Após ter o lançamento adiado por 24 horas em decorrência de uma falha técnica, o nanossatélite brasileiro NanoSatC-Br2 foi lançado com sucesso nesta segunda-feira (22), às 3h07, a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. A desacoplagem do foguete Soyuz-2.1A – que leva no total 38 satélites, sendo o maior da Coreia do Sul – deve ocorrer por volta de 7h (horário de Brasília).
O lançamento do NanoSatC-Br2 foi transmitido ao vivo pela TV Brasile pela Agência Brasil.
Atraso por falha
Segundo informou a agência espacial russa Roscosmos – responsável pela missão –, uma avaria no foguete Soyuz que transportava 38 satélites, entre eles o brasileiro, foi identificada pelo corpo técnico do cosmódromo momentos antes do lançamento, na madrugada de sábado (20).
“Esses atrasos são muito comuns. Anomalias climáticas ou outros eventos que podem influenciar no lançamento estão sempre sendo monitorados. É uma pena, mas o processo todo requer muita segurança”, afirmou Michele Melo, assessora de Inteligência da Agência Espacial Brasileira (AEB), durante o programa especial da RV Btasil sobre o lançamento adiado.
Na ocasião, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, frisou a importância das medidas e checagens de segurança durante as missões. “Segurança em primeiro lugar, sempre!”, afirmou o ministro.
Sobre o NanoSatC-Br2
De dimensões modestas, o NanoSatC-Br2 pesa apenas 1,72 quilograma. Com 22 centímetros (cm) de comprimento, 10cm de largura e 10cm de profundidade, o satélite é menor que uma caixa de sapato. A principal missão do equipamento é monitorar a anomalia magnética do Atlântico Sul – fenômeno natural causado pelo desalinhamento do centro magnético da Terra em relação ao centro geográfico, característica que atrapalha a captação de imagens e transmissão de sinais eletromagnéticos numa determinada faixa do céu –, mas ele também servirá de ferramenta de pesquisa para estudantes de diversos campos: engenharia, aeronomia, geofísica e áreas afins.
O projeto é um esforço conjunto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul e da Agência Espacial Brasileira (AEB). O NanoSatC-Br2 ficará situado a cerca de 500 quilômetros de altitude – na camada da atmosfera chamada Ionosfera – e fará uma órbita polar héliossíncrona, ou seja, o NanoSatC-Br2 cruzará a circunferência entre Polo Norte e Polo Sul, mas sempre no mesmo ponto em relação ao Sol, em ciclos constantes.
O custo estimado do NanoSatC-Br2 - entre desenvolvimento, lançamento e operação – é de cerca de R$ 1 milhão, de acordo com Michele Melo, assessora de Inteligência da Agência Espacial Brasileira (AEB).
O nanossatélite permitirá a capacitação de profissionais em diversos campos relacionados à ciência e tecnologia. “Os alunos vão ajudar na operação do nanossatélite. O contato principal é depois de o equipamento lançado. Eles vão obter os dados científicos que estão chegando à Terra. O fato de os alunos terem esse contato na graduação é fantástico porque eles conhecem como funcionam o mercado de satélite e todo o processo que envolve a fabricação e aquisição de equipamentos, lançamento e operação dele no espaço”, afirmou o professor Eduardo Escobar Bürger, da UFSM.
Missão conjunta
O lançamento do NanoSatC-Br2 é fruto da parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a AEB e a Roscosmos – a agência espacial russa. O satélite brasileiro é um dos 38 dispositivos que estão carregados no foguete Soyuz-2.1A que parte hoje do Cazaquistão. A missão envolve Brasil, Rússia e outros 16 países – a maior parceria aeroespacial internacional para lançamentos de satélite registrada até hoje.
O governo federal lançou, neste domingo (21), uma cartilha para conscientizar a população da Amazônia sobre os riscos e prejuízos das queimadas para a saúde das pessoas e para a economia do país. O público-alvo da publicação são os alunos do ensino fundamental 2. O lançamento ocorre no Dia Internacional das Florestas, comemorado hoje.
O assunto foi um dos temas da entrevista que o vice-presidente Hamilton Mourão concedeu ao programa A Voz do Brasil, na última sexta-feira (19). Mourão disse que a escolha de alunos para direcionar o conteúdo foi feita porque esse público já iniciou os estudos sobre os biomas brasileiros e compreendem essa realidade:
“Acreditamos que jovens conscientes vão atuar como multiplicadores do tema, passando essa mensagem à frente, para seus familiares e seus amigos”.
A cartilha Diga Sim à Vida e Não às Queimadas será distribuída aos jovens pelo Ministério da Educação e também por outros ministérios que integram o Conselho da Amazônia Legal, assim como pelos governos e secretarias do Meio Ambiente dos nove Estados que fazem parte da Amazônia Legal. O conteúdo, em um formato diferente, também estará disponível nas mídias sociais.
“Nós sabemos que [rede social] é um dos principais instrumentos que os jovens usam para sua comunicação, e também [vamos usar] veículos de comunicação nacionais e regionais. Destaco que o conteúdo da cartilha busca apresentar os riscos que as queimadas oferecem e estimular o uso de métodos alternativos e mais seguros no preparo do campo e também visa a orientar as medidas de proteção à saúde, que pode ser abalada em função da fumaça”, disse Mourão.
Durante a entrevista, Mourão também comentou sobre a Operação Verde Brasil 2, implementada para o combate ao desmatamento e às queimadas ilegais na Amazônia. “Viemos obtendo sucesso hoje em dia com redução de 23% do desmatamento ilegal”, disse.
A cartilha é um reforço à campanha de mesmo nome, lançada no ano passado, que contou com várias peças de conscientização sobre o tema.
Entre lendas, fantasias, notícias imaginadas, críticas, homenagens, vida cotidiana, vilões, heróis, tragédias, comédias, histórias de realismo fantástico... Verso a verso, cabem mil mundos nos pequenos folhetos de páginas simples e, ao mesmo tempo, profundas. Há quem conheça o cordel por seu formato em curtas brochuras impressas e que eram vendidas em cordões nas feiras e mercados. As estrofes da literatura de cordel são companheiras de Abraão Batista, de 85 anos de idade, desde 1949, na cidade sertaneja de Juazeiro do Norte (CE).
