Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender Augusto Cury
É inevitável que, nas homenagens, a magia do tempo não envolva o escritor, transpondo-o para o passado. É quase impossível não ceder à nostalgia e retroceder no tempo, deixando as lembranças tomarem forma em nossa mente.
“O passado e as recordações têm uma forma infinita”, observou Anatole France (escritor francês, cuja obra é marcada pelo estilo apurado, pela ironia e pelo ceticismo), ressaltando que o presente é árido e turvo, o futuro ninguém desvenda, toda a riqueza, todo o esplendor, toda a graça do mundo, tudo está no passado.
Pedro Nava, notável memorialista, diz que “é impossível restaurar o passado em estado de pureza. Basta que ele tenha existido para que a memória o corrompa com lembranças superpostas” (Balão Cativo, p. 221).
Não é fácil falar das pessoas simples. Homem caprichado em tudo, diria Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo.
“O homem, em sua caminhada pela vida, deixa toda espécie de pegadas”, escreve Margaret Rubeck. “Algumas a gente vê, como seus filhos e sua casa. Outras são invisíveis, como a expressão que ele deixa na vida de outros, o auxílio que dá ao próximo, as coisas que disse. O homem não repara, mas onde quer que passe, deixa uma espécie ou outra de marca. Todas somadas, constituem o sentido do homem”.
Permitam-me, agora, que eu possa também dizer algumas breves palavras de agradecimento a um professor que tive em casa. Talvez eu receba críticas por abrir espaço à minha intimidade. Mas não posso, não devo e não quero deixar passar esta oportunidade. Se ocupo este espaço, na condição de blogueiro, devo esta alegria ao jornalista, poeta, prosador, orador, declamador e professor Paulo Augusto Nascimento Moraes, meu pai, meu espelho, meu eterno mestre. Suas mãos é que me fizeram estar aqui. Sem esquecer, é claro, minha mãe... Maria Emília Ribeiro Silva..
Vi nele o orador impecável. Impressionava a todos pela postura, pelo gestual, pelo timbre grave de sua voz e, acima de tudo, pela excepcional destreza no manejo das palavras. Era um verdadeiro espadachim do verbo, que sabia dar golpes certeiros, fundamentalmente na defesa da sociedade menos favorecida – o povo.
Como seu filho e admirador, fiz dele modelo e fim. Sou professor como ele sempre será. Se não ombreá-lo, difícil fazê-lo, consola-me o haver pretendido, que pretensão, nesse particular, pode-se ter, que não é atrevimento.
Citando Augusto Cury: “O tempo pode passar e nos distanciar, mas jamais se esqueçam de que ninguém morre quando se vive no coração de alguém. Levaremos por toda a nossa história um pedaço do seu ser dentro do nosso próprio ser”.
AQUARELAS DE LUZ
Aquarelas de luz numa tarde de agosto!...
E bem junto de nós a canção das cigarras...
E, no azul deste céu, o agitar das fanfarras
Destes ventos do sul a beijar o Sol-Posto!
Fim de tarde a cair sem o mal de um desgosto!...
E este mar a gemer como sons de guitarras...
E este amor a morrer, a quebrar as amarras
Dessa grande aflição que ilumina o teu rosto!...
Caminhemos então!... Tudo é sombra, querida!...
As cigarras cantando!... As cigarras cantando
Afugentam de nós as tristezas da vida!
Esta tarde morreu!... Tu mo afirmas, num beijo!
Eu te digo que não, entre prantos, chorando,
Tu me dizes que sim, sepultando um desejo.
(Aquarelas de Luz, Paulo Augusto Nascimento Moraes)
Eis a minha homenagem!
Na gaiola... o silêncio!
Na gaiola de bambu
pendurada no teto,
iluminando o silêncio,
o curió enche de vazio
com os seus acordes.
No espaço da prisão,
bater de asas,
dá um sentido de liberdade.
Depois, mergulha
na piscina improvisada
no seu espaço limitado.
Sua revolta está
nas batidas que dá
com o corpo frágil,
vestido de penas.
Momentos, instantes
e volta com o canto
da sua libertação.
Todos os dias, eu o vejo assim
na gaiola de bambu.
E dele a lição de resistência,
dele a mensagem da compreensão,
da renúncia.
Ele sabe que seu dono,
seu senhor,
encontra nele sempre
um pouco de alegria para afugentar
tristezas.
E ele...
iluminando o silêncio.
(Momentos do meu Eu, Paulo de Tarso Moraes - inédito)