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Bonito (MS), 26/07/2025 - Artista Jonir Figueiredo. Foto: Bonito Cinesur/Divulgação

Com uma salva de palmas, o público presente ao Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (Cinesur) se despediu do artista plástico Jonir Figueiredo, morto neste sábado (26), em Bonito (MS). Na sexta-feira à noite (25), o artista havia participado da cerimônia de abertura do Cinesur, realizado no Centro de Convenções de Bonito.

“É com pesar que o 3º Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito recebe a notícia do falecimento do artista plástico Jonir Figueiredo, que nos deixou neste sábado, 26 de julho, após ter prestigiado a noite de abertura do nosso festival. Sua presença foi motivo de honra e reafirmou seu compromisso com a arte e a cultura. Figura essencial nas artes visuais, Jonir deixa um legado de beleza, sensibilidade e inspiração. Nos solidarizamos com seus familiares, amigos e admiradores”, diz a nota que foi lida neste sábado durante a realização do festival.

“Nós, artistas e produtores culturais, temos que seguir adiante, homenageando Jonir fazendo aquilo que ele mais gostava e pelo que jamais deixou de lutar: arte e cultura. Vamos com o nosso Bonito CineSur, honrando a memória de Jonir Figueiredo. Viva a arte e a cultura, viva Jonir!”, completa a nota.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Elaine Cruz/Agência Brasil

Natural de Corumbá e formado em Educação Artística pela Faculdade Unidas de Marília (SP), Jonir era conhecido por suas obras com foco no Pantanal e nas belezas do Mato Grosso do Sul. Desenhista, gravador, performer, pintor e produtor cultural, Jonir Figueiredo iniciou sua carreira nos anos 1970. Inspirou a criação do Movimento Cultural Guaicuru, coletivo que buscava valorizar a identidade cultural do estado por meio da inspiração no povo indígena Guaicuru.

Em nota, a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul lamentou a morte do artista.

“Jonir Figueiredo, foi um artista ímpar, um personagem da história do nosso estado que andava por aí, entre nós, à procura de novas ideias, matéria-prima para produzir sua arte e oportunidades para divulgá-la”, diz a nota.

“Em sua obra, explorava diversas técnicas, sempre nos lembrando do Pantanal que ele amava”, finalizou.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio de Janeiro (RJ) - 26/12/2024 - 100 fotos melhores de 2024, retrospectiva - Foto feita em 22/02/2023 - Agçomerado de casas das favelas do Complexo do Alemão, zona norte da cidade.  Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro vai construir a primeira praça musical no Complexo do Alemão. O projeto Praça Paisagem Sonora, do Programa Morar Carioca, contempla a promoção da cultura periférica no Morro do Adeus, onde será instalada a área de musicalização.

A construção terá formato de asa-delta, com três ambientes, chamados de ilhas: Harmônica e Melódica, Sensorial e Rítmica. O trajeto sonoro vai contar com orientação espacial por meio de piso tátil, materiais em braile, rampas de acesso e parapeito para a segurança, entre outros instrumentos de acessibilidade e sustentabilidade.

A praça musical atenderá aos moradores do Alemão de maneira a incentivar a interação da comunidade com a música e multiplicar o conhecimento. De acordo com o projeto, a proposta é fortalecer a “identidade territorial”, valorizar as “referências sonoras” e engajar um “urbanismo sensível” a partir da arte, educação e infraestrutura.

A Praça Paisagem Sonora, que tem design inclusivo, também promete oferecer uma série de instrumentos, tais como: amarelinha sonora, com pintura acessível para pessoas com baixa visão e rampa de acesso; tambor de tronco; cobra sem fio, um telefone sem fio em formato de cobra; circuito sensorial e tubos de vento, instrumentos de sopro que transmitem som pelo vento.

As obras começaram e a previsão é de entrega em quatro meses.

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

O Jongo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há 20 anos e permanece uma resistência da cultura negra levada adiante por descendentes de pessoas escravizadas de origem Bantu, especialmente do Congo, Angola e Moçambique, que foram trazidas para trabalhar em lavouras de café e de cana-de-açúcar, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

A manutenção dessa expressão cultural afro-brasileira característica da região sudeste do Brasil, que reúne ritmo com a percussão de tambores, dança e os versos dos cantos também conhecidos como pontos, se deve, e muito, pela transmissão dos saberes de geração em geração, por meio da comunicação oral ou oralidade, do gestual e da materialidade dos instrumentos musicais.

“Dos mais velhos para os mais novos. Até pouco tempo atrás, criança não podia dançar. Os mais velhos não permitiam porque muitas coisas eram tratadas nas rodas de Jongo através do canto, coisas sérias de busca da liberdade. As crianças não participavam, mas hoje em dia, nós trabalhamos com as crianças, justamente para não perder a nossa raiz e a tradição”, revelou à Agência Brasil, a Mestra Fatinha, 69 anos, uma das lideranças e matriarcas do Jongo do Pinheiral, que segundo ela foi reconhecido há seis meses foi reconhecido como patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro.

“A história preta é oral. Para ser jongueiro tem que fazer vivência. A gente não aprende o Jongo em livro, por isso a gente fala que as nossas comunidades são tradicionais. A gente aprende no dia a dia. O Jongo faz parte da nossa vida”, apontou a Mestra.

“É uma expressão que tem espiritualidade também, não é religião mas tem uma força espiritual importante de união dos jongueiros e de homenagem aos seus antepassados que chegaram [ao Brasil] escravizados no século 19”, acrescentou a professora do Laboratório de História Oral da Universidade Federal Fluminense (UFF), Martha Abreu, em entrevista à Agência Brasil.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Crianças

Apesar de as crianças não terem permissão para participar das rodas, Mestra Fatinha esteve presente desde cedo por causa da sua estatura física. Ela e as irmãs eram muito altas já com dez anos. “A gente foi para o Jongo muito cedo. É uma vida dentro do Jongo. As crianças que conheci criança, cresceram e hoje me chamam de vovó do Jongo”, contou, acrescentando que a mãe dela, Constância Oliveira Santos, também matriarca está com 92 anos, enquanto Deric, um menino da comunidade, aos 4 anos, já é um jongueirinho. “A família dele é descendente direta dos escravizados da fazenda. Ele está vindo aí, a mãe dança, a avó dança, a bisavó dançava e ele está vindo, uma gracinha o Deric”, comentou.

A presença dessa manifestação cultural é forte no Vale do Rio Paraíba e se mantém em cinco comunidades centenárias dos municípios de Barra do Piraí, Piraí, Valença, Pinheiral e Vassouras, no sul do Rio de Janeiro, entre elas, o tradicional Jongo do Pinheiral, que surgiu da manifestação das pessoas escravizadas da Fazenda São José dos Pinheiros, que pertencia à família Breves. O local é considerado como a origem do jongo.

Mestra Fatinha contou que o local, uma das maiores fazendas de café do Brasil, teve mais de 3 mil negros escravizados. “Uma das maiores famílias escravocratas do Vale do Café”, pontuou.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Dia Estadual do Jongo

No Rio de Janeiro, se comemora neste dia 26 de julho o Dia Estadual do Jongo, não por acaso, é também o Dia de Senhora Sant’Ana, mãe de Maria e avó de Jesus Cristo, sincretizada como Nanã nas religiões de matriz afro-brasileira. “Uma homenagem à ancestralidade feminina, às pretas velhas jongueiras, avós que souberam abençoar e nutrir as novas gerações com uma forma de expressão hoje consagrada como patrimônio cultural do Brasil”, informou o site do Centro de Referência de Estudo Afro do Sul Fluminense (Creasf) do Jongo de Pinheiral.

Também chamado de congo ou caxambu, o Jongo é uma manifestação característica da região sudeste do Brasil, segundo a Mestra Fatinha, que tem mais de 40 anos de militância pela divulgação e preservação da cultura do Jongo, o nome varia conforme o local em que se desenvolveu. No Espírito Santo, por exemplo, é jongo ou congo. No Morro do Salgueiro, na zona norte do Rio de Janeiro, é Caxambu, nome dado também em Minas Gerais e no Morro da Serrinha, em Madureira, também zona norte da capital, é Jongo.

Festejos

É justamente no Dia Estadual do Jongo que começam as festividades de 2025. Neste sábado (26), mestres, mestras e jongueiros estarão reunidos no 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, no Parque das Ruínas de Pinheiral, local onde o Jongo nasceu, durante a escravidão nos cafezais e área que pertenceu a família de Joaquim de Souza Breves, o maior senhor de escravizados da região. “A gente recebe muita gente aqui, pessoas que gostam mesmo da cultura do jongo. É um dia maravilhoso de reencontros e encontros, nossos tambores tocando o tempo todo da abertura até o final”, indicou a Mestra Fatinha.

O 4º Encontro vai reunir cerca de 400 lideranças de Jongo e mestres de mais de 18 comunidades e quilombos tradicionais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

“Primeiramente tem o impacto econômico de gerar emprego, renda e trabalho com o turismo étnico. Fora isso tem o impacto simbólico extremamente importante que foi o povo preto que construiu com seus próprios braços a área do café e sustentou a economia brasileira no ciclo do café, foram milhões de escravizados que chegaram no Cais do Valongo [região portuária do Rio de Janeiro] e subiram para os cafezais, que são justamente os antepassados desses mestres de jongo que vão estar aqui”, disse o músico, pesquisador e coordenador do encontro, Marcos André Carvalho, em entrevista à Agência Brasil, acrescentando que a prefeitura de Pinheiral cedeu o Parque para que o jongo do Pinheiral realize ali as suas atividades culturais.

“Isso também é uma virada histórica de superação. Aquele espaço que escravizou os antepassados dessas mulheres negras e mestras, hoje é dirigido por elas e ali vai ser construído o parque temático sobre a história do negro no Vale do Café”, completou.

De acordo com Marcos André, o planejamento do parque temático está em andamento e o projeto executivo para a criação do espaço foi selecionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

“Ali vai ter o Museu do Jongo, a Escola de Jongo, um restaurante de comidas étnicas e um centro turístico de visitação. A inauguração é para 2027, mas o projeto executivo já está sendo elaborado com recursos do PAC, porque fomos selecionados pelo governo federal para este projeto do parque”, informou.

“Está na hora do Brasil devolver para o povo negro do Vale do Café toda a riqueza que construiu o Brasil através da venda do café para o mundo inteiro durante o Brasil colônia. Tantos anos depois da Abolição essas comunidades ainda não têm os seus museus, os seus centros de visitação e as suas escolas de jongo. Pinheiral já deu o primeiro passo”, pontuou.

Brasília (DF), 26/07/2025 - Reconhecimento do Jonga. Foto: Karen Eppinghaus/Divulgação

Samba

A professora Martha Abreu, disse queo Jongo é considerado um dos pais do samba carioca porque as pessoas migraram para a capital do Rio e sem recursos financeiros foram morar em periferias uma vez que “a abolição não trouxe reparação”.

