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Neste domingo, apresentamos palavras com dupla grafia.

Eis alguns exemplos que já aparecem registrados nas mais recentes edições de nossos principais dicionários e no Vocabulário Ortográfico publicado pela Academia Brasileira de Letras.

1 – abóbada (e abóboda);
2 – aborígene (e aborígine);
3 – arteriosclerose (e aterosclerose);
4 – assobiar (e assoviar);
5 – aterrissar (e aterrizar);
6 – babador (e babadouro);
7 – bêbado (e bêbedo);
8 – bebedouro (e bebedor);
9 – berinjela (e beringela);
10 – botijão (e bujão);
11 – caatinga (e catinga);
12 – chimpanzé (e chipanzé);
13 – descarrilar (e descarrilhar);
14 – diabetes (e diabete);
15 – dgnitário (e dignatário);
16 – doceria (e doçaria);
17 – estada (e estadia);
18 – garagem (e garage);
19 – hidrelétrica (e hidroelétrica);
20 – infarto (infarte e enfarte e enfarto);
21 – listra (e lista);
22 – loura (e loira);
23 – percentagem (e porcentagem);
24 – quatorze (e catorze);
25 – cota (e quota);
26 – cotidiano (e quotidiano);
27 – reescrever (e rescrever);
28 – seriíssimo (e seríssimo);
29 – subumano (e sub-humano);
30 – taberna (e taverna);
31 – tataraneto (e tetraneto);
32 – televisionar (e televisar);
33 – termelétrica (e termoelétrica);
34 – terraplenagem (e terraplanagem);
35 – trecentésimo (e tricentésimo);
36 – voleibol (e volibol);
37 – xucro (e chucro).

O uso do hífen
Devemos usar o hífen:
1) Para dividir sílabas:
or-to-gra-fi-a, gra-má-ti-ca, ter-ra, per-do-o, ra-i-nha, trans-for-mar, tran-sa-ção, su-bli-me, sub-li-nhar, rit-mo…

2) Com pronomes enclíticos e mesoclíticos:
encontrei-o, recebê-lo, reunimo-nos, encontraram-no, dar-lhe, tornar-se-á, realizar-se-ia…

3) Antes de sufixo -(GU)AÇU, -MIRIM, -MOR:
capim-açu, araçá-guaçu, araçá-mirim, guarda-mor…

4) Em compostos em que o primeiro elemento é forma apocopada (BEL-, GRÃ-, GRÃO- …) ou verbal:
bel-prazer, grã-fino, grão-duque, el-rei, arranha-céu, cata-vento, quebra-mola, para-lama, beija-flor…

5) Em nomes próprios compostos que se tornaram comuns:
santo-antônio, dom-joão, gonçalo-alves…

6) Em nomes gentílicos:
cabo-verdiano, porto-alegrense, espírito-santense, mato-grossense…

7) Em compostos em que o primeiro elemento é numeral:
primeiro-ministro, primeira-dama, segunda-feira, terça-feira…

8) Em compostos homogêneos (dois adjetivos, dois verbos):
técnico-científico, luso-brasileiro, azul-claro, quebra-quebra, corre-corre, zigue-zague…

9) Em compostos de dois substantivos em que o segundo faz papel de adjetivo:
carro-bomba, bomba-relógio, laranja-lima, manga-rosa, tamanduá-bandeira, caminhão-pipa…

10) Em compostos em que os elementos, com sua estrutura e acento, perdem a sua significação original e formam uma nova unidade semântica:
copo-de-leite, couve-flor, tenente-coronel, pé-frio...

Teste da semana
Assinale a opção que completa, corretamente, as lacunas da frase abaixo:
“__________ V.Sa. com __________ subordinados os cuidados que tem __________”.
(a) tende / vossos / convosco mesmo;
(b) tenha / vossos / consigo mesma;
(c) tenha / seus / convosco mesmo;
(d) tende / vossos / consigo mesmo;
(e) tenha / seus / consigo mesmo.

Resposta do teste: Letra (e).
Vossa Senhoria é pronome de tratamento. A concordância é a mesma de VOCÊ, ou seja, deve ser feita com verbos e pronomes de terceira pessoa: “TENHA Vossa Senhoria com SEUS subordinados os cuidados que tem CONSIGO mesmo”.

A Prefeitura de São Paulo está disponibilizando uma plataforma com cursos “on-line” gratuitos de capacitação em seis áreas do mercado de trabalho, voltado ao público a partir de 16 anos. A maioria dos cursos disponíveis no portal conta com certificado de conclusão. A iniciativa é do Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate), da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Os cursos oferecidos são nas áreas de gestão, empreendedorismo e trabalho; economia criativa; saúde e bem-estar; meio-ambiente e sustentabilidade; tecnologia; e gastronomia. Além dos cursos, a plataforma oferece dicas, por exemplo, de como reduzir custos de quem tem um negócio próprio, e de como explorar o novo mercado de “delivery”.

Entre os destaques do portal, estão informações sobre setores em expansão, como mercado de “games”, “pets” e moda. A plataforma pode ser acessada aqui.

(Fonte: Agência Brasil)

A alpinista Aretha Duarte planeja chegar ao topo do mundo em abril de 2021. Pode ser uma metáfora, e de certa forma é. Mas uma metáfora que representa bem o desafio da educadora física natural de Campinas (interior de São Paulo). Aretha planeja escalar o Monte Everest pelo lado nepalês. A montanha é a mais alta do mundo, com 8.848 metros de altura.

“O desafio é gigante, mas me sinto superpreparada. Desde janeiro de 2012, visito altas montanhas pelo menos uma vez por ano. Já estive 5 vezes no Monte Aconcágua [montanha mais alta fora da Ásia, localizada nos Andes, na Argentina, com altitude de 6.962 metros], atingindo o cume quatro vezes”, diz Aretha à Agência Brasil.

Mesmo não sendo o objetivo inicial da alpinista, concluindo a missão ela escreverá outro capítulo na história do esporte: será a primeira brasileira negra a chegar ao topo do mundo. Até o momento, 25 atletas do país tiveram sucesso, sendo 5 mulheres e nenhum negro. “Não era meu objetivo inicial. Esse conceito ganhou força à medida que divulgava o projeto. Caiu a ficha de que poderia servir como inspiração para muitas pessoas. Independentemente das dificuldades, o importante é correr atrás. Sinto que esse projeto não é mais um objetivo pessoal. É uma realização coletiva de várias pessoas que estão comigo nessa luta”, declara.

