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A Subsecretaria de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio, publicou, em edição extra do “Diário Oficial” do município, o formulário de autodeclaração de protocolo sanitário (Faps) para os estabelecimentos da rede particular de ensino. Criado por meio de portaria, o documento é de preenchimento obrigatório para creches e escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio que queiram retomar as atividades de ensino presenciais.

De acordo com a Fase 6B do plano de flexibilização do município, escolas particulares estão autorizadas a voltar com as aulas presenciais de forma voluntária desde 1º de outubro. Diante disso, a decisão tem como objetivo colher informações sobre quais procedimentos foram adotados pelas unidades de ensino como medidas de prevenção da covid-19, como as Regras de Ouro e os protocolos higiênico-sanitários específicos desenvolvidos para essas atividades.

A nota informa que as escolas e creches devem preencher os formulários eletrônicos em sete dias corridos a partir da data da publicação, sob o risco de penalidade. A partir de novembro, a autodeclaração deverá ser preenchida mensalmente, até o quinto dia útil de cada mês, e será obrigatória enquanto estiverem vigentes as medidas de prevenção para o enfrentamento da pandemia no município. A documentação está disponível na página da Vigilância Sanitária.

Uma vez declaradas, as informações dos formulários serão avaliadas pela Vigilância Sanitária, que poderá direcionar as ações de educação e fiscalização para estabelecimentos que estejam funcionando de maneira inadequada ou apresentando dificuldade para cumprir os protocolos estabelecidos para prevenir o risco de contaminação.

O documento diz ainda que, diante da proporção da rede de educação privada do município, a autodeclaração é uma forma de proporcionar celeridade no processo e favorecer o desenvolvimento de ações eficientes de educação e fiscalização, com base nas informações prestadas pelos próprios administrados, que são completamente responsáveis pelo que foi relatado.

As penalidades para aqueles que não preencherem o formulário ou que o fizerem com informações falsas pode variar de R$ 593,60 a R$ 2,6 mil, além da possibilidade de interdição e cassação da licença sanitária.

(Fonte: Agência Brasil)

Abílio Maranhão e a esposa, Carmen.

Parece que foi ontem que, no Rio de Janeiro (RJ), o aeronauta, advogado e escritor José Herênio e eu conversávamos sobre o Abílio Maranhão, até pelo aniversário de cem anos de vida, em 13 de abril de 2011.

Menos de seis meses após seu centenário, em 10 de outubro de 2011, o carolinense Abílio Maranhão Gonçalves saiu da imortalidade estatutária das academias para a imortalidade eterna dos céus.

Na época, apresentei pêsames à família e sentimentos de solidariedade ao casal amigo José Herênio e Sophia, por aqueles momentos de pesar, dor, luto e saudade. De José Herênio recebi a seguinte notícia:

“ACABA DE FALECER EM GOIÂNIA, AOS 100 ANOS E 6 MESES DE IDADE, O GRANDE IRMÃO E BENFEITOR COMUM DOUTOR ABÍLIO MARANHÃO GONÇALVES. POR SUA VIDA COMO MÉDICO INCANSÁVEL E PELA ABNEGAÇÃO COM QUE SE HOUVE EM FAVOR DA ESPÉCIE, OS RIBEIRINHOS DA REGIÃO TOCANTINA E OS AMAZÕNIDAS DE TODOS OS TEMPOS – RECONHECIDOS E EM PRECES – ROGAM A DEUS PELO SEU MERECIDO DESCANSO ESPIRITUAL. FRATERNALMENTE, JOSÉ HERÊNIO DE SOUZA [Rio de Janeiro-RJ]."

A inscrição de Abílio Maranhão no Conselho Regional de Medicina de Goiás era a de número 25.

Abaixo, dois textos da Academia Goiana de Medicina, da qual Abílio era membro. O primeiro texto é do presidente da Casa, quando do centenário de vida de Abílio Maranhão. O segundo texto é a biografia.

Abílio Maranhão era também membro correspondente da Academia Imperatrizense de Letras.

* EDMILSON SANCHES

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Aniversário 100 Anos Dr. Abílio Maranhão

Academia Goiana de Medicina

Homenagem ao Dr. Abílio Maranhão Gonçalves

A Academia Goiana de Medicina, com muita honra e imensa satisfação, participa da celebração do centésimo aniversário do Dr. Abílio Maranhão Gonçalves, maranhense de Carolina hoje o decano da medicina goiana, por força da Justiça Divina.

Nosso querido confrade Abílio Maranhão nos idos de 1936, então recém-formado, foi nomeado Médico Militar do Estado de Goiás pelo governador Pedro Ludovico Teixeira, dando início aos indeléveis serviços prestados à Medicina Goiana particularmente em Saúde Pública, uma vertente do exercício da Medicina do mais alto sentido humanístico.

Lotado em Pedro Afonso, no longínquo norte goiano, Abílio Maranhão não atendia apenas os militares e famílias, mas todos que necessitavam de cuidados médicos, com ênfase em medidas higiênicas e na prevenção de doenças.

