Os estudantes participantes do programa Pé-de-Meia de 2025 nascidos nos meses de novembro e dezembro recebem nesta segunda-feira (4) o pagamento da quinta parcela do programa.
O valor de R$ 200 corresponde ao incentivo-frequência às aulas e é destinado aos alunos da rede pública que estão matriculados no ensino médio regular ou na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), para ter direito ao benefício, eles devem ter presença mínima de 80% nas aulas.
Pagamento escalonado
Os pagamentos são feitos conforme o mês de nascimento dos alunos que estão matriculados em uma das três séries do ensino médio na rede pública de ensino.
Confira o calendário:
- nascidos em janeiro e fevereiro receberam em 28 de julho;
- nascidos em março e abril receberam em 29 de julho;
- nascidos em maio e junho receberam em 30 de julho;
- nascidos em julho e agosto, receberam em 31 de julho;
- nascidos em setembro e outubro receberam 1º de agosto;
- nascidos em novembro e dezembro, em 4 de agosto.
Cerca de 3,3 milhões de estudantes de escolas públicas receberão o benefício.
Depósitos
A quinta parcela da “poupança do ensino médio” de 2025 está sendo depositada em uma conta poupança do banco público, aberta automaticamente em nome dos estudantes.
O valor pode ser movimentado ou sacado imediatamente, se o participante desejar. Basta acessar o aplicativo Caixa Tem, se o aluno tiver 18 anos ou mais.
No caso de menores de 18 anos, será necessário que o responsável legal autorize a movimentação de conta no banco. O consentimento poderá ser dado no próprio aplicativo ou, se preferir, em uma agência da Caixa.
O participante poderá consultar no aplicativo Jornada do Estudante, do MEC, o status de pagamentos (rejeitado ou aprovado), as informações escolares e regras do programa.
As informações relativas ao pagamento também podem ser obtidas nos aplicativos Caixa Tem ou Benefícios Sociais.
Confira os prazos do calendário do Pé-de-Meia 2025 para o ensino regular.
Confira os demais prazos do calendário do Pé-de-Meia para o EJA relativo ao segundo semestre.
Incentivos
A política pública tem quatro tipos de incentivos, que podem alcançar R$ 9,2 mil por aluno, no fim do ensino médio, quando somados.
Pé-de-Meia
O programa do governo federal é voltado a estudantes de baixa renda do ensino médio da rede pública inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico). A iniciativa funciona como uma poupança com o objetivo de promover a permanência na escola e a conclusão desta etapa de ensino.
O Pé-de-Meia pretende democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os jovens do ensino médio, além de fomentar mais inclusão pela educação, estimulando a mobilidade social.
O MEC esclarece que não há necessidade de inscrição para inclusão. Todo aluno que se encaixa nos critérios do programa é inscrito automaticamente.
Saiba aqui quais são os requisitos para ser inserido no programa de incentivos educacionais.
A rotina de um varredor de rua em Brasília incluía, além do trabalho pesado, ser vítima de preconceito por ser adepto da umbanda. Ao reclamar do tratamento, foi demitido. Porém, uma ação movida por ele na Justiça reconheceu que sofreu discriminação e xingamentos no trabalho, e a empresa Valor Ambiental, que presta serviço de limpeza urbana no Distrito Federal, foi condenada a pagar uma indenização de R$ 15 mil ao trabalhador.
A decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), no último dia 23, que reconheceu ter havido racismo religioso, pode servir de caminho de esclarecimento para outras vítimas. Profissionais que passam por violências assim no ambiente profissional podem requerer o direito de trabalhar em paz e não ser vítima de discriminação por conta de sua fé.
Preconceito no trabalho está longe de ser um caso isolado. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), até 31 de julho, houve, de uma forma geral, 515 denúncias de discriminação por conta de cor, origem ou etnia. No ano passado, foram 718 casos. Em relação à discriminação por conta de religiões de matriz africana, como foi o caso do varredor de rua na capital, o MPT recomenda que esses crimes sejam denunciados.
Trabalhador segregado
A procuradora Danielle Olivares Corrêa, que é coordenadora nacional da promoção da igualdade de oportunidades e da eliminação da discriminação no trabalho, esclarece que esse tipo de preconceito pode ser identificado, inclusive, por piadas jocosas e estigmatização das religiões de matrizes africanas. “O preconceito acaba, por exemplo, deixando o indivíduo isolado, às vezes, num grupo de trabalho”, lamentou, em entrevista à Agência Brasil.
A procuradora explica que a pessoa pode ser segregada tanto pelos colegas como pelo superior hierárquico, que não passa determinadas tarefas ou faz brincadeiras jocosas e inadequadas. “Chamamos de racismo recreativo, mas pode acontecer de diversas formas. Por exemplo, não dando oportunidade para aquele trabalhador ser promovido”.
Caminhos de denúncia
Danielle Olivares ressalta ser importante que a pessoa que se sinta ofendida com um comentário preconceituoso possa denunciar, inicialmente pelo canal institucional, e também em outras instâncias, como a delegacia de polícia e o Ministério Público. “Um caminho não exclui os outros”, pondera.
Um desafio é juntar as provas da discriminação. “A principal prova é a testemunhal. São pessoas que tenham testemunhado a conduta assediosa em relação ao trabalhador. Mas pode o racismo ocorrer também pelas redes sociais ou aplicativo de mensagens, por exemplo”, diz a procuradora.
Ela acrescenta que é legítimo haver gravação de conversas discriminatórias para utilização em um futuro processo. É importante que, dentro das empresas, exista mesmo uma política interna de combate ao racismo. “As empresas podem criar, por exemplo, comitês de diversidade que tragam essa discussão com programas de educação dos trabalhadores”, diz a procuradora.
