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O poeta Federico García Lorca (Foto: Reprodução)

Federico aliou-se a rastros de sangue
pela liberdade e pelo verde que queria
verde, como no romance sonâmbulo.
O poeta sem defesa, fora franqueado

por homens de crânios de chumbos
que cantavam a balada da guarda-civil.
Federico longe das colinas de Vega,
amanheceu desgraçadamente fuzilado,

morto como um pássaro na ramagem
e desvalido numa vala rasa em Vizna,
porque seu canto, eterno em Espanha,

como todos os ciganos feridos pela dor,
que o aterraram na “Carmen” entre flores,
ainda agoniza nas neblinas de Granada.

* Fernando Braga, in “O Sétimo Dia" - Prêmio Cidade São Luís (Sousândrade) 1994.

Iluminação de Sol num poente de tristeza. Sol esmaecido, em agonia... Sombras de tarde caindo... Poesia da Natureza Criadora... Noivado das emoções num murmúrio de prece... E há em tudo a presença de Deus no coração dos homens. E, nos olhos das mulheres e das crianças, a contrição dos sentimentos religiosos. No conjunto da paisagem, a fulguração geográfica da Terra, da ILHA, da cidade.

Tudo assim, Sérgio Miranda, para te sentir mais de perto, para te relembrar mais intimamente, para te rever em toda a extensão da tua vida terrena, esta que viveste na terra, a terra que um dia é berço, na terra que um dia é túmulo.

E aí estás... na expressão dolorosa da vida, na transformação do nada. E aí estás: na imobilidade que é morte. O corpo em repouso. O corpo sem vida. O corpo nesta extraordinária fascinação que não mais arrebata, mas que comove, que indica a verdadeira realidade da vida que aqui se vive, que aqui se sonha, que aqui se luta, que aqui se desgasta em sucessivas etapas de deveres e de obrigações.

E aí estás... cigarra que cantou seu último canto, na noite iluminada, as estrofes dos últimos versos e, na garganta, estrangulou o último soluço. E aí estás... cigarra que emudeceu quando cantava as últimas canções e interpretava, como tu só os sabias, as páginas magníficas das canções brasileiras. Aí estás... cigarra dos estios no abandono de ti mesmo, glorificado pelos teus sofrimentos, redimido pelas tuas decepções. Aí estás... seresteiro das noites tradicionais da cidade... nesta postura que aflige, que atormenta, que é ainda incompreensão, que é ainda dúvida, que é ainda justificativa impressionante dos mistérios da vida, da vida que já começaste a viver, da vida que é eterna, da vida que é uma continuação de outras vidas.

Tudo é assim, Sérgio Miranda. E tu o sabias. Todos sabemos que há um dia assim em cada vida. É o fim da caminhada que se inicia no berço. E caminhaste pela vida, foste criança da cidade, moleque da cidade, homem da cidade. Teu mundo foi diferente, Sérgio Miranda. Um mundo de sonhos e fantasias. Enamorado das emoções. E relembrando Coelho Netto: “um esbanjador de talento”. Uma vida em constante fulguração dos sentimentos mais diversos. Tua vida, uma eterna canção das tuas próprias tristezas e dos teus próprios sonhos. E, quando, para ti, tudo parecia uma revoada de novas conquistas – teus 41 anos – eis que tudo se modifica tão terrivelmente. Eis que tu tombas, eis que teu corpo cai, eis que escapa de ti, dramaticamente, isto que Bilac chamou: “alegria de viver”. E se não morreste num “dia assim, de Sol assim”, fechavas os olhos numa noite assim, iluminada de estrelas, feericamente iluminada de luz.

E tu bem sabes que eu te sinto aqui, tua presença aqui, fisionomia calma, e é de ti que vem ainda, nesta tarde de Sol morrendo, simbolismo do esmaecer, esta suavidade que é um balsamo de consolação, uma mensagem de resignação, de fé e de crença, que é Amor. Este amor que redime e que perdoa.

Sei que me estás ouvindo, ouvindo o boêmio que ficou, o companheiro das serenatas, o companheiro das noites perdidas, vividas por nós, na grandiosidade desta boemia do espírito. E vim para te sentir, já o disse, mais intimamente. E a cidade, Sérgio Miranda, palco da nossa existência, se vestiu de tristeza não para ti chorar, mas para te glorificar nesta tarde, à sombra dos ciprestes. Nas suas ruas, nos seus becos, nos seus botecos, nos seus bares, nos seus bairros, nas suas ladeiras, por toda a parte, viva estará a tua presença. Tu eras a alma da cidade, seu intérprete inconfundível. E nas noites enluaradas, salpicadas de astros, estrelas, sóis, tu voltarás a cantar no silencio das nossas recordações. E aqui, tantas vezes, virão os pensamentos dos boêmios que ficaram para ungir de saudade este teu túmulo.

Será assim, Sérgio Miranda. E até logo, amigo. Até logo, companheiro das horas alegres e cheias de amarguras. Até logo, companheiro das serestas da cidade. Não é uma despedida. Ninguém, Sérgio Miranda, se despede à beira do túmulo. Porque é aqui a verdadeira morada dos que vivem na terra. Até logo, Sérgio Miranda...

* Paulo Nascimento Moraes. In “A volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 22/9/1963 (domingo)

Neste domingo...

Dicas de ortografia
1ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “GREDIR”:
AGREDIR – agressão, agressor, agressivo;
REGREDIR – regressão, regresso, regressivo;
PROGREDIR – progressão, progresso, progressivo;
TRANSGREDIR – transgressão, transgressor, transgressivo.

2ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “MITIR”:
OMITIR – omissão;
DEMITIR – demissão, demissionário;
ADMITIR – admissão, admissível, inadmissível;
PERMITIR – permissão, permissivo, permissível;
TRANSMITIR – transmissão, transmissivo, transmissível, intransmissível, transmissor.

3ª) Devemos escrever com “SS” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “CEDER”:
CEDER – cessão;
SUCEDER – sucessão, sucessivo;
CONCEDER – concessão, concessivo, concessionária.

4ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “ENDER”:
TENDER – tensão;
COMPREENDER – compreensão, compreensivo, compreensível, incompreensível;
APREENDER – apreensão, apreensivo, apreensível;
PRETENDER – pretensão, pretensioso, despretensioso;
ASCENDER – ascensão, ascensorista.

5ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “VERTER”:
VERTER – versão;
REVERTER – reversão, reverso, reversivo, reversível;
CONVERTER – conversão, conversível;
SUBVERTER – subversão, subversivo.

