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Candidatos pré-selecionados na chamada única para obter o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) podem fazer a complementação da inscrição até as 23h59 desta quinta-feira (6), na página do Fies. Nesta edição, 107.875 inscritos disputam 30 mil vagas, ofertadas em mais de 1,3 mil instituições de ensino superior.

Lista de espera

Quem não foi pré-selecionado nessa fase ainda pode disputar uma das vagas ofertadas por meio da lista de espera. Diferentemente dos processos seletivos do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa Universidade Para Todos (Prouni), para participar da lista de espera do Fies não é necessário manifestar interesse, a inclusão é feita automaticamente. A convocação da lista de espera vai até as 23h59 de 31 de agosto.

Programa

O Fies é um programa do MEC que concede financiamento a estudantes em cursos superiores não gratuitos, em instituições particulares de educação superior. O fundo é um modelo de financiamento estudantil moderno, dividido em diferentes modalidades, podendo conceder juro zero a quem mais precisa. A escala varia conforme a renda familiar do candidato.

(Fonte: Agência Brasil)

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Como não ter uma “baita de uma reiva” de ir a um samba quando não “encontremo ninguém”? Ainda mais se esperava tomar uma “frechada” do olhar da pessoa amada. Um coração que vira uma “taubua de tiro ao álvaro”, que não tem mais onde “frechar”. Não adianta. Tem que ir embora, o último trem é agora às 11 horas. Em ritmo de diversão e nostalgia, os versos e os batuques ternos de Adoniran Barbosa (nome artístico de João Rubinato), que nasceu em 6 de agosto de 1910 (há 110 anos, em Valinhos-SP), ousavam.

Ele criou um tipo de samba paulistano que enaltecia a memória e o cotidiano de imigrantes pobres e seus descendentes. Gente de sotaque misturado e italianado, com as dificuldades dos operários que ajudavam a construir a maior cidade do Brasil. Canções que traziam temática social, como a falta de habitação, a saudade e as dores da maloca. A música que fez o país identificar bairros como Brás, Mooca, Bixiga, Jaçanã e Casa Verde, por exemplo, é reconhecida como marco na história do samba, legado de um artista que brincava com os plurais e se consagrou como singular. Para quem estudou o sambista, tem “outras coisa”, “vortemo” ao acervo e ao tempo. “Ói nois aqui traveiz”, como cantava. Adoniran morreu em 1982.

Para o cineasta Pedro Serrano, que dirigiu o filme “Adoniran – Meu nome é João Rubinato”, ainda hoje visitar e ouvir a obra do músico é reconhecer uma identidade nacional. "É muito importante que pessoas que não tiveram contato (como os mais jovens) possam saber mais sobre quem foi o artista", disse em entrevista à Agência Brasil. Serrano afirma que se aproximou da história de Adoniran desde a infância. Inicialmente, realizou o curta-metragem de ficção “Dá licença de contar”, baseado em personagens da música “Saudosa Maloca”.

O documentarista, de 33 anos de idade, revela que tem um projeto no forno para transformar esse curta em um longa, para explorar mais personagens e a riqueza da obra do sambista. "Tem que saber falar errado" “Eu sempre gostei de samba. Ninguém queria nada com as minhas letras. Tem que saber falar errado”, dizia o artista. O sucesso na música veio na década de 1950 quando o grupo Demônios da Garoa cantou “Saudosa Maloca”. Em 1964, “Trem das Onze” levou o grupo ao auge. Em 1980, a consagrada cantora Elis Regina emprestou nova interpretação para “Tiro ao Álvaro”.

“Eu faço samba dos meus bairros”. O programa “Na trilha da história”, da Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação, traz trechos do acervo que destacam a irreverência e o pensamento do artista. No mesmo programa, veiculado em fevereiro deste ano, o cineasta Pedro Serrano, diretor do documentário sobre Adoniran, explica as invenções como em “Samba do Arnesto” (1953). “Ernesto existiu mesmo, mas a história não foi como está na música”. Ernesto jura que nunca falhou com o compromisso com Adoniran. A história foi criada pelo sambista.

Serrano conta que Adoniran foi rejeitado inicialmente como cantor. “Ele entra na rádio como locutor de Carnaval. Fazia de uma forma bem-humorada e, assim, ele se destaca. Torna-se, depois, uma grande estrela como radioator cômico”. O cineasta detalhou também a importância da parceria com o grupo Demônios da Garoa, que ecoou as canções. “Eles fizeram com que ‘Saudosa Maloca’ (música de 1951) ficasse conhecida. Inicialmente, a música não fez sucesso algum. A interpretação diferente, que era gaiata, se tornou um sucesso”. A música, que conta a história de um despejo, ganhou novo tom. O diretor reconhece que Elis Regina (que morreu também em 1982) trouxe um olhar sensível e até melancólico para a música de Adoniran.

A obra de Adoniran também foi visitada pelo programete “História Hoje”, da Rádio Nacional. Na edição, um dos destaques é que, em São Paulo, o músico participou de programas de calouros no rádio, quando escolheu o nome artístico em homenagem ao seu melhor amigo e ao cantor Luis Barbosa, ídolo do sambista. O caminho do sucesso começou em 1934 com a música “Dona Boa”. Ele conquistou o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela cidade de São Paulo. Em seguida, trabalhou por mais de 30 anos na Rádio Record como ator cômico, discotecário e locutor.

A TV Brasil também destacou que Adoniran cantou a cidade de São Paulo como ninguém. “Prefiro falar ‘peguemo’ do que pegamos. Prefiro falar ‘fumo’ do que fomos”, apontou o sambista. A reportagem mostra as homenagens que o artista recebeu no Bairro do Bixiga, onde há, inclusive, um busto de Adoniran.