Em 1943, após ampliar seus conhecimentos em saúde pública no Rio de Janeiro, ingressou no Serviço Especial de Saúde Pública, sendo imediatamente designado para cuidar da saúde dos trabalhadores na extração do látex, na Região Amazônica, insumo básico para a produção de borracha, então de fundamental importância, pois a segunda guerra mundial estava em pleno transcurso.

Logo que pôde, Abílio Maranhão retornou ao Norte Goiano, onde plantou as sementes da saúde pública, implantando, em alguns municípios, centros de formação de pessoal de apoio para assistência à saúde.

Em 1956, foi criado o escritório do Sesp em Goiânia o que ensejou a Abílio Maranhão, como seu condutor, oportunidade para que fossem criadas unidades deste importante Serviço em nove municípios do Norte Goiano que vieram a constituir as bases da Saúde Pública no hoje Estado do Tocantins, bem como de participar ativamente do planejamento das ações de saúde desenvolvidas no centro-sul do Estado de Goiás.

Em 1964, quando o Sesp começou a ser desativado, o nosso homenageado passou a integrar a equipe da antiga Organização de Saúde do Estado de Goiás, contribuindo de forma sempre relevante com as ações de prevenção e controle das Doenças Transmissíveis.

Como diretor do antigo Hospital Oswaldo Cruz, então referência para Doenças Transmissíveis em Goiás, vim a conhecer Abílio Maranhão em 1973 quando ele assessorava o superintendente da Osego, Dr. Alcyr Mendonça, e seu diretor-técnico, Dr.Dóris Gramacho, de saudosa memória.

Assim, pude contar com o irrestrito apoio da dupla, Abílio Dóris, para a contratação emergencial de pessoal médico e de enfermagem, bem como aquisição de antibióticos, à época de última geração, para que o antigo Hospital de Isolamento, hoje Hospital de Doenças Tropicais, pudesse enfrentar o maior surto epidêmico de Meningite Meningocócica do século passado, em pé de Igualdade com o Hospital Emilio Ribas de São Paulo, então referência para Doenças Transmissíveis na América Latina.

Abílio Maranhão é membro fundador da AGM. Sempre presente e proativo, participou da diretoria em vários mandatos e, sem dúvida, um dos mais entusiastas de seus membros eméritos.

Parabéns, Abílio Maranhão. Seus colegas da AGM estão certos de que Você, um lídimo exemplo do bem viver, contará sempre com a proteção divina!

Joaquim Caetano de Almeida Netto – Presidente

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Abílio Maranhão Gonçalves nasceu em Carolina (MA), em 13-4-1911, e formou-se em 1935, na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Após sua formatura. estabeleceu-se em sua cidade natal onde clinicou durante um ano. Trazido, para Goiás, pelo deputado goiano João de Abreu que, à sua revelia, pediu ao interventor Pedro Ludovico Teixeira para nomeá-lo primeiro-tenente médico da Polícia Militar do Estado de Goiás. Nomedo imediatamente, foi designado para integrar a 4ª Companhia Isolada em Pedro Afonso (TO).

Abílio Maranhão, depois de quase dois anos na cidade, foi transferido para Goiânia, vindo então a pedir baixa da corporação para, no Rio de Janeiro, fazer especialização em obstetrícia. De volta à sua cidade, montou consultório e clinicou por mais um ano, mas acabou optando por se instalar em Marabá (PA), cidade que o atraía profissionalmente. Em 1943, foi novamente convocado à vida militar e acabou entrando para o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), um grupo que dava assistência aos trabalhadores que faziam extração de látex na Amazônia.

Em 1956, um escritório do Sesp foi montado em Goiânia, e Abílio tornou-se seu responsável. Em 1964, passou a fazer parte da equipe da antiga Osego, de onde só saiu em 1990, quando se aposentou. Foi ainda professor na Faculdade de Medicina da UFG.

Atualmente, Abílio Maranhão, aos 98 anos, é membro Emérito da Academia Goiana de Medicina.

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Ele nasceu no dia en 10 de outubro de 1934. Foi numa fazenda, de nome “Alegre”, no pequeno município paraibano de Princesa Isabel (368 quilômetros quadrados, 23 mil habitantes, R$ 212 milhões de Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços produzidos anualmente).

Acompanhando os pais, a família, o princesense Benedito Batista saiu da terra natal para Nova Olinda de Piancó, também na Paraíba. Depois vieram para o Maranhão, para Grajaú, velha cidade e matriz histórico-cultural do sul do Maranhão, para onde já vinham vindo os parentes de Benedito a partir de 1877, quando a grande seca esturricou solos e sonhos e expulsou gentes para lugares férteis, sobretudo, para o interior maranhense.

Benedito Batista permaneceu em Grajaú, de dezembro de 1949 até janeiro de 1960. Estudou. Fez, nas férias escolares, curso de Educação Física em Fortaleza. Na velha Chapada (Grajaú), Benedito Batista fundou e presidiu o Grêmio Lítero e Recreativo Gonçalves Dias, para o qual foi reeleito.

Depois, Benedito foi para Amarante do Maranhão e aí ensinou primeiras letras (mestre-escola) para crianças amarantinas. Também foi vereador no município. Três anos e três meses depois, Benedito Batista deu com os costados na terra de sua paixão – Imperatriz. Centenas, senão milhares, de estudantes puderam tê-lo como professor (1969/71) em escolas como Bernardo Sayão, Técnica de Comércio, Bandeirantes (atualmente, Nascimento de Moraes) e Ebenézer (onde também, por pouco tempo, dei aulas).