Conscientização
São recomendáveis, no entender dela, parcerias com coletivos negros e organizações antirracistas, com programas de incentivo à educação, para que as situações de racismo sejam reconhecidas. “Isso deve ser pauta, por exemplo, para as capacitações de trabalhadores quando tratarem da questão do assédio moral”.
A Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, proíbe toda forma de discriminação racial na relação de trabalho. “O empregador que não tomar as devidas cautelas de prevenção à discriminação naquele ambiente pode ser alvo de multa e proibição de empréstimos com banco público”. Além disso, a empresa pode ficar sujeita a ser condenada a dano moral coletivo numa ação civil pública do Ministério Público do Trabalho.
Nessas relações de discriminação no campo profissional, a mulher negra está ainda mais vulnerável do que os homens. Inclusive porque já recebe os menores salários, segundo levantamento dos ministérios da Mulher e do Trabalho e Emprego (MTE) divulgado em abril ─ a média salarial é 52,5% menor que a dos homens não negros.
“Sem providências”
No caso do varredor de rua em Brasília, a empresa alegou que a demissão ocorreu por “baixa performance do empregado, em meio a um processo de reestruturação interna”. O TRT avaliou que as provas documentais e testemunhais demonstraram que o trabalhador foi alvo de racismo religioso e que a dispensa ocorreu pouco tempo depois de ter denunciado o tratamento preconceituoso aos superiores hierárquicos da empresa.
Na sentença, o juiz Acélio Ricardo Vales Leite, da 9ª Vara do Trabalho de Brasília, considerou que nenhuma providência foi tomada pela empresa mesmo depois das queixas do empregado.
Em segunda instância, o desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran destacou que a omissão do empregador diante de atos de racismo religioso configura violação à dignidade do trabalhador e impõe a responsabilização civil da empresa.
“A violência verbal também é violência e, para além de um simples xingamento, o reclamante, seguidor da umbanda, sofreu racismo religioso por não professar religiões eurocêntricas advindas do cristianismo”, ressaltou.
A empresa foi condenada a pagar indenização correspondente a seis salários do trabalhador, em dobro, e ficou mantida a decisão de reconhecer o direito do trabalhador ao adicional de insalubridade em grau máximo (40%), devido às condições profissionais.
Empresa nega racismo
Em nota, a empresa Valor Ambiental apontou que recebeu com “perplexidade” a decisão da justiça e reclamou que a condenação teria ocorrido a partir de um depoimento do empregado durante o período de aviso prévio dele.
Além disso, negou que existam provas do racismo religioso. “As alegações de discriminação religiosa só chegaram ao conhecimento da empresa após o ajuizamento da ação”, ponderou a empresa que vai recorrer da decisão.
Apesar de castigos físicos como palmadas, beliscões a apertos serem proibidos por lei, 29% das pessoas cuidadoras de crianças de até 6 anos admitem que utilizam esses métodos como estratégia de disciplina. Treze por cento reconhecem que fazem sempre.
A constatação está no levantamento Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida, lançado nesta segunda-feira (4) pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
O estudo mostra que 17% dos cuidadores consideram esses atos uma forma eficaz de estratégia para a disciplina. Ou seja, 12% agridem mesmo sabendo que essa não é uma forma eficiente de educar.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto Datafolha e entrevistou 2.206 pessoas em todo o país, sendo 822 cuidadores de crianças de até 6 anos. O lançamento marca o Agosto Verde, período de mobilização sobre a importância da primeira infância.
Lei proíbe
Aqui no Brasil, há mais de dez anos a Lei Menino Bernardo, também conhecida como Lei da Palmada (Lei 13.010/2014), proíbe esses tipos de castigos físicos aplicados a crianças e adolescentes, com os autores das agressões podendo ser advertidos e encaminhados para cursos e programas de orientação.
A lei foi batizada dessa forma para lembrar a morte de Bernardo Boldrini, de 11 anos, vítima de agressões e morto pela madrasta e pelo pai, em Três Passos (RS), em abril de 2014.
A diretora-executiva da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz, lamenta o percentual identificado pelo levantamento e considera que há repetição de um padrão cultural que não funciona como disciplinador.
“A gente é o país do ‘eu apanhei, sim, e estou aqui, sobrevivi’. A gente é o país que diz ‘quem pariu Mateus que embale’. A gente é o país que acha a criança inferior”, critica a diretora, em entrevista à Agência Brasil.
“Não ajuda e não resolve”, conclui, sobre os castigos físicos.
Consequências
A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, uma organização da sociedade civil, reforça que nenhuma forma de violência contra crianças é inofensiva e cita efeitos negativos, como desenvolvimento de agressividade, ansiedade, depressão, além das marcas físicas. A pesquisa identificou ainda que 14% dos cuidadores admitem gritar e brigar com crianças.
Apesar dessas respostas associadas a comportamento repressivo, os métodos disciplinares mais citados foram: conversar e explicar o erro (96% dos entrevistados) e acalmar a criança e retirá-la do lugar/situação (93%).
Entre as pessoas que admitem comportamentos agressivos contra crianças, a maior parte (40%) acredita que uma consequência é “maior respeito pela autoridade e ensinar a criança a obedecer”.
Um terço de quem bate em crianças (33%) reconhece que um dos impactos é o comportamento agressivo; e um em cada cinco (21%) admite que a criança desenvolve baixo autoestima e falta de confiança.
