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Apresentação ao livro “Crônicas das Andanças”, incluindo o mais completo roteiro bibliográfico desse escritor caxiense nascido no Piauí. Texto revisto, atualizado e ampliado em 23/11/2020; escrito e publicado originalmente em 1995.

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No “roteiro” biográfico-sentimental que escrevi em 1989, e que se inclui neste livro com algumas alterações e atualizações, digo que o terceiro livro que Vítor Gonçalves Neto pretendia publicar tinha o título de “Sem Compromisso –100 Crônicas”.

Contei mal. Vamos começar do começo: os registros do próprio Vítor, cruzados com os de outras testemunhas, revelam que o primeiro livro que ele escreveu foi “Santa Luzia dos Cajueiros”, classificado como romance por Hindemburgo Dobal, embora o próprio autor o tivesse como novela. Romance ou novela, o texto foi escrito em algum espaço de tempo de 1943 a 1950, período que vai da época dos incêndios criminosos dos casebres de palha de Teresina, os quais deram “munição” para o texto, até o ano anterior à publicação do conto “Fogo”, em 1951, numa antologia baiana de contos regionais.

O conto “Fogo” foi escrito na Bahia e era, segundo seu autor, uma versão “espremida” (mais ou menos 12 páginas) de “Santa Luzia dos Cajueiros”, que tinha 25 capítulos (Santa Luzia era uma das ruas do Cajueiros, à época “o bairro mais sujo de Teresina, refugo de mulheres perdidas, homens embriagados, crianças que não queriam estudar”, também ameaçado pelos incêndios anônimos). Os originais do livro, conforme depoimento do autor, “ficaram perdidos em meio à biblioteca do poeta conterrâneo Martins Napoleão”. O conto “Fogo” foi republicado, como “plaquette”, em 1988, pela Editora Corisco, de Teresina.

Registre-se que, como subproduto do conto “Fogo”, Vítor escreveu, ainda na década de 50, um roteiro para uma companhia carioca de cinema. As autoridades de então impediram o filme de ser rodado.

Vítor Gonçalves escreveu também “Paissandu, nº 9” e “Caminho das Águas Turvas”, romances inacabados e, claro, não publicados. Rua Paissandu, número 9, era o endereço de uma “casa de mulheres perdidas na zona grã-fina”, como está no conto “Fogo”. Por sua vez, “Caminho das Águas Turvas” referia-se às águas barracentas do Rio Parnaíba, o caminho d’água dos barqueiros.

Em março de 1957, efetivamente, foi impresso o primeiro livro: o “clássico” "Conversa Tão Somente". Feito na Tipografia São José, em São Luís, o selo editorial, entretanto, era de Teresina (Caderno de Letras Meridiano). O livro reúne trinta crônicas, escritas de 1953 a 1957. A primeira parte é dedicada ao folclore. São cinco crônicas: uma sobre bumba-boi, três sobre “assombrações” e outra sobre brincadeiras de criança. Todos os textos são datados de 1953 e foram escritos em quatro diferentes localidades do Rio de Janeiro (Vila Isabel, Duque de Caxias, Nilópolis e Laranjeiras).

A segunda parte tem vinte crônicas e foi escrita em São Luís, de 1955 a 1957. É um registro das lembranças e elaborações do cronista acerca de cidades, viagens, mulheres, animais, coisas, ambientes, impressões. As últimas cinco crônicas formam “O livro de Edna”, dedicado naturalmente à futura mulher. "Conversa Tão Somente" saiu com sobrecapa, cuja “orelha” é assinada por Bandeira Tribuzi, nome de respeito e referência na história literária recente do Maranhão. A apresentação é do já citado Hindemburgo Dobal.

Em "Conversa Tão Somente" Vítor já manifestava sua intenção de publicar um “livro de memórias”, aproveitando o título de uma das crônicas: “Ponta de Calçada”, referência à Rua Pacatuba, uma antiga “rua de subúrbio da capital piauiense” que “daria um romance”.

Em agosto de 1963 apareceu o segundo livro. Diferentemente do anterior (que fora impresso no Maranhão, mas com edição do Piauí), este foi impresso no Piauí (Imprensa Oficial, Teresina) para as Edições Aldeias Altas, de Caxias, Maranhão. Era o "Roteiro das 7 Cidades" (assim mesmo, com o numeral sete), romance de 179 páginas ambientado no conhecido sítio de formações rochosas dos municípios piauienses de Piracuruca e Brasileira (este, criado em 1993). Ilustra a obra uma dúzia de fotografias e desenhos copiados dos originais de Ludwig Schwennhagen, historiador e filólogo austríaco que defendia terem sido os fenícios os primeiros habitantes do Piauí.

O livro foi escrito em 1954, no Piauí, e os originais com preciosas anotações/alterações à mão foram “esquecidos num banco da Praça Benedito Leite”, em São Luís, na noite de 12 de junho de 1955, um domingo. Oito anos depois, sem que o texto anotado fosse devolvido, Vítor Gonçalves publicou a cópia "in natura" que restava em seu poder. O livro não traz prefácio; apenas o nome do autor do desenho da capa e das três pranchas, Murilo Couto. Esqueceram-se de registrar o autor das fotos (teria sido o próprio Vítor?).

No verso da falsa folha de rosto do "Roteiro das 7 Cidades", a relação de obras do autor traz, como o próximo livro “a sair”, "Gentes e Chãos Eternos", com certeza outro livro de crônicas.

Portanto, desde 1963, Vítor Gonçalves Neto alimentava a ideia (porque o material, os textos, ele já os tinha) de publicar um novo livro. Desse modo, quando em 1977 ou 1978 eu o acompanhei até o Sioge (o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado [do Maranhão]) e testemunhei sua conversa com o diretor Jomar Moraes para publicação de um novo livro de crônicas (ao qual já dera o título: "Sem Compromisso – 100 Crônicas"), essa obra seria, pelo menos, a de número nove, caso as intenções do autor se realizassem e as condições permitissem.

