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“Mes vers ont le sens qu’on leur prête”.
(Meus versos têm o sentido que lhes é atribuído)
Paul Valéry, poeta e filósofo francês (1871-1945)

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Poema é forma, palavras;
poesia, conteúdo, sentido(s)
con/sentido(s)
significado(s)
sentimento(s)
sensibilidade(s)
– do poeta
que re/inventa,
do leitor
que acrescenta.

Todo poeta nasce jovem, velho,
contemporâneo, atemporal.
Sua poesia não tem idade
ou tem todas elas.

Jovem, velho, não são só “fase”, número,
sequer quantidade
de anos;
pode ser estado, condição:
o que é recente – recentidade –,
o que é prévio – antiguidade –,
aquele que chegou, ou se foi,
e a quem não lhe olhamos os algarismos
na certidão de nascimento
ou no atestado de óbito.

Poesia não vai à escola
– e já lhe criamos tantas...
Poesia não se aquieta sob tarjas
fichas catalográficas
código de barras
sumários,
índices
bibliografias
referências.

Poesia, “moderna” (se quiser, “pós-”), não tem gênero
– ou, “bi”, “trans”, “pan”, de A a Z, os tem a todos eles.

Poesia – linear, cartesiana, aragem,
ou “trabalhada”, “renovadora” (de linguagem) –
não precisa razão para ser,
precisa que lhe deixem existir
... senão ela existirá de qualquer forma.

(A pessoa – mais perfeita, sim, das poesias –
para existir, em humildade ou esplendor,
não pediu luxos, não quis manás ou ambrosias...
Inda assim nasceu, interseção desejo e dor.)

O que poesia não depende
é de que lhe definam, lhe encarcerem,
lhe ponham rótulos.
(Claro, tudo isso continuará havendo,
sob o manto de qualquer desculpa ou razão,
“porque somos humanos”,
e “qualquer coisa é criticável”
e “tudo é relativo”

... e tudo e todos – criação, criatura,
o criador e seu criado o crítico, cítrico –,
não tivessem nada mais,
ainda teriam o sagrado direito
de ir pro Inferno em paz...).

Se, verdadeiros ou falsos, admitimos que pessoas diferentes
na beleza, na condição social, na opção sexual, vivam suas vidas,
por que nos incomodamos com o "diferente" modo de escrever poesia,
de fazer poesia, de sentir poesia, de ser poesia, seja ela o que ela seja?

Quem,
serpente ou Adão,
Eva ou maçã,
habita esse jardim
e se acha a gênese
pio/gênese
parênese
da Criação?

Quem tu és,
novo Moisés?
Acaso portas as pedras
– regras –,
novo portal
de onde (merda!)
medra
esperança
criadora,
logo, poética?

(Enquanto o “Lógos”,
também universal,
também Poesia,
se une em verso
com Heráclito em Éfeso,
João no Evangelho,
Fílon em Alexandria).

Há poesia “simples” / “simplória”, “malfeita”?
Há poesia “feia”, “noviça”, “de iniciante”?
Há poesia que, de tão “assim”, sequer lhe sabemos o adjetivo?
E daí, Champollions (com suas líticas Rosettas)?
Alevantem, mosaístas, as “suas” poesias
como novas tábuas
de cláusulas
e clausuras
pétreas
mandamentais
mandatárias
mandatórias.
Aguentem seu peso antes que caiam
e, pedras que são,
se quebrem
e se tornem úteis cascalhos
calhaus
seixos
britas
na pavimentação de caminhos,
no erguimento de muros.

Ó, semideuses!,
embriagados com seu próprio vinho poético,
não têm como perceber que o vinho
é fluido demais para nele sustentar-se a verdade,
qualquer verdade
– pois verdade líquida é incerta
e assume a forma do vaso
ou dos intestinos
que a contêm.

No vinho não está a “veritas”, “vérité”, verdade:
está, só, a embriaguez, embriaguez e bobagens.
Ninguém chega ao balcão e pede vinho à procura de certezas,
em busca de verdades em doses, taças, copos:
quando muito pede acompanhamento, quer acompanhante.
Ninguém pega a garrafa e nela busca ou dela despeja
o Real, o Pleno, o Absoluto...
senão, em novo e não divinal “fiat!”, mijaríamos convicções
e concretudes
e continuaríamos bêbados no sétimo dia.
Não se fazem universos em penicos, urinóis
– que é onde fazemos
quando tudo em nós já foi feito.

Na poesia e na pessoa, esqueçam-se os adjetivos
e deixe-se o que há de substantivo ser.
Ruim não é a poesia “diferente”
– é ser intolerante com a existência do diferente...

O diferente é o outro, e o outro é meu referente,
minha medida, “alter ego” do “self”:
afinal, o bom, o bem, o belo, o elevado, o mágico
existem porque o outro, que não é, existe
– só há o belo, o bom, o divino se houver
o seu contrário: o feio, o ruim, o humano.

Deixem os rústicos rirem
os incultos cultivarem
os tolos versejarem
o tosco capengar
o torto coxear
o diferente claudicar.
Pois, mais feios que eles,
a intolerância, a arrogância
andam, caminham, voam...
e até no nada
cada uma delas nada
de braçada...

Hospedeiros da presunção,
não queiram o sumiço do diferente
só porque o diferente os atrai,
não lhes convém,
não lhes é... igual (ora bolas...).

Que triste uma sociedade de poetas vivos...
e prepotentes.
Poetas que tanto fazem poesia
quanto “desfazem”, fazem pouco,
de poemas alheios.

E são esses que recitam “Viva e deixe viver”,
pregam o direito de nascer,
e, bocudos, mandam um e outro se foder?