Por falar em história e nostalgia, outra reportagem da TV Brasil destacou o que seria o “trem das 11”, imortalizado na canção de Adoniran. A estrada de ferro, que passa pelo Bairro da Jaçanã, tinha um percurso do centro de São Paulo até Guarulhos, na Região Metropolitana. O trajeto funcionou por mais de 50 anos. “Mas o trem das 11 não existia. O acerto que Adoniran fez foi para a música”, diz Sylvio Bittencourt, que mantinha um museu no Jaçanã com a história do lugar.

Em 2018, Adoniran recebeu homenagem póstuma como Cidadão Paulistano. O compositor, que homenageou a cidade com letras trocadas e batuques em ritmo irreverente, inventava histórias e palavras. A ficção era a construção artística para falar “errado” e do que passava à sua volta. Manuel Bandeira, na década de 20, também enalteceu a linguagem das ruas: "A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo, na língua errada do povo. Língua certa do povo". Veja mais no acervo da EBC, a melancolia e a graça “din-din donde nóis passemo dias feliz de nossa vida”, como é a arte imortal de Adoniran.

(Fonte: Agência Brasil)

(Dedicado aos que ainda “sabem” chorar e indignar-se)

– E se ele fosse seu filho? Se fosse da sua família?

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(Cinco anos depois...)

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Não. Esse menino da foto NÃO está brincando na praia.

Não está pregando uma peça para os pais.

Não pegou soninho na areia úmida.

Esse menininho de três aninhos deixou de ser criança. Agora ele é uma denúncia.

Uma acusação.

Um tapa na cara.

Um bogue no estômago.

Um chute nos ovos.

Uma bala nos ouvidos.

Um murro na consciência.

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Para ter vida, esse menino precisou apenas de duas pessoas.

Mas para ser morto, há cinco anos, foi preciso uma multidão: uma multidão de governantes e outras autoridades (e seus seguidores e asseclas).

Precisou de um monte de países e etnias em guerras fratricidas e religiosas.

De um magote de autoridades omissas e, por isso, igualmente cúmplices de assassinatos, genocídio, mortandade.

Apesar do jeito frágil, do tamaninho, uma criança é uma força da Natureza. Inspira cuidados. Exige proteção.

Sem a criança não existimos. A criança é pai de todo adulto. É mais velha que nós.

Mas já não se respeitam pais... nem os mais velhos.

E Alan morreu, aliás, foi morto. Seu país o expulsou – e, pelo meio do caminho em terra até o mar, de quantas rejeições não foi vítima essa criança!...

Triste o fim de Alan Kurdi. Sua terra não o queria em vida – e, na morte, até o mar o rejeitou.

Depois de sacolejar seu pequeno corpo, ao sabor das ondas, o oceano, como um vômito, jogou-o na praia, para onde, quase sempre, ondas costumam levar lixo.

Para o mar, o menino era impureza, sobra. Resto com rosto.

Alan, branquinho, vai se juntar àquele menininho africano, pretinho, que o urubu, com seu instinto natural, pacientemente esperava morrer para servir-lhe de comida. (O autor da foto da criança africana suicidou-se depois, tal o impacto daquela visão-realidade).

Sei que perto de mim, no meu país, no meu Estado, quiçá em minha cidade deve haver branquinhos e escurinhos esperando comida, amparo, carinho, futuro. Sei disso.

Mas é a foto de Alan que é a minha realidade neste exato momento. Neste instante.

Dá vontade de, por uma só e não atendida vez, ser Cristo com seu poder ressuscitador, e fazer viver o menininho africano e menino Alan e vê-los correr, brincar, sorrir, ser protegido por seus pais. (O pai de Alan, Abdullah, tentaria explicar ao filho porque a mãe, Rehan, e o irmão, Galip, morreram no mar, quando todos fugiam da Síria natal e suas guerras sem fim).

Dá vontade de, como Super-Homem, rodar o planeta Terra para trás e, assim, voltar o tempo e corrigir todas as agruras, amarguras e desventuras alânicas.

Mas que posso eu? Que pode você que me lê?

De minha parte, posso me recolher para longe das fotos. Me afastar da imagem de meninos mortos.

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Procuro não chorar. Não é por falta de sentimentos, que me sobram e soçobram. É que, não chorando, meu caudal de lágrimas não afogará de novo Alan.

Pois, para essa criança, já basta morrer uma vez...

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Alan, morto; Alan, com ursinho e o irmão mais velho, Galip; e o menino africano, sem nome... e também sem vida.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos promove a Semana Nacional da Juventude a partir de hoje (5) até o próximo dia 12 quando é celebrado o Dia Internacional da Juventude. De acordo com a pasta, neste período, serão promovidos seminários, fóruns e solenidades para debater e dar visibilidade a temas de interesse de jovens de 15 a 29 anos.

Nesta quarta-feira, dando início à semana, haverá a comemoração dos sete anos do Estatuto da Juventude, com o lançamento de um vídeo da campanha “Cada jovem com o seu estatuto”. A ação da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), em parceria com o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), enviou exemplares da legislação para todo o país. A meta é distribuir 100 mil cópias do documento aos jovens.

O estatuto está disponível no “site” da secretaria e a versão impressa pode ser solicitada por “e-mail”, informando a quantidade de cópias e endereço para envio.

Para amanhã, está marcada a cerimônia de premiação dos vencedores da primeira edição do Prêmio de Inovação em Políticas para a Juventude. A iniciativa tem o objetivo de fomentar a elaboração de políticas públicas efetivas. Na solenidade, na sede da SNJ em Brasília, haverá entrega de troféus e selos para os autores das melhores propostas.

Em celebração às adesões ao Sistema Nacional da Juventude (Sinajuve), no sábado (8), será realizada uma transmissão “on-line” com representantes estaduais, que poderão tirar dúvidas e contar suas experiências com a ferramenta. De acordo com o ministério, o objetivo do encontro é aprimorar os serviços ofertados e para que outros gestores públicos ou representantes da sociedade civil possam conhecer melhor o sistema.

Na terça-feira (11), será realizado fórum de debate sobre políticas de juventude, com a participação de representantes do ‎Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, do Organismo Internacional da Juventude para Ibero América (OIJ) e do Conjuve.