O autor é considerado um dos maiores cordelistas brasileiros. “Para fazer o cordel, é preciso disciplina, de métrica, de simetria. É como um poema quase prosa. É alguém que registra os acontecimentos. E o cordel é lido por gente de todas as classes sociais”, disse, em entrevista (por telefone) à Agência Brasil. Batista, que é professor aposentado e xilogravurista, autor de mais de 300 cordéis (com o primeiro livro O menino monstro, publicado em 1970), escreve, ainda com muito fôlego, sobre tudo o que vê e ouve. Assim será também neste domingo (21), Dia da Poesia, no sítio em que mora. Para se proteger da pandemia, não vai pra rua. Lápis e papel ficam em constante atividade.
“Minha mãe era uma grande leitora de cordel”, diz o artista
“Agora que eu andei
pelas florestas do além
penetrei no inconsciente
íntimo que cada um tem,
sinto-me autorizado
para escrever o que vem”
(em Luta de um homem com um Lobisomem, 2013).
“Agora, estou escrevendo Era Uma Vez o Cão Coronavírus, uma história sobre a luta contra essa pandemia”. O cordelista começou a poetizar há mais de sete décadas sob inspiração da mãe, a pernambucana Maria José, apreciadora da leitura de cordel. Passar o amor pelo texto rimado de geração para geração é uma característica da história dessa família cearense: o filho, Hamurábi (também no Ceará), e a neta de Abraão, Jarid Arraes (hoje em São Paulo), também fizeram da vida uma prosa poética cordelista. “Fico muito alegre (pela família) e também pelos cordelistas novos que estão começando. É preciso disciplina e prestar atenção nas regras”. O artista aprecia tratar de temas da história do Nordeste e do país.
Hamurábi, o filho de 50 anos de idade, prestou tanta atenção no que o pai ensinou que seguiu os passos e também já fez história. São cerca de 250 cordéis editados e publicados. “Desde criança, eu vi meu pai escrevendo de perto e aprendi com ele. Eu comecei a fazer poesia com inspiração modernista. Queria ser diferente da cultura popular que brotava dentro de casa. Em 1991, dei o braço a torcer e escrevi o meu primeiro cordel. Tinha 20 anos”. Passou a escrever sobre personagens históricos com a intenção de auxiliar professores em sala de aula. Depois de uma crítica da filha (a escritora Zarid Arraes), passou a escrever também sobre mulheres.
“Para ser cordel, tem que ser popular”, diz o autor
Aliás, a filha, hoje com 30 anos de idade e que tem carreira consolidada e premiada como escritora em São Paulo (SP), da terceira geração dessa família de cordelistas, foi responsável por publicar um livro que tem uma série de 15 cordéis com o título de Heroínas Negras Brasileiras. A filha enche a família de orgulho.
Ela foi a vencedora do Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da Biblioteca Nacional e finalista do Jabuti com o livro de contos Redemoinho em Dia Quente, sobre mulheres que não se encaixam em padrões.
O caminho do sucesso da filha veio da simplicidade dos versos do cordel. “É uma literatura popular feita por pessoas simples usando um material acessível para que todos possam ter facilidade de ler. Antes, o cordel era uma prosa. No Brasil, assumiu essa forma de versos. Não deixa de ser poesia porque é de versos livres. Ele só deixa de ser cordel se deixar de ser acessível”, afirma Hamurábi Batista.
O autor faz cordel por encomenda também. Abraão e Hamurábi têm máquina de impressão e encadernação em casa, o que os torna independentes de gráfica. Mas o faturamento caiu durante a pandemia e, por isso, o filho pretende trabalhar em outras áreas enquanto a crise sanitária reduz a renda.
Influências
Um fã declarado da família cearense é o cordelista brasiliense Davi Mello, de 31 anos, que se envolve com a arte desde 2013, desde que ouviu em um evento o cordel que contava a luta do acarajé contra o sanduíche americano. Influenciado pela obra de Ariano Suassuna e por artistas populares, o rapaz se aprofundou. “Conheci o Abraão Batista em 2017, na Feira do Livro, quando fiquei encantado de ver aquela banca recheada de cordel. Eu disse a ele que estava tomando coragem, e ele me incentivou”.
No ano seguinte, foi até Juazeiro do Norte quando produziu o primeiro cordel impresso. No mesmo ano, lançou o cordel Profecia Instrumental, que trata sobre música popular e cada instrumento. Ficou à vontade e criou a origem do pife por uma sereia (A Sereia Pifeira). É sobre uma origem encantada do instrumento. Ficou quatro anos pensando nessa história. Na semana passada, criou, em áudio, a Peleja de Lampião Contra o Coronavírus. “Na pandemia, criei bastante. Transformou-se numa forma de me expressar. Meus cordéis não costumam ser engraçados. Trago algo mais místico”. Os trabalhos costumam ter 32 estrofes com sete versos em cada uma delas.
Outro brasiliense cordelista (e repentista) João Santana (leia cordéis do autor), de 41 anos, e que, desde 2001, atua com esses tipos de artes. “O processo criativo entre o cordel (no papel) e o repente (falado) é diferente. O conceito básico da rima e da métrica é comum. No improviso do repente, cada estrofe é completa. Eu gosto de cantar assuntos como paz, amor, paixões alegria. Eu gostava de compor poesias desde muito jovem”. O trabalho que ele tem mais orgulho é um cordel sobre a origem do repente. Uniu as duas grandes paixões.
Bem imaterial
Esses versos que circulam de banca em banca, de mão em mão, por todo o país têm reconhecimento como bem imaterial da cultura brasileira, conforme divulga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Um exemplo é que, desde 2018, a literatura de cordel é inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão. O órgão ainda aponta a necessidade de salvaguarda desse tipo de cultura quando aponta a necessidade de que deve prestar apoio à realização de eventos organizados por cordelistas, à circulação dos produtos e também para inclusão da atividade em escolas públicas. (leia registro do Iphan com histórias de artistas brasileiros) Métrica, rima e oração, os três elementos do cordel, podem formar uma lição de casa inspiradora para futuras gerações.