“A violência, a palmada, as agressões, as violações de direitos, os abusos, as negligências são detratores direto do desenvolvimento” enfatiza Mariana Luz.
Ela constata também que ainda há na sociedade a percepção de que as pessoas acham que não devem intervir na educação dos filhos dos outros.
“Um cachorro você não agride em praça pública, porque alguém vai pegar o telefone e vai denunciar. Uma criança não, uma criança recebe um tapa, um berro, um beliscão dentro de um equipamento público e ninguém fala nada”, diz.
Primeira infância
Para Mariana Luz, outro dado do levantamento que chamou a atenção é o fato de 84% do universo pesquisado não saber que a primeira infância é a fase mais importante do desenvolvimento pessoal humano. Além disso, apenas 2% souberam dizer exatamente quando acontece a primeira infância.
A definição de primeira infância como a fase que vai até os 6 anos segue a legislação brasileira. Embora esse intervalo também seja adotado em outros países, podem existir variações.
“Todos os picos do desenvolvimento físico, motor, cognitivo, socioemocional acontecem nos primeiros seis anos de vida”, aponta Luz.
Ela cita que o cérebro de crianças nessa idade realiza 1 milhão de sinapses (comunicação entre neurônios, células do sistema nervoso) por segundo e 90% das conexões cerebrais são estabelecidas.
“Estudo após estudo, reiteradamente, traz as evidências de que são nos primeiros seis anos de vida que se estabelecem as bases físico, cognitivo e emocional”, fundamenta a diretora.
Apesar das evidências científicas, a pesquisa identificou que 41% dos entrevistados acham que é na vida adulta a fase que o ser humano mais se desenvolve. Para 25% é entre 12 e 17 anos.
Mariana acredita que é preciso um trabalho de conscientização para que a população saiba reconhecer e dar importância a esse período fundamental do desenvolvimento humano.
“A terceira idade [idosos] hoje está super consolidada, mas houve uma época em que a gente também não tinha esse entendimento tão claro”, compara.
Mariana Luz cita estudos do economista americano James Heckman, vencedor do Prêmio Nobel de economia (2000) sobre investimento na primeira infância.
“Heckman fala que para cada dólar investido, você tem sete de retorno”, lembra. “A primeira infância faz isso porque traz melhorias para diversas camadas socioeconômicas, educação, saúde, a própria segurança pública e da geração de emprego em renda”.
Livres para brincar
A pesquisa procurou saber também quais práticas os entrevistados consideram mais importantes para o desenvolvimento infantil. A mais citada (96%) foi ensinar a respeitar os mais velhos, “superando outras ações que a ciência comprova como essenciais para o desenvolvimento infantil”, como conversar com a criança (88%), frequentar creche, pré-escola (81%) e deixá-la brincar (63%).
Para a diretora-executiva da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o fato de o respeito aos mais velhos surgir no topo das respostas mostra baixa valorização da educação infantil e do brincar.
“A brincadeira é o eixo principal do que a base nacional comum curricular traz como fio condutor da aprendizagem na primeira infância. Você não pode sentar uma criança pequenininha em uma cadeira e escrever no quadro negro, você precisa do processo lúdico”, justifica.
Tempo de tela
A pesquisa do Datafolha identificou que as crianças na primeira infância passam, em média, duas horas assistindo televisão, celular, tablet ou computador. No caso de 40% das crianças, o tempo varia de duas a três horas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças de até 2 anos não tenham contato nenhum com telas. Entre 2 e 5 anos, máximo de uma hora por dia, sempre acompanhada por um adulto, “para que a interação aconteça”, completa Luz.
Mariana reconhece que muitas vezes a necessidade se impõe, “a pessoa não tem com quem deixar”. Ela sugere que uma forma de reduzir a exposição às telas seja incluindo a criança na rotina da casa. “Incluir na rotina de lavar a louça junto, de botar a roupa no varal”, exemplifica.
A diretora aponta também que é de responsabilidade do Estado a oferta de creches, o que deve ser cobrado pela sociedade.
“A responsabilidade dessa criança, pela Constituição, é minha, sua, é da família, é do Estado”, diz.
“No espaço em que a história e a ciência deixaram de eleger fatos relativos à história dos africanos e seus descendentes no Brasil, a literatura entra com a sua ficção”, disse a escritora Conceição Evaristo a uma plateia atenta, durante participação na 23ª edição da Festa Literária de Paraty (Flip), na Casa da República, com mediação da autora Lilia Guerra.
“O livro mais notável, a obra que comprova isso é, justamente, Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. É preciso criar ficção para ocupar esses vazios”, lembrou Conceição. “E, para quem trabalha com memória, entre o esquecer e o lembrar, a ficção entra. Ela entra como escolha, ela entra para nos salvar”.
Fazendo referência ao título da mesa, "Anotações de um Brasil que arde", Conceição Evaristo disse que a memória trazida pelos povos escravizados e subalternizados “arde” na constituição da nacionalidade da população negra.
“Essa ardência que nós trazemos nos coloca no campo da luta e nos coloca também no campo da crença e da esperança, e nos coloca, antes de tudo, no campo da ação”, disse.
“Esse passado de resistência tem que continuar potencializando a nossa luta”, disse Conceição Evaristo, como um recado às novas gerações da população negra, após pedido feito por uma jovem da plateia.
“Todo o silenciamento que foi provocado, toda subalternidade que as nossas mais velhas passaram, que a minha mãe passou, que a sua avó passou, que nós passamos, tudo isso nos potencializa para estar aqui hoje”, reforçou.