“Doutores” em poesia,
despóticos em caráter.
Escrevedores de an/versos em espelho.

Mirem-se, inversores:
Há quem
– também –
lhes ache feios, horríveis,
por fora ou por dentro, ou os dois.
Mas, por serem feios, vocês não precisam
de autorização dos outros para existir.
(Lembrança de poesia
memorizada na infância [O autor, quem é o autor?]:

“Que sapo medonho
com cara de mau,
no lombo levando
pancadas de pau.

Que bicho mais feio?
Será mau assim?
Por que é que vocês
o julgam tão ruim?

Se é feio, decerto,
ninguém vai desdizer,
mas só por ser feio
ele deve morrer?”

Ah essas poesias simples!...)

A poesia “diferente” precisa
– formal –
de autorização? Não;
ou, prisional,
de alvará de soltura? Frescura;
ou, escravocrata,
de carta de alforria? (Quem diria!...);
ou, clerical,
de “nihil obstat”,
“imprimatur”? “Deleatur”!

Por que a intolerância contra o que não é seu?

“Porque não é poesia”, dirão, bocejando,
os donos do DNPI
– departamento nazista da poesia imaculada:
eugenia... eupoesia...

Estão enganados os que se acham
criadores da poesia imaculada
ou de um jeito especial (o jeito “deles”)
de fazê-la.

“Não é poesia!!!”, insistem – louca/mente – os “inventores”,
os “pais” da poesia – na verdade todos eles filhos,
filhos da luta
– da igual luta pela vida
que teimamos existir.

“No meio do caminho tem uma pedra”.
Mas, antes dela, antes do verso, tem Drummond...

“azul / teu cu”
– sujidade não há
se o verso ou o poema
é de Gullar.

(Poetas federais
retiram ouro
das fossas nasais.

... Enquanto os municipais
e estaduais – eca! –
do nariz mesmo só tiram
humana meleca...).

Poesia é libertação,
corrente sem elos
– e toda ela ligação.

Desde a origem, poesia, “poiésis”, é criação.
Poetas, hum!, tão somente criaturas são...
So/mente.

Poetas acham que escrevem poesia.
Entanto, é a Poesia que se inscreve neles
e usa cada um – “medium” – como papel de rascunho e sangue.

Coitadinhos de nós...
Acreditamos que sabemos
acreditamos que somos
acreditamos que escrevemos...

Enquanto isso, em amor atemporal,
eterno
imortal
Cronos e Criação, paternais,
riem-se de nós...

* EDMILSON SANCHES

Ilustrações:
“A Criação de Adão” (detalhes), pintura de Michelangelo (1475-1564), no teto da Capela Sisitina, no Vaticano.

O Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá, região portuária da capital carioca, reabriu hoje (22) para visitação do público com as exposições Casa Carioca e Aline Motta: memória, viagem e água. Está permitida a presença de 60 pessoas a cada duas horas.

Para evitar aglomeração, o museu manterá o limite de visitantes abaixo da sua capacidade e irá seguir os protocolos sanitários de combate à covid-19, conforme determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS), como obrigatoriedade do uso de máscaras durante toda a permanência no museu. As áreas coletivas do MAR, como o terraço, que antes da pandemia era muito procurado, permanecerão fechadas.

Os ingressos gratuitos são adquiridos apenas por meio de agendamento no “site”, e o museu definiu três horários para a visitação que poderá ser feita até sábado (26): 10h, 14h e 16h. “O agendamento pelo ‘site’ evita também o contato a impressão dos bilhetes para não ter uma forma de transmissão do vírus. É só acessar o ‘site’ e escolher o horário. As entradas não são pagas porque o museu se mantém com portas fechadas e sem contato com outras áreas”, comentou o curador-chefe do MAR, Marcelo Campos, em entrevista à Agência Brasil.

Campos disse que, embora tenha a expectativa de receber um bom público, parte da frequência que o museu costumava receber não deve ocorrer, por causa dos protocolos que precisam ser seguidos. “É possível que a gente não consiga o público mais de transeuntes, aquelas pessoas que estão passando na rua e resolvem entrar. Acho que a diferença é o planejamento para chegar ao museu e não alguma coisa mais espontânea como ocorria com o museu. Isso também vai impactar a presença dos grupos. É diferente daqueles que estão almoçando na Praça Mauá e resolvem entrar no Museu, mas a gente tem recebido respostas de pessoas comovidas com a reabertura do museu”, contou.

A reabertura faz parte de ações programadas que o museu organizou para este período de pandemia. Segundo o curador, mesmo fechado ao público externo, o espaço cultural continuou funcionando internamente e interagiu com quem buscou as suas redes sociais. Além disso, a Escola do Olhar continuou funcionando com a formação de professores com aulas virtuais. Marcelo Campos disse que as duas exposições já estavam previstas no plano anual do MAR.

“Eram exposições que iam acontecer de qualquer modo. Quando a pandemia chegou, a Aline Motta já estava sendo construída, e a Casa Carioca já estava com a pesquisa bastante avançada. O Museu resolveu permanecer com a fase de produção de obras com uma programação ‘on-line.’ A Casa Carioca teve ‘lives’ com a curadoria, teve depoimentos de artistas participantes. Então, houve uma ativação nas redes do museu, enquanto isso a gente ia produzindo a exposição para que pudesse ficar pronta a tempo de ser inaugurada em 2020. Na verdade, foi uma continuidade do plano anual”, revelou.