6ª) Devemos escrever com “S” todas as palavras derivadas de verbos terminados em “PELIR”:
EXPELIR – expulsão, expulso;
IMPELIR – impulsão, impulso;
REPELIR – repulsão, repulsivo.

7ª) Devemos escrever com “Ç” todas as palavras derivadas dos verbos TER e TORCER:
ATER – atenção;
DETER – detenção;
RETER – retenção;
OBTER – obtenção;
MANTER – manutenção;
ABSTER – abstenção;
TORCER – torção;
CONTORCER – contorção;
DISTORCER – distorção.

Teste da semana
Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas da frase abaixo:
“Pela estrada __________ ela, o pai e eu: o relógio __________ três horas”.
(a) vínhamos / dera;
(b) vinhamos / dera;
(c) vinham / davam;
(d) vinham / deram;
(e) vínhamos / deram.

Resposta do teste: letra (a).
Quem vinha pela estrada era “ela, o pai e eu”, ou seja, “nós”. Quando um dos núcleos do sujeito composto for “eu”, o verbo deve concordar na primeira pessoa do plural (= nós vínhamos). O acento agudo no “i” se deve ao fato de ser uma forma proparoxítona: vínhamos. Na segunda lacuna, o verbo deve ficar no singular, porque o sujeito é “o relógio”: “o relógio dera…” Se não houvesse o sujeito (= o relógio), o verbo DAR deveria concordar com as horas: “Deram três horas”; “Deu uma hora da tarde”; “Davam dez horas da noite quando ele chegou”.

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Veja o tamanho da contribuição de Caxias para o Brasil, só no campo das Letras, Artes e Cultura, em geral:

Caxias é a terra onde nasceram...

... GONÇALVES DIAS, advogado, etnólogo e escritor, o “pai” do Indianismo na Literatura Brasileira, autor da “Canção do Exílio”, provavelmente os versos mais conhecidos de um escritor brasileiro: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá” [...];

... TEÓFILO DIAS, advogado e escritor, o introdutor do Parnasianismo no Brasil;

... CELSO ANTÔNIO DE MENEZES, escultor e escritor, introdutor do Modernismo nas Artes Plásticas no Brasil;

... COELHO NETTO, o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, três vezes indicado ao Prêmio Nobel, pioneiro do cinema seriado no Brasil (foi também roteirista e diretor); “inventou” a palavra “torcedor” com o sentido de quem é fã de esportes; capoeirista, foi o responsável pela disseminação da capoeira como esporte/dança/arte digna; seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi autor do 1º gol da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo; Coelho Netto foi quem deu a ideia de o Hino Nacional Brasileiro ter uma letra, pois era apenas a música de Francisco Manuel da SIlva;

... JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, tupinólogo, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre, que considerou livres os filhos de escravos a partir da Lei; homenageado com praça e busto em São Paulo (SP), teve sua monumental obra jurídica relançada pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp); foi deputado e presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo;

... TEIXEIRA MENDES, filósofo e matemático, apóstolo do Positivismo no Brasil, autor da Bandeira Brasileira e de centenas de livros e outras publicações;

... ARMANDO MARANHÃO, artista plástico, teatrólogo e professor de Teatro, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”; estudou na Europa com os maiores diretores de Cinema e Dramaturgia da História: Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Laurence Olivier, entre outros.

... UBIRAJARA FIDALGO, dramaturgo, apresentador, ator, considerado o primeiro dramaturgo negro do Brasil, fundador do Teatro Profissional do Negro, autor de várias peças, encenadas no Rio de Janeiro mas inéditas em livro;

... BERREDO DE MENEZES, advogado, escritor, ex-prefeito de Vitória, capital do Espírito Santo, poeta com obras traduzidos para outros países e línguas;

... JOÃO DE DEUS DO REGO, escritor, foi da Academia Paraense de Letras;

... CÉSAR MARQUES, médico, historiador, tradutor, pesquisador, professor, autor do “Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão”;

... VESPASIANO RAMOS, precursor da Literatura no Estado de Rondônia, autor do livro “Coisa Alguma...”;

... ELPÍDIO PEREIRA, músico, maestro e escritor, autor da melodia do Hino Caxiense, estudou e apresentou-se em Paris e teve sua obra musical e óperas editada na Amazônia, onde ensinou, compôs e apresentou-se;

... ADÉRSON FERRO, odontólogo, jornalista, dramaturgo e escritor, considerado a “Glória da Odontologia Brasileira”, foi pioneiro no uso de anestesia odontológica no Brasil e autor do primeiro livro científico sobre Odontologia, no século XIX;

... RODRIGUES MARQUES, romancista, considerado o “papa-concursos”; morava em Niterói (RJ);

... e ADAÍLTON MEDEIROS, CID TEIXEIRA DE ABREU, DÉO SILVA, FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU, JOSÉ JOAQUIM DA SILVA MAÇARONA, LUCY TEIXEIRA, MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO, e tantos – taaaaaaaantos – outros, mortos e vivos...

Pois esses e outros homens e mulheres – sem mencionar aqueles que honraram o Brasil na Administração Pública, na Ciência e Saúde, no Direito, nas Artes, na Economia etc. – têm espaços onde, muito ou pouco, são lembrados – ou, pelo menos, não são esquecidos. Entre esses espaços, o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, a Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão e a Academia Caxiense de Letras (ACL), a instituição-máter e/ou referência, que completa anos exatamente hoje, 15 de agosto.

A solenidade de posse dos membros da ACL foi realizada no ano seguinte, 1998, dia 1º de agosto, a grande data cívica do município. Convidado pelos meus Pares Acadêmicos, fiz o discurso de posse em nome de todos. Este discurso:

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“O PASSADO DE CAXIAS É UM PRESENTE DE FUTURO”

(DISCURSO DE EDMILSON SANCHES NA SOLENIDADE DE POSSE DOS MEMBROS-FUNDADORES DA ACADEMIA CAXIENSE DE LETRAS, NO AUDITÓRIO DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E AGRÍCOLA DE CAXIAS, EM 1º DE AGOSTO DE 1998).

Senhoras e Senhores:

O local mais seguro para um navio é o porto onde ele está fundeado. Mas não é para portos que se constroem navios.

O lugar mais seguro para um automóvel é a garagem, onde ele fica guardado. Porém, não é para as garagens que se fabricam carros.

O melhor lugar para uma criança é o colo da mãe ou os braços do pai. Entretanto, não é para ficar vitaliciamente debaixo das vistas do pai ou sob as saias da mãe que se geram filhos.