Além de professor, Benedito Batista foi secretário de escola e dirigiu, à época, o Departamento de Educação de Imperatriz, nos anos 1963/64. Trabalhou no Estado, nomeado, nas áreas Fiscal e de Coletoria (esta, em João Lisboa).

Seu talento, experiência, dedicação, prestação de serviços tornaram-no vereador da Câmara Municipal imperatrizense e, depois, secretário de Educação do município (1977/78) e diretor regional de Educação (1979/80).

Competente assessor também para assuntos partidários e políticos, tanto em Grajaú quanto em Amarante do Maranhão e, em Imperatriz, participou de fundação e administração de siglas político-partidárias, delas que secretariou ou presidiu.

Em 18 de outubro de 1983, recebeu o título de Cidadão João-lisboense.

Membro da Academia Imperatrizense de Letras, Benedito Batista foi o fundador da Cadeira 7. Benedito Batista escreveu em verso e prosa. Deixou livros, que precisam ser (re)descobertos pelos estudiosos (?) locais, pelos cursos de Letras, de História, de Comunicação Social, de...

Do farto material que certamente escreveu e do qual, certamente, restam muitos inéditos, Benedito Batista, em um intervalo de 24 anos, legou-nos, publicados: “Canto Ocasional” (de 1985); “Cultura Popular Maranhense: Do Grajaú ao Tocantins” (1996); “Zeca Leda e Sua Poesia” (1997); “Arpejos em Tom Menor” (1997); “Canto do Amanacy” (1998); “Melopeia Dual” (1998); “Vozes do Silêncio” (2002) e, no ano de sua morte, “Antologia Poética” (2009).

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No último 10 de outubro, Benedito Batista Pereira completaria 86 anos, e o sábado seria de festa. Uma pessoa de bondade, grande cantor, orador e declamador (voz forte), pertinaz na pesquisa do folclore e outros aspectos da Cultura. Poeta inspirado – e, na sua bonomia, dizia e, certa vez, escreveu: “Edmilson Sanches – Espírito lúcido e generoso. (...) Jornalista de primeira linha, poeta dos meus encantos”.

Era assim o Benedito Batista. Ele, sim, um “espírito lúcido e generoso”. Cavalheiro. Humilde. Quantas vezes lembro dele achegando-se a mim e, bem de perto, fechando os olhos, ele iniciava a cantar uma canção “daquelas”, dos tempos em que se faziam música e letra que faziam cantar e encantar...

Convenhamos, 86 anos já não é mais uma idade rara de se fazer, completar, aniversariar. Benedito Batista merecia – mas o que sabemos nós?... Ante o inefável, o impostergável, ele se foi há onze anos, em 11 de setembro de 2009, um mês antes de completar os 75 anos.

Honra e glória a Benedito Batista Pereira.

* EDMILSON SANCHES

DEIXE SUA CRIANÇA TOMAR CONTA DE VOCÊ...

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Eu conheço esta criança. O rosto sério... O ar grave...

Essa criança governa o homem. O homem tem medo dessa criança. Medo de envergonhá-la. De não merecê-la.

Eu não posso mudar a criança. Posso colocar nela uns enfeites, tentá-la com um novo brinquedo. Mas é o espírito dela que brinca comigo.

A criança é anterior ao homem. A criança é mais velha que eu.

E eu aprendi a respeitar os mais velhos.

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Caxias é a fundação, a base, o baldrame, enfim, tudo o que dá sustentação ao erguimento da edificação de mim.

Tenho orgulho e, mais que isso, tenho prazer da infância riquíssima que tive. Não me lembro bem das coisas que fiz há cinco, dez, vinte anos... mas como estão vivos e vívidos os ontens vividos na minha meninice!

As ruas onde morei... As escolas onde estudei...

Menino pobre de infância rica: bom nadador, atravessava de um só fôlego o Rio Itapecuru (que nem de longe se parece com os restos mortais líquidos e incertos de hoje). Décadas depois, em Fortaleza, estava fazendo mergulho no mar, em profundidade de 40 metros, como mergulhador submarino (mergulho autônomo).

Ainda em criança, costumava ser levado pelos parentes e amigos para pescar, pois eu era o único com “coragem” para, no meio ou nas margens do rio, descer da canoa, afundar-me nas águas, acompanhar a linha da vara de pescar e ir recuperar o anzol que corria o risco de se perder – ou porque fisgara o muçum que teimava em não sair da loca, ou porque, teimando em não se render, o peixe enroscara a linha em vegetações, troncos e galhos no fundo do rio. Era uma festa cada anzol recuperado (devidamente acompanhado do habitante fluvial que o engolira).

Infância rica de menino pobre: nadar no Porto dos Homens; espiar, por entre o mato, as garotas no Porto das Mulheres. Pegar frutas na quinta do seu Antônio João. Buscar as doces canaranas que se derreavam na outra margem do rio, quebrando-as debaixo d’água, para que o vigia não percebesse o barulho e não atirasse com sua espingarda com carga de sal. Acordar cedinho para catar no chão os caroços das sapucaias abertas na noite pelos morcegos.