A lista ficaria assim:

1) o romance (ou novela) "Santa Luzia dos Cajueiros" (escrito de 1943 a 1950; não publicado);

2) o conto “Fogo” (escrito na Bahia e publicado originalmente em 1951, republicado em outras antologias e, isoladamente, em 1988; republicado como “4ª edição” em 2002, número 4 da Coleção Contar, da Livraria e editora Corisco Ltda., de Teresina (PI). O “copyright” dessa edição está em nome do filho Jorge Gonçalves);

3) o roteiro para cinema baseado no conto “Fogo”;

4) e 5) os romances inacabados, provavelmente perdidos, "Paissandu, nº 9" e "Caminho das Águas Turvas", ambos de antes de 1957;

6) o livro de crônicas "Conversa Tão Somente", publicado em 1957;

7) o romance "Roteiro das 7 Cidades", publicado em 1963, dedicado a Luís da Câmara Cascudo, que Vítor chama de “o mestre”, a Odylo Costa, filho (“o amigo”) e “para Rachel de Queiroz, que – quando eu [Vítor] tinha 5 anos – foi minha primeira namorada”). “Roteiro das 7 Cidades” saiu também, como “3ª edição”, em 2015, número 47 da Coleção Centenário, da Academia Piauiense de Letras;

8) o livro (supostamente de crônicas) "Gentes e Chãos Eternos", anunciado em 1963; e

9) "Sem Compromisso – 100 Crônicas", esperado para 1978. Acerca deste, testemunhei também o Vítor passando as crônicas a limpo, rebatendo-as nas tiras de papel-jornal que ele usava como padrão para laudas do semanário que ele dirigia, "O Pioneiro". Não estarei enganado se disser que vi o maço de papéis com a centena de crônicas, datilografadas em vermelho.

Em 1995 foi publicado o décimo livro de Vítor Gonçalves Neto, edição “post-mortem” realizada por amigos de Caxias e Imperatriz: "Crônica das Andanças, dos Bichos, das Fêmeas e Outras Coisas Que Tais". O título do livro vem do nome da coluna, com pequena redução: no original, o nome da coluna tinha mais palavras, como “dos vivos e dos mortos”.

É importante ressaltar que Vítor já divulgara sua intenção de publicar um livro que reunisse crônicas dessa coluna, tanto que chegava a anotar ao final delas: “Reproduzida após revisão e seleção para livro em preparo” (sublinha nossa). Textos com essa observação podem ser vistos em edições de “O Pioneiro” dos primeiros meses de 1989. Do mesmo modo, conforme já anotei aqui, Vítor Gonçalves pretendera publicar, uma década antes, um livro de crônicas da mesma coluna, à época intitulada “Sem compromisso”.

"Crônica das Andanças (...)" reúne 25 pequenos textos de grande intensidade poética e imaginativa.

Embora modesta em forma, a obra é produto da consciência, da estima e dos esforços muitos de muitas pessoas: os poetas Renato Menezes e Jorge Bastiani, que fizeram a seleção dos textos; a família Gonçalves, na pessoa de dona Edna Silva Gonçalves, que deu o “de acordo” para a publicação; os autores dos textos que engrossam o livro e ratificam seu respeito, admiração e saudades do Vítor; novamente Renato Menezes, pela Editora Caburé (Caxias) e Adalberto Franklin (um piauiense maranhense que nem o Vítor) e equipe da sua Ética Editora, pelo empenho e especial carinho com que cuidaram da edição. À distância, mas chegando junto por intermédio dos onipotentes e onipresentes recursos da Informática e das teletecnologias, auxiliei na coordenação e formatação da edição. E assim este livro saiu em exatas duas semanas.

Em 2012, é publicado “Simplesmente Crônicas”, livro de Vítor Gonçalves Neto, com seleção de textos e organização de Quincas Vilaneto (Joaquim Vilanova Assunção Neto), escritor e pesquisador caxiense, e prefácio de Edmilson Sanches. A edição teve o apoio da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAPEAD), criada em 2003 e vinculada à Universidade Estadual do Maranhão.

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A obra publicada nunca coincide com a obra produzida. Esta será sempre maior; a outra nunca necessariamente a melhor.

Muita coisa do Vítor e sobre o Vítor ainda está para ser feita. Precisa ser feita. Tem de ser feita. Vai ser feita.

Sua obra em verso (afora a poesia da sua prosa).

Os trabalhos feitos no Rio, em Salvador e São Luís, para citar só as cidades de primeira lembrança.

Seu material iconográfico.

Os livros que recebeu, autografados e dedicados.

Levantamento de seus personagens.

Mapeamento de localidades.

Indexação de assuntos.

Frequência vocabular.

Suas relações com grandes nomes do jornalismo, da literatura e da cultura regional e nacional.

... É um mundo de coisas que tem para ser recuperado, (re)trabalhado, divulgado, discutido. Afinal, Vítor Gonçalves começou nas redações aos dez anos de idade. Quase 55 anos de batente, vendo e escrevendo. Ouvindo e indo.

Com certeza os milhares de textos (artigos, crônicas, reportagens, poemas) de Vítor Gonçalves Neto no Piauí, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro etc. formariam dezenas de livros, caso autoridades públicas e empresários financiassem a pesquisa, organização e publicação desse extenso material. Mas isto, e esperando saudável desmentido, só mesmo no mundo da imaginação...

O lançamento de "Crônicas das Andanças (...)" foi mais que uma homenagem ao Vítor que renascia setentão naquele 4 de novembro de 1995: foi também um exemplo, um estímulo e um alerta para as gerações caxienses de hoje e dos dias que hão de vir: não devemos esquecer as referências básicas da História e da Cultura de nossa comunidade. E Vítor Gonçalves Neto é uma dessas referências.

Talvez Vítor nem gostasse de tanto bafafá e ti-ti-ti. Porém chega um tempo em que não podemos fazer nossos gostos: é quando deixamos de ser realidade semovente e nos tornamos saudade permanente. As situações se invertem. Por exemplo, como jornalista e escritor, Vítor não podia escrever sem história.

Agora, não se pode escrever a História sem ele.

EDMILSON SANCHES

Ilustrações:

Capa dos livros "Crônica das Andanças", de 1995, “Conversa Tão Somente” (1957), “Roteiro das 7 Cidades” (1963), “Fogo”, 4ª edição, 2002), “Simplesmente Crônicas” (2012) e revista “Verbo”, da Academia Imperatrizense de Letras, número 17, março de 2005. O livro "post-mortem" “Crônicas das Andanças” traz na capa rara foto de Vítor Gonçalves Neto. A foto foi feita por Edmilson Sanches, com Vítor andando na larga calçada em frente à Associação Comercial, em Caxias, na década de 1980, durante visita do jornalista gaúcho Mário Gusmão, que era presidente da Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI).

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano é: “Desafios para o o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. 

A informação foi divulgada, neste domingo (5), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Além da prova de redação, na tarde de hoje, os candidatos inscritos no Enem fazem as questões de linguagens e códigos e de ciências humanas. A prova começou às 13h30, e o horário de término é 19h (horário de Brasília).

A prova de redação exige a produção de um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. O candidato deverá defender um ponto de vista apoiado em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual.

Também deve elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta deve respeitar os direitos humanos.