Na parte técnica, a atleta ressalta os pontos a serem observados para concluir a missão de uma forma segura: “Excelente condicionamento físico. Experiência de escalada em rocha e em gelo. Bom volume de experiências em alta montanha. Já ter escalado uma montanha de, pelo menos, 7 mil metros. Isso tudo já alcancei ao longo desses quase nove anos de experiência”.

Porém, ela recorda de outro obstáculo a ser superado para concluir a prova, a parte financeira. Aí entra um detalhe bem inusitado da história. Segundo a escaladora, o valor terrestre da expedição é de US$ 43 mil, sem contar equipamentos, voo e seguro específico para essa atividade. Para completar o pacote, ela precisa de, aproximadamente, US$ 70 mil. Aí surgiu a ideia de trabalhar com material reciclado: “Tenho renda da minha atividade profissional como consultora e guia de montanhismo. Mas decidi juntar, selecionar e revender esse material. Está tão forte na minha cabeça a intenção de concluir esse objetivo, que agora não é mais uma luta pessoal. Mirei o cume do Everest e estou conseguindo alcançar muitas outras coisas. Entendo que o mundo passa por uma crise econômica por causa da pandemia [coronavírus] e não me senti no direito de pedir dinheiro para ninguém, nem que fizesse rifa ou algo do tipo. O objetivo é juntar lixo e sucata da minha casa, bairro, de amigos. É um trabalho de formiguinha”.

Experiência nas alturas

Não vai ser a primeira vez da brasileira no Everest. Ela já esteve no campo base da montanha em 2013, a mais de 5 mil metros de altura. “Em dezembro do ano passado, vendo fotos de expedições no Nepal, vi o Vale do Silêncio, que está 6.400 metros de altura. Achei impressionante e me arrepiei. Achei lindo e, naquele momento, quis estar lá, e aí surgiu a vontade de um dia ir”, afirma Aretha.

Em março do ano atual, Aretha acompanharia um grupo em visita ao local. “Viajaríamos, no dia 14, eu e outras quatro pessoas. Porém, um dia antes, as fronteiras do Nepal foram fechadas. Compreendi a questão, por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19), mas, nesse dia, refleti e pensei: a próxima oportunidade será para escalar o topo do Everest”, completa.

Após conhecer o esporte aos 20 anos, a alpinista já escalou montanhas em sete países, experiência que marcou sua vida: “Fiquei extremamente apaixonada, pensando: como nunca tinha ouvido falar neste tipo de esporte antes? Moro na periferia de Campinas e, por aqui, é comum conhecermos, no máximo, os esportes coletivos. Praticava futebol, mas escalada, montanhismo, nunca tinha tido acesso”.

(Fonte: Agência Brasil)

Pesquisa realizada pelo Sesc São Paulo e pela Fundação Perseu Abramo mostra que os idosos no Brasil sentem-se excluídos do mundo digital e têm dificuldade em ler e escrever. A pesquisa Idosos no Brasil: Vivências, Desafios e Expectativas na Terceira Idade consultou, entre 25 de janeiro e 2 de março de 2020, 2.369 pessoas com mais de 60 anos, nas cinco regiões do país, e tem margem de erro de até 2,5 pontos percentuais.

O levantamento mostra que o acesso ao ensino médio aumentou entre os idosos desde a última pesquisa, realizada em 2006: de 7% para 15%, em 2020. No entanto, 40% dos maiores de 60 anos disseram ter algum tipo de dificuldade em ler e escrever, seja pela falta de escolaridade básica, analfabetismo ou o analfabetismo funcional.

“Pensando que boa parte da nossa comunicação é feita via escrita, via palavra escrita, a gente pode ver por esses números, qual a dificuldade que os nossos idosos encontram em ter acesso aos diversos tipos de comunicação”, disse a pesquisadora da Fundação Perseu Abramo e coordenadora do estudo, Vilma Bokany.

De acordo com Vilma, os dados sobre o aumento do acesso dos idosos ao ensino médio podem esconder a baixa escolaridade desse público. “Quando a gente olha para o segmento idoso, a gente vai perceber que, apesar do expressivo aumento do nível médio de escolaridade, entre os idosos ainda predomina baixa escolaridade, com 14% de idosos que nunca foram à escola, e 24% que têm o ensino fundamental incompleto”.

O estudo mostra ainda que os idosos continuam apartados do mundo digital. Apesar do aumento dos maiores de 60 anos que disseram ter conhecimento sobre o termo “internet” (63% em 2006 e 81% em 2020), apenas 19% dos idosos fazem uso efetivo da rede. Segundo a pesquisa, 72% da população da terceira idade nunca utilizou um aplicativo e 62% nunca utilizou redes sociais.

“Se na década de 70 e 80 a juventude era o foco da atenção dos governos e das políticas públicas, hoje a gente percebe que esta camada idosa é a que mais demanda por políticas públicas. Nossa população envelheceu ao longo dessas décadas, e as gestões precisam pensar em como elaborar melhores políticas para atender aos anseios desse público”, destacou a pesquisadora.

(Fonte: Agência Brasil)

UBIRAJARA FIDALGO, O PRIMEIRO DRAMATURGO NEGRO DO BRASIL, TALENTO MARANHENSE QUE O MARANHÃO ESQUECEU.

– Nasceu em Caxias, em 22 de junho de 1949. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 37 anos, em 3 de julho de 1986.

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O governo federal (Ministério da Cultura) oficializou 2016 como o “Ano Ubirajara Fidalgo da Cultura”.

Ter um ano inteiro dedicado a um maranhense deveria ser motivo de orgulho e atividades em torno ou a partir desse nome. É muito raro o governo federal formalizar uma lembrança e homenagem dessas relacionadas ao Maranhão.

No caso de Ubirajara Fidalgo, teatrólogo de talento e engajamento, seria a oportunidade para o Estado do Maranhão e o município de Caxias iniciarem um reparo histórico: conhecerem mais e melhor o filho ilustre. Como?