Para finalizar a Semana Nacional da Juventude, serão apresentados os dados de violação de direitos da juventude do Disque 100, canal de denúncias do ministério. Quem fará a análise das informações será a secretária Nacional da Juventude, Jayana Nicaretta, por meio de transmissão nas redes sociais.

As informações sobre a semana e os eventos serão transmitidos nas redes sociais do ministério e da Secretaria Nacional da Juventude.

(Fonte: Agência Brasil)

O Parque Nacional do Itatiaia, no sul fluminense, reabre hoje (5), para visitantes, depois de ficar quase cinco meses fechado por causa da pandemia de covid-19. A abertura será feita de forma gradual e, neste primeiro momento, será permitido o acesso apenas à parte baixa do parque, de quarta-feira a domingo, das 8h às 17h.

O uso de máscaras será obrigatório durante a permanência no local, assim como manter a distância de dois metros entre uma pessoa e outra. Será permitida a entrada de, no máximo, 150 visitantes por vez, com grupos restritos a até seis pessoas.

Por enquanto, excursões estão proibidas, bem como a entrada de ônibus e vans fretadas. Os banheiros estão abertos, mas o centro de visitantes e os bebedouros continuam fechados.

O acesso a lagos, cachoeiras e mirantes também terá restrição quanto ao número de pessoas, que varia de seis a 40 por vez, dependendo da atração. Informações podem ser obtidas no “site” do parque.

Por enquanto, atrações da parte alta, como o Pico das Agulhas Negras, o Maciço das Prateleiras e a Cachoeira de Aiuruoca, além do “camping”, continuam fechados. Itatiaia foi o primeiro parque nacional criado no Brasil, em 1937.

(Fonte: Agência Brasil)

O BLOG DO PAUTAR apresenta, todas as quartas-feiras, textos de escritores maranhenses – projeto LITERATURA MARANHENSE. Essa iniciativa tem como objetivo despertar o interesse pela leitura e, ao mesmo tempo, mostrar a produção literária de nosso Estado. Aproveite... Boa leitura!

(Prefácio ao livro “Sinergia”, de Tasso Assunção)

Tantas são as palavras e abordagens sobre esta obra, que dela me restou a mim apenas sua sobra. Entenda-se por sobra aquele material que não foi ou não pôde ser avaliado, para se determinar algum aspecto – no caso, o processo de criação literária (“writing process”) nos poemas de “Simbiose”, obra de Paulo de Tasso Oliveira Assunção.

“Simbiose” é, na verdade, uma espécie de terceira edição de “Desconexos”, livro lançado em 1986 e com segunda edição em 1998, esta feita quase artesanalmente em computador e de circulação muito restrita, com exemplares personalizados distribuídos, via de regra, para amigos. Para não avolumar ainda mais as anotações, incorremos no acinte de desconsiderar a obra de 1998, atendo-nos à primeira edição e aos textos de 2004.

Tasso Assunção é pessoa exteriormente contida e poeta intrinsecamente incontido. É ele portador daquela “mão que pensa e sente”1, “mão inquieta e incontentável”2, permanentemente insatisfeito com o resultado final (!) do seu próprio texto.

Estudioso da gramática, buscador da concisão e precisão textuais, quase-verdugo de adjetivações e outros “adereços” literários, Tasso Assunção, por cerca de duas décadas, submeteu seu primeiro e único livro publicado a exame clínico e cirurgias estéticas reparadoras. E não estava de brincadeira nesse processo; fez até cirurgia da face: a capa, o rosto da obra mudou, como vimos, rebatizado para “Sinergia”, em lugar do “nome de nascimento” “Desconexos” e do nome “Simbiose”, vigente até a hora das provas finais do livro. (O autor só terminou de “mexer” no livro no fim. No último instante, provas tiradas e notícia estampada em jornal, houve a modificação do título da obra, que nascera “Desconexos”, ganhara um novo nome – “Simbiose” – e terminou como “Sinergia”, certamente um nome, digamos, mais “amplo” e que mais reflete o lógico e o psicológico, o racional e o emocional do autor e sua obra. Todo esse trabalho, toda essa busca, porque Tasso Assunção, moço pensador que é, se sentia incomodado com algo que não estava “batendo” direito, um certo quê de insatisfação ou incompletude em relação ao título do livro.

Os poemas de “Desconexos”, a obra inicial, tornaram-se, então, a massa a ser sovada na padaria intelectual de Tasso Assunção. Os textos viraram, assim, “poemas de laboratório”, por oposição a “poemas eventuales”, na confrontação de Günter Grass3, que nos fala do fazer poético mais trabalhado (e trabalhoso) desses que se tornam verdadeiros “caballeros em el laboratorio de los sueños, los caballeros com los amplios compendios de diccionarios, los caballeros – también pueden ser damas – que de la mañana a la noche trabajan com lengua, com el material del idioma (...)”4. Com adaga, lança e rédea, Tasso também já se antevia ginete do texto. Repare-se o terceto inicial de “Lazer”: “Livro aberto, / dicionário à mão, / sinônimos indefinidos”.

A recauchutagem sígnico-ideológica a que foi submetido o livro de estreia de Tasso Assunção leva à pergunta: Pode um autor refazer/desfazer a obra dada a público? Marguerite Duras, romancista francesa nascida no Vietnã, acha que não. Ela escreveu: “Nada mais pode entrar em um livro assim, terminado e distribuído”.5 Contrariamente, do outro lado, não é só Tasso Assunção que nos diz que sim, a obra publicada pode – dir-se-ia até: deve – ser reescrita, revista e revisada, ampliada, enriquecida, melhorada. Autores brasileiros de envergadura fazem isso – Josué Montello, por exemplo, que reescreve obras inteiras. Autores estrangeiros também atestam que em livros escritos também se mexe: Proust, que morreu em 1922, aos 51 anos, antes de ser vencido pela pneumonia e a asma crônica empregou os últimos meses de sua vida a fazer correções das obras que já estavam em curso de publicação. Outros textos proustianos foram localizados e neles percebeu-se que o autor fizera alterações posteriores, desconsideradas na hora da edição “post mortem” – o que não deixa de ser uma espécie de crime de lesa-intenção, um desrespeito às vontades últimas do escritor.