Se essas exposições puderam ser produzidas, a pandemia não permitiu que outras duas, também incluídas na programação, fossem realizadas. Ainda assim, o curador espera que, até o fim do ano, mais duas exposições do planejamento de 2020 também sejam abertas. Se isso ocorrer, vão funcionar em paralelo com a Casa Carioca e a Aline Motta: memória, viagem e água. “Elas não foram canceladas, foram apenas adiadas”, completou, acrescentando que, de início, só há previsão de receber o público nesta semana, mas o museu já trabalha com a possibilidade de abrir outros períodos, ainda que não haja data definida.

Casa Carioca

A exposição Casa Carioca apresenta temas como sociabilidade, o papel da mulher como esteio de família e direito à moradia, com cerca de 600 obras e mais de 100 artistas. Uma montagem de trabalhos que retratam o período de isolamento social, assinada por Marcelo Campos e pela arquiteta, urbanista e ativista do movimento feminista negro, Joice Berth, também faz parte da mostra, que tem a mineradora Vale como patrocinadora, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

A Casa Carioca, que ocupará duas galerias do terceiro andar do MAR, além da Sala de Encontro localizada no térreo, é a exposição do MAR com maior número de artistas jovens e periféricos com trabalhos nos mais diversos suportes, como vídeos, objetos, instalações, fotografias e pinturas. A mostra conta também com trabalhos de artistas consagrados, como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, André Rebouças, Beatriz Milhazes, Cícero Dias e Mestre Valentim.

Aline Motta

Já a exposição individual da artista fluminense Aline Motta: memória, viagem e água, que é inédita no Rio de Janeiro, leva o público a um mergulho na história de sua família, por meio de montagem imersiva que apresenta uma trilogia de videoinstalações de forma sequencial e dinâmica. A mostra foi instalada em uma galeria do 1º andar do pavilhão de exposições. Os trabalhos Pontes sobre abismos (2017), Se o mar tivesse varandas (2017) e Outros fundamentos (2019) foram produzidos após a artista descobrir um segredo de família contado pela avó Doralice: sua bisavó era escrava e havia engravidado após ser abusada por seu dono. Após a revelação, Aline começou uma busca por suas raízes em lugares distantes entre si, como Serra Leoa, Nigéria, Portugal e Brasil, mas aproximados pelo Oceano Atlântico.

(Fonte: Agência Brasil)

Minha página no Facebook não é de conforto ou comodismo. Ela, muitas das vezes, instiga, problematiza, critica, propõe.

Em geral, os textos são grandes. Mas apenas uma – repita-se: apenas uma – pessoa, residente em uma capital de Estado, observou (uma única vez) que eu deveria, digamos, ser “menor”.

Acho que quem pensa assim é que tem de ser maior. (De qualquer modo, essa pessoa prossegue em leituras e comentários).

Comunidades desenvolvidas são comunidades leitoras. E leitoras de livros, não de telegramas.

Aponte-me uma sociedade atrasada e ali haverá uma população não leitora. Mostre-me uma sociedade desenvolvida e nela existe uma grande população leitora.

Dos mais de CEM BILHÕES de pessoas que já existiram no planeta Terra, a maior parte não deixou uma marca para a posteridade. Nem os ossos sobraram, corroídos pelo Tempo. Transformados em pó.

Assim, de certa forma, a coisa escrita torna-se o novo fóssil. O fóssil onde cientistas, especialistas e pesquisadores de um distante futuro haverão de colher material que diga ou que ajude a dizer como era a sociedade humana em que vivíamos nós que fomos habitantes dos antigos séculos XX e/ou XXI.

Claro, cada um de nós tem o direito de ir pro inferno em paz, isto é, de fazer nossas próprias escolhas, de viver como quiser, de preferir o comodismo ou o esforço, a preguiça ou a labuta, a vida mole ou o trabalho duro.

De minha parte, acho que usar ambientes de redes sociais e outros espaços da Internet (“blogs”, “sites”...) apenas (eu disse: “apenas”) para frivolidades é desperdiçar os recursos dos espaços digitais e o talento potencial que cada um de nós carregamos, pois todos nascemos com a mesma quantidade de neurônios (86 bilhões).

Mas, enfim, volto a repetir, não há censura nisso, é só uma constatação, e cada um – torno a dizer – é senhor ou senhora de sua própria vida. Dela faz o que quiser – desde que não “mexa” negativamente com a vida dos outros.

Convenhamos, entretanto, que, do ponto de vista biológico, não faz bem nenhum aos neurônios de uma pessoa ou aos cromossomos (a herança genética que ela deixará) se ela, pessoa, por exemplo, em redes sociais, se limita a “comentar” quase sempre com reduções/abreviações do tipo “vdd” ou demonstrar reações e emoções com “rs rs” / “kkk” ou com figuras de rosto ou dedão azul pra cima (ou pra baixo).

Quanto de tempo alguém economiza “escrevendo” assim? E o que faz com o tempo economizado? Qual o ganho que há se, em vez de “verdade” escreve “vdd”, em vez de “beleza” escreve “blz” etc.?

A repetição, a frequência, o acostumar-se a essa linguagem excessivamente sincopada, braquigráfica, vai gradativamente habituando o cérebro (que tanto quer desafios, informações...) a ficar “preguiçoso”, lento... Aí, quando o escrevedor de “vdds” e “kkks” se defronta com textos com linhas a mais, bate o desânimo, a preguiça, o desconforto, o desinteresse, quando não a imediata repulsa – pois o cérebro não foi adequadamente estimulado (exceto para o nenhum ou pouco esforço mental).

Quando tem de enfrentar uma redação no vestibular, uma entrevista de emprego, uma fala em público, a pessoa se perde, se ataranta... porque não habituou – para a leitura, a inteligência, o raciocínio, a escrita adequada – o único órgão que define quem cada pessoa é (o cérebro).