“Tem grupos importantes na Serrinha em Madureira, no Salgueiro, já teve na Mangueira, no Estácio, diversos morros. Essa bagagem cultural é tão importante que esses que chegaram são fundadores das escolas de samba. Em contato com a modernidade, no Rio de Janeiro todas as escolas mais antigas têm jongueiros na sua fundação. O próprio Império Serrano, a Mangueira, a Portela e o Salgueiro nem se conta, é um Jongo incrível. É Caxambu. Lá grande parte da comunidade veio de Minas Gerais e lá eles chamam caxambu”, informou a professora da UFF.

Dentro da Semana do Patrimônio Histórico Nacional, as festas pelos 20 anos do reconhecimento dessa manifestação cultural, vão continuar entre 14 e 16 de agosto, no Encontro de Jongueiros, que promete transformar a Praça Tiradentes, no centro do Rio, em um grande quilombo, com a presença de cerca de 18 comunidades de Jongo e, aproximadamente, 400 jongueiros.

A programação inclui rodas de Jongo, shows de samba, oficinas com mestres, um seminário no Teatro Carlos Gomes, exposição fotográfica na praça e o lançamento do projeto Museu do Jongo, que será um portal com mais de 5 mil fotos e vídeos sobre comunidades de Jongo. Além disso haverá as estreias de dois curtas-metragens dirigidos por Marcos André: Jongo do Vale do Café e Mestres do Patrimônio Imaterial do Estado do Rio.

“A gente quer lotar a Praça Tiradentes. Vai ser o grande momento da celebração desses 20 anos, com as rodas de jongo, no dia 16, de graça, na Praça Tiradentes”, disse Marcos André.

(Fonte: Agência Brasil)

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Cineastas e profissionais do setor audiovisual brasileiro lançaram, recentemente, um manifesto pedindo a regulamentação do streaming no Brasil. Chamado de Manifesto por uma Regulamentação do Streaming à Altura do Brasil e assinado por milhares de profissionais do setor, o documento defende que “a regulamentação do vídeo sob demanda (VOD) é hoje a medida mais urgente e estratégica para garantir o futuro do audiovisual brasileiro”.

O manifesto – que já foi assinado por nomes como Joel Zito Araújo, Lúcia Murat, Matheus Nachtergaele, Karim Aïnouz, Paulo Betti, Malu Mader e Marcos Palmeira - reivindica que as plataformas de streaming sejam obrigadas a investir, no mínimo, 12% de sua receita bruta no mercado brasileiro. Desse total, a ideia é que 70% sejam destinados ao Fundo Setorial do Audiovisual, por meio da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), um tributo que incide sobre a produção, distribuição e exibição de obras audiovisuais. Segundo o documento, isso iria fortalecer “políticas públicas transparentes e descentralizadas, com alto potencial de retorno econômico e fiscal”.

Os demais 30% seriam aplicados diretamente pelas plataformas em obras brasileiras independentes, por meio de licenciamento ou pré-licenciamento, o que poderia estimular também a produção privada.

Na noite desta sexta-feira (26), durante a cerimônia de abertura do Festival de Cinema Sul Americano de Bonito (Cinesur), realizado no Centro de Convenções de Bonito (MS), diversos atores brasileiros defenderam a regulamentação do streaming no país.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Em entrevista à reportagem da Agência Brasil, o ator Antônio Pitanga, por exemplo, disse que a situação atual é preocupante. “Temos que estar acesos e ligados com essa discussão e colocar a cara na vitrine para poder discutir sobre isso e exigir do governo federal, ministros, deputados e senadores [a aprovação desse projeto]”, defendeu. “Estamos trabalhando com a proposta de taxação de 12%, mas os 6% [que estariam sendo pensados pelo governo] já nos contemplaria. Temos que defender o cinema nacional. Essa é uma discussão aberta. A política é a arte de negociar. E acho que o governo Lula teria condições de aprovar [a proposta]”, completou.

A mesma opinião tem a atriz Maeve Jinkings. “Como atriz que circula sempre entre plataformas de streaming e televisão, é muito evidente a precarização nos contratos dos profissionais que estão nessa cadeia e que são submetidos a contratos, às vezes, muito leoninos. Acho que tem uma coisa aí que é fundamental: o que é que essas plataformas têm a dar para essa cadeia local aqui? Como é que a gente pode nutrir essa cadeia a partir da nossa gente, das nossas histórias e do nosso imaginário para as plataformas que estão circulando mundialmente? A gente está dando e a gente também quer ser nutrido por isso”, disse a jornalistas durante o Cinesur.

Para ela, é preciso ampliar as discussões sobre esse tema. “O que eu sinto é uma insatisfação generalizada. E fico muito impressionada que os meus colegas, das grandes produtoras, acham que o dinheiro está com os pequenos produtores. Já os pequenos produtores acham que o dinheiro está com as grandes produtoras. Meus colegas do teatro acham que o dinheiro está todo com o cinema. Mas onde está o dinheiro? Sinto uma paralisação e insatisfação generalizada e sinto falta de a gente se encontrar mais porque existem muitas narrativas e maneiras de ver o problema. Sinto falta de a gente se reunir, com mais escuta”, acrescentou Maeve. “O debate de ideias não é fácil. Mas acho que, mais do que nunca, com as democracias em crise no mundo inteiro, precisamos aprender a organizar essas agendas”.

A atriz e diretora Bárbara Paz, que vai apresentar seu novo documentário Rua do Pescador Número 6 no Cinesur, também é a favor da regulação das plataformas de streaming. “Não tem como não defender isso. Isso é urgente. Estamos muito atrasados nisso”, disse.

“Somos brasileiros, fazemos filmes, fazemos um cinema que interessa ao mundo inteiro. O cinema brasileiro, como a música brasileira e como a cultura brasileira, interessa a todo mundo. As pessoas querem se alimentar da nossa cultura. Temos um olhar e um gosto diferenciado. Então o que queremos é filme brasileiro no streaming. E isso tem que ser pago”, defendeu.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Discussões

O tema da regulamentação do streaming vem sendo amplamente discutido dentro do Ministério da Cultura. Em janeiro deste ano, na abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes, a secretária nacional do audiovisual, Joelma Gonzaga, disse que é “urgente que se resolva nesse ano a regulação do VOD”.

Uma das principais questões, segundo ela, é garantir a proteção do conteúdo nacional. Em outras palavras, significa que plataformas como Netflix e Amazon Prime Video, por exemplo, teriam que garantir no catálogo disponibilizado para o público brasileiro um percentual mínimo de produções nacionais.

Atualmente, o Ministério da Cultura tem defendido as propostas presentes no projeto substitutivo apresentado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), relatora do PL 2.331/22, na Câmara dos Deputados. O texto propõe uma cota de 10% de conteúdo brasileiro nos catálogos do streaming e uma alíquota de 6% de Condecine sobre o faturamento bruto anual.

Em reunião realizada no mês passado com representantes do Movimento VOD12 pelo Audiovisual Brasileiro, a ministra Margareth Menezes disse que a regulação da plataformas representará não apenas um marco legal, mas um passo simbólico para o Brasil no cenário internacional. “Essa não é apenas uma pauta econômica ou técnica; é uma afirmação de soberania cultural. A regulamentação das plataformas de streaming vai fortalecer a produção independente e gerar novas oportunidades para criadores de todo o país”, disse, na ocasião.

Bonito (MS), 26/07/2025 - 3° Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano. Foto: Diego Cardoso/Fotografando Bonito

Cinesur

O Cinesur teve início na noite de ontem, com uma homenagem à atriz paraguaia Ana Brun e a apresentação do filme As Herdeiras, pelo qual venceu o Urso de Prata de melhor interpretação feminina no Festival de Berlim em 2018.

Na edição deste ano, o festival reúne 63 filmes de nove países da América do Sul. “O Festival Sul-Americano proporciona esse espaço de discussão e de interação entre o velho e o novo, o jovem e o velho. E dessa discussão é que nasce a luz”, comentou o ator Antônio Pitanga, que apresentou a cerimônia de abertura do festival. “Cinema é a tribuna acesa para que a gente possa interagir, discutir e também consagrar, homenagear e celebrar”, acrescentou o ator.

Segundo Nilson Rodrigues, criador e diretor do festival, além da exibição de filmes, o Cinesur tem uma grande missão que é “contribuir com o processo de integração da América do Sul”.

“Somos mais de 400 milhões de sul-americanos. E nós queremos ajudar nesse processo de integração”, disse, durante a abertura do evento.

“A gente tem tanto para dizer e para aprender um com o outro. Então, esse lugar aqui nos alimenta e acho que a gente tem que aproveitar desses momentos”, completou a atriz Maeve Jinkings, que também apresentou a cerimônia.

Todas as atividades promovidas pelo CineSur são gratuitas. Mais informações sobre o festival, que será realizado até o dia 2 de agosto, podem ser obtidas no site do evento

(Fonte: Agência Brasil)

Brasília (DF) 20/11/2024 -  Lélia Gonzalez
Foto: wikipedia.org

O Festival Latinidades homenageou, nessa sexta-feira (25), Lelia González, filósofa, antropóloga, professora universitária e ativista nos movimentos negros e feministas. Com o auditório II do Museu Nacional, em Brasília, lotado, o pensamento e a trajetória intelectual de Lélia foram lembrados.

O evento realizado na Capital Federal, no Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, começou com um recital poético feito pela atriz e poeta Elisa Lucinda e seguiu com falas emocionadas que reafirmaram a atualidade e a força da contribuição de Lélia para os debates sobre conquista de direitos e a luta contra o racismo e o sexismo.

Lelia é conhecida por ser autora dos termos "amefricanidade" e "pretuguês" ao se referir a nossa língua com termos de origem africana e indígena, e também foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). Ela partiu cedo, em 1994 aos 59 anos.

A homenagem no festival teve ainda um debate com a presença da ministra de Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, da professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Dulce Pereira e de Melina Lima, do Instituto Memorial Lelia González.

Brasília (DF), 24/07/2025 - 18º Festival Latinidades celebra protagonismo das mulheres negras até 31 de julho
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Afrolatinas

No mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o pensamento e a trajetória de Lélia Gonzalez foram homenageados por mulheres negras influentes de diferentes áreas do Brasil. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relembrou como Lélia influenciou o caminho de sua irmã, Marielle Franco, e a sua própria trajetória.

“Eu me orgulho muito de conseguir, em vida, homenagear mulheres que caminham conosco. Defender mulheres negras, para mim, é o que me move. Seja por aquelas que estão conosco, seja por aquelas que, infelizmente, não estão mais”, celebrou a ministra.