Um encontro de mestres do cordel está marcado para todos os sábados, de março a abril deste ano, sempre às 16h, no canal do YouTube Amo Cordel. Criado, em 2020, pela Associação de Amigos do RJ, a iniciativa tem o objetivo de difundir, salvaguardar e promover a literatura de cordel.
Sexta-feira próxima passada, o desembargador Tácito Caldas, por meio de uma telefonada comunicava-nos da resolução do prefeito Vicente Maia Neto, do município de Paço do Lumiar, que inauguraria no sábado, na localidade Itapera, uma escola e que esta tomaria o nome de Escola Rural NASCIMENTO MORAES. O convite estava feito e tínhamos de comparecer e em comparecendo, em nome da família, agradecer a homenagem à memória de Nascimento Moraes, o mestre inesquecível. O desembargador Tácito e a organização do programa oficial queriam a ajuda para que nada faltasse à solenidade. E fomos. Com o poeta da Academia dos Novos Murilo Sarney, a incumbência de nos apanhar em casa e, se possível, levar o José Chagas. Murilo cumpriu a risca a sua missão.
E chegamos. Já conhecíamos o município porque ali já tínhamos estado visitando o ex-vereador Luís Alves, em companhia do querido amigo, jornalista brilhante Erasmo Dias. Mas o município, agora, estava diante de nós, um desafio à nossa curiosidade, um mundo de terra sob a plantação do trabalho construtivo dos que o idealizaram, dos que sempre lutaram por ele, pelo seu crescimento, seu progresso e seu desenvolvimento. Olhamo-nos assustados. Dentro de nós, confessamos, o tumulto das incompreensões. Mas, vibrante, quadro vivo duma administração que começa a ampliar-se com mais determinação, ele, o município de Paço do Lumiar.
E o município tem história e tradição. Sentíamos que ali estava, de verdade, um município jovem, uma terra no aceleramento para a conquista duma maioridade esplendorosa. Não, o Paço não era uma lenda. Existia. Estava ali na moldura da vida política e social e econômica do Estado. Ele e sua população. Ele e seus problemas. Ele e a execução dum trabalho já iniciado em marcha para outras realizações.
E lá estavam outros convidados, autoridades estaduais, intelectuais, o prefeito Vicente Ferreira Maia Neto. Muita gente. Lá, estava o desembargador Tácito e sua família. Com a sra. Tácito Caldas, o programa da recepção. E, antes de assistirmos à inauguração do prédio escolar, fomos olhar, de perto, o município de Paço do Lumiar. E demos logo de cara com o prédio do hospital! Sim, lá estava a casa de saúde do município. Uma casa ampla, arejada, com seus compartimentos. Lá, a presença duma enfermeira. Olhamos tudo. O hospital, isto sim, precisa funcionar. Mas mesmo assim, fornece medicamentos, e a população procura o hospital para receber o benefício. E pensar-se que fora, na ferrugem da politicalha, no azinhavre da campanha sórdida, desonesta, este hospital nunca existiu. Existia apenas na fulguração duma arranjada prestação de contas! Mas, sim. O hospital está lá, e lá estão outros prédios do município, a usina elétrica, mantendo, com regularidade, o fornecimento da luz. Lá, estava a prefeitura, o prédio da cadeia pública. Bons prédios. Lá, estava a igrejinha, o templo de oração. As imagens. O silêncio numa mensagem de Cristo no coração da gente. Tudo no município a refletir ordem, trabalho, compreensão e ajuda de todos.
Depois, partimos para Itapera. Lá, já nos esperava a população da localidade e do município. Lá, estava a escola. Um bom prédio. Construção moderna. Boa instalação. Lá, os alunos, as professoras, os vereadores. E, com a nossa presença, teve início a solenidade.
Falou o prefeito Vicente Ferreira Maia Neto. Falou o comandante da Polícia Militar do Estado. Falou um dos vereadores, falou o engenheiro Cordeiro, a professora da escola. Bons discursos. Com todos, a alegria, a emoção. Com Tácito Caldas, também a palavra clara, precisa, dando uma melhor explicação sobre a administração do município, ressaltando alguns aspectos. Tudo bem ordenado. Tudo num ambiente de encantamento. E, por fm, coube a nós agradecer a homenagem que ali se prestava ao inesquecível prof. Nascimento Moraes.
E começamos a falar. Relembramos o Nascimento, uma prece de amor e de respeito. Diante de nós, aquelas crianças, aqueles alunos, aquela gente boa, o povo de Paço do Lumiar. E, à parte, a assistência da gente intelectual. E falamos. Dentro de nós, o desejo de dar àquelas crianças, ali, a justificativa da homenagem. E o improviso ajudou. Sentimos que a missão fora cumprida sem exagero. As palavras tinham a força da sinceridade. No agradecimento, uma mensagem de confiança. Aquela Escola Rural Nascimento Moraes vai mesmo progredir, vai mesmo prosperar. Outras escolas serão abertas. Paço do Lumiar está dentro do esquema político das reformas democráticas. Com o prefeito Vicente Mais Neto, o propósito de insistir, de lutar mais para que o Paço mais cresça, mais se desenvolva.
E, aqui, fazemos um apelo ao nosso amigo dr. Murad: vá, doutor. O Paço está lhe esperando. E se você, Murad, puder ajudar, ajude, coopere. Lá, esta um povo aguardando a sua presença. Aquele hospital tem que funcionar.
E prefeito Vicente Maia, mais uma vez, em nome da família, muito obrigado pela homenagem.
* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 13 de abril de 1967 (quinta-feira).
Para os compostos formados com a preposição “de”, somente o primeiro elemento vai para o plural: pés de moleque, pães de ló, copos-de-leite, donas de casa, pores do sol…
O caso de “fora da lei” é que FORA é advérbio. Isso significa que é invariável (não faz plural). Por isso... “fora da lei” e “fora de série” não se flexionam: os fora da lei e os fora de série.
2ª) Corrimãos OU corrimões?
As duas formas são corretas e estão registradas nas edições mais recentes dos nossos principais dicionários.
Como o plural de “mão” é “mãos”, o plural original de “corrimão” é “corrimãos”.
No Brasil, a tendência natural para as palavras terminadas em “-ão” é fazer plural em “-ões”. A forma “corrimões” foi consagrada pelo uso e pelo tempo. Por isso... já aparece registrada em nossos dicionários.
