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Neste domingo, continuaremos falando sobre...

Palavras homônimas e parônimas

...
6. ALISAR ou ALIZAR
Alisar = tornar liso:
Ela pretende alisar o cabelo.

Alizar = guarnição de portas e janelas:
Devemos pintar os alizares das portas.

7. AMORAL ou IMORAL
Amoral = indiferente à moral:
A ciência é amoral.

Imoral = contrário à moral:
A pornografia é imoral.

8. APRENDER ou APREENDER
Aprender = instruir-se, adquirir conhecimento:
Ele aprendeu tudo que ensinaram.

Apreender = tomar, prender, assimilar:
O policial apreendeu as peças encontradas.

9. ÁREA ou ÁRIA
Área = espaço:
A área estava repleta de pessoas.

Ária = peça musical:
Ouvimos uma bela ária no Teatro Municipal.

10. ARREAR ou ARRIAR
Arrear = pôr arreios:
Vou arrear o seu cavalo.

Arriar = baixar, fazer descer:
Faça o favor de arriar a cortina.

11. ASSOAR ou ASSUAR
Assoar = limpar o nariz:
Ele assoava o nariz seguidamente.

Assuar = vaiar, apupar:
A torcida assuava o juiz durante o jogo.

12. ATUAR ou AUTUAR
Atuar = agir, exercer influência:
Ele atuou condignamente neste caso.

Autuar = processar, reunir em processo:
O réu foi autuado em casa.

13. BOCAL OU BUCAL
Bocal = abertura, embocadura:
Colocou a lâmpada no bocal.

Bucal = relativo à boca:
Ele está com problemas bucais.

14. BROCHA ou BROXA
Brocha = prego:
Fixou a moldura com pequenas brochas.

Broxa = pincel:
Pintou a parede com uma broxa nova.

15. BUCHO ou BUXO
Bucho = estômago de animais:
Bom é mocotó feito com bucho.

Buxo = arbusto ornamental:
Vou podar os buxos do jardim.

Teste da semana
Que opção completa, corretamente, a frase abaixo:
“__________, em reunião de Diretoria, os aumentos a __________ aos operários, __________ as elevações do custo de vida?”

(a) ficou decidido / serem concedidos / dado;
(b) foram decididos / ser concedido / dadas;
(c) foi decidido / ser concedido / dado;
(d) ficaram decididos / serem concedidos / dadas;
(e) decidiu-se / ser concedidos / dado.

Resposta do teste: letra (d).
O que ficou decidido foram os aumentos. Portanto o verbo deve concordar no plural com o seu sujeito: os aumentos foram decididos ou ficaram decididos. Quanto à flexão do verbo SER, temos um caso facultativo: “aumentos a ser concedidos ou a serem concedidos”. E DADAS deve concordar com “as elevações”.

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No baú velho das coisas esquecidas, encontramos esta página que abaixo transcrevemos. Não alteramos nada. Apenas não identificamos a personagem que a escreveu. E até parece que cometemos um erro em publicá-la. Mas pareceu-nos que ela merece um endereço certo. E o endereço escolhido, por nós, aí está – os nossos leitores... Mas... Bem, vamos ler a página.