Tempos atrás, um leitor de minha página “facebookiana” pediu-me, por mensagem privada, que escrevesse um texto sobre um determinado assunto. Depois de uns poucos dias em que fui fazendo leituras e reflexões sobre o tema, depois de naturalmente meu cérebro ir acumulando e organizando “automaticamente” informações e correlações acerca da matéria, escrevi o texto e prontamente o enviei para meu leitor, também por mensagem privada (Messenger) – afinal, se ele me suscitara para escrever o texto, deveria ser o primeiro a dele tomar conhecimento...

Quase que imediatamente o leitor enviou-me esta micromensagem: “Vdd”.

Basicamente ele havia lido só o título e já pespegou uma resposta, um comentário, usando a braquigrafia (o processo de escrever por abreviações, abreviaturas, siglas, acrografias, símbolos e outras formas de redução).

Àquela altura, eu sequer sabia o que era “vdd”. Rapidamente descobri o que significava e indaguei ao leitor: “É só isso o que você tem a dizer?”

Achei que essa pergunta se justificava. Afinal, eu investira tempo, esforço, saúde, energia mental para a elaboração do texto com alguma propriedade e, como “resposta”, me vem três consoantes!...

A coisa piorou. Em “resposta” à minha pergunta, o leitor enviou a figura de um dedão de cor azul, com o polegar para cima, como a “dizer” “OK”, ou “isso mesmo”, “certo”.

Ou seja: o leitor saiu da fase das abreviações, onde ainda se usavam letras, para um nível simbólico, imagético. O cérebro se acomoda mais, pois a interpretação, o significado é quase simultâneo. A mente vai ficando em estado basal, termo da Medicina que indica que um órgão ou organismo chegou ao ou está no patamar mínimo de atividade.
Embora o cérebro não seja estimulado apenas pela leitura e a escrita, a Ciência já confirmou que a leitura é a verdadeira “academia de ginástica” do cérebro. Sem um bom uso da linguagem, corremos o risco de voltar ao “Ugh! Ugh!” e, quando acabar esta fase “verbal”, voltaremos a fazer inscrições nas cavernas...

Decididamente, não serei um escritor rupestre. Não farei livros esgrafiando. Não reproduzirei a pré-história e o primitivo usando mediocremente cérebro e, ops!, língua.

É evidente que não se está negando aqui o valor de frases curtas, densas, espirituosas, que fazem “pirar” e inspirar.

Não se nega o valor do pequeno, do extremamente minúsculo, do qual todos nós e tudo em qualquer parte do Universo é constituído.

O de que se fala aqui é de outra coisa.

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Sabemos que, dentro de um futuro ainda distante, o planeta Terra e tudo que há nele deixarão de existir. Um irrefreável fenômeno astronômico de gradual aproximação do Sol à Terra vai queimar, vai torrar nosso mundo. É verdade científica. Não é “se”, mas “quando”, e todo o conhecimento humano acumulado nada poderá fazer. A solução, há muito pensada e buscada, é descobrir um novo planeta que nos acolha e nos ature (pois somos maus, não zelamos devidamente o lugar que habitamos).

A busca por uma nova “casa” planetária necessitará de mais e mais conhecimentos – inovadores, criativos, ousados, exequíveis, quiçá urgentes. Conhecimentos exigem mentes preparadas, porosas, abertas, sequiosas de saber (sem neura, evidentemente). E não se consegue isso com “kkks”, não é vdd? Então, blz.

Ser “moderno” ou contemporâneo não é ter um telefone inteligente (“smartphone”) de última geração, com todos os recursos e aplicativos possíveis.

Ser “moderno” não é ter um computador com altíssima memória RAM e terabytes de capacidade no HD.

Ser moderno ou contemporâneo, sem descartar os momentos de diversão, é ter e/ou desenvolver conteúdos que nos tornem também agentes das ideias e dos fazeres, “mens et manus”, e não cômodos usuários de facilidades e frivolidades.

A Humanidade precisa que os humanos explorem suas potencialidades – para, ao menos, tentar garantir nossa sobrevivência enquanto espécie.

Nada tão frustrante como testemunhar o desaparecimento de um indivíduo ou de uma sociedade sem que ele ou ela tenham atingido seu estado de quase plenitude na sadia exploração, na adequada utilização das possibilidades de cada um de nós.

O cérebro não tem esses bilhões todos de células (os neurônios) à toa. Um só cérebro pode fazer mais ligações neuronais do que a quantidade de átomos existente em todo o Universo conhecido.

Essa enorme quantidade de neurônios e essa imensurável quantidade de sinapses (ligações entre neurônios) não estão dentro de cada um de nós apenas para fazer número...

... ou para ser uma enrugada massa...

... ou para ser uma viscosa pasta.

Basta.

* EDMILSON SANCHES

**

Em 21 de setembro de 2015, escreveu-me o talentoso radialista Jerry Alves:

“Faz-se alguma confusão com o Dia do Radialista oficial. Se hoje, ou em outra data mais pro fim do ano. Prefiro sempre consultar o mestre e guardião do conhecimento, língua, artes e palavra, Edmilson Sanches, também um virtuoso radialista, com quem pretendo me juntar um dia, para dividir a apresentação de um programa de rádio, que já tem até nome: Biscoito Fino. Isso tudo com o auxílio luxuoso do mega colecionador e especialista em música, Lourival Neto.

“Afinal, professor, qual a data oficial, e por quê a confusão?