– publicando livro onde se recuperasse sua história...

– publicando suas obras teatrais, até hoje inéditas em livro, embora diversas delas encenadas nas maiores capitais do Brasil, inclusive por atores e atrizes de renome...

– fazendo exposição de seu acervo, exibir documentário...

– convidando as companhias teatrais de diversos pontos do Brasil que cultivam e encenam as peças de Ubirajara Fidalgo...

Entrevistei, no começo de 2017, Dona Aldenora Fidalgo, mãe de Ubirajara, à época com 91 anos, residente no município de São João do Sóter (MA). Em conversa agradável, pude recuperar aspectos -- ainda inéditos – da biografia do grande maranhense e caxiense.

Mas Caxias e o Maranhão não se importaram (nem se importam) com seus talentos que agregaram valor à identidade cultural, artística, histórica etc. de nosso país – e até as gravações/filmagens, feitas por duas pessoas, até hoje não me foram enviadas...

Caxias e o Maranhão abandonam seu maior patrimônio... Diferentemente, em relação a Ubirajara Fidalgo, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Brasília, com destaque na Imprensa, fazem homenagens, realizam atividades, encenam peças do maranhense e caxiense. (Em setembro de 2019, com minha assistência, foi criada a Comenda Ubirajara Fidalgo, concedida pela Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia de Caxias, durante a 2ª Feira de Literatura, Cultura e Turismo da Região dos Cocais (FLICT), evento no qual foi homenageada Dª Aldenora, acompanhada da filha Cristina (irmã de Ubirajara Fidalgo). Convidado, fiz a palestra em que falei de valores caxienses e ressaltei um pouco da vida e trabalho de Ubirajara Fidalgo.

Abaixo, texto sobre Ubirajara Fidalgo que escrevi há anos e que divulguei em alguns jornais e outras mídias.

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Os caxienses e maranhenses precisam saber quem foi e o que representa Ubirajara Fidalgo para a Cultura brasileira.

Nascido no Povoado São Pedro, distrito de Caxias, em 22 de junho de 1949, Ubirajara Fidalgo da Silva faleceu em 3 de julho de 1986, aos 37 anos, no Rio de Janeiro, após operação nos rins.

Teve uma vida curta, mas que grande vida ele teve!

Casou-se em 28 de janeiro de 1974, com Alzira Fidalgo, cenógrafa, figurinista e produtora, que faleceu em 2012. Sua filha, Sabrina Fidalgo, é cineasta, com formação na Alemanha e produção elogiada, é quem cuida do legado dos pais. O “site” “Brasileiros na Alemanha” registra ser Sabrina muito conhecida naquele país.

Ubirajara Fidalgo foi ator, dramaturgo, produtor, empresário, apresentador de TV, diretor de teatro. De 1984 a 1986, com Edna Savaget, apresentou o programa “Ela”, na TV Bandeirantes.

Foi o primeiro a ensinar e a incluir e empregar profissionalmente no teatro negros da periferia.

Também foi o primeiro a levar o debate político-social aos palcos com participação e interatividade da plateia.

No dia 20 de fevereiro de 2016, a vida e obra de Ubirajara Fidalgo foram homenageadas no Teatro Arena, em São Paulo (SP), com exposição de fotos e vídeos e leitura de texto da peça teatral “Tuti”, a última escrita por Ubirajara (que também deixou textos inéditos e um livro não terminado).

Saindo de Caxias, Ubirajara Fidalgo já estava em 1968, em São Luís (MA), onde iniciou sua carreira artística, primeiro em curso de iniciação teatral, com o professor Jesus Chediak, depois na Universidade Federal do Maranhão, no curso de Formação de Atores.

Em 1970, mudou de cidade mas não mudou o curso de sua vida, isto é, o Teatro: continuou sua formação na Universidade do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, encena “Otelo”, de Shakespeare, e dá início ao Teatro Profissional do Negro, o Tepron.

(Na entrevista que me concedeu, Dª Aldenora contou como o Teatro e as Artes Cênicas entraram na família. Disse que as filhas de um casal com quem trabalhava a convidavam, durante as férias escolares, para fazer, na própria casa, pequenas peças de teatro. Isso passou de mãe para filho, que, menino em Caxias, já ensaiava os primeiros passos no que viria a ser uma vitoriosa e, sem trocadilho, representativa carreira. Dª Alzira também revelou que a morte do filho poderia ter-se derivado de antiga queda que Ubirajara sofreu ao pular de cima da carroceria de um caminhão em movimento. Dª Aldenora estava no hospital, com o filho em seus últimos momentos. Muita lucidez, segurança e emoção no relato de uma mãe.

Simultaneamente com suas atividades artísticas, desenvolve intensa militância no ativismo negro do país. Debate a situação do negro, o preconceito racial, a situação social. Seja no Clube Renascença, centro de mobilização do negro; nos Centros Populares de cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE); na fundação do Instituto de Pesquisa da Cultura Negra; na Associação Cultural de Apoio às Artes Negras..., em qualquer lugar em que a arte e a vida da população negra estivesse em debate, ali estava Ubirajara Fidalgo.

Tendo sofrido um acidente na infância, quando pulou da carroceria de um caminhão que lhe dera carona no retorno de uma atividade artística em Caxias, Ubirajara levou para o resto da vida um problema nos rins. Fez transplante. Mas não houve jeito.

Na primeira semana de julho de 1986, morria aquele que “foi uma das grandes figuras emblemáticas do Movimento Negro no Brasil nas décadas de 1970 e 1980”,...

... aquele considerado “um dos principais articuladores do Instituto de Pesquisa e Cultura Negra (IPCN), criado em 1975, com o objetivo de combater o racismo, o preconceito e a discriminação racial”,...

... o “fundador do Teatro Profissional do Negro (Tepron)”, que “aliou a montagem de seus textos teatrais às questões relevantes relacionadas ao racismo, a discriminação no Brasil contemporâneo, o preconceito, a homofobia, a misoginia, desigualdade social e a ditadura militar”.

Um maranhense de enorme talento artístico.

Um caxiense de grande coragem cívico-social.