Já Macaé Evaristo destacou a importância da construção teórica e política de Lélia, especialmente no que diz respeito à criação de conceitos que nomeiam experiências vividas pela população negra. “A Lélia nos convidou e ela mobilizou a construção de um pensamento afro-latino-americano, mas ela estava sempre ligada na nossa condição e na nossa potência e na nossa capacidade de poder construir uma revolução a partir da nossa própria inventividade”, disse.

Para a ministra, é necessário honrar esse legado de Lélia e manter vivos os ensinamentos dela. "Uma das coisas mais cruéis do racismo é o apagamento e o silenciamento”.

A atriz e escritora Elisa Lucinda ressaltou a coragem de Lélia Gonzalez em desafiar as estruturas do pensamento acadêmico eurocêntrico e racista. 

“Ou se é racista, ou se é sofisticado. Lélia teve a coragem de desvelar o escândalo intelectual que é o preconceito, apontando que não se pode oprimir quem promete liberdade”.

Já a professora e ex-presidente da Fundação Palmares, Dulce Pereira, enfatizou a contribuição teórica de Lélia ao formular o conceito de "amefricanidade", que unifica a identidade afrodescendente no continente.

“Ela ofereceu uma identidade para um grupo que, até então, era definido por fragmentações. Lélia nos deu ferramentas para pensar a resistência com consistência e sofisticação teórica”.

Dulce também destacou a importância do conceito de pretoguês, cunhado por Lélia como uma crítica ao apagamento da linguagem negra nos espaços formais e acadêmicos. Para a professora, reconhecer o pretoguês é reconhecer uma identidade cultural e linguística própria da população afro-brasileira. “Lélia defendia o pretoguês como uma referência nacional legítima, e não como um desvio da norma. Era, para ela, um instrumento de afirmação política, de pertencimento e de enfrentamento ao racismo estrutural.”

A diretora do Instituto Memorial Lélia Gonzalez, Melina de Lima, neta de Lélia, ressaltou a emoção de ver o legado de sua avó sendo celebrado por tantas pessoas. “Somos o coração desse país. Lélia vive. Mesmo tendo partido há 31 anos, ela continua extremamente atual. Foi emocionante ver a sede de conhecimento que ela ainda inspira”.

Os depoimentos reafirmaram que o pensamento de Lélia Gonzalez não apenas segue vivo, como também é farol para a luta antirracista, feminista e popular no Brasil e na América Latina.

(Fonte: Agência Brasil)

Ouro Preto (MG), 26/06/2025 - Cena do filme A melhor mãe do mundo. Foto: Universo Produção/Divulgação

Uma mulher preta, catadora de recicláveis e que foge de um relacionamento abusivo carregando seus pequenos filhos pelas ruas de São Paulo. O novo filme da diretora Anna Muylaert, A Melhor Mãe do Mundo, que será exibido neste mês de julho no Festival de Cinema Sul Americano de Bonito (Cinesur), conta a história de Gal, mas é também um retrato de muitas mães espalhadas pelo mundo.

Estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge, o filme fez sua estreia mundial no Festival de Berlim e, desde então, vem emocionando plateias e acumulando importantes prêmios de roteiro, filme, fotografia, edição e atuação.

“Ela é a mãe genuinamente brasileira, apesar de tanta identificação com o filme nos festivais mundo afora.
É a mãe que está à flor da pele em todos os sentidos — positivos e negativos. Ela é a leoa, a onça, a que carrega os filhos e o mundo nas costas. A que ama incondicionalmente”, descreveu a atriz Shirley Cruz, em entrevista à Agência Brasil.

Em meio aos desafios da falta de moradia, essa mãe vai transformando a fuga em uma grande aventura para proteger os filhos da dura realidade de sua casa e das ruas. O filme trata da violência doméstica, mas transforma-se em uma jornada de coragem e resistência, impulsionada pelo instinto de proteger a infância e manter a esperança em seus filhos.

Ouro Preto (MG), 26/06/2025 - Cena do filme A melhor mãe do mundo. Foto: Universo Produção/Divulgação

Diretora de Que Horas Ela Volta, esta não é a primeira vez que Anna Muylaert aborda os temas da maternidade e da desigualdade social em um filme.

“Esse é um filme sobre violência doméstica, da vergonha e do sofrimento que é para uma mulher amar um cara, ter saudade dele, ter tesão por ele, mas não poder ficar porque ele é violento. É também sobre maternidade e sobre o lixo, que é o avesso do capitalismo”, contou a diretora à reportagem. “Também acho, principalmente, que é uma visão política da mãe, dela como um personagem político porque ela está completamente abandonada”.

Se em realidade essa mãe não vai encontrar oportunidades de transformação por meio dos governos ou de políticas públicas, no filme ela vai se deparar com uma rede de solidariedade que a ajudará a enfrentar as dificuldades.

“Quando ela entra na Ocupação 9 de Julho [um dos símbolos de moradia na capital paulista] e ela encontra uma rede de apoio, aí ela pode começar a viver dignamente. Eu acho que, politicamente pensando, a gente deveria fazer comunidades porque acho que o que a mãe mais precisa - e a criança também - é de uma rede de apoio. Se isso fosse institucionalizado, ajudaria demais”, diz Mulayert.

Reconhecimento

Premiada por sua atuação em festivais realizados em Guadalajara e em Recife, Shirley Cruz diz que esse é um papel que sempre sonhou representar. “É tudo o que eu sonhei e trabalhei muito para concretizar”, diz. “E, sob a perspectiva pessoal — como mulher, mulher preta e mãe —, é forte demais. Foi lindo e continua sendo, a cada exibição”.

O reconhecimento por essa atuação, diz, “é muito bem-vindo”, mas é resultado de um intenso trabalho. “Comecei no filme Cidade de Deus - e lá se vão 25 anos de trabalho.
Recebo os prêmios com alegria e com naturalidade, como prosperidade e como colheita”, falou.

Ouro Preto (MG), 26/06/2025 - Cena do filme A melhor mãe do mundo. Foto: Universo Produção/Divulgação

Ela ressalta que representar Gal é falar sobre as violências que as mulheres sempre sofreram. “As violências contra a mulher são inúmeras, infinitas, primitivas — e nascem ali, coladinhas com o surgimento da humanidade. Elas foram normalizadas na nossa sociedade e resultam em milhares de abusos, humilhações e mortes todos os dias, no mundo inteiro. Aliás, o Brasil faz feio nesse ranking. A forma, os requintes de crueldade e a posse sobre o corpo e a mente das mulheres são algo insano. Eu não posso afirmar que vai acabar, mas tenho certeza de que a gente não vai desistir de viver”, reforçou.

Para a atriz, a mudança na vida de Gal e de outras mães como ela só será possível quando houver “respeito, afeto e empatia da sociedade, além de políticas públicas para mulheres, mães e crianças”.

Sobrevivência

Ouro Preto (MG), 26/06/2025 - Anna Muylaert, diretora do filme A melhor mãe do mundo. Foto: Leo Lara/Universo Produção

A mãe retratada no filme busca, principalmente, manter-se viva, ressalta a diretora. Mas em um processo de intensas e duras descobertas, ela também vai se conhecendo e se entendendo como mãe e mulher. “Eu acho que a grande decisão da personagem - e por isso o filme se chama A Melhor Mãe do Mundo - é proteger a prole. Há um entendimento de que, se ela continuar sofrendo abuso, a filha também vai sofrer abuso e se vai continuar uma maldição”.

Buscando poupar os filhos e acabar com esse ciclo de violência, Gal finge que dormir nas ruas de São Paulo é uma brincadeira de acampar. “A mãe sempre quis levar vocês para fazer uma coisa grandiosa, uma grande aventura. Chegou a hora”, diz a personagem, em uma das cenas do filme.

E assim como em um road movie, em que os personagens viajam e se transformam, A Melhor Mãe do Mundo é também como uma grande metáfora do fazer cinematográfico. “Será cada dia em um lugar, fazendo coisas diferentes. Aventura, mistério, ação. Coisa de cinema”, diz a personagem retratada por Shirley Cruz.

Expectativa

Depois de passar por diversos festivais pelo mundo todo, a diretora espera que agora, no Brasil, o filme continue emocionando as pessoas e gerando reflexões.

“Minha expectativa é de que o filme seja visto, seja discutido, emocione as pessoas e que gere compaixão por tudo o que a Gal representa: a catadora, a mulher solteira, a mulher que sofre violência e a mulher preta. E que o público dê um tratamento afetuoso e de vitória para ela”.

Expectativa que também é compartilhada pela atriz do filme. “Espero ver os cinemas lotados porque a magia só acontece quando as pessoas estão sentadas de frente para a tela — e, a partir daí, vem a transformação social.
Este filme é uma contribuição efetiva não só para refletir sobre os muitos temas que ele trata, mas para nos convocar a agir. Porque, afinal, como sociedade, estamos ruindo”, diz Shirley.

A Melhor Mãe do Mundo será exibido no dia 31 de julho, no Centro de Convenções de Bonito, dentro da programação do Cinesur, que tem início na noite desta sexta-feira (25) com a exibição do filme paraguaio As Herdeiras, dirigido por Marcelo Martinesse. 

Na edição deste ano, o festival reúne 63 filmes de nove países da América do Sul, consolidando o evento como espaço de encontro entre culturas e linguagens desse imenso território. “É preciso conhecer a riqueza da produção audiovisual da América do Sul e criar condições para que haja circulação das produções entre os países do continente. Há um grande mercado a ser explorado, são muitos países, muita gente e um grande potencial econômico”, afirmou Nilson Rodrigues, criador e diretor do festival,

Além das exibições de curtas e longas, o festival também promove oficinas de formação, seminários e debates. Todas as atividades promovidas pelo CineSur são gratuitas.

Mais informações sobre o festival, que será realizado de 25 de julho a 2 de agosto no Centro de Convenções de Bonito, podem ser obtidas no site do evento.

(Fonte: Agência Brasil)

Rio de Janeiro (RJ), 24/07/2025 - Obras do Museu Casa de Rui Barbosa. Foto: Marcela Canéro/FCRB

O Museu Casa de Rui Barbosa (MCRB), em Botafogo, zona sul do Rio, passa por obras para modernização das instalações elétricas, implantação de um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) e instalação de um novo sistema de combate e prevenção a incêndios, baseado em boas práticas de prevenção, atualização e normatização das instalações prediais.

A reforma é para proteger o acervo e preservar a memória do patrimônio da instituição vinculada à Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), do Ministério da Cultura. Para evitar que se repitam danos como os causados pelo incêndio no dia 2 de setembro de 2018, no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, o foco da reforma é reduzir ao máximo os riscos de sinistros de grandes proporções.