Surgida na França em 1968 e iniciada no Brasil em 1985, a Crítica Genética está desenvolvendo um amplo e meritório trabalho não só de desvendar e documentar o “writing process” de uma obra e de um autor, como também tem contribuído para reescrever/repor verdades literárias, por meio da colação, a comparação de manuscritos e outros prototextos com textos publicados.

Alguém poderia perguntar qual a utilidade ou “vantagem” de saber as etapas iniciais e intermediárias de um romance, por exemplo, se o que importa mesmo é tê-lo ali, na sua forma final, publicado, prontinho pra ser lido. Ora, quem pergunta isso talvez seja o mesmo tipo de gente que se pergunta pra que gastar tanto tempo, dinheiro e outros recursos com Arqueologia, Paleontologia, Biologia, Química, Astronáutica, Cosmologia, para saber a origem do ser humano, da vida e do Universo, se o que interessaria mesmo é viver – viver apenas, viver a esmo, como ser médio, mediano, senão medíocre, desconhecedor de suas origens e desatento a seus fins e finalidades.

Pois assim é a Crítica Genética: a “ressurreição” do que estava morto, a Arqueologia e Paleontologia de uma dada obra ou de um dado escritor, por meio dos “fósseis gráficos”, nos quais se podem decifrar as formas de vida primevas daquele livro ali, vistoso, capa reluzente, lombada larga, papel de primeira, com tipologia adequada, limpa. Não sabe o leitor as garatujas, os rascunhos e rasuras, os borrões, correções, alterações antecedentes e o que isso representa de silêncio, solidão, suor e sofrimento no autor.

Sim, um texto, um livro se modifica. Sim, escrever não é – na maioria das vezes – um doce ócio, um fluido ofício. É trabalho, é pauleira, é atenção, é briga. É exercício de corte e costura; é coser a roupa no corpo – ajustar a forma à ideia. É como traduzir o que o autor quer dizer. É a busca das melhores palavras e suas justaposições para expressar o turbilhão neuronal de ideias, emoções, sentidos e sentimentos do escritor. Um sufoco. Não é à toa que, para os antigos gregos, o ato de escrever, escrever poesia, era equiparado, por exemplo, ao extenuante trabalho de construir um navio. Por isso, poesia, em grego (“poiésis”), significa “fabricação”. O contrário de poesia era teoria (em grego, “theoría”, “observação”).

Sabendo ou não que estava/está autorizado a, “ab initio”, transformar sua obra em uma “metamorfose ambulante”, Tasso Assunção intuía que isso lhe era natural, o poder dispor de seu livro como bem entendesse, preferencialmente se para melhor – e outro entendimento não parece caber na prática literária tassiana. Alexandre Herculano, poeta e escritor português do século XIX, escreveu: “Eu não me envergonho de corrigir e mudar as minhas opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”.

Perceber e documentar o frenesi da reescrita deste livro só foi possível porque acompanho de perto o trabalho do autor. De alguns autores imperatrizenses tenho guardados manuscritos, originais de textos e de livros inteiros, segundas edições e, até, obras publicadas com ulteriores anotações, alterações, revisões, correções à mão.

Já foi dito: o livro “Desconexos”, hoje redenominado “Sinergia”, é de 1986. Ainda me lembro do autor, naqueles meados da década de 1980, parado em frente ao balcão do banco onde trabalhei, olhando para mim como quem pede permissão para entrar. Autorizado, Tasso Assunção veio até a mim e, meio reticente, falou que acompanhava meu trabalho cultural e jornalístico e me entregou seu livro, com dedicatória tão contida quanto o autor: “Ao Edmilson Sanches – Tasso Assunção.” (Assim mesmo, com travessão e ponto, que Tasso é de escrever escorreito).

Uma olhadela rápida num e noutro texto e pude perceber a consistência de expressão formal e ideológica do autor. No mesmo instante, sabendo-o desempregado, encaminhei-o a um jornal da época, onde desempenhou com honra e competência a função de revisor e copidesque. Meses depois, passamos a trabalhar juntos em publicações e instituições que fundamos ou administramos em Imperatriz.

Conheci, desse modo, muito do processo criador e criativo de Tasso Assunção, das leituras que fez e faz, das longas conversas pessoais e por telefone acerca das coisas que ele escrevia ou pensava ou fazia. Tanto que, ao longo destes quase vinte anos, ele concedeu-me um certo “droit d’ingérence”, um ir além dos sapatos, quando da leitura e/ou revisão de seus trabalhos.

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“Sinergia” tem 31 poemas, dois a menos que a obra antecessora, “Desconexos”. Além de lhe mudar o título e cortar a introdução e dois poemas (“Atualidades” e “O filho da máquina”), Tasso Assunção promoveu mais de duas centenas de intervenções (contei 205) em trinta poesias. Apenas a poesia “Anverso” não recebeu qualquer alteração, seja de uma vírgula ou ponto (os poemas “Sobre o autor”, “Desilusão”, “Autocrítica”, “Rotina”, “Caos”, “Ocaso” e “Ilusões” receberam apenas pontuação e uma ou outra letra maiúscula, além do encurtamento do título de “Ilusões”, antes “Filme de ilusões”).

Mas, em Tasso Assunção, a intervenção de um ponto, uma vírgula, um dois-pontos, um hífen, reticências ou travessão não podem ser vistos como meras pontuações, até porque esses sinais, como os diacríticos, estabelecem relações, digamos, ideológicas, além de facilitar o diálogo entre o imobilismo gráfico, o dinamismo da leitura e a apreensão do sentido.