Um maranhense e caxiense, contraditoriamente, esquecido pelo Maranhão e, no geral, por sua cidade natal, Caxias.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
Ubirajara Fidalgo, sua mulher Alzira e a filha, a cineasta Sabrina Fidalgo. Em janeiro de 2017, em São João do Sóter (MA), Edmilson Sanches entrevista Dona Aldenora, mãe do grande dramaturgo caxiense.

VITO MILESI

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Eu estava em Maricá (RJ), na casa-chácara da amiga escritora Leila Míccolis, que, além de advogada e mestra e doutora em Ciência da Literatura, faz quase tudo com as Letras – é contista, dramaturga, editora, ensaísta, poeta, romancista, roteirista de cinema e televisão (escreveu “Kananga do Japão” para a TV Manchete e, com Glória Pérez, escreveu “Barriga de Aluguel”, para a TV Globo).

Leila estava escrevendo um novo roteiro e utilizava textos do escritor maranhense Coelho Netto. Sabendo que eu havia nascido na mesma cidade que ele, pediu-me para localizar herdeiros do “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. De volta à capital fluminense, almoço com o notável escritor maranhense Tobias Pinheiro, que mora no Rio de Janeiro (RJ) há décadas. Em São Luís, converso com o igualmente notável Jomar Moraes. Converso em Caxias com membros da Academia. Ninguém sabia da existência e do paradeiro de descendentes de Coelho Netto. Então, telefono para Josué Montello, que residia no Rio. Dona Ivone, esposa, atende gentilmente e informa que o superlativo escritor são-luisense havia saído, mas que por certo atenderia no dia seguinte. Ligo de novo e, desta vez, converso com Montello. Depois das amenidades, entro no assunto “descendentes de Coelho Netto”. O comentário de Josué Montello me deixou pasmo: ele disse que, depois que um acadêmico da Academia Brasileira de Letras morre, cessa a normalidade ou regularidade de contatos com a família, praticamente a Academia rompe unilateralmente a ligação com a família. Resumo: também ele, Montello, autor dos famosos e gostosos “Diários” (“da Manhã”, “da Tarde”, “do Entardecer”, “da Noite Iluminada”, “da Madrugada”), onde tanto tratou de aspectos curiosos, engraçados, literários e históricos de um sem-número de obras e intelectuais brasileiros e estrangeiros, nem mesmo ele, o Montello de tantas referências e excelências, sabia da prole legatária do prolífico literato caxiense. (Depois, em 2014, terminei descobrindo os descendentes de Coelho Netto, nos 150 anos de nascimento dele).

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A lembrança desse episódio chega-me em razão de uma atestada falta de prática – para eufemisticamente dizer – de grande parte de nossas Academias em (re)lembrar seus mortos. Parece que, morreu, morreu.

A vida de cada um de nós também é resultante de umas e outras, poucas ou muitas, mais ou menos intensas interações com os outros, inclusive com aqueles que já se foram. Mas, claro, a vida continua – dizem – e cada um tem mais o que fazer para continuar vivo do que perder tempo “cuidando” da memória de mortos...

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Pois bem: foi ontem e foi amanhã. Foi exatamente no dia de ontem, há 15 anos, em 17 de julho de 2005, que faleceu, em São Luís (MA), o professor, filósofo, teólogo, escritor, tradutor e presidente da Academia Imperatrizense de Letras (AIL) Vito Milesi, um “italianense”, simbiose perfeita de italiano com imperatrizense. O óbito ocorreu às 5h30. Vito Milesi estava hospitalizado na capital maranhense e não resistiu à cirurgia que lhe extraiu um nódulo cancerígeno no fígado.

Foi ontem e foi amanhã. Foi no dia 19 de julho de 2005, também em uma manhã, que o corpo do devotado professor e acadêmico foi sepultado em Balsas (MA), em razão de Vito Milesi ter trabalhado ali, ainda como missionário da ordem comboniana, e, também, por ser a cidade para onde se iria transferir sua mulher, a professora Maria Helena, que tem familiares residentes no grande município balsense.

Quando morreu, Vito Milesi, italiano de nascimento e naturalizado brasileiro, estava já há 50 anos no Brasil e morava em Imperatriz desde 1979.

O corpo de Vito Milesi iniciou seu translado de São Luís às 13h de domingo, por via terrestre, e chegou a Imperatriz às 20h40, sendo recebido no salão da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), onde o velório transcorreu até às 19h30 de segunda-feira, quando foi levado para Balsas, onde o corpo foi recebido na madrugada do dia 19, na entrada da cidade, por uma comitiva liderada pelo bispo da Diocese de Balsas, dom Franco Masserdotti.

À sede da AIL compareceram centenas de pessoas e ocorreram momentos de emoção, durante a sessão de despedida promovida pela Academia e a missa oficiada pelo bispo da Diocese de Imperatriz, dom Affonso Felipe Gregory, auxiliado pelo padre Felinto Elísio Correia Neto, da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, e o frei Rodrigo Araújo, da Paróquia de São Francisco.

A sessão da AIL, assistida por todos que acompanhavam o velório, teve como mestre de cerimônias o advogado Edmilson Franco e, nela, falaram o empresário Leonildo Alves, o editor Adalberto Franklin, os professores Edna Ventura e Arnaldo Monteiro, o jornalista Edmilson Sanches, todos membros da Academia, o pastor e presidente da AIL, Luís Carlos Porto, o professor Lourenço Pereira e o frei Rodrigo. Em Balsas, a missa de corpo presente foi oficiada por dom Franco Masserdotti.

Vito Milesi nasceu na pequena localidade de Roncobello (492 habitantes, 25km2), uma das 244 comunas da Província de Bérgamo, na região da Lombardia, no norte da Itália. Era missionário da congregação comboniana, comunidade da Igreja Católica fundada há quase 150 anos, em 1871, por São Daniel Comboni.

Vito Milesi veio desempenhar sua missão religiosa no Brasil, onde chegou em 1955. De 1957 a 1960, foi vigário e pároco da Paróquia de São Marcos, em Nova Venécia, município do Estado do Espírito Santo. Em 1968, veio para o Maranhão, iniciando por Balsas, onde coordenou a pastoral da Diocese.