“Todo esse conjunto de intervenções está no sentido de colocar o Museu, que é parte da história republicana do Brasil, no século 21”, apontou o presidente da Fundação, Alexandre Santini em entrevista à Agência Brasil, acrescentando a dimensão da acessibilidade da instituição, que instalou elevador e rampas, medidas que já tinham sido recomendadas pelo Ministério Público.

De acordo com o presidente, as obras na parte elétrica atendem demandas de mais de uma década. Apesar de às vezes parecerem invisíveis aos olhos do público, são necessárias e já tinham um caráter de certa urgência.

“A gente está falando de situações que podem ser riscos ao patrimônio, aos usuários, aos trabalhadores e servidores. Essa é uma intervenção, que não só diminui riscos, como oferece segurança e tem uma ação também de preservação, de cuidado com o patrimônio cultural. São muitas dimensões que uma intervenção desta, embora gere um transtorno momentâneo, no sentido da interrupção parcial de algumas atividades, da frequência e da visitação, ela na verdade cuida do patrimônio para o futuro”, indicou.

Entrega

A expectativa é que as obras da parte elétrica sejam concluídas até novembro, porque no dia 5 deste mês se comemora o Dia Nacional da Cultura, que foi estabelecido nesta data porque é aniversário de Rui Barbosa. “É uma ocasião que a gente tem grandes celebrações aqui na Casa. Então, a gente espera que nesta oportunidade já possa concluir a obra e reabrir plenamente as atividades do Museu”, estimou.

O presidente lembrou que a criação do Museu Casa de Rui Barbosa, o primeiro no Brasil nesta modalidade e que se tornou referência para outros Museus Casa que existem no país, completa 95 anos no próximo dia 13 de agosto. “Já é, para nós, o início da preparação dos 100 anos do Museu, que ele possa chegar aos 100 anos totalmente recuperado. A gente está começando por aquilo que não é perceptível aos olhos, mas que é fundamental na perspectiva da preservação. A gente está abrindo esse calendário rumo aos 100 anos do Museu cuidando daquilo que é fundamental, que é a segurança e a preservação do patrimônio”, adiantou.

Orçamento

De acordo com Santini, o incremento orçamentário da Fundação nos últimos dois anos foi o que permitiu a realização das obras. Todas as intervenções estão sendo acompanhadas por equipe técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “A gente não dá um passo sem consultar o Iphan. É uma exigência mas também é uma recomendação de boa prática”, afirmou.

Rio de Janeiro (RJ), 24/07/2025 - Obras do Museu Casa de Rui Barbosa. Foto: Marcela Canéro/FCRB

Adutoras

Outra necessidade que também se arrastava está a caminho de ser resolvida. É a desativação das adutoras, instaladas ao fim da década de 1920, que atravessam o terreno da Fundação. O remanejamento da estrutura será feito pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio (Cedae), que já concluiu o processo de licitação e contratou a empresa responsável pela obra. “A medida elimina o risco de um rompimento das adutoras dentro da área do jardim histórico, assim como as consequências que um rompimento poderia trazer à estrutura do Museu e ao acervo que ele guarda”, informou a Fundação.

Retomada

Para a museóloga e pesquisadora Aparecida Rangel, que faz parte da equipe da Fundação há mais de 20 anos, é muito prazeroso ver a retomada do Ministério da Cultura, extinto no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e novos investimentos na Casa de Rui Barbosa. “É uma responsabilidade lidar com o patrimônio público. Tudo que está lá pertence ao Brasil. A gente precisa, por direito, zelar por esses bens ", disse a chefe do Museu Casa de Rui Barbosa.

“É um sentimento de orgulho que a gente tem em ver o patrimônio sendo preservado com essa qualidade e essa dedicação. Vai ficar para muitas gerações”, apontou.

Criação

A Fundação Casa de Rui Barbosa tem origem no Museu Casa de Rui Barbosa, instituição que completará 100 anos de inauguração em 2030. Em 1966, o Museu foi transformado em Fundação Casa de Rui Barbosa e passou a fazer parte do Centro de Memória e Informação (CMI), que na estrutura da Fundação é a instituição responsável pela gestão dos acervos.

“Nós temos acervos muito variados. Dentro do CMI a gente conta com serviço de biblioteca, com o AMLB, que é o Arquivo Museu de Literatura Brasileira, com o Arquivo Histórico Institucional e com o Museu Casa de Rui Barbosa. O AMLB gerencia cerca de 120 arquivos de escritores, como Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Pedro Nava, Drummond. É um acervo muito variado que inclui não apenas os manuscritos desses escritores, mas também acervo museológico, como a poltrona do Manuel Bandeira. Uma gama muito variada de objetos”, disse a museóloga.

“O arquivo institucional conta com o arquivo que originou a Fundação, que é o arquivo de Rui Barbosa, que hoje tem a chancela da Unesco de Arquivo do Mundo”, comemorou.

Na opinião da pesquisadora, talvez o maior patrimônio dentro do Museu seja a Biblioteca, importante por ser parte da residência histórica que abrigou a família do jurista. Segundo explicou, a casa é um patrimônio em si e a biblioteca está inserida nele.

“São cerca de 35 mil volumes de obras, algumas raras, até do século 16. O Rui Barbosa era um homem ligado ao conhecimento. Eu brinco muito quando recebo o público e quando a gente entra na Biblioteca eu falo ‘aqui é o Google da época’, porque todos os assuntos que se imaginar daquele momento estão presentes ali”, afirmou, acrescentando que embora Rui Barbosa fosse um homem da área de Direito e jornalista, a biblioteca conta com romances, obras de religião e do poeta Dante Alighieri, entre outros, em vários idiomas.

De acordo com Aparecida, o espaço cultural está inserido na categoria de Museu Casa, com o acervo pessoal da família, além dos elementos da vida dos personagens que moraram lá. Ela destaca que, durante muitos anos, o personagem principal era Rui Barbosa, mas sobretudo, de 2014 para cá, começaram a ter destaque os chamados personagens invisibilizados, como a mulher dele, Maria Augusta.

“O que a gente sabia dela era sempre por adjetivos relacionais: a mulher atrás de um grande homem, a esposa amantíssima, dedicada. A gente tem agora algumas pesquisas que tentam trazer à tona esta mulher. Assim também, uma pesquisa sobre os empregados, tem um livro publicado por um antigo mordomo, que é Rui na Intimidade. É um livro importantíssimo para as nossas narrativas porque mostra um Rui no cotidiano, não apenas o mito, um jurista, um Rui do dia a dia tendo uma vida comum”, relatou a curiosidade do acervo.

A rotina familiar com padrão de classe alta pode ser constatada por aspectos do imóvel, que tem dois banheiros, o que era incomum para uma residência no século 19. Sala de jantar, de almoço, uma série de gabinetes de trabalho, quarto de vestir, cozinha com fogão a lenha. Tem ainda a garagem com os carros que pertenceram a família, um com motor e outros três movidos a tração animal.

“A casa está preservada nos seus ambientes originais. O visitante tem acesso a essa experiência”, disse. O quintal da casa hoje é o jardim histórico da Fundação Casa de Rui Barbosa, que segue normas internacionais de preservação. Muitas árvores são ainda da época em que o jurista viveu lá.

Outro destaque do acervo são os móveis trazidos por Rui Barbosa, que foram utilizados por ele, na Conferência de Paz em Haia, momento considerado um marco da diplomacia brasileira, quando criticou a proposta de tribunais internacionais para classificar as nações de acordo com sua força militar ou econômica e defendeu a igualdade entre os Estados soberanos. Ainda no mobiliário, o museu tem a escrivaninha que Rui Barbosa utilizou para fazer a revisão da primeira constituição republicana. “Uma série de objetos, que a gente consegue mostrar para os diferentes públicos que nos visitam, essas histórias e momentos da vida desse personagem e de outros que habitavam a casa”, pontuou a pesquisadora.

A Fundação Casa de Rui Barbosa tem planos para a sua ampliação e desenvolve projetos para a construção de um prédio anexo em um terreno de três casas compradas pela instituição, que agora trabalha para conseguir recursos. Segundo a museóloga, será um prédio moderno com a condição necessária para o crescimento do acervo.

“O AMLB recebe constantemente doações de novos escritores, o Arquivo Histórico Institucional cresce diariamente, assim como a Biblioteca, com sistema composto pela Biblioteca São Clemente, a Rui Barbosa e a infanto juvenil Maria Mazetti, que é uma joia na Casa de Rui Barbosa e faz trabalho de incentivo à leitura”, completou.

(Fonte: Agência Brasil)

Até a próxima segunda-feira (28), o Estádio Merecão, na cidade de Bacabal, será “transformado” em uma grande arena de diversão para a comunidade bacabalense. Gincanas, recreação para crianças e atividades esportivas e de lazer são algumas das atrações do Projeto Movimenta Esporte e Lazer, iniciativa patrocinada pelo governo do Estado e pela Potiguar por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte. E um detalhe fundamental: as atividades do projeto são inteiramente gratuitas e para todos os públicos. 

O objetivo do Projeto Movimenta Esporte e Lazer é proporcionar às pessoas momentos de diversão e incentivar a prática do esporte e do lazer. Para participar, basta ir ao Estádio Merecão, a partir das 15h, e aproveitar cada atividade. 

“Crianças, adolescentes, adultos, idosos e pessoas com deficiência estão convidadas a participar das brincadeiras de maneira gratuita. O Movimenta Esporte e Lazer é uma iniciativa para que todo mundo possa se divertir, brincar, fazer novas amizades, ter saúde. Tanto que pensamos em uma programação diversificada para todos os públicos, para que as pessoas possam ir com amigos, com seus familiares. Durante quatro dias, vamos transformar o Estádio Merecão em uma grande arena de diversão. Nosso muito obrigado ao governo do Estado e à Potiguar por acreditarem e incentivarem o esporte e lazer”, afirmou Kléber Muniz, coordenador do projeto. 

A programação do Projeto Movimenta Esporte e Lazer tem início nesta sexta-feira (25) e prosseguirá até a próxima segunda-feira (28), sempre a partir das 15h. Vale destacar que a iniciativa é gratuita e tem caráter de inclusão social. 

“A gente acredita muito nos benefícios de ações como esta, que conseguem levar o esporte e o lazer às pessoas. Todas as atividades são planejadas para serem ferramentas de inclusão social. Isso é o mais importante. Queremos que as pessoas se sintam bem e aproveitem os quatro dias do Movimenta Esporte e Lazer”, concluiu Kléber Muniz.   

Todas as informações sobre o Movimenta Esporte e Lazer estão disponíveis no Instagram oficial do projeto (@movimentaesporteelazerma).

