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DA ARTE DE IMITAR PÁSSAROS*

– Cantores, esses dubladores de aves...

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Por que os políticos fazem o que fazem e não fazem o que deveriam fazer? Por que se tornaram especialistas cruéis na arte de tornar mais infeliz o mundo todo com o dinheiro de todo mundo?

* * *

Não tenho consideração nenhuma com político bandido. Esses marginais do Poder. Essas desgraças humanas.

Se Satanás ainda não encontrou um modelo de bicho em que se pautar, deveria observar melhor esses seus filhos – os políticos bandidos – que parecem estar pautados com ele.

Os políticos, esse desacerto da evolução – pois são vermes que voam –, tornaram-se, no mundo todo, os principais culpados pela infelicidade geral que grassa nas nações.

Com seus desvios, com suas corrupções, com seu cinismo, com sua hipocrisia, falsidade, dissimulação, fingimento, esses roedores com gravata, essas bestas sem chifres (aparentes...), esses exemplos máximos de insensibilidade da raça humana têm submetido bilhões de pessoas à vergonha, ao vexame, à fome, à doença, ao desemprego, à deseducação, à morte. Pessoas às quais não é dada a oportunidade de exercitarem e exercerem seu potencial de talento e humanidade.

A Venezuela acrescentou mais um "item" em seu portfólio de exportação, "produto" tão valioso quanto o petróleo que sobra em solo venezuelano. Esse novo produto de exportação é... gente. Pessoas. Seres humanos.

Quase todo dia tem notícias nos meios de Comunicação Social falando da verdadeira turba que chega ao Brasil com seu turbilhão de necessidades, de vontades, de talentos... Necessidades e vontades e talentos de que estão prenhes uns 25 milhões de brasileiros submetidos ao desemprego, ao subemprego.

Uma dessas pessoas venezuelanas “exportadas”, expatriadas pela fome e falta de oportunidade em seu país, é a jovem cantora do vídeo, chamada Gaby Páez. Ela foi parar e peregrinar há dois anos nas ruas de Santiago, capital do Chile.

O Chile é menor que a Venezuela em área e em população. Mas é maior em economia. Por que será?

O certo é que dos erros dos políticos e de suas políticas públicas e de seus desvios privados brotam pesadelos em pessoas como os artistas, que têm de deixar os sonhos de êxito em sua própria terra para ao menos escapar, sobreviver, em terras alheias.

A moça Gaby Páez canta. E o encanto de seu canto cala um pouco nas pessoas cheias de correria e doideira de cidade grande.

O vídeo não mostra, mas deve haver gente parada, em frente à jovem. Mas o que mais se mostra são pessoas passando, seguindo suas próprias vidas, seus compromissos.

Homens passam com seus ternos, suas gravatas. Mulheres com suas bolsas.

No início do minuto final passa o baixinho com a camiseta recomendando: FEEL THE BEAT. Mas ele mesmo não quis ou não pôde ouvir a moça cantora e "sentir a batida" que sua vestimenta recomendava. Passou batido...

Nos 50 segundos finais, duas senhoras carregadas de compras e curiosidade aproximam-se visivelmente interessadas. Um casal também para... na frente das mulheres – que novamente buscam melhor local para ver o que estavam ouvindo.

Já se ouvem os aplausos nos segundos finais da música quando uma criança e uma mulher com abastado carrinho de compras olham curiosas para a jovem cantora, que se curva uma, duas, três vezes em profissional e humilde agradecimento. De uma garrafinha ali do lado ela toma um gole d'água tão certo quanto, no início dos doze segundos finais, o sorriso tímido e incerto que se faz e rápido se fecha no rosto redondo e belo da talentosa venezuelana que canta seu solo em solo que a sola de seus pés não reconhece com solo seu.

Ela, moça cantora, prepara-se para ir embora (para onde?). Pelo menos por agora, cessará de pulsar seu busto farto elevando-se ao (im)pulso de seu (en)canto.

Também por enquanto não mais se verão as mechas coloridas de seu cabelo de graúna, cabelos (des)coloridos que nada dizem da perda das cores e do acinzentamento dos sonhos que tanto a artista deve ter sonhado tanto...

Também não mais se perceberão as tatuagens que se mostram e que, obscenas, se escondem em íntimas partes da pele... Tatuagens que não são tão fundas nem serão tão permanentes quanto as marcas gravadas no jovem e fêmeo coração expatriado, expulso, espoliado...

*

“Y así pasan los años...”

E quando chegarão os tempos de respeito aos artistas, aos cantores, esses dubladores de aves... esses imitadores de pássaros?...

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REPERCUSSÃO

– “Maravilhosa voz, perfeita interpretação”. (ROBERTO SAID, engenheiro civil, administrador, professor universitário. Imperatriz/MA, 21/5/2019)

– “Muito linda, pena que ninguém para pra escutar". (MARIA JOSÉ ALMEIDA. Imperatriz, 21/5/2019)

– “Nota 10”. (FERNANDO DA SILVA NEPONUCEMO, microempresário. Imperatriz, 20/5/2018)

– “Nota mil. Muito lindo”. (VAL ALVES. Imperatriz, 20/5/2018)

– -“Muito talentosa, fora do comum...pena não ser reconhecida como merecia...” (PAULO PAIVA, empresário; graduado em Direito, Teologia e Pedagogia. Imperatriz, 20/5/2018)

– “Lindo!” (ANA ALENCAR, gestora escolar. Caxias/MA, 20/5/2018)

– “Fenomenal!” (JOÃO BAPTISTA, servidor público estadual; graduado em Direito e História. Imperatriz, 21/5/2018)

– “Linda demais! Uma voz maravilhosa!” (KÁTIA SILVA, servidora pública municipal. João Lisboa/MA, 21/5/2018)

– “Lindo!!!” (ITACY BANDEIRA, farmacêutica e nutricionista. Belém/PA, 21/5/2018)

– “Talento puro”. (MARIA JOSÉ AQUINO. Imperatriz, 21/5/2018)

– “Excelente!” (SIKANDAR KHAN. Riad, Arábia Saudita, 24/5/2018)

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* EDMILSON SANCHES

(Texto escrito e publicado em 2018)