3ª) Guarda civil OU guarda-civil?
“Guarda civil” (sem hífen) é o grupo de “guardas-civis”, ou seja, de guardas que não são militares. “Guarda-civil” (com hífen) é cada um dos guardas que formam a guarda civil.
4ª) Por que Grajaú tem acento?
As palavras oxítonas terminadas em “u” não recebem acento gráfico: Bangu, caju, bauru*, urubu, Nova Iguaçu...
“Grajaú” tem acento pela regra do “u” e do “i”, que recebe acento agudo quando forma hiato com a vogal anterior: Gra-ja-ú, ba-ú, sa-ú-de, ga-ú-cho, vi-ú-va, sa-ú-va, con-te-ú-do, sa-í, sa-í-da, a-tra-í-da, pos-su-í-do…
Isso explica por que Pacaembu e Parati não têm acento, mas Anhangabaú e Icaraí recebem acento agudo.
* bauru – [Culinária] baguete com fatias de rosbife, queijo, tomate, alface, entre outros.
Bauru – antropônimo.
5ª) Qual é o diminutivo de MÁ?
Se o diminutivo de BOA é “boazinha”, o de MÁ é “mazinha” (sem acento agudo).
A palavra MÁ tem acento gráfico pela regra dos monossílabos tônicos. Os terminados em a(s), e(s) e o(s) devem ser acentuados graficamente: pá, já, lá, má, fé, pé, mês, três, pó, pôs…
No diminutivo, há a mudança da sílaba tônica. Por isso... não há acento gráfico: “mazinha”.
6ª) A ponto de OU ao ponto de?
1) “A ponto de” deve ser usado com o sentido de “prestes, próximo a”: “Ele está a ponto de ser demitido”; “Ela esteve a ponto de se casar com o seu primo”.
2) Em “ao ponto de”, a palavra “ponto” pode significar “momento ou lugar determinado”: “A água chegou ao ponto de ebulição”; “O atleta já chegou ao ponto da largada”.
7ª) Em torno de OU entorno?
1) “Em torno de” significa “em volta de ou aproximadamente”: “Houve muitas brigas em torno do estádio”; “Havia em torno de dez mil torcedores no estádio”.
2) “Entorno” é substantivo e significa “o que rodeia, arredor, cercania, vizinhança”: “As brigas foram no entorno do estádio”; “Os imigrantes viviam no entorno da cidade”.
8ª) Bispa OU episcopisa?
Nos primórdios do cristianismo, mulher que "exercia funções sacerdotais era chamada de “episcopisa”. Seria a forma feminina de “bispo”.
“Episcopado” é corporação de bispos. Hoje em dia, no catolicismo, “bispo” é função exclusiva para homens; mas, em outras igrejas, mulher pode ser bispo e a forma BISPA, ainda sem registro em nossos dicionários, vem sendo consagrada pelo uso.
Nada impede que, num futuro breve, a forma BISPA apareça registrada em nossos dicionários.
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) já registra.
9ª) Demais OU de mais?
1) DEMAIS significa “excesso, muito, demasiadamente ou o restante”: “Ela trabalha demais”; “Comeu demais”; “Os demais podem voltar para casa”.
2) DE MAIS equivale a “a mais”, opõe-se a “de menos”: “Recebeu dinheiro de mais (= a mais)”; “Não tem nada de mais (nada de menos)”.
Teste da semana
Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas das frases a seguir:
1ª) É preciso que __________ esta parede.
2ª) Nesses casos, eu sempre me __________.
3ª) Eu nunca __________ as coisas furtadas.
(a) se demula / precavenho / reavenho;
(b) se demula / precavejo / reavejo;
(c) seja demolida / previno / recupero;
(d) se destrua / precavenho / reavejo;
(e) se derrube / precavejo / reavenho.
Resposta do teste: letra (c).
Os verbos DEMOLIR, PRECAVER-SE e REAVER são defectivos (= conjugação incompleta). Não existem as formas “demula”, “precavenho”, “precavejo”, “reavenho” e “reavejo”. Uma solução pode ser mudar a construção da frase: “seja demolida” (voz passiva). Outra solução é buscar um verbo sinônimo: prevenir-se (precaver-se) e recuperar (reaver).
Com cerca de um quilômetro de diâmetro e por volta de 550 metros de largura, o asteroide 2001 FO32 passará, neste domingo (21), muito perto da Terra, segundo padrões astronômicos.
Formado nos primórdios do Sistema Solar e viajando a, aproximadamente, 124 mil quilômetros por hora (km/h), o asteroide não ameaça colidir com a Terra, apesar de ter sido classificado como “potencialmente perigoso” pela Nasa.
“Conhecemos a rota orbital do 2001 FO32 ao redor do Sol precisamente, já que ele foi descoberto há 20 anos e tem sido rastreado desde então”, afirmou o diretor do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra da agência aeroespacial norte-americana (Nasa), Paul Chodas. “Não há risco de colisão dele com nosso planeta nem agora, nem nos próximos séculos”.
A maior proximidade do asteroide com a Terra será por volta das 13h (horário de Brasília) deste 21 de março. De acordo com a Nasa, ele estará a uma distância de cerca de 2 milhões de km – o equivalente a pouco mais do que cinco vezes a distância entre a Terra e a Lua.
Segundo a agência, o F032 é o maior entre os asteroides que se aproximarão da Terra em 2021 – o que proporcionará aos astrônomos “uma rara oportunidade de se observar uma relíquia rochosa que se formou no início do nosso sistema solar”.
A próxima visita do asteroide às vizinhanças da Terra está prevista para 2052, quando ele passará a cerca de sete distâncias lunares, ou 2,8 milhões de quilômetros do planeta.
De acordo com a Nasa, mais de 95% dos asteroides próximos à Terra com tamanho similar ou maior ao do F032 já foram descobertos, rastreados e catalogados. Nenhum deles tem qualquer chance de impacto direto com o planeta.
“Ainda assim, os esforços continuam para descobrir todos os asteroides que podem representar um risco de impacto. Quanto mais informações puderem ser reunidas sobre esses objetos, melhor os projetistas de missões podem se preparar para desviá-los se algum ameaçar a Terra no futuro”, destaca a agência.
