tão ruins que, pelos mecanismos psicológicos do autoengano, acreditam piamente que não são ladrões. Absolvem-se e justificam-se plena e diariamente – daí odiarem, daí não aceitarem aqueles que não se convencem de que eles não são honestos... porque ao político ladrão ou gestor público bandido, quadrilheiro, assaltante, não interessa ver no outro, como um reflexo, o canalha que ele é.
Se Narciso achava feio o que não era espelho, ao político corrupto causa prurido o que traz (seu) reflexo mais escuro e escondido.
Por isso que até água (transparente, limpa), em presença do político ladrão vira lama (opaca, suja, podre, malcheirosa, feia).
Que mãe, se tivesse acesso ao mais íntimo da consciência de um filho ladrão do povo, manteria seu orgulho materno?
Enquanto isso, o filho que é político bandido vai sendo a causa da morte ou da infelicidade de milhares e milhares de outros filhos – crianças, jovens e adultos... É a Educação e Saúde de qualidade que faltam. É a infraestrutura de qualidade que falta. É a Segurança e o emprego que inexistem...
Certa vez, li na Imprensa: Em 10 anos políticos bandidos e seus asseclas e corruptores já havia levado pelo menos 800 (oitocentos) bilhões de reais (isso mesmo: bilhões, com "B"), em desvios que maltratam e matam brasileiros.
Agora, pense no seguinte: na concepção, segundo alguns registros, são liberados de 200 milhões a 500 milhões de espermatozoides. Eles vão enfrentar muitos obstáculos para, no geral, apenas um deles chegar a ser o que somos, ou devíamos ser – gente. É um verdadeiro milagre. Por isso que, quando falamos em “milagre da vida”, não estamos aludindo apenas a referências espirituais, religiosas, filosóficas, poéticas, mas, sim, também científicas, biológicas, químicas, matemáticas... Lembrando o Mateus bíblico (22, 14), muitos são chamados, poucos, pouquíssimos os escolhidos – quase sempre apenas um, o futuro filho, a futura filha.
Neste Dia das Mães, que possa sofrer menos a mãe que tiver consciência e certeza de que seus filhos escolheram e se permitiram permanecer no “lado escuro”.
Essa mãe sabe que, mesmo aquele filho que lhe chega, como Judas, beijando-lhe a face, é ou foi alguém gerado, gestado e gerido nos limites de suas possibilidades de mulher e nos ilimites de seu amor de mãe. Ela, mãe, jamais ensinaria a seu filho ser um terrorista, um estuprador de filhas dos outros, ou um político ladrão, estuprador do dinheiro – e da paciência – do povo.
Que as mães de maus filhos – que quase sempre não são lembradas – possam ter paz de espírito. Elas não são culpadas. Elas não erraram.
Lamentavelmente, não se pode dizer que seus filhos bandidos e/ou maus políticos “não sabem o que fazem”. Sabem, sim. Eles sabem – e, um dia, a Justiça dos homens, a Justiça de Deus, ou o fogo das profundezas também saberão.
Que as mães dos maus continuem tendo o coração terno e o amor eterno.
Que as mães dos filhos maus, em sua infinita resignação e bondade, continuem orando por eles.
No céu, anjos oram por elas.