Uma Academia igualmente é um local razoável para um intelectual, para um humanista. Mas, ouso dizer, não é somente para reunir gentes sábias que se formam academias.

Não, Senhores. Apesar de ali estarem seguros, não é para portos, mas sim para os mares, que navios são construídos. É para a probabilidade da tempestade, é para a possibilidade da bonança, é para a certeza da viagem que navios são feitos e são lançados à água e singram mares já ou nunca dantes navegados. Navios são feitos porque os mares, e não os portos, existem.

Também é para roer distâncias, encurtar tempos, transportar pessoas e coisas, que se fazem carros. Eles são para as ruas e estradas, pois das vielas e becos cuidam nossos pés. É porque existem espaços para transitar, e não garagens para estacionar, que se industrializam carros.

É para a vida, para o mundo, para a certeza das buscas e incerteza do encontro, que se geram filhos. Sobre eles, pais, no máximo, têm autoridade, não propriedade.

É principalmente para unirem-se em torno de um ideal, e não em frente uns dos outros, que pessoas se juntam em clubes de serviço. E uma Academia de Letras também é, ou deve urgentemente ser, um clube de serviços, ou, melhor, menos clube, e mais serviço. Prestar serviços que prestam.

Porque é urgente e preciso organizar as pessoas para que elas organizem, para melhor, o mundo. Abrir não o leque que espalhe um arzinho de conforto, mas um fole, que resfolegue, que crie, espalhe e trabalhe também o desconforto, donde poderão sobrevir respostas e realidades – assim como do desconforto, da irritação da ostra nasce a preciosidade da pérola. As Letras não são somente canto de acalanto, mas toque de despertar, sinal de alerta, sirene de alarme, aviso de marcha, hino de guerra, canção de vitória.

Senhores:

O que legaliza uma Instituição é seu registro, mas o que a legitima é a qualidade de sua ação. Os Cartórios e as Juntas Comerciais estão cheios de certidões de fantasmas, de escrituras de vivos-mortos. Nesse caso, não há muita diferença entre uma certidão de nascimento e um atestado de óbito.

Não tem jeito. O mundo exige, as cidades precisam, o ser reclama: pessoas e instituições têm de fazer diferença. Há muita inércia no mundo, muita energia estática.

Em uma Academia, não basta assinar o ato de posse – temos de tomar posse dos nossos atos. Pelo menos, nós aqui, gente escolada na vida e no ofício, sabemos que o ato de posse não se exaure, ou não se deve exaurir, nesta noite de destaques e de discursos. Não basta tomar posse NA Academia; e indispensável tomar posse DA Academia... Que ninguém se sinta pleno aqui e agora. Academia não mais é reverência; quando muito, é referência. É, em igual tempo, museu e laboratório, conservação e criação, pensamento e ação.

Por mais inusual, pouco comum, que pareça, também cabe a uma Academia – como caberia a qualquer Instituição – auxiliar na desinstalação das pedagogias criminosas. Da pedagogia que não adiciona valor, embora subtraia rendas. Da pedagogia prendedora, e não empreendedora: a educação para a passividade, que disciplina para a dependência, não para a competência.

A dependência cria, no máximo, a revolta; a competência faz a revolução. A revolta muda as pessoas do poder. A revolução muda o poder das pessoas, mostra às pessoas que elas são ou têm o poder.

O revolucionário preexiste à revolução. Uma revolução inicia-se pelo nível da consciência. Uma revolta, pelo nível da emoção. O que se inicia pela consciência fortalece a emoção; o que começa pela emoção, fragiliza a consciência. O revolucionário tem consciência da necessidade. O revoltado tem necessidade da consciência.

Uma Academia é um laboratório – e não um repositório – de consciências.

Senhoras e Senhores, meus Confrades da Academia Caxiense de Letras:

Muito do que aqui estou dizendo é repetição, senão pregação, do que venho falando ou escrevendo já há algumas décadas, a partir, mesmo, desta minha Caxias, ela que é muito mais de mim que eu dela, pelas necessidades e oportunidades que me tornaram saudável vagamundo cidade afora.

Caxias merece sua – esta – Academia. Estranha-se, até, o não ter havido há mais tempo, há décadas, mesmo há séculos, a ocorrência da salutar tradição que somente hoje, agora, aqui se repete, excetuadas as outras formas de ajuntamento de pessoas e nominação de entidades similares que existiram no município.

Caxias, a do Maranhão, pode-se dizer, é uma das raras cidades das mais de 5 mil que existem no país que não se diz apenas berço de homens de letras: mais que escrever livros, seus filhos construíram Literatura, deram início a Escolas, gêneros, modos de fazer, que influenciaram e influenciam. Porque foram seres que não só usaram as Letras; eles ousaram nelas.

Caxias, portanto, sem passadismo, tem, de ser mais ousada e menos usada. Menos reverência à História (cujo mérito ninguém nos tira) e mais referência de Futuro, cuja construção se inicia todo dia e pode ser negada.

Não basta a Caxias ser um museu a céu aberto se livros e mentes permanecerem fechados. O passado desta cidade, como bem poucas cidades podem dispor, é o baldrame, pode ser as fundações sobre as quais se podem alevantar edifícios inteiros na área econômica, como o turismo de eventos, o turismo cultural e o ecoturismo. O passado está – e é um – presente... de futuro.

Talvez isso, quem sabe, seja a grande fórmula do desenvolvimento, um desenvolvimento onde aos haveres econômicos se aliem os valores culturais. Tudo tem de estar integrado. Onde a Engenharia erga prédios, a Estética espalhe sensibilidade. Onde a Geografia imponha limites, a Cultura interponha pontes. Onde a Economia fixe preços, a Arte destaque valores. Enfim, onde o Homem faz corpo, Deus sopre alma. Porque, à maneira de Vieira, prédios sem pessoas viram ruínas senão escombros. Países sem pontes viram isolamentos senão ditaduras. Economia sem cidadania vira exploração senão barbárie. Política sem Humanismo vira escravidão senão tirania. E pessoas sem cultura nem alma viram máquinas senão monstros.

E por que assuntos como este, de Arte e Cultura, parece ser tão incompreensível, inadmissível, tão “démodé”, às vezes tão estranho, hoje?

O que foi que aconteceu? Houve a banalização da fala? A vulgarização da palavra? A dessensibilização dos sentidos? A dessacralização dos sentimentos?

É o mau uso da Língua, a incorreção da linguagem, a palavra de duplo sentido ou a vida sem nem um significado?

É a precariedade ética, a prevenção cética, o primarismo estético, o pragmatismo técnico?