Neste sábado, 20 de março, é comemorado o Dia Internacional da Felicidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) celebra a data desde 2013, como uma forma de reconhecer a importância da felicidade na vida das pessoas em todo o mundo. Em 2015, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável , que buscam erradicar a pobreza, reduzir a desigualdade e proteger o planeta – três aspectos essenciais que levam ao bem-estar e à felicidade.
A ONU convida todas as pessoas de qualquer idade a se juntarem à celebração do Dia Internacional da Felicidade. Mas, depois de um ano de pandemia, é preciso de uma dose extra de esforço para lidar com as emoções que bloqueiam e diminuem a felicidade, dizem os especialistas.
Na opinião do professor da Felicidade da Universidade de Brasília (UnB) Wander Pereira, é possível comemorar a data no período de pandemia e em outros momentos de incertezas. “A vida é feita de situações e momentos distintos e cada um deles requer um tipo de emoção e sentimento. É lógico que diante das perdas de vidas humanas (próximas ou não) de uma forma tão dramática como a que vivemos, não há como não ficar triste indignado e até revoltado, mas a vida não é só isso”, destaca Pereira, doutor em psicologia pela UnB. Ele completa:
“Felizmente, a vida segue, e cada um de nós tem pais, filhos, namoradas, namorados, maridos, esposas, amigos, casa, trabalho, etc. ou seja, uma vida para cuidar. Então, é preciso estarmos aptos a desfrutar das situações de felicidade. A infelicidade que a pandemia nos trouxe não pode contaminar as outras coisas boas da nossa vida, portanto, o Dia Internacional da Felicidade é um dia para celebrar sim!”
No entanto, diante da realidade posta, não é aconselhável negar as emoções negativas, explica o professor. “As grandes catástrofes nos impõem medo, insegurança e incerteza, e isso é normal. Quem não sentir isso está meio fora da curva. Não é recomendável renegar as emoções ditas negativas, devemos abraçá-las e nos engajarmos para transformá-las em vivências significativas! Aquele tipo de atitude que melhora o nosso modo de lidar com elas.
Uma dica é não ficar parado, estacionado na tristeza. Mova-se, comece com pouco, mas faça o melhor com o que você tem!”
Relacionamentos e a felicidade
O isolamento social que a pandemia exigiu levou ao distanciamento social entre as pessoas em geral, mas levou a aproximação entre os casais e os núcleos familiares mais íntimos. No entanto, essa aproximação pode ter levado ao aumento da separação entre casais. O número de divórcios consensuais realizados pelos cartórios de notas do país, durante a quarentena decretada pela pandemia do novo coronavírus, entre os meses de maio e junho do ano´passado, aumentou 18,7%.
“Possivelmente, os relacionamentos que já estavam adoecidos antes da pandemia não tenham resistido a esse período. Mas, muitos relacionamentos foram 'reformados', reinventados e outros tantos começaram em meio à crise. Ouço as pessoas falando que a pandemia trouxe uma oportunidade de reflexão para a humanidade e discordo disso. A humanidade é um conceito etéreo, a pandemia está sendo uma grande oportunidade para cada um de nós como pessoas. Para iniciarmos aquele processo de transformação que, por comodismo, vínhamos ‘empurrando com a barriga’, a hora é agora”, opina o professor.
Segundo ele, este é o momento ideal para o autoconhecimento. “Em momentos extremos, nossos sentimentos mais básicos afloram, tudo ganha outra magnitude. Então, aproveite para se conhecer melhor, se aprimorar e se preparar para viver relacionamentos mais saudáveis, mais verdadeiros”, orienta.
Dinheiro não traz felicidade?
A velha máxima de que “dinheiro não traz felicidade” ganha outro sentido durante a pandemia, época em que grande parte da população passa por crise financeira, e milhares ficaram sem emprego e renda. Na opinião do professor, dinheiro é importante, mas não é tudo.
“Ter muito dinheiro não é garantia de felicidade. O problema é que, sim, pouco dinheiro nos deixa infelizes. Os países com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos também são os piores nos rankings de felicidade. Porém, o grande diferencial é o jeito com que você vive sua vida, a pesquisa de Havard Study of Adult Development (a mais longeva sobre felicidade) conclui que, para nos mantermos felizes e saudáveis ao longo da vida, é preciso investir na qualidade dos nossos relacionamentos sociais”.
Ele destaca que é preciso solidariedade e força de vontade política para atenuar a situação dos mais afetados pela falta de dinheiro. “É importante que no pós-pandemia todos nós tenhamos essa preocupação com as pessoas que perderam seus empregos e sua renda, sermos solidários, mas é óbvio que será preciso políticas sociais dos governos para atenuar a situação”.
Nessa sexta-feira (19), a ONU divulgou o Relatório Mundial de Felicidade no qual o Brasil ocupa agora o 41º lugar, nove posições abaixo do ranking de 2020. A nota atribuída ao Brasil, baseada em dados de 2020, é de 6,110. Essa é a menor média para o país desde 2005, quando o instituto de pesquisas começou sua avaliação.
O relatório também apontou que a infelicidade aumentou no mundo todo, tendo havido maior insegurança econômica, ansiedade, perturbação de todos os aspectos da vida e, para muitas pessoas, estresse e desafios para a saúde física e mental. “O pior efeito da pandemia foram 2 milhões de mortes por covid-19 em 2020. Um aumento de quase 4% no número anual de mortes em todo o mundo representa uma grave perda de bem-estar social”, afirma o documento. O relatório é feito anualmente para analisar a percepção do sentimento em 153 países. A Finlândia é o país mais feliz do mundo, pelo quarto ano consecutivo.
Felicidade da população feminina
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, um fenômeno batizado como “paradoxo da felicidade feminina” mostra que, apesar de todas as conquistas ao longo dos anos, as mulheres estão mais infelizes. É o que diz uma pesquisa feita pela organização CARE, que mostrou que elas têm quase três vezes mais probabilidade de relatar ansiedade, perda de apetite, incapacidade de dormir e dificuldade em concluir as tarefas diárias.
Para chegar a esse resultado, foram ouvidas mais de 10 mil pessoas em 38 países, incluindo os da América Latina. O levantamento foi feito pela CARE Internacional, uma rede que possui mais de 60 anos de experiência em ajuda humanitária e no combate à pobreza.
