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Dia 16 de outubro, há cinco anos…*

JACQUES INANDY MEDEIROS

– Foi reitor da Uema. Fundador da Faculdade de Medicina Veterinária. Ex-presidente da Academia Caxiense de Letras, diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e secretário municipal de Educação e Cultura de Caxias.

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A cidade de Caxias perdeu, em 2019, ilustres filhos que, com seus trabalhos, honraram e honram a História e a Cultura do município.

Em 2019,  faleceram o arquiteto, ativista cultural e ex-secretário da Cultura Antônio Nascimento Cruz, a professora e ex-secretária de Cultura Valquíria Fernandes, o engenheiro e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras Raimundo Medeiros e, no mesmo dia 16 de outubro, o professor, militar, escritor e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras Antônio Pedro Carneiro e Jacques Inandy Medeiros.

Todos eram professores. Todos participavam de instituições culturais locais, como a Academia Caxiense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama). Todos foram servidores públicos, em órgãos municipais ou estaduais.

No 16 de outubro de 2019, uma quarta-feira, enquanto os caxienses ainda se prostravam pesarosos com o falecimento do professor Antônio Pedro Carneiro, ex-presidente da Academia Caxiense de Letras (ACL), uma nova notícia quase ao final das 24h impactou fundamente a cidade: acabara de falecer em São Luís (MA), perto da meia-noite, o professor Jacques Inandy Medeiros, também ex-presidente da ACL e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico caxiense. Jacques residia em São Luís. Estava adoentado, em casa; sentiu-se mal, foi levado a hospital da capital maranhense e foi internado em UTI. Não resistiu.

Jacques Medeiros era casado com Maria de Fátima Oliveira Medeiros. O casal teve quatro filhas: Cynthia, Elma, Silvana e Graziela. Deixou ainda oito netos. Dos seus descendentes, Jacques escrevia que eles eram, “sem embargo, os prosseguidores da inteligência e cultura do clã Medeiros, que pontifica em Caxias faz mais de um século”.

Jacques Medeiros tem uma das mais largas folhas de serviços prestados a Caxias e ao Maranhão, sobretudo nos campos da Educação e da Cultura. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense, onde estudou de 1967 a 1970, Jacques Medeiros, após a formatura, retorna ao Maranhão e trabalha na Secretaria de Agricultura do Estado. Em períodos diversos, desenvolve funções de gestão no Banco de Desenvolvimento do Maranhão: chefe da Divisão de Acompanhamento e Controle de Projetos (1977/78), chefe do Departamento Rural (1978/79), chefe da Divisão Agroindustrial (1987), diretor de Crédito Imobiliário (1994) e diretor-administrativo (1995/2000).

No campo da Educação, Jacques Inandy Medeiros  mostrou seu talento desde cedo: ainda menor, aos 17 anos, já dava aulas no Colégio Caxiense e, depois, na Escola Normal de Caxias e Ginásio Coelho Netto. Em São Luís, estudou no Liceu Maranhense. Nos anos 1970, após retornar do Rio de Janeiro, já veterinário formado, Jacques Medeiros passa a dar aulas na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), na capital: em 1975/76 ministra Biofísica, Bacteriologia e Imunologia no curso de Medicina Veterinária. De 1975 a 1979, dirige o Departamento de Ciências Fisiológicas da Unidade de Estudos de Agronomia. Em 1982/83, é membro titular do Conselho Universitário da Uema e, de 1979 a 1983, diretor da Faculdade de Medicina Veterinária, escola que ele ajudou a fundar. De 1983 a 1987, chega ao topo da carreira: reitor da Universidade da qual, de 1975 a 1990, era professor titular.