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REPERCUSSÃO – ALGUNS REGISTROS
– “Edmilson Sanches, que texto maravilhoso!!!! Não pude conter a emoção... // Parabéns pela magnífica reflexão e homenagem àquelas, que, além de serem relegadas ao sofrimento pelos maus filhos, ainda são julgadas e condenadas pela sociedade, que as culpam pelas escolhas erradas que eles fizeram. // Uno-me a você nessa homenagem, rogando a Deus que as ampare e conforte em sua dor! // Grande abraço!” (ELENICE MEDRADO. 11/5/2019)
– “Sem palavras...😢”. (ROSBENE MENDES MACEDO, graduada em História e Pedagogia, especialista em Psicopedagogia. 11/5/2019)
– “Lindo texto. // Citou várias mães, vários tipos de amores, sofrimento. // Mãe é amor em movimento. // Parabéns!!!” (ANA CELIA BORGES MARINHO. 11/05/2019)
– “Isso quase que confirma o ditado: ‘Mãe nasceu pra sofrer’. Mas também tem aquelas que são as mais felizes do mundo só por ver seu filho respirar e se tornarem homens e mulheres de bem. Tanto uma como outra à sua maneira amam seus filhos, apesar dos erros; estes com certeza elas não aprovam, mas não desistem de corrigir”. (MARIA JOSÉ AQUINA. 11/5/2019)
– “Meu Deus, que texto forte!. 😢 Parabéns pela escrita, Edmilson Sanches”. (HILÁRIA ALMEIDA, graduada em Enfermagem; HC UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 11/5/2014)
– “Não tenho o que comentar, meu silêncio e minhas lágrimas falam por si”. (CARLOS BRANDÃO. 11/5/2014)
– “Que texto profundo! Deus abençoe sua sensibilidade e visão [...]. Amigo, parabéns pelo texto. Mexeu!!!” // DESCULPE, AMIGO, EU COMPARTILHEI”. (MARIA DE LOURDES CAMARGO, Comunicação em Mídias Sociais / Universidade Católica de Santos/SP. 11/5/2014)
– “Quando o Chico Estrela, o ‘Maníaco do Parque’, foi preso, a repórter fez uma pergunta sobre o que ela achava de tudo que falavam sobre o filho dela. Ela respondeu o seguinte: ‘Apesar de tudo isso que ele fez, ele nunca deixará de ser meu filho’. O seu texto é maravilhoso, magnífico! E lembraste de um lado negro que pouca gente lembra. Bandido também tem mãe”. (MARIA ALDETI GUIMARAES MARQUES DE ASSUNÇÃO, graduada em Economia. São Bernardo do Campo/SP, 11/5/2014)
– “Você pensa o impensado e põe amor e compaixão onde todos colocam distância.... Você traz para a concretude a realidade que todos procuram fazer dispersa... Parabéns pelo profundo e doloroso texto...” (ALTAIR JOSÉ DAMASCENO, advogado, escritor. Imperatriz/MA, 11/5/2014)
– “Você como sempre me comove com suas mensagens. Saudades”. (HELENA AIRES, professora, advogada, ex-vereadora e secretária de Educação. Imperatriz/MA, 11/5/2014)
– “Perfeito e coerente como tudo que você se dispõe a escrever”. (ELIANE SOARES DE ARAUJO, graduada em Serviço Social. Imperatriz/MA, 12/5/2014)
– “Você pensou antes de mim. Neste dia 11 de maio era culto mensal das mães em minha igreja. [...] Hoje, terça feira, pela manhã, vinha pensando a mesma coisa que você sobre essas mães que falas acima, e em especial em Santa Rita de Cássia, cuja história inspirou-me uma atitude meio drástica com relação aos meus filhos. Preocupada com o futuro deles e com minha quase impotente força em assegurar-lhes que se tornassem homens e mulheres dignos, segundo o exemplo da santa, resolvi dividir com Deus essa responsabilidade. Como? Pedindo-Lhe que se, apesar de meus esforços em contrário, o destino deles fosse o de serem pessoas abjetas, que eu os preferiria ver mortos. São já todos adultos, e estão vivos ainda, nenhum deles é político, quem sabe a mãe deles não entre para a política?” (ÂNGELA MARIA GOMES PEREIRA, graduação em Estudos Africanos e Afrobrasileiros / UFMA - Universidade Federal do Maranhão. São Luís/MA, 13/5/2014)
– “Só tenho a agradecer por ter hoje a oportunidade de poder ler o que escreves. Pois és tu, mulher sofrida, a mulher mais amada. Bendigo a mulher que o educou HOME”. (MARIA LÚCIA D. SOUZA, graduada em Direito. 26/5/2014)
* EDMILSON SANCHES