Ao elaborar a redação, os participantes devem ficar atentos às cinco competências que serão exigidas do texto:

* Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;

* Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;

* Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;

* Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;

* Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Entre os critérios que podem conferir nota 0 à redação, estão a fuga ao tema, texto com até sete linhas, trecho deliberadamente desconectado do tema, desobediência à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeito à seriedade do exame.

(Fonte: Agência Brasil)

A atriz Lolita Rodrigues morreu na madrugada deste domingo (5), aos 94 anos, em João Pessoa, capital da Paraíba. Ela estava internada para tratar de uma pneumonia. Lolita, que era atriz, cantora e apresentadora, foi também uma das pioneiras da TV brasileira.

Batizada como Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, Lolita adotou o nome artístico e iniciou a carreira participando de radionovelas, logo despontando como cantora de rádio. Passou pelas rádios Record, Bandeirantes, Cultura e Tupi, chegando a ganhar dois Troféus Roquette Pinto como Melhor Cantora.

Na inauguração da TV Tupi, em 1950, cantou o hino especialmente feito para aquela ocasião, o Hino da Televisão Brasileira, com letra do poeta Guilherme de Almeida. Apresentou os programas Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi de São Paulo.

Como atriz, interpretou a cigana Esmeralda, sua primeira protagonista, na telenovela O Corcunda de Notre Dame. Participou também da primeira telenovela diária, a 2-5499 Ocupado, formando um triângulo romântico com Glória Menezes e Tarcísio Meira. Atuou também em A ViagemUga UgaKubanacanZorra Total e Viver a Vida.

Lolita participou de um momento icônico no programa de Jô Soares. No dia 7 de abril de 2000, ela ocupou o mesmo sofá das amigas Hebe Camargo e Nair Bello.

Nas redes sociais, famosos e amigos despedem-se e prestam homenagens à Lolita. O apresentador Serginho Groisman postou: “Lolita hoje se junta a Nair, Hebe e Jô. Risadas garantidas no céu”.

Em uma postagem no Instagram, a atriz Lilia Cabral contou que tinha 8 anos quando conheceu Lolita. “Nunca esqueci”, relembrou. 

“A Lolita era uma grande mulher, forte, inteligente, elegante, muito talentosa e linda. Jamais irei esquecer seu carinho e seu olhar tão responsável pelos profissionais da TV e seu amor. Meus sinceros sentimentos à família. Lolita, querida, as nossas conversas dariam um belo capítulo. Obrigada”, acrescentou. 

O apresentador Cid Moreira postou um vídeo na conta do Instagram: “Me despeço da última do trio mais alegre que conheci na TV. Meu abraço aos familiares de Lolita Rodrigues que vai reencontrar suas amigas Hebe e Nair Bello e juntas vão se divertir no céu!”.  

A TV Brasil também prestou uma homenagem à atriz. “Hoje, o Brasil se despede de uma das atrizes pioneiras da TV Brasileira. Lolita Rodrigues faleceu nesta madrugada, 5/11, aos 94 anos. A atriz, cantora e apresentadora estava internada para tratar de uma pneumonia. Todo nosso carinho aos fãs, familiares e amigos de Lolita”. 

(Fonte: Agência Brasil)

QUANDO O AMOR É UMA QUESTÃO DE LÍNGUA...

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O AMOR É LINDO...

Uma vez um leitor me perguntou se eu havia percebido, na avenida principal da cidade, uma faixa cuja mensagem de amor não obedeceria aos padrões da norma culta da Língua Portuguesa.

Passando pela dita avenida, conferi. Estava lá: “PARABÉNS, N., PELO O SEU ANIVERSÁRIO. ESTA HOMENAGEM É UM POUCO DO TUDO QUE POSSO TE OFERECER”.

Vou frustrar aquele leitor. O que tem a mensagem? Há uma impropriedade: “pelo” seguido do artigo “o” (“pelo” já é aglutinação de preposição mais esse artigo).

Agora, é outro papo a “mistura”, numa mesma mensagem, da terceira pessoa do singular (“seu”, de "seu aniversário") com a segunda pessoa do singular (“te”, de "te oferecer").

Em defesa do emissor, poderíamos, “mutatis mutandis” [mudado o que deve ser mudado], repetir o professor Napoleão Mendes de Almeida: “Ortografia é processo de escrever a fala, e não processo de obrigar a escrever o que não se fala”.

No caso do “seu” + “te”, a mensagem reproduz um hábito dos mais arraigados no falar cotidiano brasileiro – a migração espontânea do “você” para o “tu” e vice-versa.

Foi essa mesma singeleza e despreocupação, essa informalidade própria das declarações, ambientes e “jogos” românticos, foi essa “coisa” muito mais verdadeira que o anônimo amigo / namorado / marido mandou reproduzir na mensagem.

O amor é lindo, e, se ele não segue nem as trilhas da racionalidade, como iria percorrer os trilhos da gramaticalidade?

Uma das frases mais pronunciadas é “TE AMO”, e ela também não está no dito padrão “culto”, formal, clássico, da Língua. Mas, exceto em novelas e literatura de época, quem haveria de escrever ou, mais ainda, falar (ao pé da nuca, os pelinhos se eriçando...) a forma “correta” “AMO-TE”, que é claudicante, entrecortada? Assim, prefira-se o fluido, contínuo, sussurrante “TE AMO”.

O amor vai além da Gramática. Chega às nuvens... (e sabe Deus até onde ele chega mais... chega mais...).

Sobretudo para o amor fica valendo a observação:

A Gramática é muito boa para quem chega até ela, mas é ruim para quem não passa dela.

Repita-se: o amor vai além da gramática...

...embora, na hora certa, exija bom uso... da língua... [rs].

(Ah bondosa “maldade”!...).

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(*) No Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa -- 5 de novembro -- foi instituído pela Lei federal nº 11.310, de 12 de junho de 2006. O dia 5 de novembro é uma homenagem a um dos maiores estudiosos e cultivadores da Língua Portuguesa no Brasil, o advogado, político e escritor baiano Ruy Barbosa, nascido nessa data em 1849.

Em Portugal, comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa em 10 de junho, dia de falecimento do genial poeta português Luís Vaz de Camões, aclamado autor de “Os Lusíadas”.

Já o Dia Mundial (ou Internacional) da Língua Portuguesa, 5 de maio, é data instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009, ratificada dez anos depois, em 25 de novembro de 2019, na 40ª Conferência da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em anos anteriores, a Unesco já aprovara datas para outras línguas: 20 de março (Francês), 20 de abril (Chinês), 23 de abril (Inglês e Espanhol), 6 de junho (Russo), 18 de dezembro (Árabe), além de 23 de setembro para as Línguas Gestuais (como a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, que em nosso país é comemorada no dia 24 de abril) e o 21 de fevereiro, Dia Internacional da Língua Materna, quando se deve(ria) lutar pela preservação e fortalecimento dos idiomas de cada país. (Em 21 de fevereiro de 1952 a polícia de Bangladesh matou, ateando-lhes fogo, diversos jovens estudantes, que não admitiam a imposição da língua urdu como único idioma nacional e passaram a defender a existência e cultivo da língua bengali, também falada naquela região da Ásia, que se tornaria em 1971 a República Popular do Bangladesh. “Bangladesh” significa “nação bengali”).