SERVIÇO:

O quê: Projeto Movimenta Esporte e Lazer

Quando: dias 25, 26, 27 e 28 de julho (sempre a partir das 15h)

Onde: Estádio Merecão (Bacabal)

Mais Informações:  Instagram (@movimentaesporteelazerma)

(Fonte: Assessoria de imprensa)

TRÍPTICO PARA A ARTE DE ESCREVER COM ARTE

(I)

AS LETRAS, A VIDA

– Letras não são só cantiga de ninar, mas, também, toque de despertar, sinal de alarmar, hino de guerrear, canção de cantar vitória.

*

Senhoras e Senhores:

Há coisas que, para serem feitas, precisam de dinheiro – pagar contas, por exemplo.

Há coisas que, para serem feitas, precisam de esforço – descarregar um navio no porto, um caminhão no armazém, por exemplo.

Há coisas que, para serem feitas, precisam de paixão – entregar-se aos abraços nos braços da pessoa amada, numa noite enluarada, por exemplo.

Há coisas que, para serem feitas, precisam de amor – morrer na cruz, em nome de toda a Humanidade, por único exemplo. Ou abraçar um ser durante nove meses da forma mais íntima possível... só explicável pelos mistérios da criação.

Há coisas que, para serem feitas, sobretudo para serem aceitas, precisam de tempo – uma Academia de Letras, por exemplo.

Sintonizada com o espírito de uma cidade, uma Academia é feita de esforço, paixão, amor, tempo. Diferentemente do comum das academias, deve-se negar a “imortalidade” para os acadêmicos, ou seja, quem entrou pode sair, a pedido.

Com isso, implode-se a tradição da tal “imortalidade” e resgata-se o primado da vontade das pessoas acima da norma das instituições. Fica quem quer crescer e ajudar a crescer, quem quer trabalhar pelas Letras, pela Cultura, pela Cidade.

Imortal será sempre o trabalho, o exemplo, não o indivíduo.

Para se habilitar a uma vaga em uma Academia, o candidato, além de ter alma de humanista e escrita de artista, deve ter disposição para fazer a cidade crescer naquilo que uma comunidade tem de mais representativo: sua cultura.

Ciganos, judeus, palestinos, entre tantos outros povos, não têm ou não tiveram territórios fisicamente delimitados para morar, mas, ainda assim, são respeitados por todo mundo no mundo todo pela força de seu saber, pela expressividade de sua história e cultura.

Senhoras e Senhores:

O local mais seguro para um navio é o porto onde ele está fundeado. Mas não é para portos que se constroem navios.

O lugar mais seguro para um automóvel é a garagem, onde ele fica guardado. Porém, não é para as garagens que se fabricam carros.

O melhor lugar para um bebê que se gera ou para uma criança que nasce é o ventre da mãe ou os braços do pai.

Entretanto, não é para ficar vitalícia e umbilicalmente no ventre da mãe nem permanentemente debaixo das vistas do pai que se geram filhos.

Uma Academia igualmente é um local razoável para um intelectual, para um humanista. Mas, ouso dizer, não é somente para reunir gentes de saberes que se formam academias.

Não, Senhores. Apesar de ali estarem seguros, não é para portos, mas sim para os mares, que navios são construídos. É para a probabilidade da tempestade, é para a possibilidade da bonança, é para a certeza da viagem que navios são feitos e são lançados à água e singram mares já ou nunca dantes navegados. Navios são feitos porque os mares, e não os portos, existem.

Também é para roer distâncias, encurtar tempos, transportar pessoas e coisas em velocidade, mas sobretudo com segurança, que se fazem carros. Eles são para as ruas e estradas, pois das vielas e becos cuidam nossos pés. É porque existem espaços para transitar, e não garagens para guardar, que se industrializam carros.

É para a vida, para o mundo, para a certeza das buscas e incerteza do encontro, que se geram filhos. Sobre eles, pais, no máximo, têm autoridade, não propriedade.

É principalmente para unirem-se em torno de um ideal, e não em frente uns dos outros, que pessoas se juntam em clubes de serviço. E uma Academia de Letras também é, ou deve ser, um clube de serviços, ou melhor: menos clube, e mais serviço. Prestar serviços que prestam.

Porque é urgente e preciso organizar as pessoas para que elas organizem, para melhor, o mundo. Abrir não o leque que espalhe um arzinho de conforto, mas um fole, que resfolegue, que crie, espalhe e trabalhe também o desconforto, donde poderão sobrevir respostas e realidades – assim como do desconforto, da irritação da ostra nasce a preciosidade da pérola. As Letras não são somente canto de acalanto, as Letras não são só cantiga de ninar, história pra boi e gente dormir, mas também, senão principalmente, as Letras são toque de despertar, sinal de alertar, sirene de alarmar, aviso de marchar, hino de guerrear, canção de cantar... vitória.

Senhores:

O que legaliza uma Instituição é seu registro, mas o que a legitima é a qualidade de sua ação. Os Cartórios e as Juntas Comerciais estão cheios de certidões de fantasmas, de escrituras de vivos-mortos. Nesse caso, não há muita diferença entre uma certidão de nascimento e um atestado de óbito.

Não tem jeito. O mundo exige, as cidades precisam, o ser reclama: pessoas e instituições têm de fazer diferença. Há muita inércia no mundo, muita energia estática.

Em uma Academia, não basta assinar a ata de fundação. Não basta assinar o ato de posse – temos de tomar posse dos nossos atos. Pelo menos nós aqui, gente escolada na vida e no ofício, sabemos que o ato de posse não se exaure, ou não se deve exaurir, nesta noite de aniversários, destaques e discursos. Não basta tomar posse NA Academia; e indispensável tomar posse DA Academia...

Que ninguém se sinta pleno aqui e agora. Academia não é mais reverência; quando muito, é referência. É, em igual tempo, museu e laboratório, conservação e criação, pensamento e ação, contemplação e trabalho.

Por mais inusual, por pouco comum que pareça, também cabe a uma Academia – como caberia a qualquer Instituição– auxiliar na desinstalação das pedagogias criminosas. Da pedagogia que não adiciona valor, embora subtraia rendas.

Do ensino prendedor, e não da educação empreendedora. Da política da passividade, que se alimenta da dependência, e não da competência.

A dependência cria, no máximo, a revolta; a competência faz a revolução. A revolta muda as pessoas do poder. A revolução muda o poder das pessoas, mostra às pessoas que elas são e têm o poder.

O revolucionário preexiste à revolução. Uma revolução inicia-se pelo nível da consciência. Uma revolta, pelo nível da emoção. O que se inicia pela consciência fortalece a emoção; o que começa pela emoção, fragiliza a consciência. O revolucionário tem consciência da necessidade. O revoltado tem necessidade da consciência.

Uma Academia é um laboratório – e não um repositório – de consciências.

Senhoras e Senhores:

Minha cidade, pode-se dizer, é uma das raras cidades das mais de 5 mil que existem no País que não se diz apenas berço de homens de letras: mais que escrever livros, seus filhos – meus conterrâneos – construíram Literatura, deram início a Escolas, criaram gêneros, tornaram-se estilo, gentes que influenciaram e influenciam. Porque foram seres que não só usaram as Letras; eles ousaram com elas.

Ousadia. Talvez isso, quem sabe, seja a grande fórmula do desenvolvimento, um desenvolvimento onde aos haveres econômicos se aliem os valores culturais.

Tudo tem de estar integrado. Onde a Engenharia erga prédios, a Estética espalhe sensibilidade.

Onde a Geografia imponha limites, a Cultura interponha pontes.

Onde a Economia fixe preços, a Arte destaque valores.

Enfim, onde o Homem faz corpo, Deus sopre alma.

Porque, à maneira de Vieira, prédios sem pessoas viram ruínas senão escombros.

Países sem pontes viram isolamentos senão ditaduras.

Economia sem cidadania vira exploração senão barbárie.

Política sem Humanismo vira escravidão senão tirania.

E pessoas sem cultura viram máquinas senão monstros.

É preciso mais. É urgente dar mais vida à vida.

Senhoras e Senhores:

Em uma cidade, uma Academia de Letras não é um contraste é do contexto. Não é um confronto –  é um encontro.

Nasce de espíritos interessados, não de mentes interesseiras. A lógica de sua ação baseia-se em argumentos, não em argúcias.

É demagógico o discurso de que uma academia não é necessária a uma cidade, de que uma comunidade tem outras prioridades.

Claro, ninguém vai à vernissage nem à avant-première, ninguém vem a uma solenidade como esta com olhos e bucho de fome de muitos dias. Mas Terra e gente foram dotados de recursos suficientes para que, explorados de forma inteligente e íntegra, integral e integrada, a vida se faça plena, dispensando, pois, prioridades isolacionistas, hierarquias mecanicistas, vícios segregacionistas, dimensões divisionistas.

A vida não é excludente; ela é inclusiva: não é isso OU aquilo, mas isso E aquilo. Não se trata do ou eu OU ele, mas do eu E ele.

Visão de conjunto, percepção do todo: É perfeitamente possível transformar em complementar o que se diz concorrente. Tornar compatível o que se julga contraditório. Fazer amigo no que é adversário.

Como veem, por tudo o que disse aqui, Academia não é só um fardão: ela é também um grande fardo. O qual, pessoal e coletivamente, devemos ajudar a carregar.

Senhoras e Senhores:

Seja a Humanidade cada vez mais cidadã.

Seja a Cidadania cada vez mais humana.

Seja cada vez mais vigilante. Seja cada vez mais solidária.

Sobretudo, sejamos cada vez mais felizes.

* EDMILSON SANCHES

(II)

O DISCURSO DA PALAVRA

*

Dia 25 de julho é o Dia do Escritor.

A data lembra a realização do Festival do Escritor Brasileiro em 1960, em um "shopping center" de Copacabana, bairro do Rio de Janeiro.

O evento foi promovido pelos escritores Peregrino Jr. e Jorge Amado, que eram, respectivamente, presidente e vice-presidente da União Brasileira de Escritores.

O sucesso do acontecimento levou o Governo a instituir o 25 de julho como o Dia do Escritor.

* * *

O DISCURSO DA PALAVRA

O jovem discípulo aprisionou um pequeno pássaro entre as mãos, colocou-se atrás do seu mestre e falou-lhe: “Mestre, tenho um pássaro nas mãos. O senhor, que sabe todas as respostas, diga-me: Ele está vivo ou morto?”

Se o mestre respondesse: “Está vivo”, o discípulo esmagaria o pássaro e o exibiria morto. Se a resposta fosse: “Está morto”, o discípulo libertaria o pássaro, que voaria frente ao mestre agora desmoralizado.

O que falar? O que dizer? O que responder?

Permitam-me que eu os cumprimente a todos aqui com a tradição, a simplicidade e a educação de duas palavras:

Senhoras; Senhores.

O que podemos falar, e o que devemos dizer, em um discurso? Que palavras devemos usar, que sentidos devemos empregar, que emoções devemos expressar, que reações queremos provocar?