Na quinta da Maria Poquinha e em outras quintas e cantos, muito antes de surgir os impedimentos legais (ainda bem que vieram!), caçar passarinhos, de baladeira (não se chamava estilingue), marcando no cabo a quantidade de bichinhos que se pegara. Preparar arapucas e outras armadilhas para bichos de pena e bichinhos do mato. Criar guriatã, canário, sabiá (inclusive sabiá-cagona), pipira, anum, vim-vim (não se chamava gaturamo). Ouvir o canto da rolinha fogo-apagou, do tiziu (passarinho que dava saltos mortais no ar e pousava seguro no galho).

Buscar pequi na chapada, onde também se colhiam frutinhas como coroa-de-frade, canapu, seriguela, cajá, umbu...

Pegar “carona” em carros e carroças, dependurando-se na traseira desses veículos e fazendo pequenas “viagens”. Andar – muuuuito – de trem, de São Luís a Teresina, memorizando as estações do percurso – entre outras, Aarão Reis, Cantanhede, Carema, Caxias, Cristino Cruz, Urichoca.

Jogar futebol no Campinho, acima do Bar Vavá, próximo à estação de ferro, e participar de brigas, depois de jogar areia ou cuspir no rosto do garoto adversário ou desfazer com os pés uma risca no chão (“Aqui é a tua mãe e aqui é a mãe dele”).

Jogar pedras rente à água do rio para saber quantos filhos ia fazer. Banhar-se no rio até os olhos ficarem vermelhos e assoprá-los para voltarem a ficar “brancos”, senão a taca no lombo seria certa. Catar cobre, alumínio e outros metais para vender no quilo.

Nas quitandas do Natinho, do seu Manoel e de outros Natinhos e Manoéis, fazer compras de óleo em medida, querosene em litro para as lamparinas, quarta de arroz, meio litro de farinha...

Bater em bico de lamparina para o murrão sair. Socar arroz no pilão e catar as escolhas no quibano. Limpar as cinzas do fogareiro feito de barro em lata de querosene “Jacaré”. Comprar cuim na usina de arroz e misturá-lo com o resto de comida de pratos e panelas (“lavagem”) e colocar nos cochos para alimentar os porquinhos.

Deitar na rede, enrolando-se todo de medo da “pesadeira” ou da grande porca que andava pelas ruas altas horas da noite – os adultos diziam.... Ficar cheio de receios e temores ao ouvir a rasga-mortalha grasnando longe, pois se cantasse sobre uma casa significaria que nela, em breve, morreria alguém.

Disputar campeonatos de futebol (sobretudo no clássico Galícia, da Rua da Galiana, contra o Palmeiras, da Rua da Palmeirinha). Fazer e vender gaiolas de buriti e papagaios de papel (sura era o papagaio sem “rabo” e a curica, com; não se chamavam de pipas). Quebrar lâmpadas e transformar o vidro em pó, para fazer cerol (que era passado com as mãos na linha esticada em inúmeras voltas no quintal, onde ficava até secar), e depois disputar nos céus quem cortava a linha de quem.

Jogar triângulo ou chucho, inclusive “de revestrés”. Jogar castanhas. Jogar “casa ou bila” com peteca (não se chamava bolinha de gude), fazendo “casas” (buracos), sobretudo após uma chuva, ou acertando uma na outra com o “cocão” (peteca grande) ou, na vez do outro jogador, substituindo a peteca pela menor que se tivesse (a “mirulinha”).

Colecionar “dinheiro”, que eram as embalagens de carteiras de cigarro – Minister, Hollywood, Continental, Gaivota... O papel brilhante, metálico, dentro das carteiras, era a “cédula” de menor valor.

Subir nos arcos da ponte de cimento. Jogar a câmara de ar e depois jogar-se da ponte de ferro e ir boiando, Rio Itapecuru abaixo, até o porto mais próximo de casa. Banhar-se no Ouro, no Ponte, na Maria do Rosário, no Iamun (Inhamum). Divertir-se na Veneza e suas piscinas e lagos de água mineral e trazer de lá latas cheias de lama medicinal.

Ver os potes “suando” na bilheira, sinal de água fria, bebida em copos de alumínio brilhando de ariado. Deliciar-se com os doces em vasilhames no petisqueiro, cristais na cristaleira. Sentar em peitoril e, à noite, levar para a calçada mochos, tamboretes e, o fino da bossa, cadeiras de macarrão e cadeiras preguiçosas, e ouvir estórias, “causos”. Ouvir também a Rádio Mearim de Caxias e o programa do Jairzinho na Rádio Sociedade da Bahia, onde também se ouvia a novela “Direito de Nascer”, com Albertinho Limonta beijando a Isabel Cristina e Dom Rafael dando bronca e Mamãe Dolores sofrendo... (Ai, Dom Rafael, / eu vi ali na esquina / o Albertinho Limonta / beijando a Isabel Cristina. // A Mamãe Dolores falou: / “Albertinho, não me faça sofrer; / Dom Rafael vai dar a bronca / e vai ser contra o direito de nascer”.).