* EDMILSON SANCHES

A primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 começa neste domingo (5), com as questões de linguagens e códigos, ciências humanas e redação. Ao todo, 3,9 milhões de candidatos estão inscritos para fazer as provas em 1.750 municípios, nas 27 Unidades da Federação.

No segundo dia de prova, no dia 12 de novembro, os estudantes farão as questões de ciências da natureza e de matemática.

Nos dois dias, a abertura dos portões será às 12h e o fechamento, às 13h, pelo horário de Brasília. O início da prova está marcado para as 13h30 nos dois dias de prova, mas o horário de encerramento é diferente: hoje, as provas terminam às 19h, e, no dia 12 de novembro, às 18h30.

Para fazer o exame, é obrigatório levar documento de identificação original, com foto. Entre as identificações aceita,s estão a Carteira de Identidade, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o passaporte e a Carteira de Trabalho emitida após 27 de janeiro de 1997. Também serão aceitos os documentos digitais com foto do e-Título, CNH digital e RG digital. Eles deverão ser apresentados nos respectivos aplicativos oficiais, e não serão aceitas fotos da tela do celular.

Outro item obrigatório de levar é caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente. O Cartão de Confirmação de Inscrição não é obrigatório, mas é aconselhável.

O Enem é a principal forma de ingresso no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). As notas também podem ser utilizadas para a obtenção de bolsas por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) e de participação no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep. Além disso, algumas instituições de ensino privado utilizam a nota para ingresso direto ou concessão de bolsas.

(Fonte: Agência Brasil)

Bom seria se os textos de Vítor Gonçalves Neto fossem tão de todos quanto o são de tudo.

Que fossem de conhecimento do mundo como são dos amigos e conhecidos.

Jornalista e escritor, Vítor Gonçalves Neto é patrono de cadeiras nas academias Caxiense e Imperatrizense de Letras)

– Nasceu em 4 de novembro e, na madrugada de 23 de junho de 1989, uma sexta-feira, o jornalista, poeta e escritor Vítor Gonçalves Neto mudou de vida. Desde a quarta-feira, 21/6/1989, começara a travar a última batalha, em terra, contra seu próprio coração. Não houve vencedores.

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Vítor Gonçalves Neto (ou Victor, como há muito tempo e erradamente escreviam por aí) nasceu no dia 4 de novembro de 1925, em Teresina. Em 1989, completaria 64 anos de seu genetlíaco (que palavra!). Em 1995, em Caxias – cidade que Vítor escolheu para amar, casar com Dª Edna e com ela fazer filhos e amigos e terminar seus dias –, admiradores e familiares lembraram os 70 anos com o lançamento do livro “Crônicas das Andanças, dos Bichos, das Fêmeas e Outras Coisas que Tais...”, obra “post-mortem” produto da recolha/escolha de 25 de entre centenas desses pequenos textos que Vítor cometia em uma coluna com aquele titulão no semanário “O Pioneiro”, o último bastião da imprensa escrita caxiense. (Não resistindo à perda do antigo diretor-editor-repórter-revisor-etc., o velho jornal também veio a falecer, embora as massagens no coração, a respiração boca a boca e outras tentativas aplicadas por amigos e pelo herdeiro Jorge Eugênio Silva Gonçalves, também jornalista.

Vítor e Edna Silva Gonçalves, professora, em 32 anos de casamento, tiveram quatro filhos – Jandir (meu colega de turma no ensino médio no Colégio São José, em Caxias), Jorge, Miridan, Maira Teresa. Em 1989, a missa de sétimo dia coincidiu com o que seria a data desse trigésimo segundo aniversário, as bodas de pinho. Vítor viu em vida nascerem, de suas duas filhas, três netos – dois meses antes de ele morrer, nascera a netinha caçula, Maria do Perpétuo Socorro, o mimo do avô sessentão.

Como jornalista, Vítor Gonçalves fundou, dirigiu e trabalhou em diversos jornais em todo o país. No Rio de Janeiro (RJ), esteve no “Diário de Notícias”, à época o mais lido e respeitado jornal. Em “O Imparcial”, de São Luís (MA), Vítor foi colega de José Sarney, que foi mais longe e virou presidente da República. Em Caxias, Vítor fundou e dirigiu por 12 anos a “Folha de Caxias”; depois, atravessou a rua e foi parar em “O Pioneiro”, onde imprimiu seus últimos 15 anos de vida. Foram 30 anos de dedicação a Caxias, cidade espontânea e amorosamente selecionada por ele, homem cosmopolita, para ser palco, personagem e pano de fundo de muitos de seus textos, embora não esquecesse a capital do Piauí, terra natal, vizinha 70 quilômetros.

Caxias é berço de, entre outros, dois autores considerados entre os maiores da literatura brasileira: Coelho Netto e Gonçalves Dias – deste, aliás, Vítor Gonçalves Neto se dizia “parente”. Na verdade, com “Gonçalves” e “Neto” no nome, Vítor poderia, imodestamente, e com probabilidade de acertar, dizer-se parente dos dois grandes escritores maranhenses. Entretanto, se o sangue não os fizeram parentes, a “veia”, o talento, certamente os coloca na mesma família: a família dos bons poetas e prosadores.

Vítor Gonçalves Neto publicou dois livros: “Conversa Tão Somente” (crônicas), de 1957, e “Roteiro das 7 Cidades” (1963), visão romanceada do sítio arqueológico de mesmo nome, de mais de seis mil hectares, localizado nos municípios piauienses de Piracuruca e Brasileira (este, emancipado em 1993). De há muito, Vítor pensava em publicar seu terceiro livro. Título: “Sem Compromisso”. Subtítulo: “100 crônicas”. O título do livro vem do último nome que ele deu à sua coluna em “O Pioneiro”, merecedora de um luxo caro para o jornal à época: um clichê, certamente feito em São Luís ou na (Companhia Editora do Piauí (Comepi), em Teresina.

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Vítor Gonçalves Neto. jornalista, dos bons. Escritor, idem. Poeta, contista, romancista, sobretudo cronista. Noctívago, peripatético, “globe-trotter” – um andarilho da vida e do ofício.