É a miopia política, a ausência de crítica, a repetição cíclica, a deseducação típica?

É a inafeição cultural, a inaptidão intelectual, a indisposição literal, a desinformação atual, a decomposição moral e coisa e tal, o que é, Senhoras e Senhores? É a falta da virtude rara, da vergonha na cara?

Desculpem-me – peço-lhes – se, em vez de um fraseado bonito e soluções confortantes, trago-lhes eu aqui um leriado, um palavreado feio e dúvidas cortantes, constantes. Mas, até nisto, há de se entrever algum mérito, porque o homem também cresce quando duvida.

É preciso mais. É urgente dar mais vida à vida.

Nós, os acadêmicos “de fora”, claro, não estamos EM Caxias, mas sempre estaremos COM Caxias. Ser caxiense não é construir residência em Caxias – é construir Caxias dentro de si. Não é ter emprego na cidade – é trabalhar por ela. Não basta apenas ser filho da cidade – é preciso criar e crescer a cidade dentro de si.

Uma cidade e uma academia têm esse ponto em comum. Caxias – e sua Academia – não são somente referência, reverência, abstração, memória, história, inspiração. Caxias – e sua Academia – não são só um sentido, um sentimento. A cidade – e sua academia – também são matéria, chão, paredes, mobília, necessidades a serem supridas, reclamos a serem atendidos, participação a ser cobrada, direitos a serem exigidos, deveres a serem cumpridos, contas a serem pagas. Nesse ponto, estou certo, pela cidade e pela Academia, nós, os acadêmicos “de fora”, faremos o possível – embora, reconheçamos, o possível nem sempre é bastante.

Senhores Acadêmicos, Senhoras e Senhores:

Em Caxias, sua Academia de Letras não é um contraste – é do contexto. Não é um confronto – é um encontro. Nasce de espíritos interessados, não de mentes interesseiras. A lógica de sua criação baseia-se em argumentos, não em argúcias.

É demagógico o discurso de que uma academia não é necessária a uma cidade, de que a região tem outras prioridades. Claro, ninguém vai à “vernissage” nem à “avant-première”, ninguém vem a uma solenidade como esta com olhos e bucho de fome. Mas Terra e homem foram dotados de recursos suficientes para que, explorados de forma inteligente e íntegra, integral e integrada, a vida se faça plena, dispensando, pois, prioridades isolacionistas, hierarquias mecanicistas, vícios segregacionistas, demagogias separatistas. Visão de conjunto, percepção do todo: É perfeitamente possível transformar em complementar o que se diz concorrente. Tornar compatível o que se julga contraditório. Fazer amigo no que é adversário.

Senhoras e Senhores:

Como disse no dia 1º de maio deste ano, nas solenidades da Semana de Gonçalves Dias, o orgulho de ser caxiense se amplia saudavelmente todas as vezes que aqui me encontro – “me encontro”, aqui, no sentido de que aqui chego e aqui me redescubro mais filho desta terra, mistura deste pó, amálgama deste barro.

Descontados os intelectuais caxienses que aqui continuam a residir, a cidade, por estes dias, ficou um pouco maior, populacional e, ouso dizer, culturalmente.

Neste 1º de agosto, Caxias tem duplo motivo para comemorar: a História que se repete há 175 anos, pela adesão à Independência; e a História que se inicia, pela posse formal dos membros desta Academia. No mínimo, deve estar contente o cantor dos Timbiras, e se água do oceano neste instante se encrespar mais é porque o Poeta se regozija sob o manto marinho que lhe serve de coberta há 133 anos.

Como se vê, Caxias, assim como Paris, é uma festa. Festa literária. Festa de reencontros. Festa de relembranças. Festas de História.

Colegas Acadêmicos:

Como veem, por tudo o que disse aqui, Academia não é só um fardão: ela é também um fardo.

O qual, pessoalmente, ajudo a carregar.

Senhoras e Senhores, colegas de Academia:

Sejamos cada vez mais caxienses.

Sejamos cada vez mais cidadãos.

Sejamos cada vez mais solidários.

Sobretudo, sejamos cada vez mais felizes.

Pela paciência e atenção, aceitem minha gratidão; e, com afeto, aceitem o afeto que se encerra neste peito juvenil.

Muito obrigado!

* EDMILSON SANCHES

Uma pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros durante o isolamento social mostra que as pessoas que deixaram o isolamento para se entreter, apresentaram piores níveis de adoecimento mental do que aquelas que continuaram em quarentena. O isolamento social foi uma das medidas adotadas por governos estaduais e municipais para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.

“A pessoa que permaneceu em quarentena parece ter mais recursos emocionais, cognitivos, para ficar confinada, em comparação com aquelas pessoas que flexibilizaram para o entretenimento”, disse o coordenador da pesquisa, professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O estudo começou em março e está agora na terceira fase, de análise de dados. Os resultados da terceira fase, realizada entre os dias 20 e 25 de junho, deverão ser divulgados até o fim deste mês, prevê Filgueiras.

Outro dado interessante é que pessoas que precisam sair para trabalhar costumam adoecer mais, do ponto de vista mental, do que aquelas que permanecem trabalhando de casa. “O advento do “home office” é protetivo do ponto de vista de saúde mental, comparado com pessoas que precisam sair para trabalhar”, apontou Filgueiras. Motoristas de ônibus, entregadores, profissionais de saúde que estão na linha de frente, todos apresentam quadros piores de sintomas de doenças mentais, completou.

Etapas

Participaram das duas fases anteriores do estudo, realizadas de 20 a 25 de março e de 15 a 20 de abril, 1.460 pessoas de 23 cidades de nove Estados brasileiros, que responderam a um questionário “on-line” com mais de 200 perguntas. A pesquisa é coordenada pelo professor Filgueiras, do Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva (LaNCE), em parceria com doutor Matthew Stults-Kolehmainen, do Yale New Haven Hospital, dos Estados Unidos.

Nessa terceira fase, foram entrevistados 1.896 brasileiros de 16 Estados, dos quais apenas 120 participaram das etapas anteriores. Segundo Filgueiras, não houve queda do nível de adoecimento mental em relação a abril. Nas duas etapas anteriores, as ocorrências de ansiedade e estresse apresentaram aumento de 80%.

Embora ainda não possa afirmar com precisão, Filgueiras disse que “se a gente pensar que os dados de março são dados parecidos com a prevalência na população brasileira, além de ter dobrado desse momento para abril, provavelmente ainda teve um aumento para junho. Isso significa que nós estamos com duas vezes, pelo menos, mais pessoas doentes mentalmente do que comparado fora da pandemia. Isso é uma situação bem grave”.