Ler “romances” (nome que se dava aos folhetos de literatura de cordel, como “Pavão Misterioso”, “O Cachorro dos Mortos”, “O Valente Cancão de Fogo no Inferno”...). Ler muitos livros na Biblioteca Pública Municipal, desde as enciclopédias "Delta-Larousse" às coleções de Monteiro Lobato e também "Os Irmãos Corsos", "Tesouro da Juventude" e muitos outros títulos e coleções... Sem falar nas revistas em quadrinhos, lidas e depois trocadas em frente ao Cine Rex, mas, sobretudo, em frente ao Cine São Luís. Antes, aos cinco, seis anos, já passara pela “Carta de ABC” e “cartilha”, e, sentadinho no chão de terra batida, já ouvira muito Seu Miguel, paraplégico, em uma rede em sua casa, lendo e contando “A História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” – livro antigo de que consegui um exemplar idêntico décadas depois.

Ceder ao vizinho, através da cerca feita de talos, xícaras de café em pó, açúcar, sal, arroz, óleo. Erguer canteiros e neles plantar coentro, alface e cebola em folha, para serem vendidos em molhos no Mercado Municipal (hoje a prefeitura).

Auxiliar na construção de casas de taipa e ajudar a cobri-las com folhas de palmeiras. Estudar na escolinha de dona Maria Luíza da Luz Mousinho e ter que bater de palmatória nas mãos dos coleguinhas porque era o único a saber soletrar “helicóptero” e “exercício” (sabia até soletrar “Matias”: eme-a-má ti-gui-ti, corta o “t”, pinga o “i”, tira daqui, bota prali, esse-ás Matias...).

No São João, brincar brincadeiras de roda, espocar foguetes, jogar traques e bombinhas, dançar quadrilha, ter madrinha de fogueira e faca na bananeira...

Comer bolo na festa de Reis, ouvindo os tambores e a cantoria (“Ô meu Divino Espírito Santo!”). Criar carneirinhos que eram presentes de aniversário e ensiná-los a marrar, para desespero da mãe, que achava que o animalzinho poderia quebrar a cabeça do “treinador” (e o ensinamento dos mais velhos: “De carneiro que recua é grande a marrada”).

Brincar de pegador, bombaquim, corrida do saco (brinquei muito – era campeão – na Rua Bom Pastor), passa anel (em uma roda de meninas e meninos, colocar uma pedrinha entre as mãos da pessoa escolhida, geralmente uma meninazinha na qual a gente estava de olho...). Brincar de “boca de forno”:

– Boca de forno? – Forno!

– Jacarandá – Dá!

– Se eu mandar? – Vou!

– E se não for? – Apanha!

– Farão tudo que seu mestre mandar? – Faremos todos!

– E se não fizerem? – Ganharemos bolo!

– Remã, remã...

Após o “mestre” dizer “remã, remã”, ele completava com uma tarefa, por exemplo: “Remã, remã, quero que me tragam uma pedrinha de cor preta”; ou “... um caroço de manga”; ou a embalagem de uma determinada carteira de cigarro (que, em outra brincadeira, a ela era atribuído um valor de uma das cédulas de dinheiro da época; etc. etc. Quem não trouxesse, ou quem trouxesse por último (ou outro critério), levaria o “bolo” – que, como sabemos, não era uma comida, mas uma pancada com régua, palmatória, ou com a mão na mão de outrem.

Essas brincadeiras, jogos, tarefas, isso tudo e muito mais, a sadia riqueza que se deve acumular e que ninguém pode roubar.

Mas ocorre o infanticídio, e daí surge o homem, lutando por poucas coisas e brigando por muitas causas.

Feliz Dia da Criança!

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Crianças brincando e Edmilson Sanches menino, ministrando conferência em Brasília e andando pelo Quartier Latin, bairro de intelectuais e boêmios de Paris.

Neste domingo, continuamos falando sobre....

Palavras homônimas e parônimas

...

46. ESPIAR ou EXPIAR
Espiar = olhar, observar:
Ele nos espiava pela janela.

Expiar = cumprir pena:
Passou o resto da vida expiando sua pena nesta prisão.

47. ESTÁTICO ou EXTÁTICO
Estático = paralisado:
Ficou estático diante do perigo.

Extático = em êxtase:
Ficou extático diante de tanta beleza.

48. ESTÂNCIA ou INSTÂNCIA
Estância = fazenda, sítio:
Passarei este fim de semana na sua estância.

Instância = jurisdição, foro:
Lutarei até a última instância.

49. ESTANTE ou INSTANTE
Estante = armário:
Colocou os livros na estante.

Instante = momento, ocasião:
Ele pode chegar a qualquer instante.

50. ESTERNO ou EXTERNO
Esterno = osso dianteiro do peito:
A radiografia provou que não houve fratura no esterno.

Externo = do lado de fora;
Ele quer externar o seu pensamento.

51. ESTRATO ou EXTRATO
Estrato = tipo de nuvem, camada:
Estratos embelezavam o céu.
Vivemos numa sociedade estratificada.

Extrato = essência, concentrado:
Recebeu o extrato de sua conta bancária.
Comprou um extrato de tomates e um extrato do seu perfume preferido.