Vítor andou muito. Mas, para ele, nunca andava demais. Passadas lentas, Vítor parecia pedir ao tempo que diminuísse sua marcha e o acompanhasse. Caminhando e contando, Vítor deve de ter conhecido todo o país, pelo lado de dentro: pensões, botecos, baixo meretrício, delegacias, igrejinhas, feiras, becos, vielas, estradas. Muitas estradas. Segundo seus registros – bem-humorados e exagerados –, exerceu, em centenas de cidades, dezenas de “profissões, desde gigolô ou guia de cegos a traficante de tóxicos disfarçado de professor de Botânica.

Vítor conviveu com grandes nomes da cultura nacional. Foi colega de quarto de Jorge Amado. “Namorou” Raquel de Queiroz. Parece que andou “aprontando umas” junto com Marighela. Na capital baiana, também defendeu Prestes e fez discursos em homenagem a Olga Benario. Ainda em Salvador, trabalhou com Monteiro Lobato. Lembro-me de que, na redação de “O Pioneiro”, remexendo velhos livros e papéis velhos – desleixadamente deixados entre livros e papéis velhos – vi duas fotografias amarelecidas pelo tempo: em uma, Vítor abraçado a Monteiro Lobato; na outra, só o autor de “Urupês” e, no verso, a dedicatória à mão: “Ao amigo Vítor, futuro membro da ABL”. A tentativa de previsão era assinada pelo próprio Monteiro Lobato.

Tal era o talento de Vítor Gonçalves Neto, já àquela época reconhecido por homens de talentos tais. Mas não chegou (ou não quis chegar) à Academia Brasileira de Letras. Nem a academia nenhuma. Não era de seu feitio. Contra a sua vontade e sem direito a defesa, é patrono da Cadeira nº 5 da Academia Imperatrizense de Letras, ocupada pelo alinhavador destas palavras, em reconhecimento ao apego e carinho de Vítor pela terra e gente sul-maranhense e tocantina, demonstrados em diversos registros, crônicas e notícias. Também é patrono da Cadeira nº 19, da Academia Caxiense de Letras, igualmente ocupada por Edmilson Sanches.

Sobre instituições, dois raros registros de pertença de Vítor Gonçalves a duas delas. Uma, foi à Associação Caxiense de Imprensa, que ele fundou em 3 de janeiro de 1964, na esteira das comemorações do centésimo aniversário de nascimento do escritor Coelho Netto. A diretoria da entidade, eleita em 21 de janeiro daquele ano, tinha o Vítor como presidente; Luiz Coelho Sales, 1º secretário; Abreu Sobrinho, 2º secretário; padre Máritom Silva Lima, 1º tesoureiro; Osvaldo Rodrigues Marques, 2º tesoureiro; e, membros do Conselho Fiscal, Alderico Jefferson da Silva, Antônio Brandão e Numa Pompílio Baima Pereira (efetivos) e Francisco de Caldas Medeiros, José Brandão e Kleber Moreira de Sousa (suplentes). A outra, foi a Associação dos Jornais do Interior do Maranhão (ADJORI-MA), da qual Vítor também foi fundador e presidente, em meados da década de 1990, com participação minha, do Sérgio Antônio Nahuz Godinho (diretor de “O Progresso”) e do Wilton Alves Ferreira, o Coquinho (diretor da “Tribuna de Imperatriz”). Lembro-me de que Vítor trouxe ao Maranhão dois presidentes da Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI): Mário Gusmão (de Novo Hamburgo/RS), que esteve em Caxias, em reunião no auditório da Associação Comercial; e, em 1987, João Batista da Silva, com quem nos reunimos em salão do Hotel Anápolis. Estive presente nos dois encontros.

Vítor dirigia o jornal “O Pioneiro”, de Caxias, que, segundo ele, era mais pioneiro que o homônimo (sem o artigo) “Pioneiro”, da homônima (com complemento) Caxias do Sul (RS). “O Pioneiro” foi talvez o único jornal com a coragem – alguns diriam: e o descaramento – de sair com uma edição de uma página só. Sabe-se que a folha de papel tem duas faces; mas o jornal saiu com impressão só num lado. Aquela sim, foi mesmo uma edição “extraordinária” (talvez mais ordinária que extra, poderia ter dito o Vítor, com sua – essa sim – extraordinária capacidade de rir de si próprio). A manchete: LEGALIDADE. Tratava-se, se bem me lembro, de uma rumorosa disputa de poder na Câmara Municipal.

A propósito, lembrando-me dessa manchete, eu brincava com o Vítor dizendo que “O Pioneiro” era o único jornal (entre tanta coisa em que ele era único) cuja coleção poderia ser feita em... ordem alfabética. Isto porque o jornal, com uma mancha gráfica de 35cm X 23cm, só aceitava uma palavra, como manchete principal, de dez a doze letras, dependendo das letras, corpo 72.

No 7 de Setembro, a manchete era: INDEPENDÊNCIA.

Em fevereiro: CARNAVAL. Dias depois: TIRADENTES ou EUCARISTIA.

Se Geisel, quando presidente da República, viajava para a Alemanha, a manchete era: ALEMANHA.

Se o forte de uma edição era uma entrevista: ENTREVISTA.

Se reportagem: REPORTAGEM.

Se o dono do jornal, Constantino Ferreira de Castro, viajava, não havia dúvida, manchete nele: CONSTANTINO.

Se o assunto era o governador, tome GOVERNADOR na manchete.

E ia por aí. Às vezes, com engenho e arte, se escreviam dois nomes na manchete (“JESUS CRISTO”) ou uma frase inteira: UM ANO NOVO, e também DIA DAS MÃES. Pelo que, realmente, poder-se-ia arquivar o jornal pelo dicionário, dispensando-se o calendário.

Tipográfico, letra a letra, assim era “O Pioneiro”, “como punheta”: “Feito à mão” – Vítor explicava, rindo. A redação ficava ali na Praça dos Três Corações. Bares, bodegas, prostitutas e bêbados, mascates e velhacos, cães e gatos. Bons vizinhos. Enfim, um local anti-higienicamente agradável, antissocialmente respeitável. Eu chegava: “– Novidades, Vítor?” Ele: “– Nenhum defunto digno de registro”.

E saíamos. O jornal, este não precisava sair. Era semanário, mas podia ser “de-vez-em-quandário”.

Acompanhei muito o Vítor nessas caminhadas noite adentro, madrugada afora. Assistia-lhe no sono rápido que ele “tirava” em qualquer lugar, a qualquer hora. Ajudava-o nas cervejas e arriscava na cachaça (mas uísque, eu “agradecia” – não gostava). A gente bebia “até se esvair em mijo”, como dizia o Vítor.