Em 1979, já tendo sido liberado dos votos de sacerdote, Vito Milesi veio para Imperatriz e, aqui, casou com a professora Maria Helena Oliveira. Foi professor em escolas e universidades, ofício em que se aposentou. Escreveu e traduziu diversos livros e inúmeros textos com temas de Religião, História e Cidadania, entre outros.

Portador de sadios inconformismos e indignações cívicas, Vito Milesi, cidadão, participou do Fórum da Sociedade Civil de Imperatriz, instituição que liderou a deposição de um prefeito imperatrizense em janeiro de 1995.

Vito Milesi foi uma das 14 pessoas com quem conversei e que aceitou minha ideia e ação de fundação da AIL. Foi inicialmente meu vice-presidente e, depois, administrou por oito anos a Academia Imperatrizense de Letras, à qual se dedicou e pela qual lutou com as forças de seu empenho e sabedoria. Não é sem razão que seja sua foto a encimar o principal cômodo do prédio-sede da AIL, o auditório, em cuja grande mesa se dão as reuniões e as decisões e animações acadêmicas. Foi fundador da Cadeira 9, patroneada pelo jornalista, historiador, político e servidor público Thucydedes Barbosa, nascido em Loreto (MA), e atualmente ocupada pelo cineasta, contista, cronista e poeta Joaquim Haickel.

A partir de 1983, quando publicou seu primeiro livro (“Da Cidade Grande ao Sertão”), Vito legou-nos, pelo menos, 10 obras autorais e três de sua tradução. Entre as demais obras suas: “Dom Rino Carlesi, Um Bispo Feliz”; “Pastor e Amigo”; “Descobrimento ou Invasão?”; “Leituras para Contar”; “Leituras para pensar”; “O Carvalho de Tasso”; “O Vaso Refeito”; “Toma e Lê”. As traduções, verdadeiras transcriações: “Colonizador Colonizado: No Holocausto dos Empobrecidos”, de Fausto Marinetti; “Amor e Martírio em Alto Alegre”, de Graziella Merlatti; e “Madre Francisca Rubatto: Uma Mulher Forte”, de Rodolfo Toso.

Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao município, Vito Milesi foi agraciado em 1998, com a comenda Frei Manoel Procópio, maior honraria da Prefeitura de Imperatriz, e em 1999, com o título de Cidadão Imperatrizense, maior honraria da Câmara de Vereadores.

Nascido a 13 de maio de 1931, Vito Milesi morreu um dia após o 153º aniversário de Imperatriz. Viveu 74 anos e 65 dias – mas deverá permanecer eternamente na memória da cidade.

Afinal, morrer para a vida é a forma última de (re)nascer para a memória e para a História.

Morrer não é esquecer.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
1) Vito Milesi (ao centro), com Edmilson Sanches e a memorialista Zequinha Moreira, ganhadora do Prêmio AIL, em 1998.
2) A partir da esquerda, frei Rodrigo, Vito Milesi, Edmilson Sanches e o bispo dom Affonso Felippe Gregory, em solenidade na AIL.
3) A partir da esquerda, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz, Ulisses Braga, Vito Milesi, Simone Omizzolo (diretora do "campus"), Raimundo Trajano Neto (vereador) e Valmir Izídio Costa (presidente da Câmara), e Edmilson Sanches.
4) Em 1962, em Ecoporanga (ES), Vito Milesi, o segundo a partir da esquerda, com veste sacerdotal branca, dirige-se a dom José Maria Dalvit, primeiro bispo da Diocese de São Mateus (ES). Dom José Dalvit, compatriota de Vito Milesi, nasceu em Pressano de Pávia (Itália), em 15 de setembro de 1919, e faleceu em São Mateus (ES), em 17 de janeiro de 1977, aos 57 anos. Ambos, Vito Milesi e dom José Dalvit, eram brasileiros naturalizados. (Foto em preto & branco do acervo do acadêmico Altair Damasceno; as três fotografias anteriores, coloridas, são do acervo de Edmilson Sanches).

Na próxima segunda-feira (24), o Democratas Maranhão vai promover o Seminário para pré-candidatos – Eleições Municipais 2020. O evento é destinado aos pré-candidatos (prefeitos, vices e vereadores) do partido de todo o Estado que irão disputar as eleições deste ano e tem como objetivo principal auxiliá-los a respeito de assuntos fundamentais relacionados às eleições deste ano. O seminário ocorrerá no Excellence Prime, em São Luís, às 19h.

“É um evento com grande relevância uma vez que estamos em um ano eleitoral. É necessário esclarecer as dúvidas dos nossos pré-candidatos para que todos estejam preparados para as eleições municipais”, disse o deputado federal Juscelino Filho, presidente estadual do Democratas.

O Seminário para pré-candidatos – Eleições Municipais 2020 contará com cinco temas: Convenções Partidárias, Registro de Candidaturas, Representações e Impugnações, Prestação de Contas / Financiamento e Propaganda Eleitoral na Internet.

“A discussão dos importantes temas colocados servirá como baliza ou mesmo preparação para que o pré-candidato, ou candidato, tenha as noções básicas no tocante às convenções partidárias, registros de candidaturas, representações e impugnações eleitorais, prestação de contas de campanha e propaganda eleitoral na ‘internet’. O Seminário organizado pelo partido Democratas se mostra mais do que oportuno, apresenta-se necessário”, explicou o advogado Márcio Coutinho, que é um dos palestrantes convidados.

Além de Márcio Coutinho, o evento contará com os outros quatro renomados advogados eleitoralistas: Aidil Carvalho, Eduardo Gomes, Thibério Cordeiro e Bertoldo Rêgo. “Muito importante a preocupação do DEM-MA em trazer informações sobre as eleições a seus filiados, especialmente em razão das inúmeras mudanças trazidas pela pandemia”, analisou o advogado Thibério Cordeiro.

Informações sobre o Seminário para pré-candidatos – Eleições Municipais 2020 estão disponíveis nas redes sociais do Democratas (@democratas_ma). Em caso de dúvidas, entre em contato com o Diretório Estadual pelo telefone (98) 3199-7537 ou pelo “e-mail” [email protected]. Se preferir, acesse o “site” www.democratasma.com.br.

