Quando a escola se adapta para receber seus estudantes, provoca mudanças não apenas na vida de quem precisa de atenção especial, mas em todos da comunidade escolar. Foi o que aconteceu na Escola Classe 115 Norte, em Brasília, com a chegada da pequena Thalita Natália Dias da Silva, de seis anos. A única estudante surda da instituição tem mostrado o quão enriquecedor é o convívio com pessoas diferentes. Agora, ela está aprendendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que tem sua data nacional comemorada nesta terça-feira (24).
Thalita entrou na escola no ano passado. Sua mãe, Renata Natália da Silva, lembra que ela era muito tímida e tinha dificuldade de interagir com os colegas e com a professora, porque não conhecia a linguagem especial. Mas, desde a chegada do professor intérprete, este ano, a situação tem mudado bastante para a estudante e toda a sua família.
“Ela conhece o alfabeto, os números e outras coisas, como banheiro, pai, mãe”, comemora Renata. “Ela sabe, entende. Tem vezes que ela quer conversar comigo e já chega da escola fazendo os sinais com a mãozinha. Ela faz o alfabeto e mistura com os números. Não consegue ainda me mostrar o que quer me falar, mas algumas coisas ela entende”.
Thalita nasceu surda e logo foi encaminhada para acompanhamento no Centro Educacional de Audição e Linguagem Luduvico Pavoni (Cealp) e no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Mas a família não tinha tempo nem recursos para seguir o acompanhamento semanal necessário.
A situação se complicou quando, forçada a interromper o tratamento e o desenvolvimento cognitivo de Thalita, Renata teve de enfrentar também a rejeição da filha ao aparelho auditivo. “Ela não queria usar e, muitas vezes, tirava o aparelho e o destruía. Acabou que ela passou um tempo sem usá-lo, e isso atrasou bastante”. Agora, que a família mora em Brasília – antes eles viviam em Planaltina de Goiás (GO), distante 60 quilômetros do Plano Piloto –, tudo ficou mais fácil.
Adaptação
A diretora da Escola Classe 115 Norte, Marta Caldas, conta que, antes da chegada de Thalita, nenhuma professora sabia se comunicar em Libras. Atualmente, tanto a menina quanto sua mãe estudam a linguagem de sinais, assistindo juntas a duas aulas por semana no Centro de Apoio ao Surdo (CAS).
A escola também solicitou à Secretaria de Educação do Distrito Federal o apoio de um professor intérprete, que atua em conjunto com a professora da turma em que a menina estuda. No momento da escrita ou dos comandos passados pela professora, quando são repassadas as tarefas, ele trabalha diretamente com a menina. Quando são realizadas atividades coletivas, ela interage com a turminha.
“Em menos de dois meses, Thalita já conhece o alfabeto, se comunica com os coleguinhas e está surpreendendo todo mundo”, relata a diretora. “O que a gente tem percebido é que, quando há condições favoráveis como essa – a de poder contar com um professor especialista –, as crianças dificilmente demonstram alguma reação de exclusão. Pelo contrário: a tendência é que incluam e cuidem dessas crianças”.
Marta destaca, ainda, o aspecto positivo da integração entre a família e a escola. “É importante que haja esclarecimento para essa comunidade sobre os direitos dessas crianças e que a família esteja junto com a escola, pois é mais uma cidadã se formando”, valoriza. “E na escola, mesmo achando que não vamos dar conta, é preciso estarmos dispostos a receber todos os alunos”.
Política pública
A secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Ivana de Siqueira, ressalta que Libras é a primeira língua de um aluno surdo. “É importante que o mais cedo possível a criança possa utilizar a língua para ter um vocabulário maior”, afirma. “A inclusão é importante para todos – não só para os surdos, mas para todas as pessoas. Desde pequena, [a aluna] vai conviver numa sociedade que tem diferentes pessoas e vai se comunicar com elas, tanto com quem conhece essa língua quanto com quem não está familiarizado”.
No Ministério da Educação, a principal política voltada para esse público especial está na formação de professores e intérpretes. “O MEC tem feito grande esforço para que esses profissionais estejam nas salas de aula e também a formação de professor bilíngue”, frisa Ivana.
(Fonte: MEC)