Sendo hoje ou não o Dia do Radialista, parabéns a todos que surfam nas ondas do rádio, o centenário e charmoso veículo de comunicação que nunca sai de moda, que ri e chora com sua comunidade, sob o comando de profissionais, nem sempre reconhecidos, mas, sempre apaixonados pelo que fazem.

Viva o radialista!” (JERRY ALVES, mestre de cerimônias, ex-locutor-apresentador da Rádio Mirante FM, Imperatriz-MA)

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RESPOSTA: Na época, respondi ao amigo e colega Jerry Alves:

Lá vai alguma coisa, maior talvez que sua encomenda.

De imediato, informo que o Radialista tem um dia que, por tradição, há 75 anos é comemorado – o 21 de setembro – e há 14 anos tem um dia oficial que, por decreto, foi estabelecido – o 7 de novembro.

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A DATA – Uma data, um “Dia” pode ser estabelecido por um costume, por uma "coisa" da Natureza (início do Verão, da Primavera), uma decisão de uma categoria, um ato oficial, legal.

Os radialistas tinham seu costume: celebravam o “Dia do Radialista” e o “Dia do Rádio” (ou “Dia da Radiodifusão”) no 21 de setembro. Por quê? Porque foi o dia em que, em 1945, o presidente Getúlio Vargas e seu ministro Alexandre Marcondes Filho assinaram o Decreto-Lei nº 7.984, que fixava “os níveis mínimos de remuneração dos que trabalham em empresas de radiofusão e dá outras providências”. Portanto, uma grande vitória para o setor.

Pois bem. Em um congresso da categoria, o 4º Congresso Brasileiro de Radiodifusão (alguns dão nos anos 1980, mas o 4º Congresso com esse nome ocorreu em 1966), na Bahia, os proprietários decidiram separar o rádio do radialista.

Assim, o “Dia do Radialista” permaneceu o 21 de setembro (data do decreto de Getúlio Vargas) e o “Dia do Rádio” ou “Dia da Radiodifusão”, 25 de setembro, pois nessa data, em 1884, nascera Edgard Roquette-Pinto, médico, antropólogo e professor, fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1923.

Mas o “Dia do Radialista”, 21 de setembro, era uma referência, como dito, ao dia e mês do decreto-lei de Getúlio Vargas. E esse decreto, em seus 22 artigos, não criava nenhuma data; apenas estabelecia direitos (o que, claro, era o que o setor desejava).

Assim, como o “Dia do Radialista” não existia no calendário de eventos oficiais do governo federal, em 24 de julho de 2006 o presidente Luís Inácio Lula da Silva e seu ministro João Luiz Silva Ferreira assinaram a Lei nº 11.327, que estabelece o 7 de novembro como o “Dia do Radialista” . O Artigo 1º da Lei explica: “Fica instituído, no calendário das efemérides nacionais, o Dia do Radialista, a ser comemorado no dia 7 de novembro, data natalícia do compositor, músico e radialista Ary Barroso”.

Mas autoridades sabem que costumes não se iniciam ou se impõem ou se acabam por decreto, ou lei. Deste modo, os radialistas brasileiros preferem comemorar como uma conquista sua o 21 de setembro (que é a data do profissional) e o 25 de setembro (a data da atividade – radiodifusão, ou rádio). Por respeito, dão uma “colherzinha de chá” ao 7 de novembro do governo federal.

Resumo:

Dia 21 de setembro – a data do decreto que assegurou conquistas profissionais para o radialista e que, como costume, se “enraizou” como o Dia do Radialista. Portanto, esse dia é dedicado ao profissional de rádio.

Dia 25 de setembro – a data tradicional, estabelecida pela categoria patronal como o Dia do Rádio ou Dia da Radiodifusão. Esse dia, por sua vez, é dedicado à atividade, ao radialismo.

Dia 7 de novembro, aniversário do músico e radialista Ary Barroso – esta é a data oficial do Dia do Radialista, estabelecida em lei federal desde 2006. Portanto, é a data “mais nova”, legal e oficialmente dedicada ao profissional do rádio.

De todo modo, a gente sabe: o dia do radialista mesmo é o dia a dia, é todo dia. E sua melhor homenagem, a preferência dos ouvintes.

Parabéns, Colegas!

* EDMILSON SANCHES.

Mais de seis meses após a suspensão das aulas presenciais nas escolas públicas e particulares do Distrito Federal, em 11 de março, os estabelecimentos estão autorizados a retomar as atividades nesta segunda (21).

Enquanto na rede pública a volta ainda está longe de virar realidade, nas particulares, a liberação ocorreu em meio a uma batalha judicial. O governo do Distrito Federal chegou a permitir o retorno desses alunos no dia 27 de julho, mas, no dia seguinte, a proibição das atividades voltou a ser imposta pela Justiça.

Calendário

Depois de audiência de conciliação virtual, entidades que representam escolas e os docentes definiram um novo calendário para a retomada. Hoje, começam as atividades da educação infantil – de 0 a 5 anos – e do ensino fundamental 1 para alunos do 1º ao 5º ano. No caso do ensino fundamental 2 – 6º ao 9º ano – o retorno está previsto para 19 de outubro. Já o ensino médio e os cursos profissionalizantes retomarão as classes presenciais em 26 de outubro.

Segundo levantamento feito em maio pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe), que representa mais de 570 escolas, com a participação de mais de 34 mil pais e/ou responsáveis da rede particular, nem todos retornariam ao ambiente escolar no primeiro momento.

“Foi uma decisão acertada, pois será possível acolher os filhos das famílias que precisam trabalhar e querem um espaço seguro de aprendizagem. Acreditamos que 25% das escolas voltarão, e entre 20% e 30% dos alunos estarão na sala de aula”, disse o presidente do Sinepe, Álvaro Domingues.