A escritora trouxe a memória de mulheres negras que tinham até suas vozes submetidas ao trabalho escravo, elas tinham que contar histórias para os filhos da Casa Grande. “Por isso eu tenho dito: a nossa escrevivência não é para ninar os da Casa Grande e sim para acordá-los dos seus sonos injustos”.
Ana Maria Gonçalves
Autora consagrada pelo livro Um defeito de cor e recentemente eleita imortal da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Gonçalves também foi destaque na Flip, com mesa lotada da Casa Record para falar sobre a obra.
“A história negra do Brasil vai sendo reconstruída retroativamente, conforme a gente vai conseguindo, seja através da ficção, preencher lacunas que a história não dá conta, seja através desses documentos que a gente vai achando ao longo dos anos, que respondem dúvidas”, disse Ana Maria Gonçalves.
“Às vezes, [vamos] reescrevendo e revisitando a história, acrescentando capítulos e camadas novas, numa identidade ainda que vamos construindo aos poucos”, comentou sobre o achado de documentos que remetem à vida de Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama e que foi inspiração para sua obra. “Estou muito curiosa para ver essa documentação, e ver o que bate ou não com essa história que eu inventei para ela a partir de uma pesquisa que eu fiz”.
A autora conta que o romance é uma grande colcha de retalhos, e a protagonista, apesar da inspiração em Mahin, é formada por várias outras mulheres a partir de uma vivência possível na época em que a história é ambientada.
“A história da Kehinde é composta da história de pelo menos umas outras 300 mulheres. Eu fui para jornais, revistas e arquivos, pesquisando vivências de mulheres que eram dos mesmos locais e datas que o Luiz Gama fala que a mãe dele pode ter vivido.”
O bailarino Marcos Sousa, 18 anos de idade, é o primeiro brasileiro a ter um contrato vitalício para integrar o corpo de baile da tradicional Ópera Nacional de Paris, uma das companhias de balé mais destacadas do mundo. A notícia chegou no dia 28 de junho, e agora Marcos se prepara para voltar à capital francesa e começar uma nova etapa da sua carreira de sucesso.
Antes dessa vitória, no entanto, precisou enfrentar muitos desafios, mas sempre com a certeza de que o balé era fundamental na sua vida e era assim que poderia conquistar plateias fora do Brasil. Perseverança foi algo que nunca faltou ao jovem maranhense.
Quando ainda menino, na cidade de Grajaú, interior do Maranhão, Marcos Souza já dava sinais de como seria o seu futuro: se divertia dançando em quadrilhas juninas.
Descoberto por Timóteo Cortez, coreógrafo da quadrilha da cidade, foi convidado a dançar em uma academia da sua cidade quando tinha 10 anos. Chegou a parar por um ano, até que recebeu novo convite para voltar à dança e fazer aulas na academia, com possibilidade de participar de uma pré-seleção, em São Luís, da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em 2019. Agora, com 12 anos.
“Fui para São Luís para a pré-seleção, passei para a seleção final em Joinville [Santa Catarina]. Em outubro de 2019, fiz essa audição, passei, e deu tudo certo”, disse à Agência Brasil.
Em 2020, começou os estudos na Escola Teatro Bolshoi no Brasil, e no primeiro ano estava sozinho porque a mãe não pôde ir. Era a primeira vez que ficava distante da família.
“Morar longe da minha família, com novas pessoas, pessoas diferentes, e distante, foi bem difícil para mim”, lembra.
Pandemia
Marcos enfrentou outra barreira no período da pandemia da covid-19. Com apenas dois meses de aulas, teve que enfrentar tudo sozinho.
“Nessa época, eu já estava sem minha família, lugar novo, pessoas novas, escola nova e pandemia, foi bem difícil, mas deu tudo certo nesse primeiro ano”, disse.
Passada essa fase, já integrado na escola, passou a ter a companhia da mãe, que se mudou para Joinville em 2021.
Em setembro de 2023, Marcos realizou um grande sonho, que era estudar na École de Danse de l’Opéra National de Paris, escola vinculada à tradicional Ópera Nacional de Paris, que junto com o Escola do Teatro Bolshoi estão no topo da sua classificação pessoal como as melhores.
O bailarino percebeu que naquele momento estava pronto e queria explorar novos horizontes. E decidiu enviar um e-mail “bem abusado mesmo”, porque, segundo ele, na verdade, não é esse o procedimento.
Na mensagem, em inglês, enviada em 2022, perguntava à direção da Escola de Dança da Ópera Nacional de Paris, se teria possibilidade de fazer uma audição. Mesmo sem receber resposta, não perdeu a esperança e enviou outro e-mail, dessa vez, em francês, em fevereiro de 2023, novamente perguntando sobre a possibilidade de fazer uma audição e dizendo que tinha interesse na escola que era seu sonho. Finalmente recebeu uma resposta, com um pedido dos franceses que encaminhasse um vídeo com uma série de exercícios que deveria fazer, para avaliarem.
“A resposta veio no dia do meu aniversário, em 5 de abril de 2023. Recebi a resposta dizendo que eu tinha uma audição em Paris, e aí, eu soube que ia para Paris. Cheguei na lua muito, muito, muito. Foi tipo de manhã, abri no meu telefone a caixa de e-mail e tinha lá a notificação, em francês. Eu falei que já sabia o que era”, contou, animado, em detalhes.
A ida para a capital francesa para a audição foi na companhia de Germana Saraiva, a primeira professora que teve na Escola Teatro Bolshoi no Brasil.
“Convidei ela, porque é uma pessoa que tenho muita confiança. Foi minha primeira professora no Teatro Bolshoi, uma pessoa que tenho um vínculo muito grande. Ficamos cinco dias em Paris, fiz a audição e deu tudo certo”, disse.