Depressão

Alberto Filgueiras analisou que os casos de depressão, por exemplo, podem ter consequências graves. A mais básica delas é o suicídio. “É a ocorrência mais comum nos casos de depressão agudizada, quando ela está bem evoluída, além de dificuldades de trabalhar, de lidar com situações da vida. A pessoa perde a capacidade de fazer coisas básicas, como tomar banho, ela perde energia para trabalhar, para fazer as coisas, como se a vida fosse insossa para o deprimido”.

Os casos de ansiedade e estresse, por sua vez, podem resultar em doenças cardíacas, coronarianas, possíveis enfartes, gastrites, problemas estomacais, obesidade, anemia. “A alimentação fica desbalanceada. Muita coisa pode ser causada por esses quadros de ansiedade e estresse que a gente está observando”. Filgueiras afirmou que, muitas vezes, isso é tratado como se fosse um problema físico quando, na verdade, se trata de um problema de ordem mental que não está sendo detectado. “Isso é comum de acontecer”.

Os dados de março e abril revelaram que as mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com estresse e ansiedade durante a quarentena. Mas quem recorreu à psicoterapia pela internet apresentou índices menores desses dois problemas. (Alana Gandra)

(Fonte: Agência Brasil)

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Depois do advento da “internet” comercial, o rádio sofreu uma metamorfose. Ampliaram as possibilidades de produção e escuta. As audiências segmentadas fragmentaram-se em nichos antes não atingidos. Nos “sites” das emissoras de rádio, os estúdios começaram a ser vistos ao vivo, as reportagens passaram a ser transcritas, ganharam fotos e até imagem em movimento. Na “web”, qualquer emissora do mundo pode ser ouvida em plataformas dedicadas a isso.

O rádio na rede pode ser sincrônico (em tempo real) e assincrônico, em reportagens gravadas, como ocorre na Radioagência Nacional da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ou nos milhares de “podcasts”. Concomitantemente, o rádio continua sendo o veículo eletrônico mais instantâneo, íntimo do ouvinte, que trata por “você”, próximo dos acontecimentos e de menor custo.

Essas propriedades são tema recorrentes do interesse dos pesquisadores de rádio no Brasil que, além do presente e do futuro do veículo, continuam investigando o passado. Na próxima quarta-feira (19), a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar) realiza uma “live” (a partir das 18h) onde será debatida a nova data de nascimento oficial do rádio no Brasil: 6 de abril de 1919.

No dia seguinte àquela data, o extinto “Jornal de Recife” deu a seguinte nota:

“Consoante convocação anterior realizou-se ontem, na Escola Superior de Eletricidade, a fundação do Rádio Clube, sob os auspícios de uma plêiade [reunião] de moços que se dedicam ao estudo da eletricidade e da telegrafia sem fio (TSF)”.

A notícia foi localizada em uma microfilmagem do “Jornal de Recife”, durante pesquisa do professor Pedro Serico Vaz Filho, da Universidade Anhembi Morumbi (UAM), que, desde o fim dos anos 1990, investiga a história do rádio. A nova data de aniversário foi corroborada por mais notícias localizadas pelo pesquisador em jornais e revistas, publicados dentro e fora de Pernambuco, inclusive sobre o estatuto da nova emissora.

Jovens curiosos

“Claro que não foi uma rádio com a estrutura que nós temos. Eram jovens estudantes curiosos, que estudavam a radiotelegrafia e resolveram montar uma estação de rádio, [de caráter] bem amador, bem experimental, mas já deram o título de Rádio Clube de Pernambuco”, disse Vaz Filho em entrevista à Agência Brasil.

Além da investigação em periódicos impressos, o pesquisador reviu a bibliografia a respeito e fez entrevistas com diferentes fontes que testemunharam o funcionamento da Rádio Clube ainda na primeira metade do século XX.

“Os preparativos para a fundação da emissora, segundo apuração com o ex-presidente da Rádio, também pesquisador Antônio Camelo, aconteceram na rua das Mangueiras, atualmente Rua Leão Coroado, no Bairro da Boa Vista”, descreveu à reportagem Vaz Filho. Segundo ele, “a Imprensa Oficial do Estado publicou no dia 7 de abril de 1919, um despacho da prefeitura recifense, doando um pavilhão do Jardim 13 de maio, atualmente Parque 13 de maio para funcionar como sede da Rádio Clube”.

As descobertas de Pedro Vaz Filho sobre a primazia da Rádio Clube confirmam o que o professor, jornalista e radialista, Luiz Maranhão Filho, hoje com 87 anos, sempre defendeu. O pai de Maranhão Filho trabalhou na emissora pioneira. Os dois professores participarão da “live” organizada pela Alcar.

Data avalizada

Durante um encontro de história da mídia realizado no ano passado na capital do Rio Grande do Norte, os pesquisadores especialistas no assunto assinaram a Carta de Natal, onde “avalizam essa decisão os dados apresentados há mais de três décadas pelo pesquisador Luiz Maranhão Filho (UFPE) e validados, mais recentemente, pelo pesquisador Pedro Serico Vaz (Anhembi Morumbi)”.

O novo entendimento sobre o nascimento do rádio no Brasil muda o conteúdo das aulas dos cursos de jornalismo, audiovisual e publicidade nas faculdades de comunicação. Até recentemente, a bibliografia especializada reconhecia que a transmissão radiofônica pregressa havia acontecido de fato naquela data em Recife, mas que a primeira emissora regular seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a partir de 17 de outubro de 1923.

A Rádio Sociedade foi fundada por acadêmicos como o médico e antropólogo Edgar Roquette-Pinto que via o rádio como um meio estratégico para levar educação à população, então majoritariamente analfabeta. “O TSF [sistema de telegrafia sem fio] espalha a cultura, as informações, o ensino prático elementar, o civismo, abre campo ao progresso, preparando os tabaréus [pessoa sem instrução] despertando em cada qual o desejo de aprender”, escreveu Roquette-Pinto em artigo publicado em 1927.

De acordo com Vaz Filho, o líder da fundação da Rádio Clube de Pernambuco foi o radiotelegrafista e contabilista Augusto Joaquim Ferreira, também de perfil intelectual, mas não acadêmico. “Ele e outros jovens pensaram naquela possibilidade como meio de comunicação, não exatamente para levar educação às pessoas, o objetivo era outro: levar informações”, como ainda se dá hoje no rádio escutado no “dial” dos aparelhos à pilha ou na podosfera acessada pelos serviços de “streaming”.