Como o retorno presencial não é obrigatório, as escolas continuarão oferecendo conteúdo “on-line” para os alunos que preferirem o ensino remoto. “Existe um número considerável que prefere aguardar, ou tem restrições de saúde, e naturalmente deve ser respeitado em seu direito. Porém, isso não pode impedir àqueles que, por opção ou liberdade, precisam e desejam que seus filhos estejam amparados numa instituição devidamente credenciada”, avaliou o professor.

Testagem

Por decisão judicial, não haverá testagem em massa para detectar covid-19 entre profissionais das escolas. O teste é exigido apenas para os que tiverem suspeita de contaminação ou que tiveram contato com pacientes da doença.

Regras

A Justiça também definiu protocolos a serem adotados pelas instituições de ensino para resguardar alunos e colaboradores dos riscos de contágio pelo novo coronavírus. No rol de novas regras, está, por exemplo, fornecimento de luvas descartáveis, protetores faciais (“face Shields”), aventais e outros aparatos necessários para os professores, instrutores e demais profissionais que trabalhem diretamente com alunos da educação infantil

Também está prevista a utilização de gorros e jalecos nas situações de alimentação e contato direto com as crianças. Outra exigência diz respeito ao uso dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) necessários aos trabalhadores (empregados diretos ou terceirizados) obrigatórios para cada tipo de atividade, principalmente para atividades de limpeza, retirada e troca do lixo, manuseio e manipulação de alimentos ou livros e aferição de temperatura.

As escolas terão que fornecer máscaras aos empregados, adequadas aos graus de risco de contaminação a que o trabalhador estiver exposto e em quantidade suficiente e que atenda à limitação do período de uso da máscara. Há, ainda, limitação máxima de 50% do contingente de alunos, por sala, em aulas presenciais, respeitada metade do limite máximo de ocupação do espaço de cada sala, nos termos da legislação educacional e o distanciamento de 1,5 metro entre os alunos.

Trabalhadores e alunos infectados ou que apresentem sintomas da Covid-19 precisam ser afastados imediatamente até que se submetam a exame específico que ateste ou não a contaminação.

(Fonte: Agência Brasil)

A 14ª edição da Primavera dos Museus começa hoje (21) e vai até o próximo domingo (27) com atividades virtuais promovidas por instituições de todo o país. O evento é uma ação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e, neste ano, tem o tema Mundo Digital: Museus em Transformação.

“Com o isolamento social provocado pela Covid-19, o tema propõe experimentar e produzir novas práticas de significado, de linguagens de armazenamento e de disseminação das informações de museus a fim de estimular museus a preservar, a investigar, a comunicar, a interpretar e a expor as coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico e cultural, valendo-se das ferramentas digitais e da lógica das redes sociais”, explicou o Ibram, em comunicado.

O guia com a programação completa está disponível na página museus.gov.br. Durante toda a semana, 520 museus desenvolverão mais de 1,3 mil atividades das mais diversas categorias: palestras, visitas virtuais mediadas, exibições de filmes, contações de histórias, exposições, “shows” musicais e rodas de conversa.

(Fonte: Agência Brasil)

Com um indício de queda nas curvas de mortes e casos por covid-19, um dos principais temas nos processos de reabertura econômica e flexibilização do isolamento nos Estados tem sido a situação das aulas nas redes de ensino. Até o momento, a maioria dos Estados continua sem aulas presenciais.

As atividades pedagógicas presenciais reiniciaram primeiramente no Estado do Amazonas, em agosto. Lá, a preocupação agora é com o monitoramento dos profissionais de educação e alunos, que vem ensejando uma disputa judicial entre professores e o governo estadual. A contenda também ocorre no Rio de Janeiro, em relação às aulas na rede privada.

No Rio Grande do Sul, o calendário começou em setembro pela educação infantil, com previsão de término para novembro. No Pará, o governo autorizou aulas presenciais nas regiões classificadas nas bandeiras Amarela, Verde e Azul.

Rondônia adiou o início das aulas até o dia 3 de novembro. O Rio Grande do Norte suspendeu as aulas até o fim do ano. Em outros Estados, não há definição de data de retorno. Estão, nesse grupo, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Ceará, Alagoas, Maranhão, Bahia, Paraná, Mato Grosso, Acre e Roraima.

Contudo, em alguns Estados, foi decretado o retorno das atividades pedagógicas remotas. O governo de Mato Grosso havia determinado a volta nessa modalidade para a educação básica no início de agosto, mesma situação do Amapá. No Estado, as aulas em casa foram permitidas também para os alunos da Universidade Estadual (Ueap).

No Tocantins, o ensino remoto foi definido para os alunos do ensino fundamental da rede estadual no dia 10 de setembro. Em Alagoas, a retomada, por meio de aulas remotas, ocorreu no dia 17 de setembro. Em Minas Gerais, foi autorizado o retorno das aulas práticas dos cursos de saúde apenas, que passaram a ser consideradas serviço essencial.

No Rio de Janeiro, a volta às aulas na rede particular está em disputa judicial, enquanto a Região Metropolitana teve piora nos indicadores de risco para covid-19 e pode retroceder na classificação.

(Fonte: Agência Brasil)

ALAPG: UMA ACADEMIA, DOIS ANOS*

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Toda instituição é mais velha do que a idade nos papéis que a documentam. Porque uma pessoa jurídica, antes de ser “jurídica”, é “pessoa”. Assim, uma entidade, em especial uma voltada e devotada às coisas e causas das Letras e Literatura, da Arte e Cultura, uma entidade dessas tem a idade da vida, da experiência, da boa vontade, da capacidade de trabalho, dos sonhos daqueles que a integram e dos demais que por ela torcem, a ela auxiliam, com ela realizam.