Obstáculo
Como o caminho era sempre com muitos percalços, nesse momento também enfrentou um grande problema. Quatro dias antes da audição teve uma entorse no pé direito.
“Me desmotivou muito. Fiquei muito triste, mas como estava tudo comprado, hotel, passagem de avião, eu não ia desistir assim no meio do caminho. Ia de qualquer forma. Lutei muito para conquistar, e disse ‘vamos’ tentar o meu sonho. Fui depois de muitos cuidados dos terapeutas da Escola Bolshoi, que sempre me ajudaram, sou muito grato”, revelou.
A formação técnica baseada na metodologia russa realizada em 5 anos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil o permitiu mostrar à escola francesa a sua capacidade no balé clássico.
“Cheguei lá e era um método diferente, língua diferente, pessoas diferentes, e foi bem difícil a audição. Fiz a aula, no final a diretora da escola, Elizabeth Platel, me chamou na salinha dela e me falou que eu tinha sido aprovado. Eu pensava que não seria aprovado nessa audição, porque não tinha sido boa a minha aula, estava com o pé torcido, tinha tomado medicamentos para não sentir dor no pé, e aí veio a resposta que eu ia começar em setembro, na terceira divisão”, lembrou, explicando que pelo sistema da escola os pequenos bailarinos começam na sexta divisão e seguem até a primeira, onde estudam os bailarinos de mais idade.
De acordo com Marcos, o primeiro ano na escola parisiense foi de grande dificuldade, em um lugar em que tudo era novo.
“Batalhei muito. Nos primeiros meses chorava de saudade dos meus amigos de Joinville, mas mesmo assim não me desmotivava. O primeiro ano passou, comecei a falar francês, fiz vários amigos”.
Pelo esquema da escola, o ano letivo começa em setembro e vai até o mês de julho seguinte. Por causa do seu talento, o bailarino, que começou na terceira divisão, conseguiu reduzir o tempo de duração do curso de 3 para 2 anos.
“No meio do ano letivo, a diretora da escola e meu professor da época me informaram que eu tinha pulado de série, porque estavam muito felizes com minha evolução. Ela via que eu estava querendo evoluir e fazer parte, realmente, desse trabalho que eles faziam comigo. Fiquei muito feliz, porque via que meu trabalho estava sendo recompensado e na direção correta”, disse.
Na temporada 2024/2025, último ano da escola, novamente Marcos teve que enfrentar problemas. Em novembro de 2024, teve uma lesão no ligamento do tornozelo esquerdo, que o obrigou a ficar sem dançar durante 2 meses.
Apreensivo, com esforço e vontade de recuperar o tempo perdido, Marcos voltou a dançar no final de janeiro de 2025.
“Mas não era sobre isso, era sobre eu me acalmar, fazer as coisas direitinho, no meu tempo. Aí depois veio o espetáculo de fim de ano em abril de 2025, dancei com um outro brasileiro, no palco da Ópera Garnier, em Paris, o João Pedro Silva, a gente fez um duo. A diretora disse que nos colocou juntos porque via que tínhamos uma energia diferente, tinha uma sintonia ali”, lembra, acrescentando que João Pedro, um paulista que morava em Goiânia antes de ir para Paris.
Com 18 anos e em fim de curso na Escola de Paris, veio a preocupação de ter que arranjar um emprego para se manter na capital parisiense.
“A escola aconselha a gente a fazer audições externas em outras escolas e eu fiz com as minhas amigas. A gente foi para Amsterdã, eu fui, inclusive, para Moscou, para o Teatro Bolshoi. Aí chegou o concurso para a entrada para corpo de baile do Balé da Ópera Nacional de Paris, que foi no dia 28 de junho de 2025”, detalhou.
Para a apresentação, um professor da Ópera Nacional de Paris passa uma aula para o pretendente fazer uns exercícios em 45 minutos, sem utilizar as barras, só fazendo centro e saltos, além de uma variação, que significa um trecho de um balé dançado sozinho, um solo. No caso dele, foi de A Bela Adormecida, da versão do famoso e renomado bailarino e coreógrafo russo Rudolf Nureyev.
Marcos contou emocionado que, no final, o resultado é exposto em uma folha colada na parede com a lista dos aprovados.
“Esse ano passaram três meninos, eu e mais dois, e quatro meninas da minha turma. Foi uma emoção muito grande e eu estava com muita ansiedade”, recordou.
“Na hora que veio o resultado não conseguia acreditar de tanta emoção. A primeira pessoa que eu liguei foi minha mãe, obviamente, que é minha rainha, a pessoa que sempre me apoiou. Depois liguei para a professora Germana Saraiva. Até hoje estou sem acreditar que sou o primeiro homem brasileiro com contrato vitalício com o corpo de baile do Balé da Ópera Nacional de Paris. Passa um carrossel na minha cabeça”, revelou.
Marcos entrou em férias para rever amigos em Joinville, e na sequência encontrar a mãe na cidade de Grajaú, no Maranhão.
Para o diretor-geral da Escola Bolshoi, Pavel Kazarian, ao considerar que mais de 70% dos alunos formados na instituição no Brasil estão empregados na área de dança, é possível “perceber que a arte muda a vida de crianças, de seus familiares e da comunidade ao redor”.
A próxima temporada da companhia da Ópera Nacional de Paris começa no dia 26 de agosto, e Marcos tem retorno previsto para o dia 20 de agosto, quando vai se preparar para o começo do trabalho no seu lugar de sonho. O balé de abertura da temporada será o Giselle, mas o bailarino ainda não sabe o papel que representará.