(Fonte: Agência Brasil)

Jerônimo Francisco Coelho, presidente da Província do Pará

– 16 de julho de 2020: 168 anos

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I) 26 DE JUNHO DE 1849, TERÇA-FEIRA
Início da expedição. Onze pequenas embarcações saem do Porto de Belém (PA). Noventa e duas pessoas estão a bordo. São religiosos, militares, cientistas, colonos e remadores. Destino: o desconhecido. Mas também rio acima algum santo ajuda – e havia gente santa na expedição. As obrigações: estabelecer um presídio, implantar uma colônia militar e fundar uma missão religiosa.

Personagens dessa história: o presidente da Província do Grão-Pará, Jerônimo Francisco Coelho, que recebeu, ampliou e repassou a ordem do imperador para instalar um presídio militar e uma missão religiosa; o tenente João Roberto Ayres Carneiro, chefe da expedição; o capitão Constâncio Dias Martins, comandante da futura Colônia Militar de Santa Teresa do Tocantins; o frei Manoel Procópio do Coração de Maria, capelão do futuro presídio e da futura Colônia; o mineralogista Lourenço de Sousa, secretário da expedição e responsável pela exploração científica do Rio Tocantins; e Marius Porti, mineralogista estrangeiro agregado à expedição.

II) 16 DE JULHO DE 1852, SEXTA-FEIRA
Fundação de Imperatriz, com o nome oficial de Colônia Militar de Santa Teresa do Tocantins. Até esse dia, a expedição viveu aventuras dignas de cinema. Foram três anos e 20 dias enfrentando perigos na água e fora dela. Cachoeiras, matas desconhecidas, ataques de índios, doenças. Por pelo menos três vezes tentaram fundar a colônia. Mas os expedicionários eram empurrados para mais adiante.

E quando restavam só uns poucos – o frade entre eles –, chegaram... Às barrancas da margem direita do Tocantins chegaram em pleno período de praia. Escolheram um lugar mais alto para ali fundarem de vez aquele que viria a ser o município que já foi o de maior crescimento do Brasil. E, como reza a tradição histórica, foi ali, na área onde hoje está a Praça da Meteorologia (atual Praça Dr. Antônio Régis, frente ao Hospital da Unimed), que Imperatriz nasceu, sob o signo simbólico da segurança (dos militares), fé (dos religiosos), estudo (dos cientistas) e trabalho (dos colonos). Com uma fórmula dessas, tinha de dar certo.

Manoel Gomes da Silva Belfort, o Barão de Coroatá

III) 23 DE AGOSTO DE 1854, QUARTA-FEIRA
“Maranhensização” de Imperatriz. Imperatriz nasceu paraense, assim como Tocantinópolis era maranhense. Parece que as belas curvas do rio e a voluptuosidade de suas águas tonteavam a geografia e a cabeça dos colonizadores e governantes. Nessa data, uma lei (nº 772), estabeleceu uma linha divisória e a ainda povoação de Santa Teresa ganha sua definitiva identidade, sua “maranhensidade”. Ficou sem a proteção do Pará, mas continuou com a bênção do Frei Manoel Procópio, que decidiu aqui permanecer e continuar lutando pela povoação, como hábil articulador que também era.

IV) 27 DE AGOSTO DE 1856, QUARTA-FEIRA
Criação da Vila Nova de Imperatriz. Quatro anos e 41 dias após sua fundação, a povoação de Santa Teresa adquire um novo “status”: oficialmente, agora é vila. A Lei nº 398, uma espécie de certidão de nascimento da nova identidade política de Imperatriz. Nela, o presidente da Assembleia Legislativa Provincial do Maranhão, Manoel Gomes da Silva Belfort, que se assinava pelo título de Barão de Coroatá, “mandava a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tal inteiramente como nela se contém”.

Mas política é política, e ainda se passariam quase dois anos até que obedecessem ao “mandado” do Barão. Foi num 13 de maio, de 1858, uma quinta-feira, que o presidente da Província do Maranhão, Francisco Xavier Paes Barreto, quebrou os grilhões da burocracia e, por meio de ofício, manda que as autoridades da comarca à qual Imperatriz pertencia (Carolina – chamada naquela época Vila de São Pedro da Carolina) efetivassem a condição de vila, elevando o “status” e mudando o nome da povoação de Santa Teresa para Vila Nova da Imperatriz

Godofredo Viana;

V) 25 DE SETEMBRO DE 1858, SÁBADO
Instalação oficial da Câmara Municipal e do município. Esse dia começou com uma manhã de sol e muita festa. Três meses antes, no início de junho, e seis anos após a fundação, realizara-se a primeira eleição de Imperatriz. Quando setembro chegou, a posse dos primeiros vereadores (eram cinco, com mandato de três anos) também significava a formalização da Câmara e do município, que passou a ser administrado pelo vereador presidente da Câmara, pois essa era a regra vigente. Amaro Batista Bandeira (que era tenente-coronel) foi, portanto, o primeiro prefeito de Imperatriz. Os outros vereadores eleitos: Atanásio Maciel Parente (capitão), Didier Batista Bandeira (capitão), Domingos Pereira da Silva e José Crispiniano Pereira.

VI) 22 DE ABRIL DE 1924, TERÇA-FEIRA
Elevação à categoria de cidade. Não mais Colônia. Não mais povoação. Não mais Vila. Em um artigo de exatas 40 palavras, a Lei nº 1.179, assinada pelo governador Godofredo Viana, eleva à categoria de cidade a Vila de Imperatriz e outras três vilas (Carutapera, Icatu e São Francisco). Nessa época, era prefeito Gumercindo de Sousa Milhomem, vice Domingos José Marinho, e vereadores Antônio Batista Bandeira, Coriolano de Sousa Milhomem, Fabiano Ciriaco de Sousa, Fabrício de Sousa Ferraz e Martiniano Alves de Miranda. O nome do governador Godofredo Viana foi dado a uma das principais ruas de Imperatriz, no centro da cidade.

VII) 15 DE MAIO DE 1958, QUINTA-FEIRA
Criação da Comissão Executiva da Rodovia Belém-Brasília (Rodobrás), subordinada à Superintendência do Plano da Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA). Essa é a data do decreto. Não há o que negar: sem a construção e manutenção da Belém-Brasília, muito raramente Imperatriz, Açailândia, Araguaína, Miranorte, Gurupi, Porangatu, como dizem os livros, deixariam sua condição de “pequenos núcleos estagnados” e cresceriam “espetacularmente”. A antigamente – e pejorativamente – chamada “estrada das onças”, inaugurada em abril de 1960, é verdadeiramente uma espinha dorsal de 2.070 quilômetros de extensão, atravessando o leste do Pará, o sudoeste do Maranhão, quase todo o Goiás de norte a sul, e o sudoeste do Distrito Federal. A partir dela, surgiram outras ramificações, que irrigam a economia e solidificam comunidades. No trecho denominado BR-010, Imperatriz reina, absoluta.