“Estou lhe escrevendo, Carlos Alberto. E custou-me esta resolução. Acredite. Mas a presença de Marilda, nossa filha, impôs-me este sacrifício. Mas, para lhe falar de Marilda é preciso registrar lembranças. E estas, hoje, têm o amargor de todos os constrangimentos. Mas é preciso. E Marilda surgiu no momento exato em que nós caminhávamos juntos pela vida. Um sonho vivendo dentro de nós. Uma felicidade que não parecia fugir. Encontramo-nos em plena mocidade. Da aproximação festiva, irradiação do espírito, para as impressões que nos empurraram para o DESCONHECIDO, foi um nada. As impressões evoluíram. A amizade envolveu-nos. Tornei-me presa fácil. Lembra-se, Carlos Alberto? E de você vinha toda uma atenção profundamente humana. Dominadora. Eu acreditava em você, Carlos Alberto. Acreditava no seu amor. Talvez o nosso erro, Carlos. Mas... Não me foi possível fugir nem de mim e nem de você. A nossa vida entrelaçou-se. Sentíamos, assim eu pensava, que não poderia haver mais dúvida, que, com você, eu estava amparada, realizada. Eu tinha você, Carlos Alberto. Era uma certeza encantadora. Você se lembra, Carlos? Senti exigências nos seus olhos. Uma mensagem de súplica... Quis fugir, evitá-lo. Não pude. Já havia uma resolução em mim. Cedi... Não, Carlos, entreguei-me... Tinha consciência do que estava fazendo. No entregar-se, havia, para mim, o sentido mais profundo de espontaneidade. Havia sim, Carlos. Entreguei-me com a suavidade dos meus sonhos, com a força sentimental dos meus desejos. Lembra-se, Carlos? Um Instante de nós, de nossas vidas em nós. E quando vi você naquela noite, só eu sabia que deixara com você, no seu leito de solteiro, a minha condição de menina-moça. Eu voltava menina¬-mulher. Eu sabia, você sabia que eu acordara mulher nos seus braços. O que nós não sabíamos é que, ao me afastar de você, eu era mais que mulher. Era mãe, Carlos. Mãe de Marilda. De Marilda sua filha, minha filha. Nossa filha. E quando a certeza surgiu diante de mim já você se tinha ido. Ido para não mais voltar. Você fugia, Carlos. Você corria da sua responsabilidade, da nossa responsabilidade. Lembra-se, Carlos? Depois da POSSE de mim, você desapareceu, e eu ficava. Mas ficara comigo esta Marilda que se parece com você, que tem seus olhos, que lembra você em tantas coisas... Mas, para que continuar relembrando...

Ela, ontem, me disse: ‘Quero ir para onde papai’... Carlos, ela já diz coisas que comovem. Tem seis anos, Carlos. Fala tudo. Come tudo. Não esquece o pai que não a viu nascer. O pai que ela sabe existir porque a ensinei a lhe querer muito. Digo para ela que você está distante. Trabalhando para ela e que, um dia, você voltará para nós!... Mas, Carlos, eu estou doente... Tudo perdi... Só tenho Marilda. E para ter Marilda, para tê-la comigo, para garantir a sua subsistência, prostituí-me, Carlos Alberto. Fiz tudo para poder ficar com você distante, esquecida embora, e com Marilda. Lutei multo. Resisti muito. Mas eu estava só, Alberto. Eu e Marilda. Eu e a virtude deste erro. Você se fora. Tudo de pior aconteceu. E tive de ceder. Tão diferente do entregar-me a você. Com este CEDER, havia humilhação. Havia a vergonha ofendida, o pudor massacrado. Custei-me a acostumar-me... A gente costuma-se com tudo, Carlos. A necessidade é uma má companheira. Necessidade que é miséria... que é fome... E todo um tempo nesta vida de humilhações... Marilda tem seis anos... Está crescida. E agora que mais precisa de mim, eu me sinto morrer. Ela não sabe de nada. Mas o mal se prolonga. A vida foge todos os dias. Uma questão de tempo. Talvez um ano mais e já não mais exista. E diante disto, de Marilda quase que no abandono de mim, resolvi lhe escrever. Não sei se você lerá esta missiva. E se a ler, não sei, não faço uma ideia sobre as suas reações. Mas era preciso que lhe escrevesse, que lhe dissesse tudo isto. Junto a esta vai o meu endereço. O endereço de Marilda. E, se você não vier, quero que saiba que lhe perdoei. Sempre é bom perdoar aos que nos fazem mal. E, se você se resolver, venha para esta que diz para mim: ‘– Quero ir para onde papai’”.

Aí está a página que ficou perdida na rua. Nós a encontramos há muito tempo... Tem as folhas amarelecidas... E voltaram para o baú velho das coisas que se escondem desta realidade terrível que aí está como uma página do tempo...

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 16 de junho de 1963 (domingo)

Bíblia, Mateus 7, 1

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Há pessoas que não andam com a gente e acham que conhecem nossos passos...

Há pessoas que não dormem com a gente (graças a Deus...) e creem que sabem de nossos sonhos -- e pesadelos...

Há pessoas que não são nossos sapatos e imaginam saber onde o calo nos aperta.

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Julgar por aparências,...

... valorizar pela capa,...

... comprar pela embalagem...

– eis o exercício que muitos praticam... prazerosa, errada e, quase sempre, doentiamente.

* EDMILSON SANCHES

A noite esgoela-se endoidecida
como um velho cavalo selvagem,
a correr pelo tempo na noite veloz.