“Eu gosto muito desse balé Giselle, mas nunca dancei na minha vida. Sempre assisti. Vai ser uma experiência ótima”, avalia.
Escola Bolshoi
A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil é um projeto cultural que tem influência social, cultural e educacional, representando uma ponte na área cultural entre o Brasil e a Rússia. Começou a funcionar em 15 de março de 2000, em Joinville, sendo a única extensão do Teatro Bolshoi fora da Rússia, e a primeira vez que o Bolshoi transfere o método de ensino de balé, que o tornou uma das mais destacadas instituições do mundo, a outro país.
“Com 25 anos de implantação no Brasil, a primeira Escola do Teatro Bolshoi, educa cerca de 260 alunos do Brasil e países como Argentina, Panamá, Paraguai e Rússia, sendo 54% meninas e 46% meninos. A instituição concede 100% de bolsas de estudo para todos os alunos”, informou o Teatro Bolshoi no Brasil.
O projeto conta com os Amigos do Bolshoi para manter as atividades, incluindo o apoio de empresas e pessoas físicas, por meio de serviços, patrocínios diretos ou incentivos fiscais.
– Dizer que ‘agosto é mês de desgosto’ é querer rimar com palavras mas não com a verdade. É mais um registro linguístico e mítico ou mitológico do que uma realidade científica. E, como tantas coisas próprias do imaginário, do constructo humano, isto também faz ou compõe o que somos.
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O mês de agosto como período ruim ou tempo de desgosto é mais uma dessas rimas e crendices que o imaginário humano constrói a partir de bases naturais e/ou culturais.
Agosto, a contragosto de alguns, é tão somente uma sucessão de dias, horas, minutos, segundos nos quais ocorrem fatos bons e ruins como em todos os demais onze meses -- meses estes para os quais se podem selecionar fatos tristes e desagradáveis e alegres e prazerosos, inclusive em quantidade e dramaticidade maior mesmo do que as ocorrências do oitavo mês.
Dizer que “agosto é mês de desgosto” é querer rimar com palavras mas não com a verdade. É mais um registro linguístico e mítico ou mitológico do que uma realidade científica. Mas, como tantas coisas próprias do imaginário, do constructo humano – e isto também faz ou compõe o que somos.
Essa construção tem início, para alguns, ainda no primeiro século da nossa era. O fundador do Império Romano e seu primeiro imperador, Otávio (ou Otaviano), recebeu como parte de seu nome um título: “Filho do Divino” e “Augusto” (sagrado, venerável, majestoso; “augusto” vem do verbo latino “augere”, que significa “fazer crescer”, “ampliar”, “aumentar”).
Otaviano Augusto, ou César Augusto (por ser filho adotivo do imperador Júlio César), com conquistas de outros territórios e crescimento econômico e cultural, realmente fez crescer, ampliou, aumentou o Império Romano em seus 41 anos de reinado, o maior tempo de governo entre os mandatários de Roma. Por essas e outras razões, deram seu título-nome ao oitavo mês do ano, logo após o mês “julho”, denominado em honra ao seu pai adotivo, Júlio César.
E, ironia do destino, nascido em setembro do ano 63 antes de Cristo, o poderoso imperador Otaviano Augusto morre aos 75 anos em... agosto, dia 19, no ano 14 depois de Cristo. Além desse fato, os antigos romanos daquele século 1º de nossa Era tinham, igualmente a outros povos, o costume de olhar as estrelas nos diversos períodos do ano – e exatamente em agosto eles olhavam certo grupamento de estrelas e ali, unindo-as por meio de pontos invisíveis, viam figuras de dragões, que os astrônomos depois atestaram ser a constelação de Leão.
Assim, agosto, mês cujo nome tem na origem o significado de “fazer crescer”, “aumentar”, “ampliar”, começa a ser vinculado a “coisas” desagradáveis ou temerárias, como dragões no céu e morte de um querido imperador aqui na terra.
Passam-se os séculos. Mudam-se os tempos e os lugares. Em Portugal, no século 16, o mês de agosto é tido como o melhor para os navios saírem em suas aventuras de conquistas e descobertas. Mas um certo grupo de pessoas não têm o mês em melhor conta: são os namorados e namoradas, as noivas e os noivos, que viam que agosto era contraindicado para selar a união, não deviam se casar, porque os noivos poderiam partir para as demoradas, demoradíssimas viagens... deixando no porto, chorosas, ansiosas, lamentosas, mulheres em idade núbil, que tiveram dias futuros e noites passadas (de núpcias) encurtados em função de seus maridos e amados partirem para navegar mares já ou nunca dantes navegados...
Os portugueses trouxeram essa estória do agosto desgostoso para o Brasil, em especial para o Nordeste, onde nossos irmãos lusitanos foram um tanto hegemônicos. Associado aos fatos de 15 séculos antes, a lenda do “agosto, mês de desgosto” foi-se fortalecendo.
A partir de outras ocorrências desagradáveis em agosto, no Brasil e no mundo, ampliou-se a superstição. Pelo menos três presidentes brasileiros têm vinculados seus nomes a tristes fatos neste mês: Getúlio Vargas, que comete suicídio no dia 24 de agosto de 1954; Jânio Quadros, que renuncia em 21 de agosto de 1961; e Juscelino Kubitschek, que morre dia 22 de agosto de 1976, em consequência do ainda mal explicado acidente automobilístico que sofreu. Além desses e de outros muitos fatos, nas décadas de 1940 a 1960, acidentes com navios e aviões no Brasil, no mês de agosto, deixam muitos mortos.