Interessava-me um bocado por ele. Preocupava-me sua fragilidade ante tanto cigarro e tanta bebida. Mas não lhe censurava o vício (com que direito?) nem lhe recriminava explicitamente os excessos. Fazia assim, de leve, pelas beiradas, como se faz com angu quente. E lhe dizia, brincando: “– Se for pra pedir mais uma, antes é melhor ir ditando sua autobiografia”. E o Vítor, voz já meio fanha: “– Que nada! Ainda vou mijar na tua sepultura”. Não mijaria.

Esse era o Vítor. Após a borrasca, recuperava-se com um caldo na Ana Preta, ali pertinho mesmo da “Madrid”, da “Bagdad” e da “Calçada Alta”, as mais respeitadas (!) e concorridas “boîtes” da “zona” – pois “boîte” e “zona” eram nomes com que se assinavam os cabarés e puteiros da época. Não raro por ali encontrávamos um freguês assíduo, o Zé Merda... e haja conversa idem.

Ir a pé até à Estação Rodoviária Nachor Carvalho, quando ela era no Bairro Pirajá, em Caxias, para visitar “inferninhos” fronteiriços (hoje extintos), parecia ser muito longe e cansativo. E era, e é, especialmente saindo ali dos Três Corações, à noite. Mas tempo e espaço eram relatividades e teoria, se a companhia era Vítor Gonçalves Neto citando Rabindranath Tagore ou recitando Rogaciano Leite e Patativa do Assaré. Proseando Machado de Assis. Versejando Gonçalves Dias.

E era assim. “Globe-trotters”, noctívagos, peripatéticos, passeávamos os cantos e recantos da cidade, passávamos a vida e os copos a limpo. Eu, aprendiz de andarilho, mais vendo e ouvindo. Deus deu dois olhos, dois ouvidos e uma boca, pra se ver e ouvir muito e falar pouco. Pois era.

Em fins de 1977 ou início de 1978, encontrei mais uma vez Vítor em São Luís. Ali no Hotel Central (hoje extinto também) dividimos mesa e cervejas com o Antônio Almeida, pintor, poeta, escultor e, tempos depois, fiquei sabendo, também eleito membro da Academia Maranhense de Letras. Depois, rumamos (Vítor e eu) até o Bairro Apicum, à casa de Erasmo Dias, José Erasmo Esteves de Fontoura Dias – nome e talento enormes.

Conversa vai, cachaça vem, Erasmo, naquele chambrão, só a natureza por baixo, afasta o livro em francês que estivera lendo e, como se fosse um segredo, me chama assim de lado e comenta: “– O filho do Banda [Bandeira Tribuzi] tá fazendo uns versos bonitinhos, só tu vendo”. Erasmo se referia ao Francisco Tribuzi, fundador do Centro Cultural Bandeira Tribuzi, em São Luís, que me concedeu, anos depois, um prêmio – que até hoje não recebi – de destaque na Literatura Maranhense.

Erasmo já estava muito doente. As mãos praticamente sem sensibilidade. Disse que ia pro Rio de Janeiro. Pelo menos nas semanas seguintes, não foi. Se tivesse ido, além de tratamento, quem sabe poderia encontrar o comandante Rui Moreira Lima, lá de Colinas (MA), herói da Força Aérea Brasileira na 2ª Guerra Mundial, que reviveria com ele os tempos de São Luís, do Liceu e da “meladinha maranhense” que ambos e outros bebiam no “Bilhar do Branco”; das “batalhas” pela conquista do Túnel da Mantiqueira, em 1932, disputadas à base de baladeiras, pedras e bodoques, e inspiradas pelo clima da Revolução Constitucionalista; lembrariam ainda o discurso que Erasmo Dias, já deputado, faria de improviso, saudando Juscelino Kubitschek, mesmo sendo oposição ao presidente.

Sobre esse discurso, em carta que me enviou do Rio de Janeiro no começo de 1978, Rui Moreira Lima revelou-me que, certo dia, enquanto ele (Rui) pilotava para o presidente Juscelino Kubitschek (JK), este lhe dissera: “– Seu Rui, você tem um conterrâneo que honra o Maranhão. Nunca vi tanta inteligência dentro de uma pessoa só. Guardo o nome desse rapaz em minha caderneta; não é gente para ser esquecida”. O “rapaz” era Erasmo Dias, cujo nome completo, segundo Rui Lima, Juscelino citou de cor.) O Vítor Gonçalves publicou essa carta em “O Pioneiro” – o comandante Rui e o intelectual Erasmo eram seus velhos conhecidos. A carta, endereçada a mim, fora enviada para o endereço do jornal, que publicara uma crônica minha, intitulada “Erasmo marasmo”, sobre o grande intelectual e político maranhense.

Agora, estávamos ali, Erasmo Dias, Vítor Gonçalves e eu, sem falar na “danada da bicha”. E haja conversa e alegria e risos e, agora, só saudades...

Dali da casa do Erasmo Dias, Vítor e eu seguimos para o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado do Maranhão (Sioge), naquela época sob a batuta de Jomar Moraes. Ouvi Jomar incentivando o Vítor a reunir suas crônicas para publicar o que seria o terceiro livro do caxiense de Teresina – “Sem Compromisso, 100 Crônicas”. Também ouvi o Vítor prometendo trazer os originais.

Na lembrança ainda, um comentário de Jomar sobre um livro dele mesmo (“Seara em Flor”, de 1963), o primeiro, de poesias, publicado há tempo: “– Vou queimá-lo. Tu ainda tens aquele exemplar, Vítor?” (Por essas e outras é que permaneci muito tempo inédito, após autorizar o Aldenor Pereira de Almeida, mestre encadernador, a guilhotinar (isso mesmo) todos as centenas de exemplares dos primeiros dois livros que eu arriscara escrever e que a Folha de Caxias Artes Gráficas imprimira. “– Corta e joga fora, Aldenor!” Como se diz: O tempo não perdoa o que se faz sem ele – especialmente Literatura. (A propósito, o Aldenor, autodidata, aprendera o ofício de encadernador e nele se aperfeiçoara em razão de meu estímulo, pois eu pedia para ele encadernar diversos de meus livros, jornais e outras publicações mais. Tornou-se um mestre na encadernação, com estilo, qualidade e beleza.)

*

Bom, Vítor não está mais aqui. Saiu. Para a família e para os amigos, deixa “o dia e a noite” e uma baita saudade como herança.

Madrugador, Vítor saiu cedo, às duas e meia, pois que o caminho do céu é longo. Além do que haverá de haver, forçosamente, uma paradinha no purgatório. Para “reabastecimento”.

Tim-tim, Vítor!