Logo no poema inicial, “Papel em branco”, Tasso maneja cirurgicamente o afiado bisturi de escritor: o primeiro dístico, que era “Vi no meu espaço / a ilusão de liberdade”, terminou ficando “Vislumbrei em nívea lauda / o prenúncio de liberdade”. Esses dois versos tiveram uma redação intermediária, que não chegou ao conhecimento do leitor: “Vi no meu espaço / o prenúncio de liberdade”. Uma correção anterior, feita à mão pelo autor, incluía uma vírgula após “liberdade”. Assim, para a Crítica Genética, três variantes antecederam a forma atual desse dístico. Nos dois versos seguintes do poema temos: “Espaço para o verbo, / a palavra, a voz, o grito...”. O que estava em “Desconexos” era: “espaço para o poema, / a palavra, a voz, o grito” – com minúscula inicial e sem pontuação ao final, justificada pela conjunção “e” do verso seguinte. O terceiro e último dístico ficou: “E vi o quanto é poética / uma página de silêncio!” Afora o “E” maiúsculo, praticamente nenhuma alteração... porque o leitor não sabe que o autor, intermediariamente, chegou a substituir o adjetivo “poética” por “lírica”, palavra que é, visivelmente, mais restritiva e menos... poética. Ao final desse poema, catorze alterações de percurso ocorreram entre a publicação inicial de 1986 e a forma atual, dezoito anos depois.

Para não cansar o leitor com minúcias e minudências de Crítica Genética, apenas listemos que, no poema “Palavra”, o terceiro verso da terceira estrofe (“A memória tece o elo”) era, antes: “No pensamento acontece o elo”. Nesse poema, corretamente, Tasso Assunção faz o crédito da frase-verso “a palavra não é coisa” ao seu autor, o sábio indiano Jiddu Krishnamurti, falecido em 1986, aos 90 anos.

Em “Autoconsciência”, “reflexos” vira “emanações”. Em “Sangue”, o verso inicial “Um grito de dor” substituiu a “O uivo de um lobo, um urro”. Nesse mesmo poema, o que era “preto” virou “negro”.

O poema “Farsa” era antes “Poeminha veloz” e o primeiro verso do segundo quarteto, agora “jejuns em devoção ao Salvador”, é a reescrita de “jejuns em respeito à morte de Jesus”.

Em “Continuidade”, o segundo verso do segundo dístico (“buscando a evasão”) e o primeiro do terceiro (“agrilhoado ao pensamento”) trocaram de posição, um ficando no lugar do outro, em relação ao livro de 1986.

No poema “À Teresa”, o poeta deixa de ser “talvez esquizofrênico” (edição de 1986) e admite-se “certamente incompreendido” (2004). Também tem outra certeza: deixa de ser “assaz apaixonado” e entrega-se: é “sem dúvida apaixonado”. O amor é lindo.

Em “Fantoches”, o que era “São (somos) levados de roldão / pelos tristes da vida” transformou-se em “Narcotizados por quimeras, / são levados de roldão pelos reveses da vida”. A aliteração “Artificiais, atores, atrozes, atrizes” foi precavidamente alterada, por receio de plágio, para “Artificiais, atônitos, soberbos, servis”..

No poema “Em relevo”, o terceto “Nossos corpos em sincronia, / energias se expandem, se deslocam, / delírio psicobiofisiológico” era anteriormente “Nossas vidas se misturam / energias se entrechocam, se deslocam / delírio fisiológico”.

Como visto, alguns poemas receberam novos títulos. Outro exemplo: o título do poema “Contracultura” era “Anos 80”. “Reminiscências” (que anteriormente se intitulava “Sombras”) teve três verbos “pensar” substituídos por sinônimos ou equivalentes: “aflorar”, “assomar” e “rememorar”. Os versos “recordações tornadas vívidas. / Artificialmente enaltecidas” são a reelaboração de “lembranças tornadas vividas. / Enaltecidas”. (Atente-se para o detalhe: com um simples acento agudo, o que era verbo – “vividas” – passou a adjetivo (“vívidas”) e deu mais leveza e riqueza ao poema). Outras alterações foram processadas nesse poema: onde está “Exatamente” era “Simplesmente” e onde se registra “renitentes” lia-se, antes, “revividas”.

Em “Pressentimento”, esse poema que nos deixa meio-sei-lá-assim-não-sei-o-quê, o verso “algo de infinito, de fundo-profundo” é a versão contracta de “Existe alguma coisa de infinito, de fundo-profundo”.

Por fim, em “Fé”, Tasso Assunção chegou à forma final do último terceto – “Crer ou não crer... / Mas não há ressurrectos, / quer creiam, quer não” – após tentar uma variante para o verso do meio: “Mas a morte sobrevém,”. O verso de 1986 era: “Mas a morte não crer [sic] na ressurreição”.

Como se vê, é longo, quase fastidioso, o processo de aperfeiçoamento de um trabalho literário (assim também na pintura, na arquitetura, na escultura, no cinema etc., com seus estudos, rascunhos, borrões, “storyboards”...). Nos “Meus Verdes Anos”, de José Lins do Rego, os estudiosos registram alterações interessantes: “aqueles estropiços do marido”, expressão que estava no manuscrito, virou “aqueles ‘gritos’ do marido”; a frase “até barão encheu o rabo com a desgraça do povo” transformou-se, no livro, em “até barão encheu o ‘papo’ com a desgraça do povo”.

* * *

Renomeando poemas, reduzindo versos, reestruturando estrofes, encolhendo sílabas, escolhendo palavras, Tasso Assunção vai agregando qualidade aos textos. A contenção é com tensão – e isso não se dá sem que o texto poético “haja sofrido um longo e não raro atormentado processo de gênese e modelagem”, no dizer do paulista Alfredo Bosi6, professor, crítico e historiador da literatura.