Na varanda existe só a varanda,
e mulheres a dançarem rítmicas,
a cada volta do moinho vermelho.

Tudo que da calçada se contempla,
à vista de quem está de fora,
lá dentro, fechado, não mais há...

Na varanda existe apenas a varanda,
e uma colombina trinta anos depois,
a cirandar como um cata-vento...

*Fernando Braga. In “O Sétimo dia”, São Luís, 1997.

A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) fará a exibição de sua Temporada 2020 neste mês de setembro. As próximas exibições serão nos dias 17 e 24 de setembro, às 20h. São apresentações em formato digital com transmissão “on-line” ao vivo do Teatro Sérgio Cardoso. A estreia foi no dia 10.

São apresentações feitas em exibição única nas redes sociais da Companhia e na plataforma #CulturaEmCasa. A ideia de transmitir os espetáculos “on-line” ocorre devido às mudanças sociais provocadas pelo enfrentamento à covid-19, com as obras originalmente previstas sendo adaptadas à necessidade de distanciamento social.

“O que prevaleceu foi a criatividade latente tanto dos artistas da casa quanto dos convidados, expostos ao desafio de explorar novos modos de se fazer dança, fazendo jus ao nome da Temporada 2020, batizada ainda no fim do ano passado como Permanência e Inovação”, dizem os organizadores.

A temporada começou com a exibição do americano Stephen Shropshire, que assinou para a SPCD o “work in progress Rococo Variations”, com a concepção e construção da obra (coreografia, figurinos, iluminação) feita de modo remoto, em contato virtual entre o criador e os artistas da Companhia, já que ele não pôde vir ao Brasil.

Outra exibição da estreia foi “Só Tinha de Ser com Você", grande sucesso de Henrique Rodovalho criado em 2005 para sua companhia, a “Quasar Cia de Dança”. Na versão especial assinada pelo coreógrafo goiano para a SPCD, as distâncias entre os bailarinos foram ampliadas e as relações entre eles se constroem a partir de gestos e olhares, sem contatos físicos.

Também na estreia, “Aparições”, de Ana Catarina Vieira, reuniu, em seu elenco, bailarinos que já convivem entre si além da sala de ensaio, inspirada nas obras de Candido Portinari (1903-1962), César Guerra-Peixe (1914-1993) e nas danças populares do nordeste do Brasil.

Mais cinco obras inéditas que integram a Temporada 2020 partem do questionamento de como criar arte mesmo diante do desafio imposto pelo novo arranjo social atual e, a partir daí, foram criados solos para conjuntos com número reduzido de intérpretes, todos concebidos à distância por bailarinos e ensaiadores da SPCD, além de coreógrafos e artistas convidados.

As próximas exibições trazem espetáculos que revisitam trechos das obras “Giselle”, “Grand Pas de Quatre” e “La Esmeralda”, com os especialmente criados para a Temporada 2020: “Grand Pas de Deux de Giselle” – 2º ato, assinado por Lars Van Cauwenbergh, inspirado livremente na obra de 1841 de Jules Perrot (1810-1892) e Jean Coralli (1779-1854); “Esmeralda”, criado por Duda Braz e inspirado na obra de Marius Petipa (1818-1910) a partir do original de Jules Perrot (1810-1892); e “Grand Pas de Quatre de Pugni”, criado pelo bailarino Diego de Paula.

O “streaming” também traz o duo “Dualidade” e o solo “Objeto do Meu Próprio Desejo”, assinados pela dupla brasileira Mônica Proença e Jonathan dos Santos e o argentino Esdras Hernández.

Há, ainda, obras já presentes no repertório da companhia, como “Grand Pas de Deux” de “Carnaval em Veneza”, de Duda Braz; “Instante”, de Lucas Lima; “A Morte do Cisne”, de Lars Van Cauwenbergh; “Grand Pas de Deux”, de “Dom Quixote”, em remontagem pela SPCD; e trechos de “Gnawa” e “La Sylphide”, obras originais de Nacho Duato e Mario Galizzi.

(Fonte: Agência Brasil)

Após quase seis meses de portas fechadas, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), no Aterro do Flamengo, reabriu hoje (12) para o público em novo horário de funcionamento de quinta a domingo. O museu teve as atividades suspensas por causa das medidas de isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus (covid-19).