* EDMILSON SANCHES

Fotos:

Vítor Gonçalves Netos e seus livros. Com cigarro, concedendo entrevista a universitários. Com o jornalista e escritor Gentil Menezes e o empresário Constantino Castro. Em praia do Piauí, Com Edmilson Sanches e jornalistas e outros amigos, em Imperatriz (MA).

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) monitora 9,4 mil locais de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por meio de uma sala de controle. As provas serão aplicadas amanhã (5) e no próximo domingo (12), em 132.456 salas de aplicação, em 1.750 municípios de todas as 27 Unidades da Federação. 

De acordo com o instituto, farão parte da aplicação do Enem 1.763 coordenadores municipais, 36 coordenadores estaduais e cerca de 13 mil assistentes de local para organizar os 38.782 malotes de provas, que contêm 7.917.402 exames impressos. “Os números robustos são para atender os 3,9 milhões de inscritos que prestarão o exame neste fim de semana”. 

A sala de controle monitora a entrega dos malotes de prova, a presença dos profissionais e o início da aplicação dos testes. 

“No total, para que o Exame Nacional do Ensino Médio ocorra da forma mais tranquila possível, cerca de 400 mil pessoas participam do processo do Enem 2023. Os procedimentos vão desde elaboração, impressão e armazenamento até distribuição e aplicação das provas”, informou o instituto. 

Imprevistos

Caso ocorra algum tipo de problema que impeça a aplicação das provas, como alagamentos ou tempestades, o Inep informou que novas datas para reaplicação do exame já estão previstas – dias 12 e 13 de dezembro. O instituto classifica o Enem como “uma operação de grande escala” que mobiliza diversas agências do governo, incluindo Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e polícias militares. 

Protocolos

 “Todas as etapas do Enem, da publicação do edital à divulgação dos resultados, são monitoradas por um setor do Inep. O instituto também é responsável pela gestão de riscos, um planejamento cauteloso de todas as intercorrências possíveis e os planos de ação caso elas ocorram”, destacou o instituto. 

De acordo com o órgão, após a definição das questões que vão compor o exame, o envio das provas para a gráfica de segurança máxima segue protocolos rígidos de segurança. Na gráfica, as provas são diagramadas por colaboradores dentro de uma sala segura.  

“Após o ensalamento dos participantes, as provas são produzidas, impressas e liberadas com um rígido esquema de segurança e mínimo contato humano. Os pacotes já saem da rotativa separados por sala e local de aplicação. A parte personalizada da prova (Cartão-Resposta, Folha de Redação e o Caderno de Questões) é impressa de forma separada.” 

Depois da impressão, as provas ficam armazenadas em galpões logísticos de segurança máxima. Os malotes de provas já chegam a esses locais dentro de contêineres desmontáveis leves, separados por município de aplicação. Ao final da aplicação do exame, os malotes são recolhidos e enviados para as centrais de correção do consórcio aplicador. Todo o processo é feito com escolta militar. 

(Fonte: Agência Brasil)

As primeiras provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) serão realizadas neste domingo (5), em todo o país. Além de estar com os estudos em dia, os candidatos devem prestar atenção às exigências e às proibições estabelecidas pelo edital para não correr o risco de ser eliminado no dia da prova.

É obrigatório levar caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, e documento de identificação válido, físico ou digital. Também é aconselhável levar o cartão de confirmação de inscrição. Se o candidato precisar justificar sua presença no exame, ele deve levar impressa a declaração de comparecimento, que será assinada pelo aplicador do exame. A declaração está disponível na Página do Participante.

Entre os documentos de identificação válidos, estão cédulas de Identidade, identidade expedida pelo Ministério da Justiça para estrangeiros, Carteira de Registro Nacional Migratório, documento provisório de Registro Nacional Migratório, identificação fornecida por ordens ou conselhos de classes que, por lei, tenham validade como documento de identidade, passaporte e Carteira Nacional de Habilitação, Carteira de Trabalho e Previdência Social emitida após 27 de janeiro de 1997.

Também são aceitos os documentos digitais e-Título, Carteira Nacional de Habilitação Digital e RG Digital, desde que apresentados nos respectivos aplicativos oficiais. Capturas de telas não serão aceitas.

O Enem 2023 será aplicado nos dias 5 e 12 de novembro. No primeiro dia de prova, os participantes fazem as questões de linguagens e códigos, ciências humanas e redação. No segundo dia, as provas são de ciências da natureza e matemática.

Nos dois dias, a abertura dos portões será às 12h e o fechamento, às 13h, pelo horário de Brasília. É proibida a entrada do participante após o fechamento dos portões. O início da prova está marcado para as 13h30 nos dois dias de prova, mas o horário de encerramento é diferente: no dia 5 de novembro, as provas terminam às 19h e no dia 12 de novembro, às 18h30.

As notas das provas podem ser usadas para concorrer a vagas no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) e a financiamentos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

O que não levar

Segundo estabelecido no edital do Enem, alguns objetos não podem permanecer com os candidatos durante a prova. Ao ingressar na sala de provas, o candidato deverá, guardar no envelope porta-objetos, todos os seus pertences como óculos escuros, chapéu, caneta de material não transparente, lápis, lapiseira, borrachas, réguas, corretivos, livros, chaves e qualquer equipamento eletrônico (que deverá estar desligado). Quem não seguir essa regra também pode ser eliminado da prova. Se o aparelho eletrônico, ainda que dentro do envelope porta-objetos, emitir qualquer tipo de som, como toque ou alarme, o participante será eliminado.

No dia da prova, os candidatos serão submetidos à revista eletrônica, e os objetos e lanches também serão vistoriados. A recusa sem justificativa dessas vistorias pode ser motivo de eliminação. Também é preciso prestar atenção aos documentos exigidos, pois a permanência no local de prova sem documento de identificação válido pode eliminar o candidato.

Será eliminado do Enem o participante que se comunicar de qualquer forma com qualquer pessoa que não seja o aplicador da prova ou utilizar livros, notas, papéis ou impressos durante a aplicação do exame. Também não pode registrar ou divulgar, por imagem ou som, a realização da prova ou qualquer material utilizado no exame.

Sair da sala de provas a partir das 13h sem o acompanhamento de um fiscal ou ir embora do local antes de ter passado duas horas do início das provas também podem eliminar o candidato. Isso também vale para quem iniciar as provas antes das 13h30 ou da autorização do aplicador.

(Fonte: Agência Brasil)

Nascida e formada por jovens da periferia de Recife, a Orquestra Criança Cidadã se apresentou nessa sexta-feira (3), no Vaticano, durante a realização do Concerto para a Paz. Com uma missão pacifista, a orquestra, formada por 25 jovens entre 14 e 21 anos de idade, se apresentou ao lado de músicos da Itália e de regiões que estão em conflito, como Rússia e Ucrânia. O objetivo do concerto é sensibilizar o mundo pelo fim das guerras.