INFORMAÇÕES:
O quê: Seminário para pré-candidatos – Eleições Municipais 2020
Público-alvo: Pré-candidatos do DEM-MA a prefeito, a vice e a vereador nas eleições de 2020
Local: Excellence Prime (Av. Ivar Saldanha, 78 – Olho d’Água // São Luís (MA)
Quando: 24/8/2020 (segunda-feira)
Horário: 19h

TEMAS DO SEMINÁRIO:
– Convenções Partidárias
Palestrante – Dr. Aidil Carvalho
– Registro de Candidaturas
Palestrante – Dr. Eduardo Gomes
– Representações e Impugnações
Palestrante – Dr. Márcio Coutinho
– Prestação de Contas / Financiamento
Palestrante – Dr. Thibério Cordeiro
– Propaganda Eleitoral na Internet
Palestrante – Dr. Bertoldo Rêgo

(Fonte: Assessoria de comunicação)

Biaman Prado

Na semana de comemoração do Dia Mundial da Fotografia (19 de agosto), o projeto Inspire e Comunique recebe para um bate-papo o repórter fotográfico Biaman Prado. A “live” será realizada na noite de hoje (20/8), às 19h30, transmitida pelo Instagram da jornalista Franci Monteles (@franci_monteles).

Com várias premiações em fotojornalismo, Biaman Prado tem décadas de experiências em redações de jornais do Ceará e do Maranhão, entre os quais trabalhou em ‘“O Debate” e em “O Estado do Maranhão”, onde foi, por muitos anos, editor de Fotografia.

São Luís 408 anos – Biaman Prado

Atualmente, ele trabalha no Departamento de Comunicação da Assembleia Legislativa do Maranhão. “Já estou aposentado, mas não abandono a câmera. Ou seja, não penduro as chuteiras”, diz o fotógrafo.

No Inspire e Comunique, Biaman Prado falará de sua experiência no fotojornalismo maranhense, da era analógica à digital. Também falará de seu projeto nas redes sociais em homenagem aos 408 anos de São Luís, com registros diários da cidade.

São Luís 408 anos – Biaman Prado

Serviço:
Live Inspire e Comunique

Sobre: Fotografia, do analógico ao digital com Biaman Prado

Quando: 20 de agosto de 2020

Hora: 19h30

Onde: Instagram @franci_montele

(Fonte: Assessoria de comunicação)

Os estudantes que não foram pré-selecionados em nenhuma das duas chamadas regulares do Programa Universidade para Todos (Prouni), para o segundo semestre deste ano, têm até hoje (20) para manifestar interesse em participar da lista de espera. A inscrição pode ser feita na página do Prouni, e o resultado será divulgado na próxima segunda-feira (24).

Esta é a última etapa de seleção do programa. De acordo com o Ministério da Educação, a lista de espera será única para cada curso e turno, de cada local de oferta, ou seja, não haverá classificação por modalidade, como por cotas.

Pode participar da lista de espera, para o curso correspondente à primeira opção na inscrição, o candidato que não tenha sido pré-selecionado em nenhuma das chamadas regulares ou tenha sido pré-selecionado para a sua segunda opção de curso, mas que, por motivo de não formação de turma, tenha sido reprovado.

Para participar da lista de espera para o curso correspondente à segunda opção na inscrição, os critérios são os seguintes: que o candidato não tenha sido pré-selecionado em nenhuma das chamadas regulares; nas hipóteses de não ter ocorrido formação de turma na primeira opção de curso, ou de não haver bolsas disponíveis na primeira opção de curso; e, ainda, na situação de ter sido pré-selecionado para a primeira opção de curso, mas que, por motivo de não formação de turma, tenha sido reprovado.

Os estudantes da lista de espera que forem pré-selecionados para receber a bolsa devem comparecer às instituições de ensino até o dia 28 e entregar os documentos que comprovem as informações prestadas no momento da inscrição. Quem perder o prazo ou não comprovar os dados será desclassificado.

Prouni

O Prouni é o programa do governo federal que oferece bolsas de estudo, integrais e parciais (50%), em instituições particulares de educação superior. Nesta edição, 440,6 mil estudantes inscritos disputaram 167,7 mil bolsas em 1.061 instituições.

Para concorrer às bolsas integrais, o estudante deve comprovar renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até 1,5 salário mínimo. Para as bolsas parciais (50%), a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários mínimos por pessoa.

Podem participar estudantes brasileiros que não tenham diploma de curso superior e que tenham participado do Exame Nacional do Ensino Médio mais recente e obtido, no mínimo, 450 pontos de média das notas. Além disso, o estudante não pode ter tirado zero na redação.

(Fonte: Agência Brasil)

O lançamento da sonda Viking 1, em 20 de agosto de 1975, há exatos 45 anos, marcou a primeira vez que um artefato da Terra pousou e fez experimentos em solo marciano. O evento fazia parte do Programa Viking, responsável por lançar outra sonda, a Viking 2, quase um mês depois. Ambas aterrissaram no ano seguinte, sendo responsáveis por coletar imagens, dados e realizar experimentos científicos no solo do planeta vermelho. Os aparelhos continuaram a transmitir informações para a Terra até 1982, quando um comando errado resultou na interrupção das comunicações com a primeira sonda lançada e última a ser desativada.

O legado da Viking possibilitou todo o desenvolvimento da exploração do planeta vermelho até aqui, tendo sido pioneira em vários aspectos. (Confira linha do tempo ao término do texto) O professor Alexandre Zabot, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ensina aos apaixonados pelas estrelas em todo o país a compreenderem os fenômenos astronômicos por meio do projeto de extensão Astrofísica para Todos. Ele observa que os experimentos realizados pelas sondas Viking naquela época foram importantes para a pesquisa do tema. “Todas seguiram mais ou menos a mesma sequência, com experimentos para detectar moléculas orgânicas, medidas de sismologia, da atmosfera; continuamos a fazer esse tipo de experimento; ela foi a precursora”, relata o professor. Ele ressalta que os aperfeiçoamentos contínuos, em especial na capacidade dos computadores, permitem que se tente passos mais ousados.

Entre esses passos está a missão Mars 2020, que lançou o Perseverance, um veículo capaz de andar sobre o planeta e que deve chegar a Marte em fevereiro de 2021.