No plano mundial, o início da 1ª Grande Guerra (1914), a assunção de Hitler ao governo da Alemanha (1932), o início da 2ª Grande Guerra (1939), o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (1945), o início da construção do muro de Berlim (1961)... são fatos que se deram no mês de agosto.
Enfim, como digo, “agosto, igual a todo mês, é mês a gosto do freguês”. Quem se der ao trabalho de pesquisar e selecionar haverá de encontrar e listar diversos, muitos, exemplos de fatos lamentáveis em qualquer um dos doze meses.
As crenças e crendices, os mitos e mitologias, as visões e superstições, bem como a Ciência e a Verdade são buscas e achados, procuras e respostas humanos. Depende dos conteúdos das pessoas, do cardápio de seus interesses, do portfólio de registros da tradição, dos hábitos, da história dos ambientes, das comunidades, da nação em que vivem. Na Alemanha, por exemplo, e contrariamente, agosto é o mês de preferência para muitas mulheres se casarem.
Dor e amor, lamentos e aleluias têm, sim, um período para acontecer: aquele que se inicia dia 1º de janeiro e termina dia 31 de dezembro.
Participantes da Prova Nacional Docente (PND) têm até a próxima quarta-feira (6) para realizar o pagamento da taxa de inscrição. Inicialmente, a data-limite era 1º de agosto. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a ampliação do prazo visa a atender os participantes não isentos.
A data de aplicação da prova permanece a mesma: 26 de outubro. O objetivo do exame, segundo o Inep, é avaliar o conhecimento e as habilidades dos profissionais, auxiliando na seleção para redes estaduais e municipais de ensino. A prova será utilizada como etapa única ou complementar de concursos e seleções de professores.
Em nota, o instituto informou que a edição de 2025 teve a adesão de 22 unidades da Federação e de 1.508 municípios de todas as regiões do país, dos quais 18 são capitais.
Além de estudantes concluintes inscritos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2025, podem realizar a prova pessoas com formação em cursos de licenciatura que tenham interesse em participar de concursos ou processos seletivos promovidos pela União, por unidades federativas e por municípios que adotem o resultado da avaliação como etapa de admissão.
Entenda
De acordo com o Inep, autarquia ligada ao Ministério da Educação (MEC), o exame foi criado com o objetivo de melhorar a qualidade da formação, além de estimular a realização de concursos públicos e induzir o aumento de professores qualificados nas redes públicas de ensino. A iniciativa faz parte do programa Mais Professores para o Brasil.
A Portaria n.º 399/2025 dispõe sobre regras e procedimentos para realização da prova O exame terá a mesma matriz da avaliação teórica do Enade das Licenciaturas, que, desde a sua edição de 2024, tem enfoque nos cursos de formação docente. A PND será aplicada anualmente, voltada a licenciados.
A cidade de São Paulo passou a contar com uma biblioteca comunitária voltada para pessoas em situação de rua a partir desta sexta-feira (1}). O espaço, coordenado pelo padre Júlio Lancellotti, funcionará no Centro Santa Dulce dos Pobres, na Rua Sapucaia, 36, no bairro da Mooca, na zona leste da capital.
Além do acervo de livros, a Biblioteca Wilma Lancellotti oferece acesso a computadores, serviços para emissão de documentos e apoio na busca por emprego. O nome do equipamento é uma homenagem à mão do sacerdote.
“Essa iniciativa do padre Júlio é uma ação fundamental. Literatura é um direito de todos. Bibliotecas com bibliotecários vocacionados são equipamentos que salvam muitas vidas e as transformam para melhor”, declarou a escritora Luciene Muller, que viveu na rua dos 4 aos 11 anos.
A biblioteca, inaugurada hoje com a presença do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, conta com um acervo de oito mil livros doados, todos catalogados por seis bibliotecárias voluntárias. O espaço funciona com o sistema Sophia Biblioteca, utilizado pela Biblioteca Nacional para organização e gestão de acervos.
O espaço é destinado a todos que desejarem usufruir dos serviços, não a penas a quem vive nas ruas.
Autoras indígenas e da Amazônia marcam presença e ganham projeção na programação da 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), por meio da programação do Sesc Santa Rita. Uma dessas mulheres é a escritora indígena Sony Ferseck, que fundou a primeira editora independente do estado de Roraima, em 2019, voltada à publicação de autores indígenas e obras bilíngue.
“Dizer para um ancião indígena que está lá no interior de Roraima ‘o senhor pode fazer um livro’ é muito potente. Isso é muito poderoso e faz com que realmente a literatura seja para todos”, disse Sony, durante participação na mesa Pluralidades editoriais e a criação literária, nesta quinta-feira (31), no Sesc Santa Rita, ao lado da escritora Aline Cardoso, que também fundou uma editora independente, neste caso, na Paraíba.
Indígena do povo Macuxi, professora, poeta e cofundadora da Wei Editora, Sony teve seu livro Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022), nascido entre oralidade e resistência, como semifinalista do 65º Prêmio Jabuti.
Sony apontou as dificuldades de publicação em seu estado, onde ainda há escassez de matéria-prima e de iniciativas relacionadas ao mercado editorial. “Nosso país tem dimensões continentais, isso acaba encarecendo [a produção] e provocando muitas faltas ainda em Roraima. Para vocês terem uma ideia, a gente só tem duas gráficas no estado inteiro”, disse.
A escritora contou do projeto que participava chamado Panton Pia’, em que se ouvia os mais velhos do grupo contarem suas histórias de vida e os conhecimentos tradicionais.
“Era tanta beleza que eu falei: isso não pode ficar guardado, apenas em um relatório do projeto. Isso aqui tem que circular.”