VIII) 15 DE JANEIRO DE 1959, QUINTA-FEIRA
Morte de Bernardo Sayão, um dos “pais” da BR Belém-Brasília, a estrada considerada “mãe” do progresso de Imperatriz. A data passou em branco em 2014, quando se completaram 55 anos da morte do engenheiro. Se Bernardo Sayão de Carvalho Araújo dedicou o resto de sua vida à abertura dessa estrada, desta ele foi a única vítima. Morreu em serviço. Uma das versões: Uma árvore, cortada, na mata vizinha, até ali amparada por cipós, começa a cair. Sayão está dentro de uma barraca, repassando ordens administrativas. Apesar dos gritos, é tarde: a natureza – a seu modo vingativa – faz com que a árvore cortada desabe rumo aonde Sayão está. Ele é atingido fortemente na cabeça e em outras partes do corpo.

Transportado de helicóptero para Açailândia, não teve jeito: às 19 horas de 15 de janeiro de 1959, a noite negra vela o sono eterno de Bernardo Sayão. Ele dera a vida pela estrada. Agora, oferecia a sua morte. Levado o corpo para Brasília, foi a primeira pessoa a ser enterrada... no cemitério que o próprio Bernardo Sayão havia construído na capital federal...

Um ano depois, em 1960, a Belém-Brasília foi inaugurada.

Presidente Juscelino Kubitschek e Bernardo Sayão (à direita)

IX) 18 DE JANEIRO DE 1995, QUARTA-FEIRA
Ocorre o movimento que ficou conhecido como a “Revolução de Janeiro”. Desmandos políticos, incompetência administrativa e suspeitas gravíssimas, criminosas, vão-se acumulando no seio dos cidadãos. Líderes classistas, comunitários e políticos unem-se e reúnem-se. Em 10 de maio, criam o Fórum da Sociedade Civil de Imperatriz. Em 23 de junho do mesmo ano, promovem o Dia da Resistência. O movimento cresce. A insatisfação se materializa e cria mais pés, mais peito, mais voz. Um mar de gente deságua na Praça Brasil, no centro da cidade, para dali, como grande enchente, escoar em caminhada rumo à prefeitura. Nesse dia 18, a sede do Poder Executivo é cidadãmente invadida. O poder retorna ao povo. No dia seguinte, 19, até uma Câmara Popular é instalada. O governo do Estado não vê outra solução: decreta intervenção no município.

X) 16 DE JULHO DE 2020, QUINTA-FEIRA
Imperatriz, 168 anos.

* EDMILSON SANCHES

O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, promulgou a Lei nº 14.036/2020, originada da Medida Provisória (MP) nº 986/2020, que define as regras de repasse dos recursos ao setor cultural, conforme previsto pela Lei Aldir Blanc, sancionada em junho.

A medida, aprovada em julho pelo Congresso, foi publicada hoje (14), no “Diário Oficial da União”.

O texto prevê prazo de 120 dias para que Estados, municípios e o Distrito Federal repassem os R$ 3 bilhões de recursos federais destinados a ações emergenciais no setor cultural. Os valores do auxílio que não forem utilizados deverão ser devolvidos à União. Uma nova regulamentação ainda deve informar a forma e o prazo para essa devolução.

De acordo com a lei, a aplicação dos recursos está limitada aos valores liberados pelo governo federal. Caso prefeitos e governadores queiram aumentar o valor dos benefícios repassados, deverão fazer a complementação com recursos próprios.

A Lei nº 14.017/2020, que instituiu o auxílio financeiro, foi chamada de Lei Aldir Blanc em homenagem ao escritor e compositor de 73 anos que morreu após contrair covid-19, em maio, no Rio de Janeiro. As atividades do setor -–cinemas, museus, “shows” musicais e teatrais, entre outros - foram umas das primeiras a interromper as atividades como medida de prevenção à disseminação do novo coronavírus no país.

O texto da lei prevê o pagamento de três parcelas de um auxílio emergencial de R$ 600 mensais para os trabalhadores da área cultural, além de subsídio para manutenção de espaços artísticos e culturais, microempresas e pequenas empresas culturais, cooperativas e organizações comunitárias. Esse subsídio mensal terá valor entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, de acordo com critérios estabelecidos pelos gestores locais.

(Fonte: Agência Brasil)

– Imperatriz, 16 de julho de 2020: 168 anos

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A mulher que deu nome à cidade maranhense de Imperatriz nasceu no dia 14 de março, em 1822, em Nápoles, uma das principais cidades italianas, com um milhão de habitantes. Sua Alteza Imperial Dona Teresa Cristina Maria de Bourbon era a filha mais nova do rei das Duas Sicílias, Francisco I, e de sua segunda mulher, Dª Maria Isabel de Bourbon.

Por procuração

Em 20 de abril de 1842, Teresa Cristina casou-se por procuração com o Imperador Dom Pedro II, que ratificou o contrato nupcial em 23 de julho do mesmo ano. No dia 30 de maio de 1843, ela veio para o Brasil, juntar-se ao marido. O casal teve quatro filhos: Afonso, que nasceu em 1845 e viveu só dois anos; Isabel (a princesa que assinou a Lei Áurea), nascida em 1846 e falecida em 1921; Leopoldina, que nasceu em 1847 e faleceu em 1871; e Pedro Afonso, que nasceu em 1848 e também viveu só dois anos.

Culta

A imperatriz Teresa Cristina era uma mulher de grande cultura. Chamada “a Imperatriz arqueóloga”, também cultivava outros campos da Cultura, entre eles Artes, Religião e Música. Quando se mudou para o Brasil, trouxe, em sua companhia, artistas, intelectuais, cientistas, artesãos e coleções de obras, objetos e documentos de grande valor. Apoiou brasileiros, como o músico Carlos Gomes, a quem enviou para estudar na Europa.

Mãe dos brasileiros

Era muito discreta e avessa às pompas da corte imperial. Dotada de enorme sensibilidade humana, não se recusava a atender pessoas doentes e carentes. Foi tão amada no Brasil que chegou a ser chamada de “Mãe de Todos os Brasileiros”. Viveu 46 anos no Brasil. Com a proclamação da República – e, portanto, fim do governo imperial –, foi para a cidade de Porto, em Portugal, onde faleceu em 28 de dezembro de 1889.