52. FLUIDO ou FLUíDO
Fluido = qualquer líquido ou gás:
Acabou o fluido do isqueiro.

Fluído = particípio do verbo “fluir”:
A água já tinha fluído completamente.

53. FRAGRANTE ou FLAGRANTE
Fragrante = que tem perfume:
Adorava a fragrância das flores.

Flagrante = evidente;
Foi preso em flagrante.

54. FUZIL ou FUSÍVEL
Fuzil = arma, carabina:
O soldado atirava com o seu fuzil.

Fusível = para proteger contra excesso de corrente elétrica:
Ficamos sem luz elétrica, porque queimou o fusível.

55. HISTÓRIA ou ESTÓRIA
História = real ou fictícia:
Quero conhecer mais a história mundial.

Estória = só ficção:
Ninguém podia acreditar naquela estória.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo?
“Permita-me V.Exa. __________ do assunto, já que _________ por bem recorrer aos meus conhecimentos”.
(a) informá-la / houve;
(b) informar-vos / houvestes;
(c) informar-lhe / houve;
(d) informá-lo / houvestes;
(e) informar-vos / houveste.

Resposta do teste: Letra (a).
Os pronomes de tratamento fazem concordância na terceira pessoa. Em razão disso, não podemos usar o pronome “vos” (segunda pessoa do plural) e as formas verbais “houveste” (segunda pessoa do singular = tu) e “houvestes” (segunda pessoa do plural = vós). O verbo INFORMAR é transitivo direto e indireto com duas regências aceitáveis: informar alguma coisa a alguém ou informar alguém de alguma coisa. Na frase, não é possível “informar-lhe do assunto” porque teríamos dois objetos indiretos (“lhe” e “do assunto”); por isso, devemos “informá-la do assunto” (“la” = objeto direto; “do assunto” = objeto indireto). Embora possa substituir pessoas do sexo masculino também, Vossa Excelência é uma forma do gênero feminino.

Sou feito de sangue e vísceras,
como o porto é feito de choro e pedras;

Sou feito de tronco e membros,
como o navio é feito de ferro e esperas;

Sou feito de carne e ossos,
como o mar é feito de sal e abismos;

Sou feito de razão e sentidos,
como o rio é feito de margens e mangues;

Somos todos poetas de espaços contidos,
feitos de sonhos e ajustes...

* Fernando Braga, in “O Puro Longe”, Caldas Novas, 2012.

O futebol maranhense, como todo futebol do mundo, tem as suas surpresas. Surpreendentes. E até impossíveis. E, quando a coisa “se dá”, a gente fica, de momento, sem compreendê-la. E vem logo aquela advertência de que “o impossível acontece”. O fato é que, no futebol, “não tem lógica”. Então, vem sempre o que não se pensa que possa vir.

Há uma CERTEZA que, passado os noventa minutos de jogo, desaparece, deixa de existir, escapa pelos “fundos” da nossa incompreensão. Um “lance” perigoso que acontece e que atormenta por muito tempo o torcedor. É isto. E, com isto, estamos pensando naquele 6 x 2 que arrancou do Moto a faixa de campeão de 63. E um motense, antes da partida, garantia-nos que o Maranhão Atlético Clube não era um “duro adversário”. E fez, para nós, um minucioso relato do futebol maranhense, colocando o MAC numa situação precária. Entretanto, o motense não nos convencia.

Escutávamos os argumentos apresentados e, no íntimo, íamos nos lembrando do que aconteceu conosco, no Rio, quando, um dia, saindo da casa do Neiva, em Caruaru, resolvemos ir até ao Botafogo assistir, pela primeira vez, ao nosso Vasco jogar, enfrentando os botafoguenses.

Já se vão alguns anos. Sabíamos que o Vasco bastaria garantir um empate para sagrar-se campeão. Vascaínos que ainda somos nunca tínhamos visto os onze do São Januário jogar. Contentávamos apenas em registrar as vitórias e que vitórias! Apenas. Na época, quem comandava a “linha” vascaína era o inesquecível Ismael. Um negro magro, alto, sisudo.

O Vasco, nesse jogo, estreava uma nova camisa: preta com uma lista branca. Nunca nos esquecemos disso. O campo de São Severiano estava superlotado. Um delírio. Uma expectativa. O Vasco entrou em campo. Ismael era o comandante da “linha perigosa”. Os jogadores estavam, assim pareciam, senhores de si, confiantes. Entrou o Botafogo. Com ele, o BIRIBA, a mascote do Botafogo, um cãozinho irrequieto.

Os onze do Vasco faziam uma ligeira demonstração de “passes”. Delírio por toda a parte. Nós estávamos olhando o Vasco. Olhando Ismael. Dos pés de Ismael iam sair os petardos. Olhávamos Chico, com sua “esquerda” perigosa, entrando na área adversária e empurrando, de qualquer maneira, o COURO para dentro da “armadilha”. Sentíamos que ia ser fácil.

O Vasco sairia mais uma vez com a vitória. Coisa CERTA. Não poderia haver outro resultado! O juiz apita. Os jogadores se alinham nas suas posições. Coube a saída ao Vasco. Ismael faz o “passe” inicial. E, depois, avança. Um leque vai se fechando para a área do Botafogo. Dentro de nós, gritamos GOOL! Um grito só ouvido por nós. Talvez ouvido por todos, pela assistência! Mas não FOI. O “passe” de CHICO para Ismael e deste para CHICO não surtira o efeito desejado.