Após a reitoria, Jacques Medeiros foi convidado a emprestar seu talento à Educação e Cultura de sua cidade. Deu aulas no Centro de Estudos Superiores de Caxias (Cesc/Uema) e, de 1989 a 1991, foi secretário da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia. Depois, de 2005 a 2006, foi secretário da Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico, Esporte, Turismo e Juventude de Caxias. Na mesma época, de 2002 a 2006, foi presidente eleito e reeleito da Academia Caxiense de Letras. Também foi membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), do qual foi vice-presidente. No IHGC, ocupa a Cadeira nº 7, cujo patrono é seu pai, o professor, jornalista, servidor público e gestor escolar Francisco Caldas Medeiros, caxiense que, tão precoce quanto o futuro filho, já aos 20 anos era oficialmente nomeado como diretor de uma escola estadual, o Colégio Agrícola, no município de Barra do Corda.

Jacques Medeiros escreveu diversos livros, entre eles o muito citado “Arca de Memórias” e “A História da Educação de Caxias”. Era dono de vasta cultura, literária, universal. Gostava de viajar pelo mundo. Sabia de memória dados geográficos dos diversos países, muitos visitados por ele. Apoiava e estimulava novos escritores.

Sua prestação de serviços o levou a ser homenageado com a Medalha do Mérito Timbira, Medalha do Mérito Brigadeiro Falcão e Medalha Gomes de Sousa de Mérito Universitário.

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Quando Jacques Medeiros viajava a Imperatriz como reitor da Uema, costumávamos nos encontrar e, na própria Universidade ou em grupo de amigos e conhecidos (entre os quais o professor universitário Osvaldo Ferreira de Carvalho, também caxiense), fazíamos questão de falar sobre “coisas” de Caxias. A conterraneidade fortalecia a amizade. Na época, nas minhas muitas viagens a Caxias, conversávamos  à volta de uma mesa posta na larga calçada do Excelsior Hotel, ou nas reuniões da Academia e do Instituto Histórico, onde ambos éramos membros ou diretores. Por telefone, de São Luís, Jacques e eu trocávamos informações e insatisfações relacionadas ao universo da Cultura e História caxienses.

Em mensagens e textos que me enviava via WhatsApp, Jacques Medeiros falava sobre Caxias e caxienses,  Abraham Lincoln, Castro Alves, Confúcio, Cristo, Darwin, Duque de Caxias, São Luís, Vespasiano Ramos, a importância da Comunicação entre os seres humanos, a Universidade brasileira, fazia sua lista dos melhores hinos nacionais entre os diversos países, enviava excertos de Fernando Pessoa e outros autores, gravava áudios onde detalhava aspectos históricos e biográficos acerca de pessoas de Caxias etc. Mostrou-se surpreso, incrédulo e chocado com as mortes dos caxienses e amigos comuns Valquíria Fernandes, professora, e Antônio Nascimento Cruz, ativista cultural. Em maio deste ano escreveu-me sobre a troca de correspondência entre ele e outro talentoso caxiense, o escritor Berredo de Menezes., sobre o qual eu havia escrito um texto.

Quando soube que eu era um feliz proprietário de “Catedral de Vácuos”, o livro inaugural do advogado, escritor e poeta caxiense Berredo de Menezes, que foi prefeito da de Vitória, capital do Espírito Santo, Jacques não se aquietou até eu concordar desfazer-me da obra, enviando-a para ele (o que fiz), pois esse livro lhe trazia grandes evocações. (Depois consegui um outro exemplar daquele livro).

Em 9 de setembro de 2019 Jacques Medeiros fez seu último contato comigo e aplaudiu um texto que eu havia escrito, sobre a etimologia da palavra “veterinário”, a profissão dele.

Quatro meses antes, em 5 de maio de 2019, Jacques Medeiros escreveu-me assim, com algo de sibilino ou presciente:

“- As mãos trêmulas.

 - As pernas trôpegas.

 - O coração mais cheio do nada.

 - O futuro bem menor.

 São os bônus da idade.”

Agora, para ele já não há mais nada disso.

São os bônus da Eternidade.

Descanse em paz, Conterrâneo, Confrade, Colega, Amigo.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:

O casal Jacques Medeiros e Fátima, com três das quatro filhas; e com Maria Rita, uma dos oito netos; e Jacques com a neta Maria Antônia.