Legado

As descobertas das sondas incluem a detecção de moléculas orgânicas. O achado não é desprezível, como explica o professor Alexandre: “Isso era esperado, tanto que mandaram o equipamento capaz de fazer essa medida, mas poderia não ter medido nada”, pondera.

Para ele, se já tinha uma expectativa de que Marte pudesse ter abrigado vida um dia, com essa experiência somada à existência de água na forma de gelo nas calotas polares (informação que foi confirmada pelo equipamento que está em órbita), a expectativa aumentou.

“Ela (a Viking 1) também foi a primeira a mandar uma imagem do solo, onde conseguimos ver as rochas, ver a areia, imagens que para nós hoje são rotina, mas na época eram um novo mundo”, acrescenta o professor.

Ele diz ainda que se você quer entender o relevo e os processos maiores que deram origem aos acidentes geográficos, as imagens em órbita são as mais adequadas. Porém, outras informações podem ser observadas a partir de imagens mais próximas. “Pela própria forma da rocha você pode saber se houve água ou não, porque a gente sabe da Terra, por exemplo, que seixos arredondados são causados por erosão, principalmente de água”.

Desafios para aterrissar

Os desafios para que a missão fosse um sucesso não foram poucos. A entrada na atmosfera e o pouso em Marte envolveu riscos. Para começar, não era possível controlar a sonda em tempo real: Marte está há 227 milhões de quilômetros da Terra. Isso significa que quaisquer comandos transmitidos a partir das antenas da Nasa, a agência espacial norte-americana, mesmo viajando à velocidade da luz, demorariam vários minutos para chegar ao planeta vermelho.

A solução, informa o professor Alexandre, foi deixar todos os comandos e movimentos a serem realizados durante a aterrissagem programados ainda na Terra. Simples, a princípio, mas um procedimento fracassado várias vezes desde a primeira tentativa de pousar em Marte, feita pelos russos com a sonda Marte 2, em 1971. “Marte tem uma atmosfera muito rarefeita, isso traz dificuldades tremendas para o pouso”, observa. “É muito complicado desenvolver a frenagem da sonda na entrada do planeta com essa característica”.

Então, para evitar que todas as horas de trabalho dos engenheiros aeroespaciais acabassem pulverizadas em vários pedaços sobre o chão marciano foi preciso lançar mão de recursos para reduzir a velocidade da sonda. Um revestimento blindado e a abertura de paraquedas fizeram isso no primeiro momento. Ao se aproximar do solo, foi a vez de retropropulsores entrarem em ação para garantir que todo o equipamento pousasse de forma suave.

Não é à toa que a aterrissagem em Marte ficou conhecida como os sete minutos de terror. “Isso é uma sequência que, até hoje, não está bem dominada. Tivemos, recentemente, sondas perdidas indo para Marte ou para a Lua”, lembra Alexandre. Para completar, só alguns minutos depois, é possível saber se o pouso obteve êxito. Depois disso, segue a montagem da estação e o início da operação dos instrumentos que realizarão as medições e experimentos. É só aí, também, que será possível saber se algum deles foi danificado durante a descida.

Riscos

A tudo isso se somavam os perigos impostos pelo clima. O astrofísico da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Soares explica que Marte é assolado constantemente por tempestades de areia. “As missões soviéticas deram errado porque caíram durante tempestades como essas. Por causa disso, a missão mais bem-sucedida deles só durou 14 segundos”, conta. Segundo ele, só foi possível contornar esse problema pelo trabalho realizado por missões anteriores. “Tivemos a sonda Mariner 9 que mapeou o solo e o clima marciano e, assim, foi possível prever o melhor momento e lugar para um pouso tranquilo”, explica o pesquisador. “Então, a equipe que lançou a Viking 1 teve a chance de corrigir onde ela iria pousar”.

Viver em Marte?

Esta é uma das respostas que os pesquisadores buscam. Marte é o quarto em distância do Sol – está a 227 milhões de quilômetros da estrela – e possui características muito similares à Terra.

Adriano Leonês, integrante do Clube de Astronomia de Brasília, professor de ciências e especializado em ensino de ciências pela UnB, está acostumado a observar o planeta. “Da mesma forma que a escolha do melhor momento para o lançamento de uma missão ao planeta, o período perfeito para observá-lo é quando Marte e a Terra estão em máxima aproximação um do outro”, esclarece. “Com telescópios um pouquinho mais robustos, conseguimos ver as falhas geológicas e as calotas polares”. A olho nu, o brilho avermelhado do astro confunde-se com o da estrela Antares, cujo nome se origina justamente da expressão “rival de marte”, para mostrar essa semelhança.

Mas é a semelhança do planeta com a Terra que o faz tão interessante para a ciência. “É um planeta rochoso e, apesar da atmosfera ser tênue, ele tem sim uma carga atmosférica que tornaria possível um organismo viver lá”, afirma o professor. As características tão próximas fazem com que muitos cientistas considerem a possibilidade real de o ser humano habitar Marte um dia e, antes mesmo disso, explorá-lo. “O interesse científico nesse planeta advém das melhorias nas missões para que se possa habitá-lo em algum momento”, avalia Adriano.

Pesquisas espaciais e tecnologia

Um benefício que a humanidade já colhe com as expedições a Marte é a tecnologia. “Entre os vários aspectos, há a necessidade de miniaturizar tudo, porque você não vai levar um laboratório do tamanho de uma sala, vai ter que reduzir para uma caixa de 10 por 10 centímetros”, explica Ivan, cuja área de pesquisa inclui o uso de radiotelescópios para pesquisar as propriedades fundamentais no universo. O celular, que todos têm à mão nos dias de hoje, com componentes minúsculos que o fazem funcionar, tornou-se viável em grande parte em decorrência dos avanços da exploração espacial. Quem leu até aqui se lembra também que foi decisivo para missões como a Viking o uso de sistemas automáticos. “Um pesquisador pega uma amostra e fica anos analisando aquela amostra, mas, lá no espaço, não tem o pesquisador. Então, você tem que desenvolver o ‘software’”, explica Ivan.