Ismael falhara no remate. O couro passou raspando a trave! E o jogo continuava. Os minutos escoavam-se. E o IMPOSSÍVEL estava acontecendo. Os onze vascaínos estavam irreconhecíveis. Os jogadores não estavam se entendendo. Os onze paravam no campo.

Ismael “parava”. As investidas perigosas, como mágica do diabo, desapareceram. O Botafogo agiganta-se. Dominava. Era o dono do campo. Das posições. Tudo assim até o fim.

Barbosa se desdobrava na defesa. Um tigre. Uma fera acuada, salvando o máximo, evitando a goleada! Estava “pegando tudo”. Barbosa era o time. Ismael, lá no meio do campo, parecia um assistente. De nada valeram as substituições. O Botafogo sagrava-se campeão. E nós ali, olhando a fuga espetacular da CERTEZA. Escapava-se pelo fundo da nossa incompreensão. Foi terrível. Mas, de lá, saímos mais vascaínos. Muito mais. E pensávamos em tudo isto ouvindo a história que nos contava o torcedor do Moto, poucos instantes da surpreendente partida.

E o MOTO parou, certamente. O seu Ismael perdeu várias oportunidades. Os atleticanos dominaram. Tomaram conta da bola. Fizeram travessuras. No começo, em minutos, em instantes, deram início à goleada que veio depois, que veio surpreendentemente.

Os onze do Maranhão Atlético Clube reapareceram fulgurantes. Conquistaram o título, o título que o nosso Sampaio Corrêa não pôde competir. Mas a gente só se é Sampaio uma vez e tem que amargar com a mesma fé com que nos comportamos nas vitórias. Mas ali estava o Maranhão arrebatando o título do Moto, arrancando-o numa goleada surpreendente.

E não vimos mais o amigo motense. Não sabemos das suas reações diante da fatalidade. Não sabemos. Apenas nos lembramos daquela derrota do Vasco quando da primeira e última vez que o vimos jogar. Muitos anos no Rio e só uma vez vimos os onze da Colina jogar.

Aqui, nunca vimos o Sampaio nem nas derrotas e nem nas vitórias. Ficamos, de longe, torcendo por ele, brigando por ele. Mas, o motense? Não mais o vimos. Mas o certo é que o futebol “não tem lógica”.

Há, sempre, um 6 x 2 que decepciona, que deixa tudo diferente, que muda por completo o fortalecimento das argumentações. Há sim. E o futebol maranhense, como todo futebol do mundo, tem as suas surpresas. Surpreendentes e até impossíveis.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 1º de março de 1964 (domingo).

Para marcar os 80 anos do Rei do Futebol, a ser comemorado no próximo dia 23 de outubro, o Museu do Futebol vai reabrir suas portas nesta quinta-feira (15), para a exposição Pelé 80 – o Rei do Futebol.

A exposição será realizada na sede do museu, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. A venda de ingressos será feita, exclusivamente, pela “internet”, pelo “site” da mostra, que tem a curadoria do cenógrafo Gringo Cardia.

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, é considerado um dos maiores jogadores de futebol da história, tendo sido eleito melhor atleta do século por diversas revistas e instituições especializadas. Seu último jogo oficial foi em 1977, com a camisa do Cosmos. Como jogador, Pelé eternizou a camisa 10 da Seleção Brasileira, conquistando três Copas do Mundo. Pelé também foi campeão mundial pelo Santos e autor de 1.282 gols em sua carreira.

A exposição

A exposição do Museu do Futebol é lúdica e tem início com a instalação de uma enorme escultura de Pelé logo na entrada do museu. A escultura antecede a apresentação de uma animação feita especialmente para a mostra, com 444 imagens históricas que cobrem desde os primeiros anos de Pelé na cidade de Três Corações (MG), passando pela conquista da Copa de 1958; pelos 18 anos em que defendeu a camisa do Santos; e, por seu último jogo, defendendo o Cosmos, em Nova York.

Também foram feitas várias instalações, pensadas para conquistar o público mais jovem. Em uma delas, chamada de Pelé Menino, um ator interpreta o Rei do Futebol falando com outras crianças sobre a sua infância. Na instalação Kevinho e o Rei, há uma “performance” do MC Kevinho, contando a história de Pelé em ritmo “funk”. Há também uma instalação onde os visitantes participam de um “quiz”, um jogo virtual que desafia o público a responder perguntas sobre a carreira do Rei. Mais brincadeiras ocorrem no Jogo Adivinhação e no Jogo das Palavras, que também apresentam fatos e histórias sobre Pelé a partir de imagens e perguntas.

Os conteúdos interativos da exposição vão poder ser acionados pelos celulares do público para evitar contato com os botões e telas, já que ainda estamos em plena pandemia do novo coronavírus. Aqueles que não tiverem celular vão contar com ajuda dos orientadores e educadores do museu.