Alerte-se que a poesia de Tasso Assunção nem sempre é de fácil apreensão, não é linear. Mais que saber ler, é preciso ler com saber: “Historicamente o conceito de literatura está inextricavelmente envolvido com a presunção de qualidade tanto do texto quanto do leitor”, constata Frank Kermode, no prólogo a seu livro “Um Apetite pela Poesia”7. Por sua vez, bem-humorado e ferino, Georg Christoph Lichtenberg, físico, professor e escritor alemão do século XVIII, escreveu: “O livro é um espelho: se um asno o contempla,
não se pode esperar que reflita um apóstolo”.

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Seria necessário muito tempo e espaço, além de disposição, para, mais que listar prototextos e versos modificados, garimpar e avaliar as razões das modificações. Isto exigiria fôlego para um mergulho em profundidade nas águas do processo de criação, ou, nas palavras de Cecília Salles, “entrar na complexidade e fascínio do labirinto que guarda alguns dos segredos de como ideias são geradas, são desenvolvidas, são escolhidas, são rejeitadas, são retomadas e são transformadas”8.

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Se o homem é um rascunho de Deus, o livro é um rascunho do homem. Ambos, homem e livro, são um ser-a-vir no vir-a-ser da vida e do tempo. Do ser humano, o cientista Darwin dizia ser uma espécie em mutação que a natureza ainda não terminou. Do livro, o poeta inglês Auden dizia que era algo que não se terminava – abandonava-se. Portanto, a obra divina e a obra humana são assim marcadas por uma ética da incompletude, uma “estética do inacabado”9. Eterna gestação.

De qualquer forma, ainda que quantitativamente menor, o livro de Tasso Assunção está qualitativamente melhor. Beleza feita na mesa – de trabalho. É a estética da criação levando à criação da estética. Tasso é um grande poeta.

Poetasso.

* Edmilson Sanches

(1), (2), (8), (9) Cecília Almeida Salles, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em palestra em Paris (1995).

(3), (4) GRASS, Günter. “Ensayos sobre Literatura”. México, Fondo de Cultura Económica, 1983.

(5) DURAS, Marguerite. “Escrever”. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1994.

(6) Na apresentação ao livro “Universo da Criação Literária: Crítica Genética, Crítica Pós-Moderna”, de Philippe Willemart.

(7) Publicado no Brasil pela Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), em 1993.

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OBS. 1 – No ano de circulação da obra, o prefaciador era presidente da AIL.
OBS. 2 – Na 3ª edição de “Sinergia”, este prefácio foi publicado como posfácio.

(Coelho Neto, 9 de março de 1939 – São Luís, 4 de gosto de 2020)

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Mílson de Souza Coutinho morreu nesta terça-feira, em São Luís (MA). Era advogado, depois de ter sido procurador e de há dez anos (2009) aposentar como desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, do qual foi presidente.

Além de homem do Direito, foi homem do fato – jornalista, deixou impresso seu trabalho de redator em páginas de jornais como “Diário da Manhã”, “Diário do Norte”, “O Imparcial”, “Jornal do Dia” e “Jornal Pequeno”, colaborador de “O Estado do Maranhão” e “O Debate”, além de, na segunda metade da década de 1960, assessor de Imprensa da Prefeitura de São Luís. Pertenceu aos quadros da Associação de Imprensa do Maranhão e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Luís.

No Direito, Mílson Coutinho trilhou consistente e reto caminho em várias funções de homem da Lei, aplicando o conhecimento que amealhara antes, durante e depois de seu bacharelado na Universidade Federal do Maranhão, em 1972: foi assessor ou consultor jurídico de prefeituras e câmaras (inclusive câmaras constituintes) dos municípios de Buriti, Caxias, Coelho Neto, Coroatá, Duque Bacelar, Lago do Junco, Pedreiras e São Luís, além de, em 1989, assessor jurídico da Assembleia Estadual Constituinte. Foi conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA) por três mandatos. Foi membro da Associação dos Procuradores do Estado do Maranhão.

Na Magistratura, sua carreira foi cheia de responsabilidades profissionais e representações institucionais: foi vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Maranhão, membro do Colégio Brasileiro de Presidentes dos TREs; vice-presidente e presidente do Tribunal de Justiça, membro do Colégio Brasileiro de Presidentes dos Tribunais de Justiça.

Na política, não se omitiu; pelo menos tentou: foi suplente de vereador em Pedreiras (MA) e deputado estadual.

Na História, já não fosse Mílson Coutinho ele próprio um arquivo vivo, foi diretor do Arquivo Público do Estado do Maranhão. Sem esquecer que em sua história no Serviço Público, além das elevadas funções na Justiça, da assessoria e consultoria aos Poderes Legislativo e Executivo, Mílson também foi fiscal de Rendas, claro, cargo a que chegou também por concurso público. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (Cadeira 6) e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (Cadeira 24) e correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

Assim, Mílson Coutinho, com mérito e garbo, serviu aos três Poderes e ao maior dele: a Sociedade, para a qual deixou como herança uma rica bibliografia, onde aspectos ou estratos dessa mesma Sociedade foram o objeto de inspiração e transpiração, da lida e leitura, do cortejo e cotejo, da pesquisa e composição dos inúmeros trabalhos históricos, a que tanto dedicou tempo, talento, esforço e a própria saúde.

Como homem das Letras e Literatura, Milson de Souza Coutinho, já não bastassem as Letras jornalísticas e jurídicas, foi, na Prosa, consistente ensaísta e articulista, e, na Poesia, quiçá não tenha cometido seus versos... Era membro da Academia Maranhense de Letras (Cadeira 15), eleito em 10 de setembro de 1981 e empossado em 13 de maio de 1982, sucedendo ao meu conhecido, o gênio da Rua do Apicum, José Erasmo Dias (ou, “nobiliarquicamente”, como ele queria, José Erasmo de Fontoura e Esteves Dias, falecido em 1981) e sendo recepcionado pelo amigo escritor, editor e advogado Jomar Moraes (falecido em uma manhã de domingo, 14 de agosto de 2016). Seu legado bibliográfico é volumoso, tanto em livros quanto em jornais; nestes, a História é a grande homenageada pelas histórias de cidades, do Estado do Maranhão, do Poder Judiciário, da vida de pessoas...