Esta reabertura traz algumas novidades como um cuidadoso protocolo de segurança para os visitantes, com a aferição de temperatura na entrada, uso obrigatório de máscara, tapetes sanitizantes, distanciamento orientado e totens de álcool 70%, entre outras medidas.

Neste retorno, o museu vai funcionar em novos horários – quinta e sexta, das 13h às 18h e sábado e domingo, das 10h às 18h – e com uma nova forma de entrada: sem cobrança obrigatória de ingresso, a partir do modelo de contribuição sugerida.

"Estamos comprometidos em servir a comunidade, abrindo nossas portas para a visitação de todos. Por isso, o ingresso ao museu passa a ser gratuito com contribuição sugerida", disse, em nota, o diretor-executivo do MAM Rio, Fabio Szwarcwald, "Os visitantes podem optar por pagar o valor sugerido, contribuir com outra quantia ou entrar de graça".

A arquitetura do MAM Rio possibilita aos visitantes um espaço amplo de circulação tanto nas áreas expositivas, quanto nas áreas externas. Com isso, o museu vai controlar o fluxo de visitantes, à capacidade máxima de 200 visitantes/hora, e gerenciar as medidas de distanciamento mínimo de 1,5 metro.

“Um grupo de trabalho multidisciplinar, envolvendo a produção, educação, ‘design’ e museologia, foi montado para desenvolver os protocolos do MAM, incorporando recomendações do Conselho Internacional de Museus e também outras medidas desenvolvidas em redes no Rio com a participação do MAM, tanto para assegurar a volta dos públicos, quanto dos funcionários”, afirmou a diretora-adjunta institucional, Lucimara Letelier.

O museu reabriu com as exposições “Irmãos Campana – 35 Revoluções, Wanda Pimentel” e a nova “Campos Interpostos”, as duas últimas com a curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

No último dia 5, foi o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, que reabriu ao público.

(Fonte: Agência Brasil)

11/9/2001 – 19 anos depois...

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Em 1970, a Jordânia – um país situado no sudoeste da Ásia, na margem do rio Jordão, território três vezes menor do que o Maranhão e população quase a mesma do nosso Estado – massacrou inúmeros militantes palestinos e expulsou outros.

Eram militantes que formavam uma espécie de poder paralelo no país jordaniano. O rei Hussein não tolerou. E o massacre ficou conhecido mundialmente como “Setembro Negro”.

Trinta e um anos depois, a expressão foi relembrada nos jornais, para denominar ou resumir o que o terror pode fazer a uma nação.

Os Estados Unidos sofreram, em 11 de setembro de 2001, há 19 anos, o ataque mais impensado, jamais imaginado, que a insanidade humana poderia desferir contra pessoas – sobretudo pessoas –, contra coisas e contra o orgulho de um país.

Não um país qualquer, mas o mais rico, o mais influente, o mais tecnológico, o mais militarizado, o mais poderoso país da Terra.

Os americanos nunca esqueceram Pearl Harbor.

Nunca deixaram de chorar John Kennedy.

Nunca se curaram do Vietnã, o país que na guerra trucidou milhares de jovens soldados do país tido como “xerife do mundo”.

Os americanos nunca tiraram o engasgo provocado por seu ex-soldado e veterano da Guerra do Golfo Timothy McVeigh, que, com uma bomba de 2.300kg, explodiu 19 crianças na creche do prédio, no segundo andar e outros 149 conterrâneos seus, além de ferir mais 684 em Oklahoma City, manhã do dia 19 de abril de 1995. Metade do edifício federal Alfred P. Murrah foi ao chão e virou pó. Pó, poeira e cinzas.

11 de setembro de 2001. Também em uma manhã de céu límpido em Nova York, o café nem bem havia sido servido ou sorvido quando um estrondo fenomenal anunciou, mais de cem andares acima: um avião se chocava com uma das duas torres do complexo comercial mais famoso do mundo.

Poucos minutos depois, as lentes das televisões que transmitiam ao vivo o cenário de fogo, fumaça e desespero captaram, impotentes, uma segunda tragédia; outro avião se espatifou atirando-se contra a segunda torre. E não terminava aí.

Em Washington, o aparentemente superprotegido edifício de cinco lados, e por isso mesmo chamado Pentágono, sede da inteligência militar americana, recebeu em suas entranhas mais um avião, que explodiu junto com passageiros, tripulantes.