Ah!, esse novo jogo verbal, essa nova esfinge vocabular também nos observa e repete: “Decifrem-me, ou lhes devoro”.

Falar sobre o que falar é reabrir a discussão – tão antiga, tão presente – entre o ser e o ter. Reflitam comigo: Como escritores, queremos ter o poder da palavra ou queremos ser a palavra do poder?

O mundo ainda não acabou por causa da Arte, por causa dos artistas. Há artistas de todos os naipes: gente que musica e compõe, que esculpe e cinzela, que calcula e escreve, gente que pinta e borda. Gente, boas gentes. E há gente que fala, que canta e encanta, que clama e reclama, gente que declama.

Nisso tudo, a palavra. A palavra base, baldrame, bastião. A palavra resistência, permanência – e, disse Guimarães Rosa, “resistir é permanecer”. Senão, vejamos: O que valeu mais para Portugal: ter conquistado, com seus navegadores, algumas terras há muito tempo retomadas ou devolvidas, ou conquistar diária e eternamente o mundo inteiro com “Os Lusíadas” de Camões, com a poesia de Fernando Pessoa?

De que valeram os enormes, portentosos, mas ao final destroçados, derrotados tanques de guerra da Alemanha?

Porém, as obras de seus pensadores e compositores permanecem inteiras e, elas sim, continuam conquistando todo mundo no mundo todo.

Na minha terra – que, por sua importância econômica e cultural, em meados do século XIX, dividia o território brasileiro em dois: Estado do Maranhão e Estado do Brasil , na minha terra havia gigantescas fábricas de tecidos, que teciam o nome e fama nacionais. Hoje, que é daquelas fábricas? Sumiram. De-sa-pa-re-ce-ram. Tornaram ao pó, como prova da efemeridade, da transitoriedade, da impermanência a que estão submetidas, "ab initio", as coisas materiais.

Mas é igualmente da terra das palmeiras, onde cantam os sábios e os sabiás, que vem a obra de Gonçalves Dias, Coelho Netto, Humberto de Campos, Ferreira Gullar, Josué Montello, sem esquecer um dos maiores e menos divulgados gênios matemáticos que o mundo já teve: Gomes de Sousa, o jovem “Sousinha”, que também era médico, literato e poliglota, e que deixou perplexa a Europa com seus conhecimentos sobre tudo, mas, sobretudo, sobre Matemática, Física e Astronomia, antes de morrer com pouco mais de trinta anos.

Senhores: Da bíblica Jerusalém, da Grécia do século oito não restou pedra sobre pedra, mas a palavra de Cristo e os versos de Homero estão aí, a encantar o mundo, a edificar o homem.

Que lição isso traz? A lição, tão bem dada e tão mal recebida ou mal aprendida, o exemplo tão bem demonstrado e muito pouco seguido, é a lição de que aquilo que nos parece ser mais frágil, mais débil, mais fraco, é o que resiste, é o que permanece. A palavra, passada oralmente, escrita em papel, às vezes moldada no barro ou emoldurada no ferro, a palavra é o edifício que não rui, a construção que não desaba, o prédio que não tomba, a casa que não cai.

No princípio, e depois do fim, será sempre o Verbo.

Senhores, estamos vivendo em um mundo de virtudes rarefeitas. Neste momento empregados estão contrafeitos, clientes são desfeitos, cidadãos mostram-se insatisfeitos e patrões, administradores e governantes podem levar tiro nos peitos porque não estão sendo humildes e honestos no que tinham a falar, no que deviam dizer; porque, mesmo quando lhes é exigido serem duros no falar, não devem perder a ternura jamais.

E comunicar também sugere isso. Afinal, ternura não é frescura, delicadeza não é patente de dama inglesa. Não há como confundir, não há porque confundir educação com bajulação, boas maneiras com maneirismos. Servir não é ser vil, ou servil. Comunicação é ação única, ação comum, como um, como única ação.

E por que assuntos como este, discussões como esta, sobre palavra e virtudes, por que isso tudo parece ser tão incompreensível, inadmissível, tão demodè, às vezes tão estranho, hoje?

O que foi que aconteceu? Houve a banalização da fala? A vulgarização da palavra? A dessensibilização dos sentidos? A dessacralização dos sentimentos?

É o mau uso da Língua, a incorreção da linguagem, a palavra de duplo sentido ou a vida sem nem um significado?

É a precariedade ética, a prevenção cética, o primarismo estético, o pragmatismo técnico?

É a miopia política, a ausência de crítica, a repetição cíclica, a deseducação típica?

É a inafeição cultural, a inaptidão intelectual, a indisposição literal, a desinformação atual, a decomposição moral e coisa e tal, o que é, Senhoras e Senhores? É a falta da virtude rara, da vergonha na cara?

Desculpem-me -- peço-lhes – se, em vez de um fraseado bonito e soluções confortantes, trago-lhes eu aqui um leriado, um palavreado feio e dúvidas cortantes, constantes. Mas até nisto há de se entrever algum mérito, porque o homem também cresce quando duvida.

Dúvidas, pois, à mão cheia... e deixa o povo pensar. Dúvidas, pois, à mão cheia, para todos vocês, fiéis e únicos depositários de suas próprias respostas.

Trago-lhes a dúvida não da palavra, mas a do que fazer com ela. A mesma dúvida que pensou gerar o jovem discípulo (lembram-se) ao aprisionar um pequeno pássaro entre as mãos e testar seu próprio mestre: “O pássaro está vivo ou está morto, mestre?”

“Filho – respondeu o mestre –, o futuro do pássaro está em tuas mãos. Como o queiras”.

Senhoras e Senhores, usei da palavra para conceder-lhes, para conceder-nos o benefício da dúvida. Pois a resposta, o futuro vivo, alegre, de altos voos aos céus, ou morto, cinzento, ao rés do chão e no pó da terra , esse futuro, e o que fazer da palavra, dependerá dos Senhores, dependerá de nós. U-ni-ca-men-te. Como assim o decidirmos.

Façam o jogo, senhoras e senhores.

A sorte novamente está lançada.

* EDMILSON SANCHES

(III)

O ESCRITOR E O ESMOLER

*

“O livro é um pássaro

com mais de cem asas para voar.”

(RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA, escritor espanhol, 1888--1963)

* * *

Há comunidades em que o escritor e o esmoler têm algo mais em comum que a sílaba inicial – ambos pedem, rogam. Suplicam praticamente.

Há comunidades em que o escritor e o esmoler têm algo de muito diferente entre si: o esmoler consegue sobreviver do seu ofício...

A grande travessia que as comunidades precisam fazer: de comunidades “materiais” para comunidades culturais.

Mudado o que deve ser mudado, pode-se dizer, acerca da produção literária, o que já dizia o escritor francês Marquês de Custine, no século XIX: “Agora todo mundo faz livros. (...) Realmente raros, hoje, são os leitores.”

A favor dos escritores, pode-se dizer que seus livros, comprados ou não, lidos ou não, sobreviverão.

Sobreviverão às décadas de desinteresse das escolas.

Sobreviverão às atitudes refratárias das universidades.

Sobreviverão ao pouco caso (ou à inexistência) do jornalismo cultural.

Sobreviverão ao descaso do universo empresarial.

Sobreviverão – sim, sobreviverão – aos mandatos e mandatários municipais, estaduais e federai e seus desinteresses, desvontades, dissimulação.

Sobreviverão a esses indivíduos – os mandatários  –  que deveriam ser servidor, e não patrão; que mal reagem se procurados, mas que nunca procuram, não.

Indivíduos que só atendem à súplica derradeira, à penúltima respiração.

Que jogam migalhas, quando poderia ofertar o pão.

Os livros, sim, sobreviverão a essa gente sem generosidade espontânea.

Gente que busca na solidez de vento do Poder o espaço para se preencher.

Indivíduos vazios de substância e sentido, cuja consciência de historicidade e visão de futuro são apenas referências recorrentes de rota e repetitiva retórica para pequenas plateias ou grande mídia – grande, cara e subserviente mídia.

O autor até pode não sobreviver, mas sua obra, definitivamente, sobreviverá.

E quando se fecharem os túmulos sobre aqueles que, podendo fazer mais e melhor, não o fizeram, as páginas dos livros se abrirão como asas e voarão para dentro de cada mente.

Profunda/mente.

E/terna/mente.

* EDMILSON SANCHES

“EFEMÉRIDES CAXIENSES”: CAXIAS GANHA SUA MAIOR OBRA DE REFERÊNCIA

*

No dia 25 de julho de 2014 o município de Caxias e o estado do Maranhão ganharam uma das principais obras de sua historiografia contemporânea. Foi lançado às 20h o livro "Efemérides Caxienses", do historiador, professor e desembargador aposentado caxiense Arthur Almada Lima Filho, falecido em 27 de outubro de 2021, em São Luís, em razão de problemas cardiorrespiratórios.

O lançamento da obra de referência de Arthur Almada Lima Filho ocorreu na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, na avenida Getúlio Vargas, 951, centro da cidade. Convidados de todas as partes do estado já se encontravam em Caxias e outros ainda deveriam chegar até a hora do lançamento.

Arthur Almada revelava que investiu pelo menos 30 meses na realização da obra, a partir das primeiras ideias até o lançamento. Mesmo durante a edição e até na hora da impressão foram feitos inclusões e reparos, o que, segundo Arthur Almada, de algum modo melhorou o conteúdo mas não isentou a obra de involuntárias falhas.

Na época, Arthur falava-me que uma segunda edição já estava sendo pensada e ampliaria o total de mais de 400 páginas da primeira. Ainda assim, advertia o autor, "Efemérides Caxienses" não pretende ser completa ou perfeita.

* * *

AS “EFEMÉRIDES”

Uma viagem por quatro séculos de história, com diversos pontos de parada obrigatória. Afinal, em "Efemérides Caxienses", de Arthur Almada Lima Filho, veem-se cerca de 500 entradas (unidades de textos) as quais, só elas, as entradas, referem-se a quatro séculos de história.

Em relação a personagens, fatos e lugares, entre outros, o livro é também de riqueza ímpar. Do “A” do jornal "A Balaiada" ou do engenheiro Aarão Reis – presidente da Companhia Maranhense de Desenvolvimento que doou um martelo de prata para bater, em 1891, a primeira estaca do início da ferrovia que ligaria Caxias a Timon (na época, Cajazeiras) –, ao “Z” da professora Zuleide Bogéa, "Efemérides Caxienses" elenca, só no Índice Onomástico, mais de 2.200 nomes – e este total seria sensivelmente maior, bem maior, se a ele fossem agregadas as centenas e centenas de nomes próprios presentes no livro – ainda que, em alguns casos, "en passant", mas assim mesmo objeto da Onomástica ou Onomatologia –, a saber, entre outros, os antropônimos (nomes de pessoas – prenomes, sobrenomes, cognomes, alcunhas, hipocorísticos, patronímicos, antonomásicos, pseudônimos); hierônimos e hagiônimos (nomes sagrados e de santos); mitônimos (deuses, semideuses, mitos, lendas); topônimos em geral ou nomes de lugares, como os corônimos (nomes de países, continentes, regiões), nesônimos (ilhas), orônimos (serras, montes, cordilheiras), politônimos (cidades), talassônimos (oceanos, mares), potamônimos (rios, riachos), limnônimos (lagos), topônimos urbanos (rua, avenida, praça); e intitulativos (instituições de ensino, de pesquisa e de serviços oficiais, estabelecimentos comerciais, periódicos, livros e textos literários isoladamente).