Contato

O momento de contato da cidade de Imperatriz com a imperatriz Teresa Cristina teria se dado em meados da década de 1860 a 1869, aí por volta de 1864 ou 1865. A povoação de Santa Teresa (o nome de Imperatriz à época) disputava com Porto Franco a condição de sede da Vila Nova da Imperatriz. Uma lei (nº 631, de 5 de dezembro de 1852) já fora assinada autorizando a mudança, mas ainda não fora cumprida. Dois anos se passaram, e os líderes de Santa Teresa, entre eles o fundador frei Manoel Procópio, despacharam um emissário até a Corte, no Rio de Janeiro.

Esse emissário era portador de uma comunicação à imperatriz Teresa Cristina, onde se informava que o nome Vila Nova da Imperatriz era uma homenagem a Sua Majestade. Simultaneamente, pedia-se a real intercessão da imperatriz junto ao presidente da província do Maranhão, para este fazer valer a lei de dois anos atrás.

Doações

Acredita-se que dona Teresa Cristina tenha dado uma força, pois logo a povoação de Santa Teresa retomou seu “status” de sede da Vila Nova da Imperatriz. E Sua Majestade teria feito mais: doou “um conjunto de pesos e medidas em cobre, artisticamente trabalhados”, por ela enviado “como presente”, como grata retribuição à lembrança dos moradores, capitaneados por frei Manoel Procópio, em denominar a vila com o título de imperatriz. Foram vários caixões contendo os pesos e medidas vigentes à época, que chegaram a Imperatriz em 1875.

Ilegalidade e localização

Essas peças, juntamente com a imagem de Santa Teresa d’Ávila, são, provavelmente, os itens mais antigos do patrimônio histórico-cultural do município. Mas, enquanto a imagem da santa se encontra protegida na igreja que leva o seu nome, os pesos e medidas tomaram vários destinos. Um dos conjuntos de medidas está, ilegalmente, em museu de São Luís. Ele foi localizado e documentado, fotograficamente, pelo jornalista Edmilson Sanches em 2002.

Outras cidades

Além da maranhense IMPERATRIZ, outras cidades brasileiras têm seu nome dado em homenagem a Teresa Cristina:

TERESINA, capital do Piauí (o nome “Teresina” é um diminutivo de “Teresa”);

TERESÓPOLIS, no Rio de Janeiro (o nome “Teresópolis” significa “cidade de Teresa”);

e SANTO AMARO DA IMPERATRIZ, município de Santa Catarina.

* EDMILSON SANCHES

Ilustrações:
1) A imperatriz Teresa Cristina;
2) a última foto da família imperial no Brasil, em 1889, antes da partida para o exílio. Da esquerda para a direita:
– (sentados) Imperatriz Teresa Cristina e príncipe Dom Antônio;
– (em pé) Princesa Isabel, imperador Dom Pedro II, príncipe Dom Pedro Augusto, príncipe Dom Luís, conde d'Eu Gaston d'Orleans e príncipe Dom Pedro de Alcântara.

Pesquisadores brasileiros apresentaram, nesta quinta-feira (13), um novo fóssil de lagostim encontrado na Ilha James Ross, na Península Antártica. A pesquisa foi publicada hoje, na revista “Polar Research”. Os pesquisadores são do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (Urca), do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Contestado, em Santa Catarina, e da Universidade Federal do Espírito Santo.

Trata-se de dois espécimes que foram classificados no gênero “Hoploparia” em uma nova espécie, “H. echinata”. “Apesar de não ter representantes atuais, os fósseis desse gênero de lagostim foram encontrados em camadas de diferentes partes do mundo, em um total de 67 espécies. Entretanto, no continente antártico, eram conhecidas, até o momento, apenas três espécies, sendo esta uma nova, procedente da Ilha James Ross”, disse o diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens/Urca, Allysson Pinheiro.

O material foi coletado em 2016, durante expedição realizada pelo projeto Paleoantar, dedicado a coletar e estudar rochas e fósseis da Antártica. As rochas onde foram encontrados os fósseis sugerem que o animal vivia em ambientes marinhos rasos, com fundo arenoso. Estima-se que tenha vivido no Período Cretáceo, durante o Campaniano, há cerca de 75 milhões de anos.

Anatomia do lagostim

O fóssil é classificado como “Hoploparia echinata”, do latim “echinatus”, que significa espinhoso, e se refere à característica espinhosa das pernas e terceiros maxilípedes. Essa feição espinhosa é uma das principais características de distinção para as demais espécies de “Hoploparia”. Segundo os pesquisadores, a atribuição ao gênero se dá especialmente pela ornamentação do cefalotórax (carapaça), que tem um padrão de sulcos, espinhos e carenas bem definidos.

Os pesquisadores acreditam que o animal, semelhante a outros lagostins, deveria cavar tocas e ser um predador de emboscadas, por causa de sua pinça. Essas pinças, grandes e fortes, podiam ser usadas, inclusive, para capturar peixes e facilitavam a escavação de sua toca.

De acordo com Allysson Pinheiro, possivelmente, eram animais territorialistas que não viviam em grandes associações. Eventualmente, podiam conviver, como na época da reprodução ou quando se alimentavam de carcaças. “Mas eram animais isolados, vivendo mais em sua toca”.

De acordo com o paleontólogo e diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, a descoberta dessa nova espécie "certamente não será a única do grupo". Em 2018, os pesquisadores estiveram por 50 dias no The Naze (parte da ilha James Ross), onde foram coletados dezenas de fósseis de lagostas e outros crustáceos que estão em estudo. "Certamente, em breve, teremos mais novidades sobre esse grupo de animais que viveram na Antártica durante o período Cretáceo”, afirmou.

Antártica

A Ilha James Ross, em um período entre 70 a 80 milhões de anos atrás, época do fóssil encontrado, era muito diferente do que é hoje. Naquela época, a área estava coberta por um mar raso com uma grande variedade de fauna (tubarões, corais, répteis etc.), e com uma temperatura mais elevada do que as registradas atualmente.

“A ilha de James Ross tem um dos acervos fossilíferos mais ricos da Antártica. A descoberta de uma nova espécie de lagostim confirma esse enorme potencial e a importância do desenvolvimento contínuo de pesquisas em paleontologia na região”, disse o pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo, Rodrigo Figueiredo.

(Fonte: Agência Brasil)