Na Pensilvânia, um quarto avião se destroça no chão, sem tirar vidas em terra, mas nela sepultando os corpos carbonizados pelo fogo e liberando os espíritos congelados pelo que deve ter sido o horror dos passageiros e tripulantes dentro dos aviões que se despedaçaram.

O mundo continua perplexo. Embora a corrupção (que mata o já miserável, tirando-lhe o alimento), embora o político bandido (que mata com suas políticas), embora o bandido político (que mata em nome de suas coisas e causas), embora a banalização dessas infelicidades, embora a vulgarização do que não presta, o ser humano parece que não deixa de ter motivos para continuar se surpreendendo com o que pode de ruim fazer outro ser humano.

O homem continua sendo o lobo do homem.

* EDMILSON SANCHES.

“MINHA AMADA IMORTAL” – ... E UMA ODE À ALEGRIA...

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Uma das partes mais tocantes (permitam o trocadilho) do filme “Minha Amada Imortal” mostra a estreia da “Nona Sinfonia”, do grande músico alemão Ludwig van Beethoven.

Era 1824. Beethoven estava com 53 anos, 27 dos quais com surdez (morreria três anos depois, aos 56).

No filme, ao subir para ficar em frente à orquestra, o grande compositor lembra uma marcante e repetida passagem de sua infância de pobreza e sofrimento: o pai, consumido pelo álcool, chegando em casa tarde da noite, raivoso, descontrolado, caçando Beethoven para surrá-lo sem razão.

Os irmãos de Beethoven se abraçam, contraídos de medo.

Beethoven foge pela janela e pelos telhados.

Beethoven corre por vielas, ruelas, por caminhos tantas outras vezes caminhados, (per)corridos como rota de fuga da violência, da dor e humilhação.

Beethoven chega ao lago que reflete luar e calma.

O lago e o luar abraçam o menino – e, nessas cenas magistrais que diretores de filme e diretores de fotografia tanto se matam para construir, lago, luar e céu, menino e estrelas se fundem e não sabemos mais o que é o quê. Simplesmente espetacularl!

E, diferentemente do comum em filmes, onde a música é a trilha sonora da imagem, nesse filme sobre Beethoven as imagens é que são a trilha da música: o som dos violinos parece percutir, repercutir (melhor, reproduzir) a celeridade da corrida do menino rumo ao lago – onde finalmente a calma se instala, inclusive no volume de som e na sonoridade geral da orquestra.

A vida de Beethoven, seus traumas de infância, sua surdez na idade adulta – inimaginável para um músico! –, se o levaram à reclusão não lhe tiraram o gênio, a criação, o espírito de liberdade.

Sim, porque Beethoven foi um libertário, um sadio transgressor de regras. Fazia música que, primeiro, agradasse a seu exigente paladar musical... e às favas com as regras, a burocracia a que se deveria submeter as composições na época.

Assim Beethoven foi reconhecido gênio. Livre em seu fazer musical. Sua “Nona Sinfonia” é considerada um dos maiores feitos do homem, ao lado do “Hamlet” e do “Rei Lear”, peças teatrais de Shakespeare.

Foi Beethoven que, pela primeira vez na história da música, inseriu voz, um coral, em uma sinfonia, exatamente na parte que ficou conhecida como “Ode à Alegria”.

Ainda bem que aos políticos cheios de mesmice, incompetência e corrupção a Humanidade contrapõe gênios sensíveis, criativos, inovadores como Beethoven.

Em “Minha Amada Imortal”, Beethoven é representado pelo genial ator londrino Gary Oldman, filho de pai soldador e mãe empregada doméstica. (Pois é – o reino dos céus é dos humildes...).

Ouvir e, mais que isso, escutar a “Nona Sinfonia” e sua ode “À Alegria” é deixar-se tocar na alma e senti-la escorrer líquida e feliz pelos olhos.

É mesmo de chorar de alegria ante tanta beleza e evocações.

Um brinde à Sinfonia e à oportunidade de nos unirmos a ela, pois, que nem ela, somos sobreviventes – e testemunhas – de dois milênios...

Ouça. Veja. Responda:

Não vale a pena estar vivo?!...

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Bom fim de semana para você.

