Rua da Areia,
amor em grãos.
Cupido devaneia,
flecha nas mãos.
Rua da Aroeira.
Quem é o portador
de lenho superduro?
O homem sem amor.
Rua Augusta:
corpo delirante
que o comércio frustra.
Amor-instante.
Rua Bom Pastor:
o menino de Nazaré
distribui a rima amor
em título e rodapé.
Rua do Cisco,
de amores sujos,
amores lixos,
amores cujos.
Rua do Cotovelo:
o amor, curvo,
não posso vê-lo
– lugar turvo.
Rua da Estrela:
amor-astro, brilho,
mor estribilho.
Dor? Impossível vê-la.
Rua da Galiana:
gali = galo? galho? gaulês?
Não importa, mana,
também ali o amor tem vez.
Beco do Galo
que canta amor
mal sente o halo
da aurora em flor.
Rua da Mangueira. Sob o céu,
olhos fitam a esguia galha, com zanga.
Ficam insossos os lábios de mel,
fica mais doce a intocável manga.
Rua Nova
e Nova Rua:
ali acreditam
em amor e lua.
Beco do Onze.
Onze o quê?
Rara rima, bronze.
Amor? Cadê?
Rua da Palmeirinha:
põe-se a chorar
a moreninha
ao canto do sabiá.
Rua do Porto Grande:
porto grande, sim senhor!
Há algo mais que abrande
que o que porta grande amor?
Rua Porto das Pedras:
o amor não medra
– o coração é frio, duro,
como vil órgão de pedra.
Rua São José:
amor de varão
com bela mulher.
Deus e oração.
Rua do Tamarindeiro:
a puta convida, sorrindo
– vai amar o menino e o dinheiro
da venda de tamarindo.
Beco do Urubu:
amor-carne, cru,
amor-angu,
pele, ossos, nu.
Rua Torta
e Rua Direita:
em cada porta
o amor espreita.
Ruas ruas ruas e ruas
de flores ou de fossas
ou nuas, cruas, são ruas
nossas nossas e nossas.
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Caxias de antanho – algumas de suas paisagens urbanas e humanas cheias de ontens...