Ao todo, serão duas apresentações. A primeira foi nessa sexta-feira, no Altar-mor da Basílica de São Pedro. A segunda está marcada para este sábado (4), na Sala Paulo VI, e contará com uma presença ilustre, o papa Francisco é esperado para assistir à apresentação.

A Orquestra Criança Cidadã é formada por músicos que residem em Coque, bairro de Recife com um dos piores índices de desenvolvimento humano. Parte deles também reside em Camela, um distrito da cidade de Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife. O projeto surgiu para fornecer uma oportunidade às crianças e aos jovens das regiões periféricas por meio da música. Na orquestra, esses jovens recebem não somente aulas de instrumentos de cordas, sopros e percussão, mas também teoria musical, canto coral e apoio pedagógico, alimentação e atendimento psicológico, médico e odontológico.

“É um projeto de inclusão social e cidadania através da música. É destinado a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social de localidades pobres da Região Metropolitana do Recife. Foi criada em 2006 e é mantida por patrocínio de empresas públicas e privadas”, explicou José Renato Accioly, coordenador musical e regente da orquestra.

Pedro Henrique Martins, de 19 anos de idade, é um dos alunos desse projeto que está se apresentando no Vaticano. Ele, que toca violino, está na orquestra desde os 12 anos e, agora, é universitário de música. “Sempre via os meninos [músicos] mais velhos passando pela frente da minha casa e minha mãe me convenceu [a ir], me levou para fazer o teste. Não sabia o que era. Passei. No começo, era brincadeira e, hoje, é praticamente profissão, faço faculdade [licenciatura em música]”, disse à Agência Brasil.

Para Pedro, a orquestra lhe ofereceu uma grande oportunidade de vida. “Se não fosse pela orquestra, não sei o que estaria fazendo agora. Depois de ter entrado, é um caminho para a vida toda. Hoje, a única coisa que quero fazer é ser professor, lidar com música. Antes, eu não sabia uma nota musical. Com o tempo, vai entrando na nossa vida e, quando a gente percebe, é o que ama fazer. Vira parte do nosso dia, de mim. O instrumento está presente o dia inteiro. Espero que a orquestra continue fazendo as pessoas, como me fez e como fez meus amigos”.

Repertório

Para as duas apresentações no Concerto para a Paz, no Vaticano, foram escolhidas músicas do russo Sergei Rachmaninov, do ucraniano Mykola Leontovich, do italiano Antonio Vivaldi e do argentino Astor Piazzolla, em tributo ao papa.

“O repertório inclui obras clássicas de compositores dos países em guerra, além de Aquarela do Brasil [Ary Barroso], Três Peças Nordestinas [Clóvis Pereira], o Prelúdio da Bachianas 4, de Villa-Lobos, e, em tributo ao papa, Por Una Cabeza, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera”, informou o regente da orquestra.

“O repertório foi escolhido através do critério da nacionalidade, primeiro. Então, a gente vai ter música ucraniana, russa, italiana, brasileira e, como a gente vai tocar para o papa, argentina. Mas também, por ser um concerto pela paz, a gente escolheu um repertório que tenha a atmosfera de dois sentimentos bastante importantes, o perdão e a esperança”, acrescentou Accioly.

Para Pedro, tocar no Concerto para a Paz está sendo uma oportunidade muito especial. “A gente toca ao lado de pessoas que podem ter perdido alguém ou algo nesses conflitos. A gente precisa ter sensibilidade e acolher todos da melhor forma”.

Quem também está participando do Concerto para a Paz é Antonino Tertuliano, 30 anos de idade. No passado, Tertuliano fez parte do projeto em Pernambuco, mas, agora, ele integra a Orquestra Filarmônica de Israel e faz mestrado na área musical em Munique, na Alemanha.

“Estou muito feliz em fazer parte da comitiva que vai participar desse concerto. Esse concerto também tem um significado muito especial para mim por conta do que vem acontecendo em Israel. Moro em Tel Aviv”, disse. “A mensagem que tento passar para aqueles que estão lá é que a paz realmente é algo que entendemos e tomamos como garantia, mas ela é valiosa e, quando não a temos, é entristecedor”.

(Fonte: Agência Brasil)

A atriz Elizângela do Amaral Vergueiro, conhecida apenas como Elizângela, morreu nesta sexta-feira (3), aos 68 anos de idade. Segundo informou a Prefeitura de Guapimirim (RJ), a atriz foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e deu entrada no Hospital Municipal José Rabello de Mello com parada cardiorrespiratória. Apesar da tentativa de reanimação tanto no translado quanto na unidade, ela não resistiu.

“A Prefeitura de Guapimirim lamenta a morte da consagrada atriz. Esta é a segunda vez que o sistema de saúde do município atendeu Elizangela. Na primeira, Elizangela deu entrada na unidade com graves problemas respiratórios e, depois de algumas semanas, teve alta da unidade”, registra nota divulgada pelo município.

A outra internação da atriz havia acontecido em 2022, em decorrência de sequelas respiratórias causadas pela covid-19. Elizângela manifestava publicamente sua posição contrária a vacinação, cujos benefícios são cientificamente comprovados.

A atriz iniciou sua carreira aos 7 anos de idade na TV Excelsior e, 3 anos depois, passou a apresentar o programa de auditório Essa Gente Inocente, que abria espaço para crianças apresentarem seus talentos.

Ela participou de novelas de grande audiência produzidas pela Rede Globo, que a contratou em meados da década de 1960. Atuou, por exemplo, em Pecado Capital (1975), Jogo da Vida (1981), Roque Santeiro (1985), Pedra sobre Pedra (1992), O Clone (2002) e mais recentemente Força do Querer (2017) e A Dona do Pedaço (2019).

Em 1978, ela gravou um disco intitulado Elizângela. Na época, a música Pertinho de Você, uma das faixas, passou a figurar entre as mais tocadas do Brasil. Elizângela teve ainda passagens pela TV Manchete e pela Rede Record. Atuou também em diversas peças teatrais e em alguns filmes. Sua estreia no cinema, o filme Quelé do Pajeú (1969), lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz Revelação no Festival de Cinema de Santos.

Nas redes sociais, fãs e amigos prestam homenagens. “Amiga, inteligente, divertida, aquela atriz visceral, sonho de qualquer autor: vestia sem medo nem pudor a pele das personagens. Estou sem palavras”, escreveu Glória Perez.

O usuário da rede social X, Felipe Duarte, afirmou que Elizângela era uma das suas atrizes preferidas. “Não tem um personagem mediano dela. Todos foram marcantes. Enorme e irrecuperável perda da nossa teledramaturgia”.

(Fonte: Agência Brasil)