* EDMILSON SANCHES

(P.S. – Na tela inicial desse vídeo grafou-se “Immoral Beloved”. Está evidente que nem de longe aquele que escreveu isso queria escrever isso. É “Immortal Beloved” [Amada Imortal]).

https://www.youtube.com/watch?v=7fQG4CcoRuM&fbclid=IwAR3srilun-L3uPWyAaJZJOGAGQOek2WMuKACP6DgU3VxnJD7FzliQgd7QHU

O Brasil perdeu, nos últimos quatro anos, mais de 4,6 milhões de leitores, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. De 2015 para 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%. Já os não leitores, ou seja, brasileiros com mais de 5 anos que não leram nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos três meses, representam 48% da população, o equivalente a cerca de 93 milhões de um total de 193 milhões de brasileiros.

As maiores quedas no percentual de leitores foram observadas entre as pessoas com ensino superior – passando de 82% em 2015 para 68% em 2019 -, e entre os mais ricos. Na classe A, o percentual de leitores passou de 76% para 67%.

O brasileiro lê, em média, cinco livros por ano, sendo aproximadamente 2,4 livros lidos apenas em parte e, 2,5, inteiros. A Bíblia é apontada como o tipo de livro mais lido pelos entrevistados e também como o mais marcante.

Esta é a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural.

Foram feitas 8.076 entrevistas em 208 municípios entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. A coleta de dados foi encomendada ao Ibope Inteligência. A pesquisa foi feita antes da pandemia do novo coronavírus, não refletindo, portanto, os impactos da emergência sanitária na leitura no país.

“Internet” e redes sociais

De acordo com a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla, a “internet” e as redes sociais são razões para a queda no percentual de leitores, sobretudo entre as camadas mais ricas e com ensino superior.

“[Essas pessoas] estão usando o seu tempo livre, não para a leitura de literatura, para a leitura pelo prazer, mas estão usando o tempo livre nas redes sociais”, diz.

“A gente nota que a principal dificuldade apontada é tempo para leitura, e o tempo que sobra está sendo usado nas redes sociais”, completa.

O estudo mostra que 82% dos leitores gostariam de ter lido mais. Quase a metade (47%) diz que não o fez por falta de tempo. Entre os não leitores, 34% alegaram falta de tempo, e 28% disseram que não leram porque não gostam. Esse percentual é 5% entre os leitores.

A “internet” e o WhatsApp ganharam espaço entre as atividades preferidas no tempo livre entre todos os entrevistados, leitores e não leitores. Em 2015, ao todo, 47% disseram usar a “internet” no tempo livre. Esse percentual aumentou para 66% em 2019. Já o uso do WhatsApp passou de 43% para 62%.

Dificuldades de leitura

A pesquisa mostra, ainda, várias dificuldades de leitura. Entre os entrevistados, 4% disseram não saber ler, outros 19% disseram ler muito devagar; 13%, não ter concentração suficiente para ler; e, 9% não compreender a maior parte do que leem.

Há ainda entraves para acesso aos livros. “O Brasil está vivendo uma crise na economia, vemos dificuldade para o acesso, para a compra [de livros]. As pessoas estão frequentando menos bibliotecas”, diz Zoara.

Segundo a pesquisa, 5% dos leitores e 1% dos não leitores disseram não ter lido mais porque os livros são caros; e, 7% dos leitores e 2% dos não leitores não leram porque não há bibliotecas por perto.

Incentivos

Um dos fatores que influencia a leitura, de acordo com o estudo, é o incentivo de outras pessoas. Um a cada três entrevistados, o equivalente a 34%, disse que alguém os estimulou a gostar de ler.

Os professores aparecem em primeiro lugar, apontados por 11%. Em segundo lugar, está a mãe ou responsável do sexo feminino, apontado por 8%, e, em seguida, está o pai, responsável do sexo masculino ou algum outro parente apontado por 4%.

“É fundamental investir na formação desse mediador. O professor, mediador de leitura, o bibliotecário que também assume de alguma forma esse papel. A gente viu a importância desse mediador quando é assumido por uma família, mas que é uma família de classe alta, de nível superior. E as crianças que vêm de famílias mais vulneráveis? Eu acho que a escola tem que suprir esse papel”, avalia Zoara.

(Fonte: Agência Brasil)

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“São Luís ainda brilha
como o fez antigamente.
Em nosso mar, é uma ilha,
na cultura, é um continente”.
(JOSÉ CHAGAS, “São Luís de quatro séculos”)

”É necessário sair da ilha para ver a ilha,
não nos vemos se não nos saímos de nós”.
(JOSÉ SARAMAGO; “O Conto da Ilha Desconhecida”)

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Na Geografia, uma ilha. Na História, um arquipélago.