Mílson Coutinho era também da Academia Imperatrizense de Letras, como sócio correspondente e da Academia Sambentuense de Letras. Na Academia Maranhense de Letras Jurídicas, ocupa a cátedra do magistrado maranhense João Inácio da Cunha (1781-1834), o Visconde de Alcântara, que advogado formado em Coimbra, foi ministro da Justiça e, antes, ministro do Supremo Tribunal de Justiça (hoje o Supremo Tribunal Federal) e senador.

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Mílson de Souza Coutinho tinha 81 anos e cinco meses. Era filho ilustre do município de Coelho Neto, a antiga Curralinho, cujo território, depois de pertencer a Brejo e a Buriti, fora ancestralmente de Caxias.

Mas as relações de Mílson Coutinho com minha cidade natal, Caxias, não se davam apenas pelo mesmo solo que fisicamente pisamos ou pelo idêntico barro ancestral que animicamente amalgamos.

Além de a área de sua cidade, em priscas eras, ser ou ter sido uma extensão geográfica da minha, Mílson já tinha sido procurador da Câmara Municipal caxiense, escreveu dois citados livros sobre minha cidade (“Caxias das Aldeyas Altas” e “Caxienses Ilustres”) e, além de colega no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, era meu Confrade como membro da Academia Caxiense de Letras – ACL (Cadeira 10, patroneada pelo poeta Déo Silva e fundada pelo escritor Rodrigues Marques) e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias – IHGC (Cadeira 24, patroneada por Sinval Odorico de Moura).

Por algumas boas vezes nos encontramos, Milson e eu, em Caxias e em São Luís. As conversas eram demoradas. Uma vez, falamos acerca da descendência (netos, bisnetos...) do escritor Coelho Netto, tema que havia trazido de viagem ao Rio de Janeiro, a pedido da minha amiga escritora e advogada Leila Miccolis, também roteirista de novelas de TV. Como nem o Tobias Pinheiro, em cujo apartamento carioca almoçamos, nem o Jomar Moraes e até mesmo Josué Montello conseguiram debulhar esse milho histórico, tratei disso com o Mílson, que lamentavelmente tampouco possuía informações sobre a família daquele conterrâneo comum e muito ilustrado.

Certa feita, em 2008, Mílson e eu nos encontramos em um mesmo evento, em São Luís. Ocorreu que eu fora eleito “Jornalista que Marcou Época”, com diploma expedido pela Universidade Federal do Maranhão, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação dos Correspondentes Estrangeiros, Sindicato das Agências de Propaganda do Maranhão, Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos (Aclem) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI). No hotel onde ocorria a solenidade, encontro Mílson, sozinho. Enquanto o evento ainda se estendia após a praxe cumprida, fomos conversar, os três – Mílson, eu e o cigarro dele em largos movimentos dos dedos à boca.

Em janeiro do ano passado, conversávamos eu e o conterrâneo caxiense e confrade de academias Jacques Inandy Medeiros, médico-veterinário, escritor, historiador, que, entre outros títulos, foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão, secretário de Educação de Caxias, presidente da Academia Caxiense de Letras (ACL) e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Meu amigo Jacques Medeiros me pedia que enviasse para ele cópia do discurso com que, em 29 de julho de 2000, no Hotel Alecrim, eu recepcionara seu irmão, o desembargador Antônio Carlos Medeiros e o amigo de ambos – Mílson Coutinho. Jacques, que, por sadio escrúpulo, foi amoroso mas econômico nas qualidades do próprio irmão, em relação a Mílson Coutinho elencou-lhe os muitos méritos. Jacques Medeiros, falecido em outubro de 2019, era homem de poderosa memória; precisava-se ouvi-lo em agradável rodada em mesa à frente do Excelsior Hotel, em Caxias, destilando e desfilando capitais, países e suas áreas territoriais, além de precisas informações históricas...

Por esses paradoxos que a existência e seu contrário alimentam, a morte de Mílson Coutinho é sua ressurreição em cada um de nós, os que interagimos com ele, de acordo com a quota de intensidade dessas interações.

Cada um tem um morto que vive diferentemente nas lembranças de cada um...

Como dito, fui, por designação, o acadêmico encarregado de fazer o discurso de recepção na solenidade de posse dos desembargadores e escritores Antônio Carlos Medeiros e Mílson de Souza Coutinho, há exatamente vinte anos – toda uma geração...

Com um travo na garganta e uma travessa no coração, reproduzo, a seguir, algo do pronunciamento com que, oficial e solenemente, Mílson Coutinho adentrava o pórtico da Casa de Letras caxiense naquele 29 de julho de 2000:

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“Quando Academias se reunissem em uma comunidade, sinos deveriam repicar, fogos deveriam espoucar, fogueiras deveriam crepitar, padres e pastores deveriam bendizer, coros e corais deveriam cantar e aleluias e hosanas se deveriam proclamar! Pois eis que, também quando Academias se reúnem, é quase certo, homens e mulheres se estão aproximando mais da imagem e semelhança daqueles que os criou – Deus. Pois o que é a Literatura, senão, mais que vaidade intelectual humana, permissão para exploração do potencial divino que está em cada um de nós?

“Por mais belos que sejam os vestidos e ternos, longos e ‘smokings’, por mais que se farte a gula de salgadinhos e se mate a sede de bebidas, por mais brilhos que tenham as joias, por mais beleza que tenha a eventual decoração, algo mais belo, mais alimentador e mais brilhante está neste instante sendo homenageado e fortalecido: o espírito humano.

“Mesmo que não o sintam os insensíveis, por mais que não acreditem os céticos, ainda que não vejam os cegos, algo provindo de nós (mas muito maior e melhor que nós) aqui nasce, ou renasce, aqui reina, aqui ‘rola’ – como diria nossa juventude em sua linguagem curta e carregada –: o espírito caxiense de amor ao Belo, à Cultura, à Arte e, claro, à Literatura, esta que é, literal e literariamente falando, a mais respeitada, a mais permanente, a mais charmosa das artes do Espírito: Literatura, o espírito da Arte!