Além disso, as pesquisas em Marte levam a desafios distintos para quem lida com sua observação do céu a partir da Terra, tanto Adriano em seus acampamentos astronômicos quanto Ivan nos laboratórios da academia. “Qualquer instrumento que você utiliza na Terra, se você liga e não funciona é só abrir para ver o que está errado e consertar. Em missões não tripuladas, não dá para fazer isso”, afirma Ivan. Portanto, acrescenta o pesquisador, os engenheiros aeroespaciais trabalham sempre com a redundância, ou seja, cada um dos componentes é enviado com uma cópia para, caso algum deles pife, haja outro para substituir. A atenção é vital também na fabricação das peças. “O processo é muito mais cuidadoso, em uma sala muito mais limpa, com uma seleção de matéria-prima muito mais rigorosa”.

Para se ter uma noção, o professor levanta situações que podem acontecer em um carro comum que, depois de muito rodar, apresenta defeito em uma peça. “Muitas vezes, o problema ocorre porque alguém deixou cair poeira no processo de fabricação de uma das válvulas, por exemplo”. Esse é o tipo de erro que não pode acontecer em uma missão espacial.

A partir do século XV, os europeus se lançaram às navegações marítimas. Portugal, Espanha, Países Baixos assumiram a empreitada por motivos que vão de disputas políticas a desejo de ampliar rotas comerciais, descoberta de novas fontes de recursos e disseminação da fé cristã. Mais adiante, entraram na disputa empresas privadas, como foi o caso da Companhia das Índias Orientais. Para o professor Alexandre Zabot, estamos vivendo um momento parecido com aqueles tempos. “Nós estamos voltando a viver isso, só que desta vez não vamos conquistar a América, mas a Lua, Marte, e, talvez, algumas luas de outros corpos do sistema solar”, prevê.

Ivan acredita que esse é um cenário bastante promissor. “Culturalmente, os países pensam em ciência de forma distinta e, por isso, levam instrumentos diferentes para o espaço, e a gente só ganha com isso”, destaca. Nos dias atuais vemos, além dos tradicionais Estados Unidos e Rússia – que continua a trajetória iniciada pela União Soviética – países como a China, a Índia, blocos como a União Europeia e empresas a exemplo da SpaceX e da Virgin Galactic.

Missão Mars 2020

Desde as primeiras sondas Viking, os experimentos seguiram caminhos semelhantes, mas, agora, o mundo está presenciando um grande avanço com o envio da missão Mars 2020, em que um veículo “rover” batizado de Perseverance – capaz de andar sobre a superfície do planeta – foi enviado a Marte, em um lançamento realizado no dia 30 de julho de 2020, com previsão de chegada em 18 de fevereiro de 2021. “Nós melhoramos muito o controle, o que permitiu missões mais audaciosas, pousar uma tonelada em Marte é algo extraordinário”, diz Alexandre, referindo-se ao peso total do “rover” da Mars 2020.

Entre os novos feitos previstos, estão a coleta e armazenamento de amostras de solo que poderão, em missões futuras, serem enviadas de volta à Terra; o sobrevoo pioneiro de um veículo com hélices, um pequeno “drone”; e os primeiros experimentos de geração de oxigênio, pavimentando a estrada em direção às missões tripuladas ao planeta vermelho. E assim, segue a marcha do ser humano em direção às estrelas.

A CONQUISTA DO SOLO DE MARTE

A partir da primeira tentativa de pousar em Marte, o ser humano enviou 17 missões aterrissadoras. Conheça abaixo seis delas:

1971
Marte 2


Lançada, em 19 de maio de 1971, pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), era composta por um orbitador, que transmitiu dados sobre a superfície do planeta até 1972, e um aterrissador, que foi destruído ao chocar-se com o solo sem retornar nenhum dado. Carregava um pequeno robô chamado Prop-M, programado para andar 15 metros, parando a cada 1,5 metro para analisar o solo. Foi o primeiro objeto feito pelo homem a tocar a superfície de Marte.

1975
Programa Viking (Viking 1 e Viking 2)


O Programa Viking, da Nasa, consistia em uma missão orbitadora e aterrissadora. As sondas operaram durante vários anos, sendo as primeiras a funcionar em solo marciano. Nesse período, os orbitadores coletaram 52 mil magens e cartografaram 97% da superfície de Marte, enquanto os aterrissadores retornaram 4.500 imagens, dados da superfície, clima, atmosfera, mudanças sazonais, além de realizarem experimentos biológicos.

1996
Mars Pathfinder


Lançada, em 4 de dezembro de 1996, pelos EUA, a Pathfinder inaugurou o uso de veículos “rovers” na superfície marciana. Os “rovers Sojourner” pesavam cerca de 10kg, tinham 62cm de comprimento, 47cm de largura e 32cm de altura e possuíam seis rodas. No total, a missão coletou 16 mil imagens do aterrissador e 550 dos “rovers”, 15 analises químicas das rochas e estudou o clima. Ao fim, cumpriu a totalidade de seus objetivos.

2003
Mars Exploration Rover A e B

A missão Mars Exploration Rovers lançou para Marte, em junho e julho de 2003, dois “rovers” maiores que os da Pathfinder, pesando 180kg cada um e podendo percorrer 100 metros em um dia marciano. As metas da missão incluíam realizar um estudo mineralógico e sobre a história do clima e da água de Marte em duas regiões que podem ter sido favoráveis ao desenvolvimento de vida: Gusev Crater e Meridiani Planum.

2011
Mars Science Laboratory (MSL)


O lançamento dessa missão ocorreu em 26 de novembro de 2011 e levou a Marte o “rover Curiosity”, tendo pousado em agosto do ano seguinte na cratera Gale. A sonda ainda está ativa e investiga a existência de vida em Marte, o clima, a areologia, além de coletar dados para uma futura missão tripulada ao planeta vermelho.

2020
Mars2020


O lançamento da missão que levou o “rover Perseverance” e um pequeno helicóptero, batizado de Ingenuity, ocorreu em 30 de julho. A previsão é que a missão chegue a Marte e pouse na cratera Jezero, em 18 de fevereiro de 2021. O “rover” está equipado com vários instrumentos, tendo entre suas missões a coleta de amostras geológicas do local. Ingenuity realizará pela primeira vez um voo programado sobre a superfície marciana.

(Fonte: Agência Brasil)