Desse modo, os dois anos da Academia de Letras e Artes de Praia Grande (ALAPG) neste 21 de setembro de 2020 são uma data formal, um registro de ata, uma referência no Estatuto, um campo preenchido em formulário de órgão público fazendário. A ALAPG, como toda Academia, “absorve”, por assim dizer, a idade, a História da cidade, a historicidade do lugar em que se criou e ao qual deve servir.

Praia Grande, no litoral de São Paulo, é a quarta cidade – após São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis – que mais recebe turistas no verão, época em que, antes da pandemia, cerca de 1,9 milhão de pessoas vêm se somar aos mais de 320 mil moradores do município, espalhados, ou comprimidos, em menos de 150 quilômetros quadrados (km2) de área total – o que perfaz uma notável densidade demográfica de mais de 2.216 pessoas por km2, mais de 89 vezes maior que a densidade do Brasil, de 24,88 pessoas/ km2, segundo meus cálculos, com números populacionais de 2020, do IBGE. Em habitantes, Praia Grande é o 26º maior município entre os 645 do Estado de São Paulo, e o de número 93 entre os 5.570 do Brasil.

A economia praiana pré-coronavírus mostra pujança, com quase R$ 7 bilhões anuais e movimento nas instituições financeiras locais de mais de R$ 1,4 bilhão em financiamentos e R$ 1,7 bilhão em depósitos, caso incomum de município cujas pessoas (físicas e jurídicas) têm mais dinheiro nos bancos do que deles recebem em operações de crédito. Praia Grande é a 51ª maior economia entre os 645 municípios paulistas e a de número 152 entre as 5.570 cidades brasileiras.

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A ALAPG, portanto, principiou bem antes do seu registro de nascimento e nasceu bem antes de seu início. A Academia estava ali, na mente, alma e coração de seus fundadores, antenas humanas que captavam o “éthos”, o “lógos”, o “locus” praiano.

Como o antigo objeto grego “súmbolon” (de onde veio a palavra “símbolo”), no pré-21 de setembro de 2018, cada acadêmico fundador tinha ou era uma parte desse objeto-símbolo, e precisavam juntar-se para, à maneira do “fiat” no Gênesis, fazer acontecer a ALAPG.

A ALAPG sabe que trabalho(s) não lhe falta(m) em Praia Grande. Uma Academia não é um clube de serviços, mas, se for, deve ser menos clube e mais serviços. A cidade precisa, sua população merece.

Há caminhos a percorrer – tanto aqueles que a própria Academia os irá abrir, quanto outros que, simbolicamente, já os recebeu feitos, como o caminho por onde caminharam os pés e a vontade jesuítica do padre Anchieta no rumo de Itanhaém.

À ALAPG há desafios a superar, e outros a lhe serem criados. Interna e externamente à Instituição, assomam carências que exigem que os Acadêmicos assumam compromissos. Afinal, um município que é grande a partir do nome deve ter um sem-número de necessidades, em especial no segmento da Cultura, da Arte, da Literatura, da Leitura – áreas que, ao final, são as que darão e dirão a Praia Grande sua Identidade enquanto ajuntamento humano, terra de gentes, (re)união de pessoas. Enquanto o burburinho de seres humanos e da Economia dão um sentido de utilidade para as pessoas, a Cultura procura organizar essa movimentação para dar-lhe ou nela descobrir um sentido de identidade, algo como um fio, um cambo, uma fieira invisível que fez unir, ligar tantas gentes em um só lugar.

É a Academia que faz isso. Antes de serem autores e leitores de livros, Acadêmicos são leitores de pessoas. Eles, como antenas com alma, captam as irradiações, vibrações, energias que são emitidas por todo vivente, do bebê que se gera ou nasce àquele que, com um olhar de amor ou dor, morre.

Acadêmicos são cuidadores da alma de um povo, organizadores, fixadores e fortalecedores da identidade de uma cidade. Seus textos nunca são só ficção – pois esta é uma maneira de dizer ou revelar certas realidades. Suas linhas nunca são só poesia – pois esta tanto pode ser sobre a rosa que fala ou o odor seu que exala quanto podem ser estrofes, versos, palavras, vozes afiadas como espadas que, em vez de matar, denunciam, incitam, excitam, rebelam-se. “Letras não são só cantiga de ninar, mas, também, toque de despertar, sinal de alarmar, hino de guerrear, canção de cantar vitória”.

Para ser mais cidade, uma Academia tem que ser menos... academia. Explica-se: em remota origem, o nome “academia” é formado de “aká-” (fora, distante) e “-dêmos” (povo), alusão ao local – distante da cidade – onde, em Atenas, situava-se o jardim e mansão do herói Academo, onde, mais tarde, provavelmente no ano 387 antes de Cristo, Platão fundou sua Academia, escola de filosofia.

Portanto, que uma Academia seja distante apenas na etimologia. No relacional e até no locacional, que se aproxime ao máximo das pessoas e de seus sonhos, vontades e necessidades, de onde se extrairão os elementos/sentimentos a serem convertidos em prosa e verso, imagem e som, Literatura e Arte(s).

Que a Academia, por honorabilidade, abdique da reverência; mas, pelo trabalho, torne-se referência.

Que a Academia, por documentar e conservar, fazer e criar, seja em igual tempo museu e laboratório, pensamento e ação, contemplação e trabalho.

