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AOS PROFESSORES*

No dia a dia e no entra ano e sai ano de suas atividades, vocês todos têm aprendido uma dura lição: lutar é preciso. Protestar é preciso. Reivindicar é preciso. Denunciar é preciso.

Há quem defina o ensino como um sacerdócio. Há quem queira ver o professor apenas como um sacerdote. Assim, o professor não teria um trabalho, mas uma missão. A função do professor seria apenas educativa, social, e não política, (r)evolucionária.

Mas não é isso – ou, melhor, não é apenas isso. Do sacerdote (pelo menos, da imagem antiga que se faz dele), espera-se paciência, contrição, suportação. Sofrer calado. Aguardar resignado. Esperar sentado. E, enquanto isso, sobreviver à custa de dízimos miseráveis e infrequentes.

Chega! Basta! Ou, como se diz por aí: “Fala sério!...”

Professor rima com trabalhador. Professor é trabalhador. Ele está sujeito aos mesmos mecanismos de freios e contrapesos a que são submetidas outras categorias do mercado de trabalho e das relações laborais.

Ora, se aos professores se aplicam regras trabalhistas, por que, correspondentemente, não podem eles salvaguardar-se brandindo as armas de que dispõem, efetivando os recursos que têm? As relações de trabalho não se baseiam apenas na hierarquia, mas também, senão sobretudo, no direito. Bilateralismo. Mão dupla.

Desse modo, é válida a luta.

Já houve momentos em que se acusaram professores pelo atraso do calendário escolar, mas os acusadores eximiram-se do atraso no calendário de pagamento dos salários.

Já acusaram professores de prejudicar os alunos, mas absolveram-se do prejuízo econômico, social e até moral que, pela dinâmica da economia, ante a irregularidade de pagamentos salariais, contamina a família dos professores e os negócios e a vida daqueles com quem os professores mantêm interações econômicas e sociais.

Já acusaram professores de má conduta, mas esqueceram-se de que ela pode ser um bom exemplo. Por paradoxal que pareça, mas até uma ausência temporária do professor a uma sala de aula pode, de algum modo, servir de “lição” de cidadania para o aluno.

Se adequadamente apropriados, alguns dias de ausência podem transformar-se, no aluno, em aprendizado permanente: o de saber que, no mundo humano, até paciência tem limite; o de que a todo dever corresponde um direito; o de que a toda ação (ou falta dela) corresponde A uma reação – preservada a razoabilidade.

Afinal, educar não é tão-só dar aulas, mas, muito mais, ser exemplo.

E, pelo visto, enquanto categoria, professores devem ser exemplo: são maleáveis, mas não moles; flexíveis, mas não frouxos.

É importante que, além de serem educadores, continuem sendo educados.

Além de ensinarem, aprendam.

Abraços.

Sejam orgulhosos de sua função.

Sejam fortes.

E, apesar de tudo, sejam felizes.

* EDMILSON SANCHES