A “Upaon-Açu” tupi é uma maravilhosa e maranhense porção de 1.410 quilômetros quadrados de terra abraçada por líquidas e incertas águas dos 106 milhões e 460 mil quilômetros quadrados do Oceano Atlântico.

“Upaon-Açu” é ilha grande, mas 75,5 mil vezes menor que a vasta extensão de água salgada que a rodeia, a namora e permanentemente a abraça e lambe circularmente suas partes...

Upaon-Açu é Ilha do Amor, mas também Ilha Rebelde.

Rebelde, expulsou conquistadores.

Amorosa, conquistou admiradores.

Upaon-Açu nasceu índia. Quiseram-na francesa. Holandesa. Portuguesa. Rebelde – sempre –, recusou estes para, amorosa – sempre –, acolher todos... como brasileira.

Nesta Ilha, brotaram maranhenses e aportaram outros brasileiros, além de estrangeiros. Gentes das várias regiões do país e forasteiros dos diversos continentes do mundo.

Por esse efeito de atração, Upaon-Açu é Ilha Magnética, Ilha Bela.

Sem preconceito, Upaon-Açu é cosmopolita, plurivalente, multicultural. É tanto Atenas quanto tanto é Jamaica.

Upaon-Açu é ilha só na Geografia mas é arquipelágica, plural, tentacular, na História, nas Artes, na Cultura, ou seja: na sua gente.

Em Upaon-Açu, uniram-se cromossomos de interesses histórico-político-administrativos e socioeconômico-culturais e dessa união fizeram nascer cidades. A “alma mater”, São Luís, foi fundada em 1612 – e, por tão antiga, por/tão ancestral, muitas das vezes deixa passar ou assume a condição de ilha quando é, legal e honrosamente, município, mas não apenas: é município e capital, aliás, a única entre as capitais brasileiras com sua área territorial totalmente contida em uma ilha.

Depois de São Luís, a Ilha viu nascerem-lhe mais três filhos-municípios, mais três-cidades-filhas: São José de Ribamar, com fundação em 1627; Paço do Lumiar, em 1761; e Raposa, caçula, existente desde os anos 1940.

E é São Luís que se revela, para olhos e lentes. Máquinas e mentes.

É São Luís, imensa, que se contém neste livro. Do celuloide à celulose. Imagens bem impressas, impressões bem imaginadas.

Imagens atuais que trazem memórias ancestrais. A São Luís da História brasileira, quando o Brasil ainda não era Brasil, nem brasileiro. São Luís-ilha, terra tupi – tupinambás... tremembés... potiguaras... São Luís-porto, de Pinzón, primeiro trimestre de 1500, antes de Cabral (que aqui não aportou).

São Luís de Daniel. Daniel de La Touche, também de La Ravardière. São Luís equinocialmente França, trienalmente francesa: 1612-1615.

São Luís de Alexandre e de Jerônimo. Alexandre de Moura e Jerônimo de Albuquerque. Um expulsa os franceses; o outro, passa a administrar o lugar.

São Luís de Maurício e de Johann. Maurício de Nassau e Johann von Koin. São Luís novamente “estrangeira”, trienalmente holandesa (1641-1644).

São Luís novamente retomada. Portugueses e colonos em armas desarmam a continuação das ambições neerlandesas. Para os batavos, agora é vazão. Hora de evasão. Saída. Fuga.

São Luís das guerras e dos amores – Gonçalves Dias e Ana Amélia.

São Luís da lavra e palavra. Prosa e verso. Ficção e realidade.

São Luís em qualquer canto: música, canto, encanto.

São Luís histórica. Retórica. Pictórica. Escultórica.

São Luís carmelita. Jesuíta. Franciscana.

São Luís indígena. Europeia. Africana.

São Luís maranhense. Brasileira. Americana.

São Luís cultural – patrimônio. Mundial.

São Luís dos desejos – miragem.

São Luís ao longe – paisagem.

São Luís das chegadas – ancoragem.

São Luís vida – aprendizagem.

São Luís casarões e ruas – viagens.

São Luís neste livro – Que imagens!

* EDMILSON SANCHES

Texto publicado originalmente no livro “Nossa São Luís”, de Brawny Meireles.