Já na instalação Grandes Jogadas, o público vai escolher entre os 10 gols mais famosos de Pelé para vê-lo na forma de partidas de futebol de botão. A instalação seguinte, chamada O Brasil Ama o Rei Pelé, conta com depoimentos de 35 celebridades que são fãs do jogador tais como o desenhista Maurício de Souza, o músico Chico Buarque, o técnico Tite, a jogadora Marta e o ex-jogador Dadá Maravilha.

Para encerrar a exposição, a instalação As Quatro Seleções de Pelé homenageia os times nacionais em que ele fez história. E no túnel que dá acesso ao gramado do estádio, uma instalação sonora vai contar a história da relação entre Pelé e o Pacaembu – ambos nascidos em 1940 e completando 80 anos em 2020.

O Museu do Futebol informa o público que está preparado para funcionar com segurança durante a pandemia do novo coronavírus, com capacidade reduzida e acesso feito, exclusivamente, por ingresso adquirido com antecedência e hora marcada. O uso de máscara será obrigatório no museu e há totens de álcool em gel disponíveis durante o percurso.

(Fonte: Agência Brasil)

O Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher é lembrado hoje (10) e, mesmo após 40 anos de sua criação, continua dando visibilidade a uma grave faceta da desigualdade de gênero. A data foi instituída após uma mobilização feita em São Paulo por mulheres que ocuparam as escadarias do Theatro Municipal para defender seus direitos.

Em entrevista concedida à Agência Brasil, a socióloga Marlise Matos, uma das principais especialistas do país no assunto, pontuou que as lutas pela igualdade de gênero são históricas e que o patriarcado é uma das primeiras formas de opressão da humanidade. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela explica que o conceito de gênero surge assim designado nos anos 1980, mas que já se faziam alusões a ele antes disso, utilizando-se outros nomes.

"Há muitos anos, a gente já tem um movimento muito forte no campo das relações sociais, pensando no debate de gênero e raça. Está nomeando há, pelo menos, 100 anos, diria, um campo de estudos sobre temas que remete às agendas das opressões estruturais", disse.

Violência na pandemia

A mais recente edição do relatório “Violência Doméstica Durante Pandemia de Covid-19”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) analisou dados de março a maio deste não. Segundo a pesquisa, com o isolamento adotado em várias Unidades da Federação, houve “uma redução em vários crimes contra as mulheres em diversos Estados – indicativo de que as mulheres estão encontrando mais dificuldades em denunciar a(s) violência(s) sofridas neste período”. A única exceção foi nos crimes letais.

O relatório do Fórum também indica que, no período avaliado, houve uma redução na “distribuição e na concessão de medidas protetivas de urgência, instrumento fundamental para a proteção da mulher em situação de violência doméstica”.

Sinal vermelho

Com a pandemia e o isolamento, veio a necessidade de entes públicos reverem estratégias para a coibição da violência contra mulheres. Uma das iniciativas, lançada em junho, é a campanha Sinal Vermelho, iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). O objetivo é incentivar as vítimas a fazer denúncias em farmácias.

Em solo paulista, o projeto tem tido boa adesão, segundo o presidente do Conselho Regional de Farmácia, Marcos Machado, que o vê com bons olhos. Ele disse que, ao mesmo tempo em que sensibiliza os funcionários das lojas para o problema, estimula as vítimas a pedir socorro, já que se abre espaço para que sejam acolhidas sem tanta formalidade. "É encontrar na farmácia um ponto de apoio contra a violência doméstica", disse. "A farmácia, em muitos bairros, funciona, de fato, como verdadeiro estabelecimento para tudo, recebe pessoas com uma necessidade de acolhimento".

A juíza Bárbara Lívio, integrante da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comsiv), do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) também elogiou a campanha. "Um dos grandes fatores que contribuem para o aumento da violência durante a pandemia é a mulher não conseguir pedir ajuda. A partir do momento em que ela recorre ao atendente da farmácia, há uma nova porta de entrada. O símbolo de x na mão é acessível. A farmácia existe em todos os municípios brasileiros e fica aberta até a noite, quando não é 24 horas".

Bárbara destaca que a maior parte das ocorrências de violência doméstica não acontece durante horário comercial, mas sim à noite e aos fins de semana. “O fato de ser a farmácia um dos locais que recebem essas mulheres é muito significativo. E, quando formos pensar na responsabilidade do atendente, não é chamado como testemunha, não se vincula ao processo, apenas faz a ligação entre a vítima e os órgãos estatais, e isso representa efetivamente a diferença entre a vida e a morte de uma mulher", disse.

Caminho pela educação

A magistrada disse que, para ela, a solução para a violência de gênero está em se promover mudanças que rompam os padrões culturais que sujeitam as mulheres a uma posição de subalternidade e em instrumentalizá-las para que se emancipem. O caminho começa pela educação.

"A forma como educamos nossas meninas e nossos meninos são essenciais para a ocorrência de violência. Por exemplo, educamos as meninas para que elas sejam independentes, se entenderem como dignas de amor, de afeto, independentes de qualquer afeto? Como educamos essas meninas? Educamos dizendo que só têm valor quando estão em um relacionamento? Ponderamos que a profissão é tão importante para a mulher como para o homem", exemplifica.

(Fonte: Agência Brasil)