“A Academia Caxiense de Letras reúne criaturas e criadores, autores e leitores, poetas e musas, para anunciar aos quatro ventos caxienses e maranhenses e brasileiros e universais – já que ventos não têm pátria –, que a Casa está em festa: chegaram novos velhos irmãos. E esta é a missão deste que lhes fala: saudar, com a pobreza vocabular dos limitados, a riqueza de espírito de iluminados. Meus Senhores: Caxias e sua Academia de Letras recebem, pródigos em sabedoria, seus filhos Antônio Carlos Medeiros e Mílson Coutinho.

“Mílson Coutinho, aliás, não é apenas filho, pois que assim ele se considera (e nós o consideramos também), filho de Caxias: ele é neto. Sim, antes de proclamar seu acendrado amor a Caxias, antes de merecer a maior láurea da terra – o título de cidadania caxiense –, antes de escrever, entre tantos livros que tem escritos e publicados, livros e textos muitos sobre a nossa cidade, Mílson Coutinho, por essas benquerenças do destino, veio a nascer em Coelho Neto. E quem nasce em terra de um filho de Caxias, é, no mínimo, filho duas vezes, é neto. E quem escreveu, há exatos 20 anos, uma obra como ‘Caxias das Aldeyas Altas’, é também irmão nosso”.

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Descanse em paz, Mílson.

A Academia Celeste acaba de ganhar um sócio especial...

* EDMILSON SANCHES

O Ministério da Educação autorizou as instituições federais de ensino médio técnico e profissional a suspenderem as aulas presenciais ou substituí-las por atividades à distância até 31 de dezembro de 2020, em razão da pandemia de covid-19. A portaria de autorização foi publicada hoje (4), no “Diário Oficial da União” e entra em vigor amanhã (5).

As instituições que optarem pela suspensão das aulas presenciais deverão repô-las integralmente, para cumprimento da carga horária total do curso, e poderão alterar os seus calendários escolares, inclusive os de recessos e de férias.

Já aquelas que optarem por atividades não presenciais deverão disponibilizar aos estudantes o acesso às ferramentas e material de apoio e às orientações para a continuidade dos estudos “com maior autonomia intelectual”. As atividades poderão ser mediadas ou não por tecnologias digitais.

De acordo com a portaria, os estágios e práticas de laboratórios também poderão ocorrer à distância desde que garantam a replicação do ambiente de atividade prática ou de trabalho, propiciem o desenvolvimento das habilidades e competências esperadas no perfil profissional do técnico, estejam de acordo com a Lei do Estágio sejam passíveis de avaliação de desempenho e aprovadas pela instituição de ensino.

Os estudantes de cada curso deverão ser comunicados sobre o plano de atividades com antecedência mínima de quarenta e oito horas da execução das atividades.

Em julho, o Ministério da Educação já havia estendido a autorização de aulas a distância em instituições federais de ensino superior até 31 de dezembro de 2020. A medida também flexibilizava os estágios e as práticas em laboratório, que podem ser feitos a distância nesse período, exceto nos cursos da área de saúde.

(Fonte: Agência Brasil)

O Ministério da Educação divulgou, hoje (4), as listas dos estudantes pré-selecionados na segunda chamada do Programa Universidade para Todos (Prouni). O resultado está disponível na página do Prouni. O prazo para comprovação das informações também começa hoje e vai até o próximo dia 11.

Os estudantes pré-selecionados devem comparecer às instituições de ensino e entregar os documentos que comprovem as informações prestadas no momento da inscrição. Quem perder o prazo ou não comprovar os dados será desclassificado.

Os candidatos que não foram pré-selecionados em nenhuma das duas chamadas do Prouni ainda podem disputar uma bolsa por meio da lista de espera. O prazo para que o candidato inscrito manifeste interesse nessa última etapa da seleção é de 18 a 20 de agosto. Nesse caso, o resultado será divulgado no dia 24 de agosto, e as informações devem ser comprovadas até o dia 28 do mesmo mês.

Bolsas de estudo

O Prouni é o programa do governo federal que oferece bolsas de estudo, integrais e parciais (50%), em instituições particulares de educação superior. Nesta edição, 440,6 mil estudantes inscritos disputaram 167,7 mil bolsas em 1.061 instituições.

Para concorrer às bolsas integrais, o estudante deve comprovar renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até 1,5 salário mínimo. Para as bolsas parciais (50%), a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários mínimos por pessoa.

Podem participar estudantes brasileiros que não possuam diploma de curso superior e que tenham participado do Exame Nacional do Ensino Médio mais recente e obtido, no mínimo, 450 pontos de média das notas. Além disso, o estudante não pode ter tirado zero na redação.

(Fonte: Agência Brasil)

A partir desta terça-feira (4), o Ministério da Educação (MEC) divulga o resultado dos candidatos pré-selecionados no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A complementação da inscrição desses estudantes começa hoje mesmo e continua até as 23h59 de quinta-feira (6). Nesta edição, 107.875 inscritos disputam 30 mil vagas, ofertadas em mais de 1,3 mil instituições de ensino superior.

Lista de Espera

Quem não foi selecionado na chamada única do Fies ainda pode disputar uma das vagas ofertadas por meio da lista de espera, em que a inclusão é automática. Nesse caso, o prazo de convocação continua até as 23h59 de 31 de agosto.

Programa

O Fies é um programa do MEC que concede financiamento a estudantes em cursos superiores não gratuitos, em instituições particulares de educação superior. O fundo é um modelo de financiamento estudantil moderno, dividido em diferentes modalidades, podendo conceder juro zero a quem mais precisa. A escala varia conforme a renda familiar do candidato.

(Fonte: Agência Brasil)