As causas são diversas e ampliadas com a pandemia. Dos milhões de demissões observadas nos primeiros meses de pandemia, as mulheres formaram o maior grupo, tanto em países desenvolvidos quanto nas nações em desenvolvimento. Ainda há a discrepância na divisão do trabalho doméstico.
Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou que 63% das mulheres fazem trabalhos relativos aos cuidados com a casa contra apenas 23% dos homens. No acompanhamento da escola remota, quase toda a carga da atenção às crianças é novamente delas, a pesquisa apontou que 71% eram mulheres e apenas 19%, homens.
E com mais um ano de pandemia pela frente, é preciso resiliência e conhecimento para que as mulheres sejam felizes, apesar do momento delicado e das adversidades da vida. “A felicidade não deve ser alicerçada em condições externas – isso a torna quase inviável. Ela é uma construção feita sobre dois pilares: a vivência de mais emoções de valência positiva que negativa e a percepção de se ter uma vida significativa. O segundo pilar – da vida significativa, do propósito – é o que nos sustenta diante dos desafios”, aponta a pesquisadora Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência.
Neste momento, o desenvolvimento da resiliência é um fator positivo. “A resiliência é compreendida como a habilidade de navegar em busca de recursos para funcionar de maneira positiva em situações adversas: sem adoecer a médio e longo prazo. Manter-se em situações tóxicas não é o desfecho esperado de um processo de resiliência. Não se deve acreditar no mito de que suportar toda e qualquer situação é sinônimo de resiliência. O que se espera como desfecho saudável é: recuperação, adaptação ou transformação positivas”, explica Carla.
Segundo a pesquisadora, mudar o “paradoxo da felicidade feminina” é um trabalho coletivo, de homens e mulheres. “Para mudar essa realidade, é preciso real equidade de gênero, seja no ambiente profissional ou familiar. Tomemos a pandemia, por exemplo, as mulheres estão sobrecarregadas com trabalho, cuidados com a casa e acompanhamento de atividades escolares dos filhos. Elas têm quase três vezes mais probabilidade de relatar ansiedade, perda de apetite e incapacidade de dormir”, destaca.
Com a pandemia, a vulnerabilidade das mulheres tornou-se ainda mais evidente. Para encarar mais um ano de pandemia, a pesquisadora recomenda atenção redobrada à saúde mental, a partir da adoção de práticas protetivas. “Destaco aqui a importância do descanso, em especial do sono restaurador. Não é normal dormir pouco, pode ser usual, mas não deve ser considerado normal. O estabelecimento de uma rede de apoio é outra medida essencial, a travessia ainda não acabou e teremos maior resistência ao lado de pessoas significativas. E, diante da impossibilidade de lidar efetivamente com a rotina, há sempre possibilidade de buscar assistência especializada”, finaliza a especialista.
História do dia da felicidade
A Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 66/281, de 12 de julho de 2012, proclamou 20 de março o Dia Internacional da Felicidade, reconhecendo a relevância da felicidade e do bem-estar como objetivos e aspirações universais na vida dos seres humanos em todo o mundo e a importância de seu reconhecimento nos objetivos de política pública. Também reconheceu a necessidade de uma abordagem mais inclusiva, equitativa e equilibrada para o crescimento econômico que promova o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, a felicidade e o bem-estar de todos os povos.
A resolução foi iniciada pelo Butão, um país que reconheceu o valor da felicidade nacional sobre a renda nacional desde o início dos anos 1970 e adotou a meta de felicidade nacional bruta sobre o produto interno bruto. Também sediou uma Reunião de Alto Nível com o tema Felicidade e Bem-estar: Definindo um Novo Paradigma Econômico, durante a 66ª sessão da Assembleia Geral.
Raul Bopp, o criador deste épico, nasceu em Tupanciretã [hoje Santa Maria – Rio Grande do Sul], em 4 de agosto de 1898, e morreu no Rio de janeiro, em 8 de junho de 1984. Poeta e diplomata. Ao longo da vida, foi pintor de paredes para sobreviver. Seu curso de direito foi feito aos pedaços, em Porto Alegre, Recife, Belém e Rio de Janeiro. Morando em São Paulo, na década de 20, tomou parte do Movimento Modernista, facção Antropofagia, ao lado de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, sendo este poema, “Cobra Norato”, o maior cometimento desse ângulo do movimento. A carreira diplomática começou em 1932, tendo servido na cidade de Yokohama, no Japão, onde fundou o jornal “Correio da Ásia”, serviu, também, em Lisboa, Zurique, Barcelona, Guatemala, Berna, Viena e Lima. Ficou famoso com o livro que melhor representava as tendências nacionalistas da Semana de Arte Moderna, de 1922. “Cobra Norato”, homônimo de uma lenda amazônica contada por Luís da Câmara Cascudo, é ainda, para muitos, a “obra de Raul Bopp, um poema telúrico, rico de expressões regionais. Ele representa toda uma mitologia, a terra, os rios, os bichos, o índio num estilo simples, mas de variado aspecto metafórico”. Do poema disse Oswald de Andrade: “Em ‘Cobra Norato’, pela primeira vez, se realizou a poesia brasileira grandiosa e sem fraude”.
Raul Bopp deixou os seguintes trabalhos: “Cobra Norato” (1931; e a 2ª edição em 1937); “Urucungo” [poemas negros] (1932); “Notas de viagem” (1960); “Nota de um Caderno sobre o Itamaraty” (1960); “Movimentos Modernistas no Brasil” (1966); “Memórias de um embaixador” (1968); “Putirum” [poesia e coisas de folclore] (1969); e “Coisas do Oriente” [viagens] (1971).
“Cobra Norato”, lançado em 1931, é considerado um dos melhores poemas épicos brasileiros, como o é “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias. Esse canto nasce no cimo do Movimento Modernista, das mãos de Raul Bopp, um dos principais poetas da primeira geração desse período da literatura brasileira, o qual atinge o intento ensaiado por Mário de Andrade, o de ajuntar as falas aborígines e africanas, modificando a sintaxe, evitando os abusos e afetações cometidas pelo autor de “Macunaíma”. “Cobra Norato” retira seu vigor das terras amazônicas de uma forma distinta da realizada por Gonçalves Dias.