Diante desse desejo, a editora Wei, fundada por Sony, realizou publicações a partir dessa escuta dos anciãos. Com os livros publicados, foi possível que os indígenas pudessem se reconhecer como autores.
“A gente percebeu como o mercado editorial ainda não chegou nessa região do país, nem para essas pessoas”, lamentou.
Eles eram os mais velhos da comunidade, não falavam português como primeira língua e também não escreviam as histórias em computadores, porque elas eram fruto da tradição oral. “Eles contavam as histórias, então são livros que não são escritos, são transcritos”, explicou sobre uma produção que envolve a oralidade.
A disseminação da impressão de livros sob demanda, mencionou Sony, possibilita a expansão de publicações independentes. “A gente vai fazendo reimpressões bem pouquinhas. Geralmente, vem o primeiro cento [100 unidades], depois financia o segundo e assim por diante, para manter [a produção]”, disse. A escritora comemorou que, desse modo, é possível fazer com que as obras de autores independentes circulem e que essas histórias cheguem cada vez mais longe.
Sony acredita na literatura e na arte como ferramentas que “ressignificam completamente rotas de vida”.
“Eu acredito no poder da arte. Tocar corações, promover mudanças, quebrar ciclos de violência e de silenciamento. É o reencantamento do mundo, uma forma de dizer que nós ‘somos possíveis’ em todos os lugares que a gente queira e quando queira”, finalizou.
Mais vozes da Amazônia
A poeta acreana Francis Mary, referência da geração mimeógrafo, participou da mesa “A quem pertencem minhas palavras?”, também nesta quinta-feira, (31) no Sesc. Sua obra traz poemas que defendem a floresta, a democracia e os povos da Amazônia. Inspirada na luta de Chico Mendes e no cotidiano dos povos da floresta, a autora recorre à arte como instrumento de memória e de denúncia.
A artista Paty Wolff, nascida em Cacoal (RO) e radicada em Cuiabá (MT), promove a união entre artes visuais e literatura. Na sexta-feira (1º), às 15h, no Sesc Santa Rita, no evento “Narrativas visuais para todas as idades”, para discutir como a ilustração se estabelece como linguagem narrativa própria, indo além do papel de complemento visual ao texto.
Encerrando a programação especial das autoras da Amazônia, a multiartista Aliã Wamiri Guajajara participará da palestra “Tecnologias do encantamento: entre o artesanal e o digital”, no sábado (2), às 11h. Nascida em Teresina (PI), filha de mãe Guajajara e pai Timbira, Aliã é escritora, curadora, performer e graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Piauí.
“Para mim a Flip é um lugar de afirmação importante e podemos mostrar que a literatura indígena existe, resiste e encanta. Espero que possamos ecoar de maneira ainda mais intensa nossas memórias vivas”, avaliou Aliã.
Os inscritos na Prova Nacional Docente (PND) não isentos ou que tiveram o pedido de isenção reprovado têm até esta sexta-feira (1º) para pagar a taxa de inscrição.
A Guia de Recolhimento da União (GRU Cobrança) para pagamento da taxa de inscrição foi gerada no momento da inscrição do participante. Quem precisar reimprimir a GRU deve acessar a página do Participante do Sistema PND, com login do portal Gov.br.
O valor da taxa é de R$ 85 e pode ser pago em qualquer agência bancária, casa lotérica ou aplicativos de bancos.
Objetivos
A prova oferece uma oportunidade justa e padronizada de ingresso na carreira docente, facilitando o acesso a posições efetivas.
Para as redes de ensino, especialmente as municipais e estaduais, a prova reduz os custos e a complexidade dos processos seletivos, permitindo a contratação de profissionais mais qualificados e preparados para a docência.
A edição de 2025 do exame teve a adesão de 22 estados e 1.508 municípios de todas as regiões do país, dos quais 18 são capitais.
O que é a PND?
A Prova Nacional Docente (PND) foi criada em 2025 com o objetivo de melhorar a qualidade da formação dos professores e estimular a realização de concursos públicos pelas redes de ensino estaduais, do Distrito Federal e dos municípios e, desta forma, estimular o ingresso de profissionais qualificados no magistério público.
A prova não é um concurso público e não é uma seleção unificada.
A partir de 2026, os gestores das redes estaduais e municipais de ensino podem usar a nota da prova obtida pelo candidato como etapa única ou complementar de concursos públicos e seleções processos simplificados de contratação destes profissionais para educação básica.
A adesão, porém, não obriga os estados e municípios a usarem os resultados da PND em todos os seus processos seletivos.
O exame é parte do programa Mais Professores para o Brasil, criado em 2024 para fortalecer a formação docente, incentivar o ingresso de professores no ensino público e valorizar os profissionais do magistério. A iniciativa pretende atender 2,3 milhões de docentes em todo o país.
A prova
A data de aplicação da prova apelidada de CNU dos Professores será no dia 26 de outubro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), conforme o edital.
Oficialmente, a PND terá como base a avaliação teórica do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) das Licenciaturas. O exame será aplicado a cursos de licenciaturas de 17 áreas de conhecimento.
1. artes visuais
2. ciências biológicas
3. ciências sociais
4. computação
5. educação física
6. filosofia
7. física
8. geografia
9. história
10. letras - inglês
11. letras - português
12. letras - português e espanhol
13. letras - português e inglês
14. matemática
15. música
16. pedagogia
17. química
A prova é composta por questões, divididas entre a formação geral e a formação específica da área de avaliação, ambas combinando itens de múltipla escolha questões discursivas.