O arrolamento de nomes em um índice foi desejo, quase imposição, do autor, ele próprio sabedor (e sofredor) do quanto podem fazer falta listagens onomásticas no final de uma obra, em especial obras históricas e de referência. Desde os primeiros ensaios de edição do livro de Arthur Almada já se viam os primeiros inventários de nomes próprios presentes no conteúdo das "Efemérides".

"Efemérides Caxienses" é um livro estimulador e facilitador para mentes desejosas de ir adiante, a partir do sem-número de indicativos que a obra sugere, explícita e implicitamente. Este é um livro cheio de bons e desafiadores “motes”, a serem desenvolvidos em verso(s) por aqueles que sabem sentir e sabem saber. "Efemérides Caxienses" entra com o fazer saber para alguém saber fazer. O livro dá pistas; seus leitores, procurem os tesouros.

É assim que "Efemérides Caxienses", sem pretensão e com suas limitações, intenta ser útil aos historiadores e jornalistas, aos pesquisadores e professores, aos estudantes e estudiosos, aos cidadãos e a todo o povo, à História em geral e à historiografia local – também do estado, quiçá do país –: como indicador de que algo e alguém, algures ou alhures, passaram perto ou perpassaram por esta nossa terra, com seus feitos e fatos, seus pensamentos e atos.

"Efemérides Caxienses", sabem-no os que sabem dos versos de Homero, dos escritos bíblicos, das inscrições rupestres, "Efemérides Caxienses" veio para ficar – pois todo livro é um diamante de papel, é eterno --, mas, sobretudo, veio para se abrir ou ser aberto pelas pessoas, para as pessoas.

Um livro, no mínimo, é para ser lido. Se não for pedir muito, um livro é para inspirar uma ação, ou reação – algo, de preferência, que contribua para colocar mais luz, mais brilho e mais calor (seja: mais vida) no “corpus” e “locus“ da grande, rica, orgulhosa e única História de Caxias.

Nossa História.

Nossa Caxias.  

* EDMILSON SANCHES

APRESENTAÇÃO AO LIVRO “EFEMÉRIDES CAXIENSES”, DE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO

Explique-se logo: “efêmero” é uma coisa; “efeméride”, outra. Efêmero é o transitório; efeméride, o histórico. Efêmero pode até durar o dia todo; efeméride, resiste todo dia. O que é efêmero passa em branca nuvem. O que é efeméride inscreve-se em alva celulose.

Todos e tudo têm suas efemérides: o universo, o planeta, países, estados, municípios, profissões, academias...

Tem as “Efemérides Astronômicas” e as “Efemérides da Aeronáutica”. As “Efemérides Navais”, as “Efemérides Judiciárias” e “Efemérides Médicas”. As “Efemérides do Teatro Brasileiro”. Das Artes Plásticas.

Tem as “Efemérides Acadêmicas”, da Academia Brasileira de Letras. As “Efemérides da Academia Mineira de Letras”. E da Pernambucana de Letras também.

Tem as “Efemérides Universais”, de M. A. Silva Ferreira. Tem as “Efemérides Luso-brasileiras”, de Heitor Lyra. As “Ephemerides Nacionaes”, de 1881, de Teixeira de Mello. As “Efemérides Brasileiras”, do Barão do Rio Branco. As “Efemérides da Campanha do Paraguai” e as “Efemérides de La Historia del Paraguay”. As “Efemérides y Comentários”, de G. Maragñon. As “Efemérides e Sinopse da História de Portugal”, as “Efemérides Literárias Argentinas”, as de Macau...

Tem as “Efemérides Alagoanas”, de Moacir Medeiros. As “Efemérides Cariocas”, de Antenor Nascentes. As “Efemérides Mineiras”, de Xavier da Veiga. E, completados 90 anos em 2013, as “Efemérides Maranhenses”, de José Ribeiro do Amaral.

As “Efemérides” de Brasília, de Cáceres, do Cariri, de Diamantina, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, de Guarapuava, de Itaúna, de Juiz de Fora, de Júlio de Castilhos, de Porto Feliz, de Rio Claro, de São João del-Rei...

Portanto, seja no Universo infinito ou na limitada localidade coisas acontecem, fatos ocorrem. E há, entre essas acontecências e ocorrências, há as que duram, perduram... e que merecem ser registradas como efemérides, como legado de memória e história que se passou, a ser herdado e, no mínimo, respeitado pelos tempos que haverão de vir.

E entre tantas efemérides – de diferentes atividades, de diversas instituições, de distintos lugares (países, estados, municípios)... – faltava a de Caxias, uma cidade cujo solo, segundo a geologia humana, se assenta fundamente sobre camadas e camadas de (form)ações políticas, sociais, econômicas e culturais.

Pois bem: não falta mais a Caxias seu livro de efemérides. E para costurar retalhos do passado, para colher e coser pedaços dos ontens, para cerzir nesgas d’antanho, para retrazer esses registros à memória das gerações viventes e vindouras, o desafio encontrou quem o arrostasse. Alguém com o conhecimento, a determinação, a vivência e, entre outras pré-condições, a paixão pela cidade onde nasceu – Arthur Almada Lima Filho, jurista, desembargador aposentado, professor, escritor, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia Caxiense de Letras.

Ante a historicidade do município, parece que as “Efemérides Caxienses” teriam demorado a chegar. Não importa. Chegaram.

*

Quem pegar deste livro e suas páginas manusear, um favor por gentileza: faça-o com respeito; a obra é recente, mas muito do que ela contém é basicamente mais velho que nós – e devemos respeitar os mais velhos...

Cada entrada, vale dizer, cada data que aqui se perfila e enfileira, cada data deste que é o repositório cronológico pioneiro senão o mais extenso da bibliografia e historiografia caxiense, quiçá maranhense, cada entrada daria pelo menos um livro – e cada esforço para fazê-la, dois... tanto é o que neste livro há de trabalho, de talento, de tempo, de tino e de tesão pelo que se faz, tudo empregado em cada item cronográfico. Trabalho, porque é ação, fazimento. Talento, pois que é conhecimento, raciocínio, intuição. Tempo, posto que é chama e limitação, devendo ser aproveitado antes que o murrão encurte e a chama enfraqueça... e tudo escureça. Tino, vez que é “queda” para algo, para o alto, inclinação, tendência, propensão. E tesão por ser a energia intensa e impulsionadora para ritmados movimentos de (pro)criação.

Seus “Ensaios”, Montaigne já os apresentava como “um livro de boa fé” (“c’est icy un livre de bonne foy”). Mas, sabia o notável francês, um livro vai além, muito além da pureza de intenção, do agir com correção.

Livro é gestação e parição. Alegria e dor. Realidade e incerteza. Sou testemunha ocular e auricular do enorme esforço do autor, Arthur Almada Lima Filho, de seus exigentes cuidados, da busca, localização e posterior seleção de dados e eventos e o texto final para esta coleção de datas. Para encontrar algumas agulhas, vi Arthur Almada mover toneladas de palha e feno no armazém sem-fim da História: livros, jornais, revistas, documentos, mídias digitais e espaços virtuais – enfim, todo tipo de suporte crível, confiável, onde pousava e repousava a informação acerca de algum aspecto da caxiensidade, em especial filhos e fatos da terra. Sem falar dos encontros e entrevistas pessoais que Arthur Almada teve e manteve na busca de fatos e/ou confirmação de dados.

Schopenhauer observou que “livros são escritos ora sobre esse, ora sobre aquele grande espírito do passado, e o público os lê, mas não as obras desses próprios; porque só quer ler o recém-impresso (...)”. Com o índice de venda de livros e o nível de leitura que temos em nosso país, estado e município, bem que um autor se daria por satisfeito por pelo menos sua obra “recém-impressa” ser lida.

Mas tem razão o filósofo alemão, autor de “Sobre Leitura e Livros”: um livro, em especial um livro como o “Efemérides Caxienses”, é do tipo que deve(ria) suscitar o gosto, instigar o espírito, provocar a inteligência, estimular a curiosidade, ampliar o orgulho do leitor, em relevo o leitor caxiense e maranhense, para o conhecimento mais encorpado acerca dos homens e mulheres, dos fatos e feitos aqui expostos, na maioria dos casos, com comedimento, pois que em obra deste gênero não cabe desmedir.

Tenho certeza, pelas conversas e debates que (man)tivemos e pelo que nele “leio”, tenho certeza de que Arthur Almada Lima Filho se sentiria agradecido se este livro incitasse uma saudável “ressurreição” de parte(s) do passado histórico e glorioso de nossa cidade ou ampliasse o interesse de mais e mais caxienses pelas bases, pelas fundações, pelos alicerces do passado sobre os quais os anos posteriores e os dias atuais alevantaram paredes, assentaram pisos e construíram tetos. Alicerce de que não se cuida compromete a estrutura que por sobre ele se pôs ou que a partir dele se ergue.

Sabemos, nós caxienses, que não cuidamos de nosso passado como ele deveria ser cuidado... e não é por vergonha dele — muito pelo contrário! Nós nos descuidamos de nossa ancestralidade sobretudo porque a desconhecemos, ou somos apáticos, preguiçosos, somos esse coletivo de pessoas, essa ruma de gentes atarefadas com o hic et nunc, o aqui e agora de nossa vida presente, paradoxalmente passadiça — passadiça porque nela (nessa vida) somos passageiros, consumidores, quando dela (dessa vida) temos de ser motorneiros, condutores. (Afinal, é a vida que nos conduz ou nós é que devemos conduzi-la?)

Os ditos países e comunidades desenvolvidos são aqueles que têm e se sabem fortes em seus fundamentos históricos e em suas fundações de historicidade, que enriquecem sua Cultura e enrijecem sua Identidade, cada vez mais afirmadas e reafirmadas com o passar das eras. No mundo todo paga-se muito dinheiro para (vi)ver cultura, para (re)viver história(s).

A Caxias de hoje parece (parece?!) fazer questão de eleger o fugidio, o fugaz, o presente que está em trânsito, daí tão transitório...