“Cobra Norato” é uma prosa na forma e um poema na estrutura, composto por trinta e três cantos breves e ilustra um cabeamento do herói, onde é apresentado uma suposição acerca da condição de Norato de homem e o seu desejo de “tornar-se humano”, dado o interesse pela filha da rainha Luzia. Vejamos estes fragmentos:
[...] “— Quero contar-te uma história: / vamos passear naquelas ilhas decotadas? Faz de conta que há luar. / A noite chega mansinho. / Estrelas conversam em voz baixa. / O mato já se vestiu. / Brinco então de amarrar uma fita no pescoço / e estrangulo a cobra. / Agora, sim, / me enfio nessa pele de seda elástica / e saio a correr mundo: / Vou visitar a rainha Luzia. / Quero me casar com sua filha. / [...] — Ah, só se for da filha da rainha Luzia! / E quando estivermos à espera / que a noite volte outra vez / eu hei de contar histórias / (histórias de não-dizer-nada) / escrever nomes na areia / pro vento brincar de apagar”.
O professor Ébion de Lima em seu “Curso de Literatura Brasileira” [vol. 3] comenta “que ‘Cobra Norato’ é produto do antropofagismo e um dos mais vincados pelo elemento telúrico nas modernas letras brasileiras. A obra se inspira em mitos amazônicos. O poeta aproveita a narração de suas aventuras para descrever a região, e realiza isso vigorosamente, fazendo uso dos termos próprios e vitalizando sua pintura com imagens cheias de dinamismo e sugestões”. E arremata o ilustre mestre, em dizendo que “a natureza amazônica adquire nas páginas de ‘Cobra Norato’ uma exuberância repleta de mistérios e de exotismo, sugeridos não só pelo tema, mas também pela versatilidade quente e colorida com que o poeta a transmite, identificando-se com as raízes folclóricas do lugar”.
Otto Maria Carpeaux diz tudo sobre o poeta nestas duas linhas: “A poesia rara de Raul Bopp situa-se no ponto de contato entre o modernismo estético e o nacionalismo literário”.
“Cobra Norato” é o que chamamos de uma rapsódia amazônica. Lemos este trecho para ter uma pequena ideia da beleza do texto:
“A noite com sono reclama silêncio – correm cipós pelo alto dos galhos, / amarrando arvorezinhas contrariadas, – Árvores comadres / passaram a noite tecendo folhas, em segredo. – Raízes com fome mordem o chão. Árvores encalhadas pedem socorro – A madrugada vem se mexendo atrás da selva. / Clareia. / Os céus se espreguiçam. – Nacos de barrancos se afundam. / Vão fixar residência mais ao longe / numa geografia em construção...”
Estrutura-se o “Cobra Norato” como uma obra épico-dramática, em decorrência das andanças do poeta pela Amazônia, na década de 20, onde narra as aventuras de um jovem que, depois de ter estrangulado o animal, fez-se viageiro em suas abomináveis entranhas.
Esse épico é uma obra mítica do Modernismo, cuja narrativa Wilson Martins no seu livro “O Modernismo”, pág. 195, diz: “observa-se que o mito da viagem, no tempo e no espaço, é a viga-mestra de ‘Macunaíma’, de Mário de Andrade, de ‘Martim Cererê’, de Cassiano Ricardo e do próprio ‘Cobra Norato’, porque foi o Modernismo uma escola ambulante e perambulante, pela descoberta geográfica meduzado pela descoberta cronológica”. E continua Wilson Martins: “Esses artistas com tanto sentido de moderno, a contradição é apenas aparente quando verificamos o sentido do passado mítico representado pelo folclore: é que atrás disso tudo estava à consciência do tempo...”
Ouçamo-lo também: “Um dia / ainda eu hei de morar nas terras do Sem-Fim. / Vou andando caminhando, caminhando; / me misturo rio ventre do mato, mordendo raízes. / Depois faço puçanga de flor de tajá de lagoa / e mando chamar a Cobra Norato. /— Quero contar-te uma história: / vamos passear naquelas ilhas decotadas? / Faz de conta que há luar”.
A poética antropofágica tinha como objetivo ‘devorar’ os valores europeus, e esse era um dos principais tópicos do Movimento Modernista do qual Raul Bopp integrou, a cumprir com brilhantismo essa parte subjetiva que lhe coube, a exemplificar-nos, com esse poema épico, uma narrativa folclórica, já existente na grandeza amazônica.
“Cobra Norato” é legitimamente uma rapsódia amazônica porque, além do fantástico da história, onde o “Jonas bíblico” é decalcado de uma maneira mais arrepiante e trágica. Lembra-nos, também, as aventuras dos cachalotes brancos descritos por Herman Melville, em “Moby ‘Dick” e, por fim, traz-nos, além disso, a figura do “Leviatã”, o monstro marinho e bíblico e advindo de uma saga fenícia, referenciado em tantos textos e por tantos autores, e particularizado no estudo estatal pelo publicista inglês Thomas Robbes, publicado em 1651, cujo título por extenso diz respeito a “Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, a tratar da estrutura da sociedade organizada”. Hobbes diz que os humanos são egoístas por natureza a necessitarem de um soberano [Leviatã] que puna aqueles que não obedeçam ao grande acordo igualitário, referências implícitas aos estudos essenciais do Estado, e à proposta do que seria o contrato social de Rousseau
Por fim, essa rapsódia fala de encantados, das florestas, dos igarapés, dos santuários lúdicos dos rios, das cachoeiras e de todo um primitivismo onde se interiorizam o instinto da aventura e da morte.
*Fernando Braga, in “Conversas Vadias” [Toda prosa] antologia de textos do autor.
Ilustração:
Capa do livro “Cobra Norato”, de Raul Bopp, uma das muitas edições da obra, desde sua estreia em 1931.
O lançamento do foguete Soyuz-2.1A que levaria o nanossatélite brasileiro NanoSatC-Br2 foi adiado na madrugada deste sábado (20). A nova data provável de lançamento do foguete é neste domingo (21), às 9h07 (horário de Moscou) – 3h07 (horário de Brasília). O anúncio foi feito nas redes sociais da agência espacial russa Roscosmos.