Que a ALAPG, nos dias que hão de vir, navegue para além do “mare nostrum” do brasão praiano, do mar – particular – tirreno ou da grandeza mediterrânica, oceânica.

Longa vida à Academia de Letras e Artes de Praia Grande! A ela e à sua cidade, mulheres e homens dedicam parte de seu tempo e talento, esforço e saúde, intenções e trabalho. Há muito tempo que cidades dispensaram heróis, míticos ou reais, portadores de olhos flamejantes, mãos radiantes, beleza deslumbrante.

Os heróis de agora portam pás, carregam pedras (sem serem Sísifos). Plantam e edificam.

Heróis de hoje também pegam da pena ou do pincel e peneiram os sentimentos, transferindo-os para papel e tela (da pintura ou do computador). Inspiração e ação.

Assim, vai-se tecendo o tecido social com que todos nos vestimos, nos protegemos e, por meio do qual, como as antigas capulanas, também comunicamos o que nos devem, o que queremos, o que não aceitamos.

Para a ALAPG e para toda Academia, dois anos já são alguma coisa.

Não são só um mais um.

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Com os cumprimentos à presidente Sonia Maria Piologo, escritora e enfermeira da Marinha Brasileira, e ao vice-presidente, "padrinho" e colega administrador e consultor Edson Santana do Carmo, esta homenagem do menor e mais recente de seus membros à Academia de Letras e Artes de Praia Grande.

* EDMILSON SANCHES
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Imagens:
Brasão da Academia de Letras e Artes de Praia Grande e fotos de alguns aspectos urbanos, na orla do município, no litoral do Estado de São Paulo.

Está a população da cidade, já há dias, enfrentando a chamada “crise da carne verde”. Entretanto, em verdade, não há a tal crise. Há, isto sim, um movimento de pressão por parte dos marchantes para conseguirem mais um aumento no preço da carne. Isto apenas.

Daí a ausência do produto nos mercados e noutros postos de venda que existem e que vinham, com regularidade, abastecendo a cidade, garantindo a normalidade. Mas os marchantes, como sempre fazem, sem uma justificativa, resolveram exigir um “melhor preço” e, para êxito de um melhor lucro, vêm utilizando a sonegação da carne com prejuízo para os açougueiros que, na maioria, não podem atender à exorbitância do novo “tabelamento”.

A convite do presidente da Coap, reuniram-se os marchantes e, depois dos debates, trocas de opinião, ficou resolvido que, provisoriamente, a carne fosse vendida, no Matadouro, ao preço de 330 a 350 cruzeiros até que houvesse outra reunião na qual, definitivamente, haveria, para o problema, uma solução. Mas os marchantes não corresponderam a esta expectativa. E, já no sábado, a carne estava sendo vendida aos açougueiros ao preço de 380 cruzeiros o tal “pesado”.

E muitos, senão a totalidade dos açougueiros, não puderam comprar a carne, não puderam abastecer os seus mercadinhos e, com isso, ficou a população sem poder adquirir a sua principal alimentação.

E há outras irregularidades. O peso que vem marcando 30 quilos sempre dá menos! E há, então, protestos e reclamações, exigindo a pesagem certa, exigindo que haja a valorização de um serviço normal quanto ao transporte do produto para os mercados, que haja a presença de várias outras obrigatoriedades que não vêm sendo cumpridas.

Tudo isso são fatores contrários ao interesse de ganhar mais. Contra tais absurdos, resolveram os açougueiros se organizarem, isto é, vão eles fundar o seu sindicato. E contam, estão eles certos disso, com a colaboração, com a orientação do delegado do Trabalho, dr. Paulo Oliveira que, também pensamos nós, não negará o seu apoio, tudo fazendo para que os açougueiros, organizados em classe, possam melhor lutas pelas suas reivindicações. E é preciso que eles façam isso, que se movimentem, que fundem o seu sindicato para que possam se defender das exigências e das imposições da “classe privilegiada dos marchantes”.

Acreditamos que, nesta disposição de luta dos açougueiros, possa surgir uma melhor situação para o serviço de abastecimento da carne na cidade. Acreditamos sim. É preciso que os açougueiros se libertem da “pressão” e da exigência dos donos do “boi gordo” e que, fortalecidos, dentro do seu sindicato, possam melhor servir a cidade e, consequentemente, aos seus próprios interesses. Esperamos que o dr. Paulo Oliveira, homem de uma grande capacidade de trabalho, de realizações, espírito evoluído, que muito tem feito pelos trabalhadores maranhenses, mais uma vez, dê a sua valiosa assistência aos açougueiros que estão, assim nos parece, dispostos a fundar o seu sindicato. É o caminho certo.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 20 de novembro de 1963 (quarta-feira)

Poeta,
não dates teus versos.
Eles não carecem de dia
de nascimento
– pois que não têm hora
para morrer.
Ainda assim, o que pudesses datar
seria o gesto gráfico
literal
frásico
expressional.
Esquecerias por certo a gestação
incubação
hibernação.

Poeta,
teus versos não precisam
– nem dependem –
de cronografia;
também dispensam
genealogia:
o poema não tem pai,
e se tem mãe, é filho da puta,
filho de uma égua,
é santo do pé do pote,
nasceu no oco da palmeira,
pode ter vindo de carona
na bolsa marsupial
ou no bico da cegonha.

Poeta,
expele teu poema
antes que ele salte de ti
e sobreviva
à tua vida
(subvida,
sobrevida).
Entretanto, nada de
dia
hora
mês
ano
local.

Os poemas estão por aí, soltos,
misturados à poesia.

Pegue-os.

Mas afasta deles
o gesto cartorário,
a mão tabeliã.

* EDMILSON SANCHES