Caxias parece (parece?!) fazer questão de não querer conhecer-se a si mesma, não escutar seu grito primal, não analisar seu DNA mitocondrial, sua vida ancestral.

Como querer sermos reconhecidos, se de nós mesmos somos desconhecidos? Como lembrar aos outros o que somos pelo que fomos se, no dizer de Pierre Chanou, somos amnésicos do que somos (“se nous sommes amnésiques de ce que nous sommes”)?

Quem sabe até cairia bem, em muitos aspectos, a máxima do espanhol George Santayana (1863-1952): “Os que são incapazes de recordar o passado, são condenados a repeti-lo”. Com certeza há tempos, pessoas, modos e feitos do passado caxiense que pegaria bem se pudessem ser reproduzidos, copiados, repetidos, adequadamente adotados no presente – descontados os pecados veniais e tais e mais que cada um possa ter, já que adiante não se verá uma lista hagiográfica, um rol de santos. De toda sorte, teríamos talentos à maneira de ADERSON FERRO (“Glória da Odontologia Nacional”), ADERSON GUIMARÃES (cônego, latinista, jornalista, professor), ALCEBÍADES VIEIRA CHAVES (desembargador e escritor), ALDERICO SILVA (empresário pioneiro, jornalista, acadêmico), ANICETO CRUZ (empresário pioneiro, jornalista), ARTHUR ALMADA LIMA (desembargador, juiz de Direito, promotor público, professor concursado da Universidade Federal do Maranhão e orador, com obra inédita de discursos), BENEDITO JOAQUIM DA SILVA (primeiro prefeito de Caxias pós-Revolução de 1930), CÂNDIDO RIBEIRO (“O maior industrial do Maranhão dos séculos 19 e 20”), CARLOS GOMES LEITÃO (magistrado, político, fundador do município de Marabá – PA), CELSO MENEZES (pintor, professor, considerado um dos maiores escultores do Brasil), CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA (“revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”), CÉSAR MARQUES (médico e historiador), CHRISTINO CRUZ (criador do Ministério da Agricultura; agrônomo, com estudos em outros países; presidente honorário da Sociedade Nacional de Agricultura), CID ABREU (escritor, professor, latinista, acadêmico), CLÓVIS VIDIGAL (monsenhor, educador), COELHO NETTO (escritor, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”), DÉO SILVA (poeta, jornalista), DIAS CARNEIRO (os dois: o industrial e jornalista e o magistrado e desembargador), ELEAZAR SOARES CAMPOS (advogado, professor, magistrado, escritor, interventor federal do Maranhão), ELPÍDIO PEREIRA (músico de renome internacional, autor do Hino de Caxias), FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU (advogado, jornalista, escritor, poeta, professor), GENTIL MENESES (administrador, jornalista, escritor), GONÇALVES DIAS (poeta, etnógrafo, professor, fundador do Indianismo na literatura brasileira), HERÁCLITO RAMOS (jornalista, escritor, poeta; irmão de Vespasiano Ramos), JOÃO LOPES DE CARVALHO (pintor e desenhista, estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos foi elogiado por diversos jornais de Lisboa), JOÃO MENDES DE ALMEIDA (considerado o mais completo jornalista brasileiro; advogado, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre), JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ (médico, militar e político, participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas), LAURA ROSA (poeta, escritora), LIBÂNIO LOBO (escritor, acadêmico), MÃE ANDRESA (Andresa Maria de Sousa Ramos, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, comandou durante 40 anos a Casa de Mina em São Luís), MARCELLO THADEU DE ASSUMPÇÃO (médico humanitário, professor, criador e mantenedor de escola gratuita, prefeito de Caxias), NEREU BITTENCOURT (professor, escritor), NILO CRUZ (magistrado, desembargador), ODORICO ANTÔNIO DE MESQUITA (advogado, político, magistrado), OSMAR RODRIGUES MARQUES (jornalista e escritor), PAULO RAMOS (advogado, deputado federal, interventor e governador do Maranhão, criador, entre outras instituições, do Banco do Estado do Maranhão e da Rádio Timbira), RAIMUNDO EWERTON DE PAIVA (desembargador e professor), RAIMUNDO FONSECA FREITAS NETO (poeta), SINÉSIO SANTOS (fotógrafo), SINVAL ODORICO DE MOURA (bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, ainda hoje um raro caso de alguém que governou quatro estados – Amazonas, Ceará, Paraíba e Piauí), TEIXEIRA MENDES (escritor, filósofo, autor da Bandeira Brasileira), TEÓFILO DIAS (advogado, jornalista e escritor, sobrinho de Gonçalves Dias, introdutor do Parnasianismo e colocado por Sílvio Romero entre os “quatro dos maiores poetas do Brasil”), TIA FILOZINHA (Filomena Machado Teixeira, professora), UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA (primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro), VESPASIANO RAMOS (poeta), VÍTOR GONÇALVES NETO (jornalista, escritor), WALFREDO DE LOYOLA MACHADO (jornalista, bacharel em Direito, escritor), WILSON EGÍDIO DOS SANTOS (professor universitário, escritor, odontólogo)...

Em todos os campos – Administração (Empresarial e Pública), Artes, Cultura, Direito e Justiça, Literatura, Música, Política, Ciências etc. –, são inúmeros os nomes, muitos deles desconhecidos, poucos deles reconhecidos, no sentido de que (não) são lembrados, cultivados, publicados e republicados, biografados, estudados, pesquisados (eles e seus trabalhos, suas atividades, sua obra). E a listagem acima (não intencional, aleatória) é só uma impressão digital, marca pequena no grande “locus” e “corpus” cultural, artístico, político, histórico e social do município caxiense. É patente que o céu histórico-cultural de Caxias tem mais estrelas. Muito mais.

Claro, temos orgulho de nossos atuais professores, historiadores, cientistas, pesquisadores, escritores, poetas, músicos, artistas, intelectuais... Para citar três caxienses, três mulheres, que saltaram obstáculos, quebraram barreiras e transpuseram limites (inclusive geográficos), temos orgulho de gente que nem Aline de Lima, que cantou e encantou na França e em mais uma dezena de países; de Tita do Rêgo Silva, que faz artes (plásticas) na Alemanha; de Bruna Gaglianone, bailarina, premiada pelo Bolshoi Brasil e integrante do corpo de bailarinos do Teatro Bolshoi de Moscou...

...  Mas o de que se trata aqui não é a transposição pura e simples de um passado que tem seu tempo. Trata-se de um presente que não tem memória – pelo menos não com a desejada consistência, não com o necessário zelo e a sadia revivificação ou reviçamento.

Que os caxienses procurem saber mais acerca do passado de Caxias, e reforcem em si o sadio orgulho do porque ele é sinônimo, em igual tempo, de reverência e referência.

*

“Efemérides Caxienses” quer lembrar isso para nós. Dia a dia. De janeiro a dezembro. E mais: do ponto de vista editorial e didático, o livro traz um aporte de, digamos, instrumentos para facilitar a vida do leitor ou corresponder às expectativas do pesquisador. Assim, veem-se aqui índices onomástico e cronológico, com os quais, no primeiro caso, o interessado encontrará rapidamente as páginas onde determinado antropônimo ou nome próprio é citado; e, no outro caso, a listagem em ordem crescente dos anos, cobrindo séculos de história caxiense.

Claro que um livro de algumas centenas de páginas não poderia cobrir, abarcar todos os fatos, todas as pessoas, toda a quadrissecular e multivariada História de Caxias. Testemunhei a vontade imensa do autor à cata de mais dados e percebi as imensamente maiores limitações materiais e de tempo que se impunham, imperiais, em desfavor do escritor. Até que ele se convenceu da verdade borgeana: um livro não se termina – se abandona.

Foi para chegar a esta obra – repita-se: sem a inútil pretensão de ser completa – que Arthur Almada Lima Filho dedicou muito do seu tempo, muito de sua saúde física e de sua energia intelectual, além de outros recursos, a serviço da materialização desse seu desejo pessoal e dessa nossa necessidade coletiva: ter um livro de referência histórico-cronológica das acontecências mais pretéritas de nossa Caxias, mas sem esquecer alguns registros da recentidade. Um livro que estudantes e professores, jornalistas e historiadores, curiosos e pesquisadores, aquele escritor em especial e todo o povo em geral pudessem diariamente folhear e consultar: o que aconteceu? quem nasceu? quem morreu? o que houve em determinado dia de determinado mês de determinado ano em minha cidade? Este livro traz as respostas, e a partir dele podem ser iniciados ou referenciados trabalhos escolares, pesquisas universitárias, matérias jornalísticas, pronunciamentos políticos, festas comemorativas, reuniões familiares... ou simplesmente enriquecer uma conversa, um discurso, o orgulho e amor pela terra natal.

Ao lado de fazeres cotidianos e afazeres especiais, o autor, ao aposentar-se desembargador, deveria ter saído do ofício para o ócio... mas Arthur Almada não larga dos ossos de uma ocupação útil (coletivamente falando) e quase sempre dá expediente com fidelidade bancária, de manhã e à tarde (às vezes entrando pela noite), no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias que ele há dez anos fundou e dirige com amor, gosto e dedicação de recém-casados. No escritório ou na residência, tal qual o pintor Apeles, “nulla dies sine linea” – ao menos uma linha todo dia. O autor-arqueólogo, à maneira do que escreveu Shakespeare, vai retirando dos escombros da História as “ruínas amorfas” e o “pó do olvido”, que recobrem tanto “o que passou” quanto “o que está por vir”. E assim foi-se formando e formatando este livro.

Arthur Almada é um homem de Hoje que sabe cuidar do Ontem. Que seu exemplo comunique aos de Amanhã para cuidarem eles do Agora – a que os pósteros chamarão Passado. Pois, no dizer do poeta brasileiro-nordestino-universal Manuel Bandeira, “só o passado verdadeiramente nos pertence. O presente... O presente não existe (...)”.

Parabéns, Arthur. Esta obra do Passado tem tudo para estar presente. Tem tudo para ter futuro. Tem tudo para permanecer no Tempo. Confirma-o o poeta brasileiro Dante Milano:

“O Tempo é um velho leitor, eterno leitor, atento e incansável. Nem um instante larga o livro.”

E finaliza:

“Parece que da vida só existe para o Tempo aquilo que ficou escrito. O resto desaparece, o Tempo não o lê”.

Pois é, Arthur. Está escrito.

*

Caxias, a partir deste instante, tem sua cronologia de fatos notáveis, seu calendário de eventos históricos.

Passado caxiense, doravante, é igual a “Efemérides”.

Pois efêmero, agora, só o presente...

* EDMILSON SANCHES

Fotos:

A obra magna de Arthur Almada Lima Filho, "Efemérides Caxienses". Arthur com Edmilson Sanches e, à mesa, fazendo o discurso de recepção a Edmilson Sanches no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em São Luís.