“Esses atrasos são muito comuns. Anomalias climáticas ou outros eventos que podem influenciar no lançamento estão sempre sendo monitorados. É uma pena, mas o processo todo requer muita segurança”, afirmou Michele Melo, assessora de Inteligência da Agência Espacial Brasileira (AEB).
O evento deveria ter ocorrido às 3h07, no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Ainda não há informações sobre a causa do adiamento. O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, foi entrevistado pela TV Brasil.
Sobre o NanoSatC-Br2
De dimensões modestas, o NanoSatC-Br2 pesa apenas 1,72 quilograma. Com 22 centímetros (cm) de comprimento, 10cm de largura e 10cm de profundidade, o satélite é menor que uma caixa de sapato. A principal missão do equipamento é monitorar a anomalia magnética do Atlântico Sul – fenômeno natural causado pelo desalinhamento do centro magnético da Terra em relação ao centro geográfico, característica que atrapalha a captação de imagens e transmissão de sinais eletromagnéticos numa determinada faixa do céu –, mas ele também servirá de ferramenta de pesquisa para estudantes de diversos campos: engenharia, aeronomia, geofísica e áreas afins.
O projeto é um esforço conjunto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul e da Agência Espacial Brasileira (AEB). O NanoSatC-Br2 ficará situado a cerca de 500 quilômetros de altitude – na camada da atmosfera chamada Ionosfera – e fará uma órbita polar héliossíncrona, ou seja, o NanoSatC-Br2 cruzará a circunferência entre Polo Norte e Polo Sul, mas sempre no mesmo ponto em relação ao Sol, em ciclos constantes.
O custo estimado do NanoSatC-Br2 – entre desenvolvimento, lançamento e operação – é de cerca de R$ 3 milhões, de acordo com João Villas Boas, professor da UFSM e um dos responsáveis pelo projeto.
O nanossatélite permitirá a capacitação de profissionais em diversos campos relacionados à ciência e tecnologia. “Os alunos vão ajudar na operação do nanossatélite. O contato principal é depois de o equipamento lançado. Eles vão obter os dados científicos que estão chegando à Terra. O fato de os alunos terem esse contato na graduação é fantástico porque eles conhecem como funcionam o mercado de satélite e todo o processo que envolve a fabricação e aquisição de equipamentos, lançamento e operação dele no espaço”, afirmou o professor Eduardo Escobar Bürger, da UFSM.
Missão conjunta
O lançamento do NanoSatC-Br2 é fruto da parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, a AEB e a Roscosmos – a agência espacial russa. O satélite brasileiro é um dos 37 dispositivos que estão carregados no foguete Soyuz-2.1A que parte hoje da chamada “Cidade das Estrelas” no Cazaquistão. A missão envolve Brasil, Rússia e outros 16 países – a maior parceria aeroespacial internacional para lançamentos de satélite registrada até hoje.
“Até os 10 anos, vivi em uma casa que não tinha luz elétrica. Então, tínhamos a parte ruim. Mas, a parte boa era o céu à noite, que era perfeito. Lembro de olhar todas as noites para o céu e ficar intrigada com uma nuvem que não se mexia. Só muitos anos mais tarde, descobri que aquela nuvem era a Via Láctea”.
Anos depois, a menina que enxergava a nossa galáxia do quintal de casa em Santana do Matos, no Rio Grande do Norte, se viu no caminho do estudo do universo.
A curiosidade por saber como tudo surgiu no cosmo levou Maria Aldinêz Dantas para a astronomia, mais especificamente para a cosmologia.
A professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, formada em física e especialista em astronomia, conta que a trajetória iniciada em escola pública seguiu também pelo estudo em universidades públicas, até chegar ao desafio de encontrar especializações na Região Nordeste. Mestrado e doutorado foram feitos no Observatório Nacional do Rio de Janeiro.
A astrônoma destaca que a carreira científica para mulheres, especialmente no Nordeste, ainda enfrenta uma grande defasagem.
“As mulheres nas áreas científicas encontram grandes desafios. Elas esbarram com preconceitos enraizados e estruturais. E, na ciência, ainda é bastante visível a descredibilidade do trabalho simplesmente pelo fato de ser mulher. Então, a mulher na ciência precisa não só fazer o seu trabalho na ciência muito bem, como lutar contra o mansplaining, o machismo e até mesmo a misoginia. Isso sem falar a parte que, às vezes, cabe só a elas que é casa e filhos”, pondera a professora.
E se a astronomia tem este lugar de destaque na vida da cientista, a física também tem. “Escolhi a física porque a natureza sempre me atraiu”. Esse é um ponto em comum de Maria Aldinêz, do Nordeste brasileiro, com a cientista aclamada internacionalmente Marie Curie, considerada uma de suas inspirações.
Foi na natureza também que Marie Curie, a cientista polonesa duas vezes agraciada com o Nobel, percebeu o ponto de partida para pesquisas até a descoberta da radioatividade.
“Foi a pioneira em pesquisas sobre a radioatividade. Até hoje, sabe-se que através das datações radiométricas é possível calcular a idade de objetos antigos. Este mesmo procedimento é utilizado na astronomia para datar objetos astronômicos. Ela, além dos [prêmios] Nobel, foi a primeira professora na Universidade de Paris, em 1925”, destaca Aldinêz.
Polonesa
Marie Curie nasceu em Varsóvia, em 1867. Considerada uma pioneira na ciência, seguiu os passos dos pais, que eram professores e incentivadores da educação.
E foi na França, fora de seu país de origem, que se graduou em física e matemática. Pelas descobertas com a radioatividade recebeu o Nobel de Física em 1903, ao lado do esposo Pierre Curie e do físico Henri Becquerel: a primeira mulher a receber tal honraria.
Novamente, em 1911, recebeu o Nobel de Química pela descoberta do elemento químico rádio: a única pessoa no planeta a receber duas vezes a premiação. Batizou também o elemento polônio, em referência às suas origens.
Além do uso na astronomia, as pesquisas de Curie ajudaram no desenvolvimento de tecnologias como a radiografia, utilizada já durante a 1ª Guerra Mundial, e na radioterapia.
Em decorrência da exposição à radioatividade, morreu aos 66 anos, na França.